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Indicadores de bem-estar animal referente à saúde

2.5 Avaliação da qualidade do bem-estar animal

2.5.3 Indicadores de bem-estar animal referente à saúde

Incidência de doenças, injúrias, dificuldades de movimento e anormalidade de crescimento são indícios de baixo grau de bem-estar. Broom e Molento (2004) afirmaram que se comparados dois sistemas de criação e em um deles for detectado incidência significativamente maior de qualquer um desses indícios, o BEA será pior nesse sistema.

Um indicador na avaliação de BEA, referente à saúde do rebanho, pode ser estimado com base em exames clínicos. Para alguns indicadores, o levantamento das informações pode ser realizado através de consulta aos arquivos da propriedade rural combinada com a entrevista com o gerente (ROUSING et al. 2000). Alguns indicadores de saúde estão descritos no quadro 3.

Parte do corpo Parâmetros clínicos Relevância ao BEA Tegumento Parasitas

Infecções Feridas

Desordens da pele pruriginosa (coceira) resultam em desconforto em longo prazo e aumentam o risco de lesões autoinfligidas. Lesões e infecções provocam dor aguda e crônica. Fornece informações relacionadas ao sistema de habitação, manejo ou subjacentes doenças.

Pernas Claudicação

Manejo de cascos Claudicação indicamembros e afeta a liberdade de circulação e o uma condição dolorosa nos desempenho de comportamentos. Cascos muito grandes ou deformados podem indicar desordens do casco promovendo dor e desconforto. As mudanças resultantes sob os membros podem evoluir para danos articulares crônicos.

Úbere Lesões nos tetos Mastite clínica

Lesões nos tetos causam dor aguda e crônica, que pode ser agravada pelo processo de ordenha diária. Mastite clínica ocorre com freqüência envolvendo dor e desconforto.

Doenças

sistêmicas Condições gerais de doenças clínicas Doenças clínicas tipicamente envolvem dor e desconforto. As implicações sob o BEA variam em função da intensidade e duração da doença. Mortalidade Histórico de animais abatidos A informação aponta áreas específicas

problemáticas no rebanho e fornece detalhes que requerem a atenção dos produtores.

Quadro 3 - Indicadores de sáude para avaliação do bem-estar de vacas leiteiras. Adaptado de Rousing et al. (2000)

Broom e Fraser (2010) afirmaram que os principais problemas de bem-estar de vacas leiteiras são claudicação, mastite, e quaisquer problemas que acarretam

ferimentos ou a incapacidade dos animais de expressar respostas comportamentais e fisiológicas normais.

Incidência de claudicação

A claudicação constitui um dos problemas de saúde, econômicos e de bem- estar mais importante nas propriedades leiteiras.

A taxa de incidência anual de claudicação varia entre 4 a 56% em vacas adultas, em função da exploração do local e do ano do estudo (BOOTH et al., 2004). Broom e Fraser (2010) apontaram que a ocorrência de algum grau de claudicação é de 35 a 56% das vacas por ano nos EUA e de 59,5% no Reino Unido. Os mesmos autores afirmaram que a incidência de claudicação é maior em bovinos confinados do que em vacas criadas em pastos.

Na tabela 4 foram apresentadas incidências de claudicação relatadas em diferentes estudos.

Tabela 4 - Incidência de claudicação em bovinos leiteiros em diferentes países

Local Incidência (%) rebanhos Nº Método Observação Referência

Grécia 18 40 Escore de locomoção Obs. pontual Katsoulos e Christodoulopoulos, 2009*

Reino Unido 55 37 Escore de locomoção Incidência anual Clarkson et al., 1996* Brasil 55 1 Estudo de casos clínicos Incidência anual Souza et al., 2006*

Brasil, PR 15 12 Obs. de claudicação óbvia

Obs. pontual,

somente claudicação

severa Bond et al., 2007* Brasil, PR 78,8 25 Escore de locomoção Obs. pontual Bond, 2010 * Adaptado de Bond (2010)

A detecção precoce de claudicação, através da pontuação de locomoção é vital para reduzir perdas de produção e melhorar o BEA. Existem diversos sistemas de pontuação da claudicação em vacas leiteiras.

