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Animais, comumente, se deparam com um ambiente complexo e, muitas vezes, precisam lançar mão de uma variedade de métodos para enfrentar os desafios; sejam esses de caráter físico, social, parasitário, patogênico etc. As repostas a esses desafios podem envolver atividades em partes do cérebro e várias outras respostas endócrinas, imunológicas e comportamentais. Mesmo assim, se o animal não obtiver sucesso em driblar certas situações, ele provavelmente demonstrará sinais diretos de sua falência adaptativa e potencial, que por sua vez pode resultar em falência de crescimento, falência reprodutiva ou morte (BROOM E FRASER, 2010).

Bem-estar é um termo usualmente utilizado em diversas situações, o que acarreta uma imprecisão do seu conceito. Quando a temática é o BEA, este deve ser definido de forma que permita pronta relação com outros conceitos, tais como: necessidades, liberdades, adaptação, controle, sentimentos, sofrimento, dor, ansiedade, medo, tédio, estresse e saúde. O bem-estar não pode ser entendido como um estado absoluto, presente ou ausente, ou como um termo relacionado somente a algo bom. O BEA tanto pode ser adequado ou alto, assim como pobre ou baixo. Sendo as expressões “bem-estar bom” e “bem-estar ruim” cientificamente válidas (BROOM E MOLENTO, 2004).

Em relação a avaliação do BEA, esta pode ser realizada de modo objetivo e bastante independente de qualquer consideração ética sobre os sistemas, práticas ou condições dos indivíduos. Diversos são os parâmetros que podem auxiliar na mensuração do bem-estar, tais como: taxa de mortalidade, sucesso reprodutivo, extensão da atividade adrenal, gravidade de injúrias, nível de incidência de doenças, indicadores comportamentais (BROOM E FRASER, 2010).

À medida que pesquisadores investem nas problemáticas referentes ao grau de bem-estar dos animais de produção, obtém-se, cada vez mais, aprimoramento no conhecimento de seus indicadores, possibilitando a aplicação desse conhecimento em estudos comparativos sobre animais de produção de diferentes sistemas de gerenciamento, plantas de instalações, métodos de manejo ou transporte, e os procedimentos de operações na fazenda e no abate (BROOM E FRASER, 2010).

A União Europeia está em processo crescente de imposição de critérios mínimos de bem-estar de animais de produção, por exemplo: a eliminação de

criação de poedeiras em gaiolas industriais, o banimento da produção de vitelo e do confinamento de porcas gestantes em baias individuais. Há alguns anos, o Departamento de Assuntos Ambientais, de Alimentos e Rurais (Department of Environment, Food and Rural Affairs – DEFRA) do Reino Unido publicou um relatório sobre o Bem-Estar Animal, Economia e Regulamentação que constituía um dos artigos mais completos sobre o assunto (McINERNEY, 2004). Percebe-se uma tendência de se organizar formas de exigência de padrões mínimos de BEA a partir de regulamentações governamentais. Esta exigência, que se inicia de forma interna em muitos países europeus e, mais timidamente, nos Estados Unidos, vem notadamente alcançando os domínios do comércio internacional.

Do ponto de vista prático, um conceito claramente definido de bem-estar é necessário para utilização em medições científicas precisas, em documentos legais, em discussões públicas e em cálculos de economia de mercado. Assim, para que o bem-estar possa ser comparado em situações diversas ou avaliado em uma situação específica, deve ser medido de forma objetiva. Das muitas definições propostas, a de maior repercussão no ambiente científico foi a publicada por Broom (1986) apud Molento (2005), segundo a qual: “bem-estar de um individuo é seu estado em relação às suas tentativas de se adaptar ao seu ambiente”.

De acordo com Molento (2005) uma forma de colocar em prática esse conceito é enfocar o grau de dificuldade que um animal demonstra na sua interação com o ambiente. Os animais dispõem de mecanismos fisiológicos e comportamentais para contornar obstáculos presentes em seu meio. Desse modo, o registro e análise de certas alterações da fisiologia e do comportamento de um animal podem ser indicativos de comprometimento de seu bem-estar.

A avaliação do bem-estar deve ser um processo multidisciplinar, considerando diferentes parâmetros que podem promover uma avaliação mais completa do BEA em um determinado sistema. Para este fim, o projeto Welfare

Quality® utiliza características fisiológicas, patológicas e comportamentais para avaliar o bem-estar de vacas leiteiras na fazenda (WELFARE QUALITY, 2009). Financiado pela Comissão Europeia, o projeto se iniciou em 2004 e se tornou um dos maiores trabalhos integrados de investigação já realizados em bem-estar animal na Europa. O projeto foi uma parceria de 40 instituições na Europa e quatro na América Latina (WELFARE QUALITY, 2009).

No Brasil, o setor pecuário, na sua maior parte, ainda está entrando em contato com esta nova postura ética. A adaptação da produção animal brasileira aos padrões de BEA é um processo inexorável, mesmo com as incertezas de forma e ritmo de desenvolvimento dessa transformação. É muito provável que países que exigem maiores padrões de BEA para os seus produtores, também exijam o mesmo para os pecuaristas de outros países que queiram entrar com seus produtos nesse mercado, ou seja, o exportador que tiver maior capacidade de atender as exigências de BEA encontrar-se-á em posição privilegiada nas negociações (MOLENTO, 2005).

As experiências e pesquisas internacionais sobre o BEA compõem um bom alicerce para o desenvolvimento desta área no Brasil. Por isso, é necessário buscar pleno conhecimento da biologia dos animais e compreender as relações destes com o ambiente, sendo estes essenciais para a concepção das instalações e dos métodos de manejo.