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PERFIL: É o estado mais populoso do Brasil e a terceira unidade

política mais populosa da América do Sul. Possui mais de 41 milhões de habitantes e é responsável por 33,9% do PIB brasileiro, o maior PIB do país. É o maior consumidor mundial de madeira amazônica (de 15% a 20% de toda a madeira produzida).

O

marco do surgimento das compras públicas sustentáveis no estado de São Paulo foi a criação, em 2004, de um grupo técnico no âmbito do Comitê de Qualidade e Gestão Pública da Casa Civil, que deu origem a três subgrupos voltados à análise específica do procedimento para con- tratação de bens, obras e serviços pela administração pública, ficando a coordenação técnica desses trabalhos sob a responsabilidade da Secreta- ria de Meio Ambiente (SMA).

Com o objetivo de tornar as políticas estaduais de São Paulo compatí- veis a critérios de sustentabilidade, o grupo visava a prestar assessoria técnica e jurídica, com foco em sistemas eletrônicos de aquisição de bens e serviços.

Rodovia dos Bandeirantes, estado de São Paulo.

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Foi criado, então, o Selo Socioambiental, que se instrumentalizou por meio do

Decreto nº 50.170, de 2005, voltado à inserção de variáveis socioambientais nas compras e contratações da administração, bem como ao incentivo da es- colha de produtos inovadores por parte dos compradores públicos.

Em 2008, instituiu-se o Programa Estadual de Contratações Públi- cas Sustentáveis, por meio do Decreto nº 53.336, de 2008, que permitiu as ações dos órgãos governamentais se adequarem às especificações do perfil de compra local.

O olhar específico para a madeira se deu em 2006, com a adesão do São Paulo ao programa Estado Amigo da Amazônia. Nesse ano, o governador Geraldo Alckmin assinou, junto ao Greenpeace, o Termo de Compromisso pelo Futuro da Floresta, estimulando a elaboração de ferramentas de fis- calização e monitoramento e compras responsáveis de madeira, com foco específico no setor da construção civil. Foi assinado, também, o protocolo da construção civil sustentável e a adesão ao programa Madeira é Legal, ori- ginado no contexto de discussão do tema de materiais na construção civil e da importância da madeira, sob influência do São Paulo Amigo da Amazônia.

Em decorrência do estado de São Paulo ser o maior consumidor mundial de madeira amazônica (de 15% a 20% de toda a madeira produ- zida), o São Paulo Amigo da Amazônia se tornou um dos 21 projetos am- bientais estratégicos da SMA a partir de 2007, havendo expectativas de replicação do modelo para outros produtos florestais amazônicos, além da madeira. Além disso, o tema das compras públicas sustentáveis contou com a adesão das demais secretarias de estado, dentre elas Transportes, habitação, Saneamento e Energia (principais compradores públicos no es- tado), aliando os conhecimentos técnicos e científicos à fiscalização e ao consumo responsável.

Nesse contexto, foi criado, em 2008, o Cadastro Estadual de Pessoas Jurídicas que Comercializam Madeira no Estado, o Cadmadeira16 (Decreto

nº 53.037). Trata-se de um instrumento positivo de incentivo à regularidade dos depósitos de madeira e, ainda que de adesão voluntária, o cadastro se torna fundamental ao ser exigido para as compras e contratações pú- blicas com o estado.

Ainda em 2008, foi criada a Câmara Técnica de Assuntos Florestais (CTAF), no âmbito da Secretaria de Meio Ambiente, para tratar dos assuntos relativos ao São Paulo Amigo da Amazônia. A CTAF é o grupo técnico de traba- lho do projeto no qual se reúnem representantes do Instituto Florestal, da Po- lícia Ambiental de São Paulo, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Quei- roz (Esalq-USP), do Sindicato do Comércio Atacadista de Madeiras do Estado de São Paulo (Sindimasp), do WWF-Brasil e da Rede Amigos da Amazônia.

