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ESTADO, POLÍTICAS PÚBLICAS E AGRICULTURA

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Mapa 1: Ilha de Santiago com destaque para os concelhos de Tarrafal, Santa Catarina

4. UMA REVISÃO DE LITERATURA SOBRE AGRICULTURA E AS POLÍTICAS

4.3 ESTADO, POLÍTICAS PÚBLICAS E AGRICULTURA

As políticas públicas dirigidas para o setor agrícola têm-se mostrado uma ferramenta fundamental no desenvolvimento desse setor, como também de regiões e países ao longo das últimas décadas. Por intermédio delas, o Estado tem procurado diminuir as disparidades sociais e promover o bem-estar social, através da melhoria da qualidade de vida das populações rurais.

Garnica e Santos (2006, p. 1) apontam que essas políticas também têm sido muito utilizadas como um instrumento de estímulo ao desenvolvimento local e regional pela ação de políticas direcionadas a setores específicos da economia e, inclusive a classes sociais próprias. O setor agrícola é um setor que desempenha um papel crucial na economia, tendo em conta que é uma fonte geradora de emprego e renda para bilhões de pessoas ao redor do mundo. Além de ser fonte de emprego e renda este setor também pode ajudar a melhorar o meio ambiente, diminuir a pobreza, conter o êxodo rural na direção aos grandes centros urbanos que podem acarretar em muitos outros problemas.

Este setor enfrenta determinados problemas, em decorrência das características que lhe são peculiares, e por isso torna-se necessário a intervenção do Estado com vista a reduzir ou minorar as especificidades desse setor. Um dos argumentos básicos para a intervenção do Estado no processo produtivo é a existência de falhas de mercado31. Essas falhas ocorrem devido a basicamente quatro razões: existência de bens públicos, que são bens não exclusivos e não concorrentes que podem ser disponibilizados por um custo menor para muitos consumidores, mas que, uma vez disponibilizados, é difícil impedir que os outros os consumam; mercados imperfeitos, que por sua vez podem levar a formação de monopólios ou

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De acordo com Carvalho (2001, p.6) falhas de mercado são “conjuntos de condições sob as quais uma economia de mercado é incapaz de distribuir recursos de forma eficiente”.

atividades que exijam grande escala na produção; externalidades, ações que ocorrem quando um produtor ou um consumidor influenciam as atividades de produção ou de consumo de outros de uma maneira que não esteja diretamente refletida nos preços de mercado; e informações imperfeitas, que podem levar produtores ou consumidores a cometer erros em suas decisões de consumo ou de produção32.

Segundo Carvalho (2001, p. 6), o setor agrícola é um setor caracterizado por muitas vulnerabilidades, na medida em que ocorrem importantes falhas de mercado, devido à existência de riscos e incertezas que tornam as informações disponíveis na tomada de decisão imperfeita, e isso pode levar os agentes econômicos a cometer erros na alocação de recursos.

Em face disso, é imperativo aos governos intervir munidos de suas políticas públicas dirigidas a esse setor visando diminuir essas falhas porque caso não haja nenhuma intervenção por parte deste órgão este setor pode entrar em crise, ou por excesso de produção ou por insuficiência de oferta, o que pode gerar desequilíbrios no funcionamento de todo o sistema econômico.

De acordo com essa autora os Estados começaram a intervir na agricultura devido às pressões decorrentes das crises que assolavam esse setor. Com o passar do tempo e com a evolução do papel do Estado na economia, desenvolveu-se uma postura deliberada com vista a estabilizar os preços e a renda dos agricultores. O argumento principal por detrás dessa idéia é de que a grande instabilidade de preços sob concorrência perfeita não é eficiente para fornecer e disseminar a quantidade e a qualidade necessária de informações para orientar os agricultores.

Johnston (1947) assinala que a melhor solução para esse problema é a adoção de um sistema de preços antecipados (forward-prices system) com vista a transferir a incerteza enfrentada pelo produtor individual para a economia como um todo. Deste modo, criam-se condições para que o setor agrícola cresça em harmonia com os demais setores da economia.

