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PERFIL: Capital do estado de São Paulo e o principal centro financeiro,

corporativo e mercantil da América Latina, São Paulo é também a cidade mais populosa do Brasil, com 11,2 milhões de habitantes. Considerando-se toda a Região Metropolitana, são 19,2 milhões de pessoas, sendo a sexta maior aglomeração urbana do mundo.

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município de São Paulo tem iniciativas ligadas à questão da madeira desde 2002, quando proibiu, por meio de ordem interna, a compra de mogno nas aquisições municipais, orientação que se apoiava no Programa Municipal de Qualidade Ambiental (PMQA) da Prefeitura do Município de São Paulo (PMSP), instituído por meio do Decreto nº 42.318 de 2002.

Em 2003, com a expertise do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), foram levantadas espécies alternativas de madeira amazônica para substi- tuir aquelas mais utilizadas (e ameaçadas) pela construção civil. Assim, por meio de uma parceria entre IPT, Sindicato da Construção Civil do Estado de

alexandre diniz , sp turis

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São Paulo (Sinduscon-SP) e Secretaria do Verde e Meio Ambiente do muni- cípio de São Paulo (SVMA), nasceu a primeira edição do manual “Madeira: uso sustentável na construção civil”12 com o objetivo de divulgar e estimular

o uso de madeiras alternativas nos diferentes usos da construção civil. Em 2005, São Paulo foi a primeira cidade a aderir ao programa Cida- de Amiga da Amazônia, na época coordenado pelo Greenpeace. O muni- cípio, porém, não criou um grupo técnico de trabalho sobre a compra de madeira, como orientava o programa. A centralização das ações, no caso de São Paulo, foi considerada positiva por seus executores para a edição e publicação das normas sobre o tema, pois vislumbrava alta probabilidade de um grupo ser instável, seja porque os representantes poderiam não ter poder de decisão ou por não serem permanentes.

A prefeitura também aderiu ao programa Madeira é Legal13, por meio

do Protocolo Madeira Legal, criado em 2009 justamente para promover o consumo responsável da madeira (legal e/ou certificada) pela socieda- de em geral, especialmente pelo setor da construção civil no estado e no município de São Paulo. A compra responsável de produtos madeireiros foi ainda incluída na Política de Mudanças Climáticas no Município de São Paulo (Lei no 14.994, de 2009).

Essa política municipal conta com um grupo de trabalho sobre com- pras públicas sustentáveis que deve necessariamente envolver outras se- cretarias, como as de Planejamento, Orçamento e Gestão, a fim de que o tema perpasse toda a administração municipal e não fique apenas na alçada da SVMA.

A experiência do município de São Paulo nos mostra que mesmo dis- tante da Amazônia existe responsabilidade com a conservação florestal. De fato, o que motivou a Prefeitura Municipal de São Paulo a normatizar a compra de madeira foi o reconhecimento do papel dos governos consumi- dores na cadeia produtiva da madeira e a percepção de sua corresponsabi- lidade pela degradação e desmatamento da Amazônia. Segundo Eduardo Jorge Martins Alves Sobrinho, secretário municipal do Verde e do Meio Am- biente de São Paulo,“a principal dificuldade é que não existe tradição de

12 Ver box na página 70.

compra sustentável no país. A tradição no Brasil é de comprar mais barato, mesmo que seja de qualidade inferior.

Também é importante ressaltar a importância das atividades de fis- calização no município. Por meio do Decreto nº 50.977, de 2009, os procedi- mentos de controle ambiental para a utilização de produtos e subprodutos de madeira de origem nativa nas contratações de obras e serviços de en- genharia e nas compras públicas são realizados pela administração pública municipal direta e indireta, em especial as secretarias de Obras, Educação e Subprefeituras, com a articulação da SVMA. Na prática, as empresas que não cumprirem o conteúdo do decreto que adota o Cadastro Estadual das Pesso- as Jurídicas que Comercializam Madeira (Cadmadeira)14 ficam inabilitadas de

participar de licitações da administração pública da capital paulista. Mesmo assim, as atividades de fiscalização são exercidas em conjun- to com o estado de São Paulo, já que a maior parte das madeireiras não tem pátios nesta capital, o que leva a fiscalização, muitas vezes, a assumir um caráter pontual e não prioritário.

Outro ponto a se destacar é a necessidade de se registrar quantitativa e qualitativamente a madeira adquirida e utilizada pela prefeitura, a fim

14 Mais informações no tópico 3, Formulação de normas, página 50

e no tópico 6, Cadastramento de fornecedores, página 59.

Favela no bairro do Morumbi, São Paulo.

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de se ter um inventário que apresente a dimensão e perfil de consumo de madeira pelo município. Ainda no âmbito de sistemas de informação, o município estuda o desenvolvimento de um sítio eletrônico contendo in- formações para os diversos públicos consumidores de madeira a fim de incentivar o uso de madeira legal.

Finalmente, o secretário Eduardo Jorge aponta a necessidade de se repensar o processo de compras sustentáveis pelo poder público brasileiro que, engessado pela atual lei de licitações, muitas vezes não consegue rea- lizar compras mais sustentáveis, pois corre-se o risco de promover um dire- cionamento das compras ao selecionar apenas fornecedores específicos15.

15 Mais informações na página 22.

“Nós aqui de São Paulo, mesmo muito longe da Amazônia, temos muito a ver com a questão ambiental em dois lados: um é produção e outro é consumo. Se nós dermos qualidade a esse consumo com o uso legal e sustentável da madeira, a gente começa a coibir as questões predatórias lá na origem. É um movimento novo, que usa o poder do consumidor, em que através da minha escolha eu posso mudar um panorama, um perfil e um cenário de destruição.”

EDUARDO AULICINO

Especialista em desenvolvimento urbano,

Secretaria do Verde e do Meio Ambiente de São Paulo “A principal dificuldade é que não existe tradição de compra sustentável no país. A tradição no Brasil é de comprar mais barato, mesmo que seja de qualidade inferior. (...) essa tradição é que tem que ser rompida.”

EDUARDO JORGE

Secretário municipal do Verde e do Meio Ambiente de São Paulo