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1. REVISÃO DE LITERATURA

1.7. Os mercados culturais

1.7.3. Estado

Colbert (1994) considera o Estado um mercado próprio, enquanto entidade que concede de bolsas e subsídios, tendo também de ser persuadido a tornar-se parceiro das produções culturais. Para o autor, a competição entre organizações da mesma área por este tipo de apoio, é a competição por uma quota maior de mercado. Em Portugal, o apoio do Estado à área da cultura tem sido amplamente discutido e, muitas vezes, criticado. Esta questão prende-se com os valores atribuídos à cultura no orçamento de Estado, bem como com questões de funcionamento das entidades estatais que gerem e determinam a alocação desses recursos. Além destas, existem também as questões acerca da necessidade de políticas continuadas e coerentes que fomentem um trabalho sustentável por parte das organizações culturais em Portugal.

Além das questões relacionadas com a atribuição de subsídios, existe outro tipo de mercado com o qual as organizações culturais se relacionam, no que ao Estado diz respeito. Segundo Cruz (2015), o apoio local, através das Câmaras Municipais ou Juntas de Freguesia, é muitas vezes essencial para as estruturas culturais. Além de apoio financeiro, é comum que estas contribuam através da cedência de espaços de ensaio, de apresentação e ou disponibilizem apoio logístico.

Contudo, a mesma autora chama a atenção para o facto de que o apoio autárquico se focar, por motivos eleitorais, na construção de equipamentos e infraestruturas, em detrimento de uma maior preocupação com a programação em si. De facto, a programação é essencial, já que constitui o próprio motivo da existência dos equipamentos, embora seja, juntamente com a formação de públicos, muitas vezes descurada, tanto pela administração central como pelo poder local.

Em Portugal, atualmente, os principais apoios púbicos destinados à dança encontram-se ao abrigo da Direção Geral das Artes. “Desde que tiveram as atividades

29 iniciadas em 2008, uma das principais responsabilidades da DGArtes é a da apreciação de projetos propostos por agentes culturais e a da distribuição dos apoios públicos às artes.” Cruz (2015:31). Assim, a relação que as organizações culturais desenvolvem com este organismo poderá ser vista como uma importante componente da sua estratégia, já que representa, no caso português, uma grande parte deste mercado cultural que é, segundo Colbert, o Estado. Nesta perspetiva, é natural que o tema das políticas públicas da cultura se cruze com o tema em questão.

“A DGARTES é o serviço integrado e central do Estado Português responsável por atribuir os apoios financeiros ao terceiro setor detendo por isso um papel fulcral na garantia de condições estruturantes para a estabilidade, consolidação e renovação da atividade artística profissional em Portugal e da sua internacionalização.”16 (DGARTES, 2018).

Segue-se uma breve descrição do programa de apoio sustentado à dança 2018- 2021, essencial para contextualizar a relação entre as companhias de dança em estudo com o Estado enquanto financiador. Este conta com um orçamento de 7.310.000 euros, para modelos de apoio bienais ou quadrienais. As candidaturas encontraram-se abertas entre outubro e dezembro de 2017, sendo elegíveis “Pessoas coletivas de direito privado com sede em Portugal, que exerçam atividade profissional nas áreas artísticas abrangidas”17 (DGARTES, 2017)

Dos objetivos deste programa, destacam-se os de fomentar esta forma de arte, promover a participação das comunidades e a internacionalização. Destina-se a “entidades profissionais com atividade continuada” e visa a “partilha de responsabilidades do Estado” com as mesmas, quer estas sejam públicas ou privadas. (ibid).

Segundo o website da DGARTES (2017), para se candidatarem ao programa de apoio sustentado, as entidades devem submeter o seu plano de atividades, cujos critérios de ponderação incluem “inovação, originalidade, coerência e excelência”. Este ponto corresponde a 40% da apreciação geral. No âmbito deste trabalho, podemos considerar que estas candidaturas representam a principal forma de comunicação das organizações culturais em estudo com o Estado, ao nível da administração central.

16 Fonte: Apoio às Artes | DGARTES in Dgartes.gov.pt disponível em https://www.dgartes.gov.pt/pt/atividades/apoio_as_arte, consultado a 8 de março de 2018 17 Fonte: 2018-2021 - Programa de Apoio Sustentado - Dança | DGARTES in Dgartes.gov.pt

30 Adicionalmente, são avaliadas pelo seu historial e qualificação da equipa – 15% - e pela repercussão social prevista – 15%. Segundo a mesma fonte, a repercussão social traduz-se pela “[…] diversidade de públicos-alvo e condições de acessibilidade, pela estimativa de adesão de participantes, espetadores e visitantes das atividades, bem como pela inovação e eficácia do plano de comunicação.” (ibid)

20% da avaliação da candidatura prende-se com o projeto de gestão, no que diz respeito ao orçamento e ao financiamento, pontos que devem ser coerentes com o plano de atividades acima referido e com a dimensão do projeto. Os restantes 10% dizem respeito à correspondência de objetivos de interesse cultural e serviço público, de acordo com o previsto no Decreto-Lei n.º 103/2017, de 24 de agosto.

No concurso para as modalidades de apoio bienal e quadrienal, cujos resultados foram propostos a 22 de fevereiro e finalizados a 28 de março de 2018, a DGARTES atribuiu apoios a 21 das 24 entidades candidatas. Adiantamos desde já que das companhias em estudo no presente trabalho, tanto o Quorum Ballet como a Companhia de Dança de Almada se candidataram, mas apenas esta última receberá verbas. A CiM integra a Vo’Arte, que enquanto produtora multidisciplinar, não se candidata, especificamente, a este apoio. A produtora candidata-se a um concurso semelhante, estando também sujeita a um processo de candidaturas, ao abrigo do mesmo programa.

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