O sistema de Sprecher et al. (1997), com classificação numa escala de 1 a 5 pontos, é um dos mais utilizadosCerqueira et al. (2011), em revisão, afirmou que este sistema foi avaliado cientificamente em relação à sua repetibilidade e

reprodutibilidade em diversas pesquisas (FLOWER E WEARY, 2006; THOMSEN E BAADSGAARD, 2006, THOMSEN et al. 2008 apud CERQUEIRA et al., 2011) e reproduziu bons resultados.

Incidência de mastite

A incidência de mastite é afetada pela higiene durante o procedimento de ordenha e por vários outros fatores de manejo. Os métodos utilizados para detecção da mastite são a contagem de células somáticas (CCS), exame físico do úbere, aparência do leite, California Mastitis Test (CMT) e cultura bacteriana (TOZZETTI et al. 2008).

Ribeiro et al. (2003), no estado do Rio Grande do Sul, buscaram relacionar a mastite clínica com a subclínica infecciosa e não infecciosa em unidades de produção leiteira através do teste da caneca telada para o diagnóstico da mastite clínica e o CMT para diagnóstico da mastite subclínica. Do total de quartos mamários examinados, 60,83% não apresentaram mastite, 1,48% apresentaram mastite clínica e 37,69% apresentaram mastite subclínica.

Martins et al. (2010), na microrregião de Cuiabá, realizaram o teste da caneca telada e o CMT. Dos animais examinados, 85,2% do rebanho era portador de mastite em pelo menos um quarto mamário. O percentual de quartos mamários afetados por mastite clínica e subclínica foi de 5,8 e 65%, respectivamente.

MACHADO et al. (1999) relataram que a CCS presente na secreção láctea é um indicador geral da saúde da glândula mamária, amplamente utilizado como um indicador de mastite subclínica.

Cunha et al. (2008) estudaram a ocorrência de mastite subclínica e a relação entre a CCS com a ordem de lactação, produção e composição do leite, considerando animais com CCS acima de 250.000 cel/ml de leite como portadores de mastite subclínica. Os autores concluíram que as vacas com maior número de lactações apresentaram maior CCS, e vacas com CCS acima de 100.000 cels./ml apresentaram menor produção de leite.

Neste mesmo trabalho, Cunha et al. (2008) apresentaram dados que demonstram que houve uma redução progressiva nas porcentagens de animais com mastite subclínica entre os anos de 2000 (43,9%) e 2003 (38,7%), em Minas Gerais.

Além da ocorrência de mastite subclínica em sete núcleos da Associação de Criadores de Gado Holandês de Minas Gerais (ACGHMG): ACRICOM (40,5%), ACRILEITE (40,8%), NUGHOMARJ (41,9%), NUCRISUL (42,9%), NUGHOBAR (43,6%), NUARG (44,6%) e NUGHOMAN (54%).

O MAPA publicou no Diário Oficial em dezembro de 2011, a Instrução Normativa n.62 (IN62/2011), alterando a Instrução Normativa n.51 (IN51/2002), de 18 de setembro de 2002, com o objetivo de fixar os requisitos mínimos para produção e qualidade do leite.

De acordo com a IN 62/2011, a CCS passa a ter como limite máximo 600 mil cel/ml, em vez de 750 mil cel/ml, para os produtores das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste a partir de janeiro de 2012, e para os do Norte e Nordeste apenas em janeiro de 2013. Um escalonamento de prazos e limites foi determinado para a redução gradual de CCS até 2016, até que se atinja 400 mil cel/ml de leite, meta já proposta pela IN 51 para 2011, mas que se mostrou inviável na prática devido à disparidade da realidade dos produtores brasileiros.