• Nenhum resultado encontrado

3. PACIENTES E MÉTODOS

3.3. Estatística

Após a digitação dos dados, estes foram analisados pelo SPSS (Statistical Package for the Social Sciences) versão 11. A comparação entre as médias foi realizada pela ANOVA e a análise de proporções pelo teste de ƒÓ2. Os Resultados foram considerados estatisticamente significativos quando o p-valor apresentou probabilidade inferior a 5%(p< 0,05)34

Figura 13. Variação arterial Tipo 3.

AGD (artéria gastro-duodenal); AHC (artéria hepática comum); AHD ( artéria hepática direita); AE (artéria esplênica); TC (tronco celíaco); AMS ( artéria mesentérica superior).

Figura 14. Reconstrução arterial no Back table. Variação Tipo 3. AHC (artéria hepática comum); AHD ( artéria hepática direita); VP (veia porta); TC (tronco celíaco); AE (artéria esplênica); AMS ( artéria mesentérica superior);

No período estudado - março de 2002 a março de 2005 - foram estudados 80 pacientes submetidos a transplantes de fígado, com enxerto proveniente de um doador em morte cerebral.

Nos 80 casos de transplante de cadáver realizados no nosso serviço, a sobrevida no primeiro ano foi de 80,3%.

Dentre os 80 doadores, 47 eram do sexo masculino e 33 do sexo feminino (figura 15, tabela 3). O tempo de internação dos doadores variou de 1 a 26 dias, com média de 4 dias. Dos 80 doadores, 85% (68) faziam uso de aminas vasoativas.

A média de idade da população estudada foi de 36,6 ± 20,2 anos sendo a mediana de 37 anos, idade mínima de 1 ano e idade máxima de 74 anos (figura 16).

A média do peso foi de 65,4 ± 19,9 anos, com mediana de 70,0 Kg, peso mínimo de 7Kg e peso máximo de 83 Kg (figura 17).

A média de altura foi de 1,62 ± 0,23 m, mediana de 1,70 m, altura mínima de 0,65m e altura máxima de 1,85m (figura 18).

O peso médio do enxerto foi de 1.257,8 ± 416,4 Kg, sendo a mediana com 1.334 Kg, peso mínimo de 300g e peso máximo de 2.116 Kg (figura 19).

A média do Índice de Massa Corporal (IMC) foi de 23,9 ± 3,9, com mediana de 24,3, IMC mínimo de 20,6 e IMC máximo de 33,06 (figura 20). Estes dados estão apresentados na tabela 4.

Feminino

Masculino

41%

59%

Figura 15. Distribuição por sexo.

Tabela 3. Distribuição dos pacientes segundo sexo

Sexo do Paciente Frequência % Válido % Acumulado % Masculino 47 58,8 59,5 59,5 Feminino 32 40,0 40,5 100,0 Válido Total 79 98,8 100,0 Ausência de dados 1 1,3 Total 80 100,0

Idade do Paciente Peso do Paciente(Kg) Altura do Paciente(m) Peso do enxerto (g) Massa Corporal Válido 80 77 77 75 77 N Ausente 0 3 3 5 3 Média 36,60 65,40 1,615584 1257,79 23,9902 Mediana 37,00 70,00 1,70 1334,00 24,30

Freqüência

Média = 36,6 D. P.* = 20.1 N** = 80

Figura 16. Histograma – Distribuição da Idade dos doadores

Freqüência

Média = 65,4 D.P.* = 19,8 N** = 77

Figura 17. Histograma – Distribuição do peso dos doadores

Média = 1.62 m D.P.* = 0,23 N** = 77

Freqüência

Figura 18. Histograma. Distribuição em relação a altura dos pacientes

Freqüência

Média = 1247,8 g D.P.* = 416,3

N* = 75

Figura 19. Histograma. Distribuição do peso do enxerto.

Freqüência

Média = 24,0 D.P.* = 3,9 N** = 77

Figura 20. Histograma. Distribuição de acordo com o IMC dos doadores

benigno do sistema nervoso central (figura 21).

A distribuição dos doadores, segundo o grupo sangüíneo e raça, estão representados nas tabelas 5 e 6, respectivamente.

43

33

3

1

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

Frequência

AVE TCE Hipóxia Tumor benigno

Etiologias

Distribuição por causa mortis nos doadores

Tabela 5 – Distribuição dos doadores segundo grupo sangüíneo. Grupo Sangüíneo Freqüência % Válido % Acumulado % A 23 28,8 28,8 28,8 B 15 18,8 18,8 47,5 AB 3 3,8 3,8 51,3 0 39 48,8 48,8 100,0 Válido Total 80 100,0 100,0

Tabela 6 – Distribuição dos doadores segundo raça.

Raça do Paciente Frequência % Válido % Acumulado % Branco 48 60,0 67,6 67,6 Não Branco 23 28,8 32,4 100,0 Válido Total 71 88,8 100,0 Dados ausentes 9 11,3 Total 80 100,0

Em relação à classificação de Busuttil (figura 02): 66,3% dos doadores apresentaram anatomia habitual (tipo 1); 10% com AHE da AGE (tipo 2); 11,3% com AHD da AMS (tipo 3); 10% com a associação do tipo 2 e 3 (tipo 4); o Tipo 5 foi encontrado em 1,3% dos casos avaliados e o tipo 6 (AHC como ramo direto da aorta) não foi evidenciado no nosso trabalho (tabela 07).