A união de esforços dos membros desse grupo trouxe grandes avanços para a gestão da madeira amazônica dentro do estado. Na ponta da fiscali- zação, a Polícia Ambiental em conjunto com o Instituto Florestal, em outubro de 2007, realizou a Operação Primavera com o objetivo de verificar a origem da madeira que adentrava as fronteiras estaduais. Durante a operação, cons- tatou-se que havia déficits no preparo da equipe policial, devido à falta de conhecimento técnico para identificação de madeira, além de os poucos es- pecializados serem idosos e apresentarem baixa resistência à pesada rotina das operações. Isso apontou a necessidade de ampliação das capacitações para formar e atualizar novos policiais para essa importante tarefa.

Em quatro anos de programa, foram realizados nove cursos de ca- pacitação para mais de 200 policiais, entre outros servidores públicos. Segundo dados da SMA, ao longo de um ano e meio, foram capacitados, presencialmente, 35 técnicos da Coordenadoria de Biodiversidade e Re- cursos Naturais (CBRN), 150 profissionais da Cetesb, órgão responsável pelo licenciamento ambiental, além de agentes municipais, madeireiras, consumidores de lenha e de carvão.

Na esteira das capacitações, vieram as investigações e estudos sobre os gargalos e fraudes envolvendo a madeira ilegal, o que levou a Polícia Ambiental e o Instituto Florestal a adotarem a técnica de identificação ele- trônica de madeira. A técnica se utiliza de imagens de amostras de madeira fotografadas nas operações de campo (estradas, postos de parada, depósi- tos de madeira), por meio de um microscópio digital com resolução macro. As imagens são enviadas para o laboratório do Instituto Florestal, onde os técnicos as analisam, em tempo real, e informam os policiais na operação sobre as espécies em questão.

Outro papel do estado, além da fiscalização, é o estímulo a uma mu- dança do padrão de consumo público por meio de incentivos, como o pro-

grama Município Verde-Azul. O programa busca descentralizar a política ambiental e proporcionar incentivo econômico aos municípios paulistas que criam legislação para as compras de madeira, entre outros itens dis- tribuídos em dez diretivas ambientais. A adesão dos municípios ocorre por meio da assinatura de um Termo de Adesão, firmado pelo prefeito, repre- sentante da câmara de vereadores e representante da sociedade civil. A adesão ao programa e às suas diretivas credencia o município como prio- ritário na obtenção de recursos públicos estaduais, havendo o estado já repassado R$ 30 milhões aos municípios.

Nesse sentido, de acordo com Pedro Ubiratan, secretário de meio am- biente à época, o sucesso do São Paulo Amigo da Amazônia ocorreu pela combinação de instrumentos de fiscalização (comando e controle) e de estí- mulo (incentivos) a políticas e práticas de compras responsáveis. A importân- cia do estado de São Paulo nesse programa foi fundamental para fomentar esses dois direcionamentos no que tange à gestão da madeira, tanto pelo potencial de compras elevado que possui, como pelo rigor no monitoramen- to, fiscalização e controle do tráfego e comercialização da madeira.

“A gente precisar esticar a capacitação, tanto do setor produtivo quanto do pessoal do próprio governo que elabora editais, especificações e os projetos executivos de obras”.

DENIZE CAVALCANTE

Coordenadoria de Planejamento Ambiental da SMA “Conseguir que os setores realmente se envolvam e passem a fazer a sua parte no jogo é outro desafio. A gente (da SMA) tem intensificado a fiscalização, tentando evitar a entrada de madeira ilegal.”

CARLOS BEDUSCHI

Coordenadoria de Biodiversidade e Recursos Naturais da SMA

P

ara implementar práticas inovadoras que possam fazer a diferença, mudando uma realidade para melhor, não existe uma única receita, pois cada localidade possui seus próprios problemas, desafios e prio- ridades. Contudo, discutir e trocar experiências, contar os sucessos, os desa- fios, relatar as etapas e até mesmo as dificuldades é muito importante para a construção de práticas que possam caminhar rumo à sustentabilidade.

É pensando na troca dessas experiências e nas questões de desenvol- vimento que envolvem a gestão da madeira amazônica no setor público que trazemos aqui 12 tópicos que merecem a atenção da administração pública.