Os países desenvolvidos para contornar os problemas do setor agrícola criaram fortes programas de proteção a esse setor. Nos Estados Unidos, no início da década de 30, o então Presidente Roosevelt, criou o New Deal que foi apontado como o responsável pelo grande desenvolvimento da agricultura e do avanço tecnológico no meio rural desse país.

A Europa por sua vez, caracterizada historicamente por grande importadora de alimentos, após as duas grandes guerras mundiais passou por duas situações graves de desabastecimento que fez com que os diversos governos dos diferentes países interviessem na

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agricultura criando a Política Agrícola Comum (PAC) como forma de alcançar a auto- suficiência e de evitar que situações semelhantes voltassem a acontecer.

A principal preocupação dos países em desenvolvimento após a 2ª Guerra mundial era o subdesenvolvimento. Autores como Lewis (1954), Fei e Ranis (1964) e Jorgenson (1954) defenderam que o setor agrícola era um setor estratégico no processo de desenvolvimento devido à sua contribuição em termos de liberação de mão-de-obra, como provedora de poupança para a acumulação e como fornecedora de alimentos a baixo preço.

Nessa época, países como o Brasil acreditavam que a industrialização era sinônima de desenvolvimento econômico e, que esse desenvolvimento só se daria via substituição de importações implicando numa discriminação da agricultura a favor do desenvolvimento industrial, isto é, visava-se extrair os excedentes da agricultura para viabilizar o fortalecimento da indústria.

Cabo Verde também aderiu à estratégia de desenvolvimento industrial baseada na substituição das importações. Essa estratégia se caracteriza pela

Orientação da indústria local para o mercado interno, pelo encorajamento das atividades industriais susceptíveis de substituírem as importações de bens manufaturados e pelo reforço das barreiras aduaneiras, para proteger essas indústrias na sua fase de arranque (BARROS, s/d, p. 3).

Essa estratégia, por sua vez, não alcançou o fim esperado em Cabo Verde na medida em que uma das condições necessárias para o sucesso desta estratégia era a existência de um mercado interno que permitisse considerar uma produção de grande escala, condição indispensável, para que se atinja um nível ótimo, em termos de produtividade, para que se pudesse exportar. Porém, isto é possível, apenas em países com um grande mercado interno33, o que não era o caso de Cabo Verde.

Brown (1983) apud Carvalho (2001, p. 9) assegura que foi a grande crise de alimentos entre 1965 e 1966, que fez com que os governos passassem a reconhecer a importância que o setor agrícola desempenhava na segurança alimentar e por isso disponibilizaram recursos orçamentários para esse setor. O programa se baseava na viabilização da importação de sementes melhoradas, fertilizantes e matérias-primas, sempre que se fizesse necessário para incitar o avanço tecnológico no setor. Isso levou a um rápido crescimento da produção e da produtividade, principalmente do arroz e trigo, que por sua vez despertou uma onda de otimismo em todos os países subdesenvolvidos.

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Mesmo nos países com um grande mercado interno, como o caso do Brasil, Argentina, entre outros, essa estratégia não surtiu o resultado de que se estava à espera.

A Revolução Verde apesar de ter trazido muitas esperanças aos países pobres que viram nela a possibilidade de desenvolvimento econômico não se aplicou às condições de Cabo Verde que devido à reduzida disponibilidade de terra arável e de terra irrigável não se adequava aos preceitos dessa revolução.

Vaia (2000, p. 82) afirma que no caso de Cabo Verde apenas se poderia pensar numa otimização dos magros recursos da terra que estavam aquém de tornar possível a independência alimentar e o arrastamento de uma pequena indústria.

Vale ressaltar que hoje, mais do que nunca, as políticas públicas de desenvolvimento direcionadas ao setor agrícola devem, obrigatoriamente, ser planejadas de forma descentralizada, principalmente sob a responsabilidade da esfera municipal. A razão disso é a maior capacidade dos governos locais de administrarem as demandas por serviços públicos, com maiores possibilidades de controle dessas políticas, que mais próximas do seu público alvo permitem ter uma melhor percepção das principais carências das comunidades, e dessa forma contribuir para a construção de políticas públicas cada vez mais adequadas e eficientes.

Em seguida serão apresentados os procedimentos metodológicos utilizados na realização desse trabalho.

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