Tabela 7 – Distribuição dos pacientes segundo classificação de Busuttil.

Classificação de Busuttil

Frequência % Válido % Acumulado % Normal Tipo 1 53 66,3 67,1 67,1

AHE da AGE Tipo 2 8 10,0 10,1 77,2

AHD da AMS Tipo 3 9 11,3 11,4 88,6

Tipo 2 + 3 Tipo 4 8 10,0 10,1 98,7

AHC da AMS Tipo 5 1 1,3 1,3 100,0

Válido Total 79 98,8 100,0 Dados ausentes 1 1,3 Total 80 100,0

A incidência de trombose arterial hepática (TAH) nos receptores foi 2,5% (2/80) nos primeiros três meses após o transplante, não considerando a diferença anatômica arterial encontrada no doador.

Na tabela 8 estão apresentadas as comparações entre as médias de peso, idade, altura, IMC e peso do enxerto, correlacionando com a presença de TAH.

Não houve correlação de TAH nos receptores quando analisados em relação à idade, ao peso, à altura, ao IMC e ao peso do enxerto do doador (Tabela 9).

Entre os doadores, 11,2% eram baixo-peso (IMC menor que 20); 37,5% eram sobre-peso (IMC maior que 25) e o restante, 51,3% apresentaram IMC entre 20 e 25.

Correlacionando o tipo arterial com presença de TAH, a incidência no tipo 1 foi de 1,9% (1/53); no tipo 3 foi 11,1% (1/9) e os tipos 2, 4 e 5 não apresentaram esta complicação arterial estudada (tabela 10).

Utilizando-se a classificação de Busuttil em relação à trombose arterial, não encontramos associação estatisticamente significativa entre trombose e quaisquer dos tipos de variação(p > 0,05).

No tipo 3, onde é necessária a realização de duas anastomoses, o p- valor foi de 0,201 com uma razão de chance (odds ratio) de 6,49 para a presença de trombose arterial no receptor. No trabalho foi encontrada uma associação estatisticamente significativa entre o grupo sangüíneo AB e as complicações vasculares (p < 0,001). Provavelmente um viés, pois, dos 80 doadores, somente três eram do grupo AB e, nos dois casos de trombose arterial no receptor, os doadores eram do grupo AB.

Tabela 8 – Comparação das médias de peso, idade, altura, IMC e peso do enxerto segundo presença de TA.

Dados estatísticos Presença de

trombose N° Média Desvio padrão

Sim 2 28,50 33,234 Idade do Paciente Não 78 36,81 20,047 Sim 2 51,50 47,376 Peso do Paciente Não 75 65,77 19,218 Sim 2 1,3750 ,60104 Altura do Paciente Não 75 1,6220 ,22048 Sim 1 884,00 703,107 Peso do enxerto (g) Não 74 1269,59 406,35 Sim 2 23,089 4,4476 Índice de Massa Corporal Não 75 24,0143 3,91249

Tabela 9. P valor referentes a dados dos doadores e trombose arterial do receptor.

Teste Simples Independente P - valor ,569 Idade do Paciente ,319 Peso do Paciente ,138 Altura do Paciente ,195 Peso do enxerto (g)

Dados Estatísticos Presença de trombose Não Sim Total p-valor OR* Freqüência 52 1 53 % com Classif. de Busuttil 98,1% 1,9% 100,0% 0,09 1,0 Normal Tipo 1 Freqüência 8 0 8 % com Classif. de Busuttil 100,0% ,0% 100,0% 0,743 0,01 AHE da AGE Tipo 2 Freqüência 8 1 9 % com Classif. de Busuttil 88,9% 11,1% 100,0% 0,201 6,49 AHD da AMS Tipo 3 Freqüência 8 0 8 % com Classif. de Busuttil 100,0% ,0% 100,0% 0,743 0,01 Tipo 2 + 3 Tipo 4 Freqüência 1 0 1 % com Classif. de Busuttil 100,0% ,0% 100,0% 0,907 0,01 Classif. de Busuttil AHC da AMS Tipo 5 Freqüência 77 2 79 % com Classif. de Busuttil 97,5% 2,5% 100,0% Total

5. DISCUSSÃO

Com os avanços na medicina, com maior suporte no per e pós- operatórios, a cirurgia hepatobileo-pancreática tornou-se mais freqüente e com bons resultados. O conhecimento anatômico da artéria hepática durante a dissecção das estruturas é obrigatório para que se evitem lesões em vasos nobres e para que se tenha êxito na cirurgia35-38

.

No transplante hepático, o estudo detalhado da anatomia arterial hepática torna-se mandatório, sobretudo no transplante ortotópico que envolve a utilização de enxertos parciais como nas modalidades de fígado reduzido, bipartido e intervivos.

Cabe nesta fase da discussão citar a importância do conhecimento arterial hepático em todas as etapas do transplante hepático, isto é, a etapa da captação de órgãos no doador, seguido do preparo do enxerto e, por último, na cirurgia do receptor.

Na cirurgia de captação do enxerto hepático é fundamental ter total domínio da anatomia vascular, sobretudo arterial39

. Esse preceito ganha maior significado quando há captação de pâncreas associado, visto que se torna mandatório avaliar se existe ou não AHD originária da AMS (tipo 3 e 4)40,41

de fígado e pâncreas, se houvesse esta variação presente42,43

.

Alguns anos mais tarde, começaram a surgir trabalhos que não descartavam a possibilidade de retirar o fígado e pâncreas, mesmo estando presente tal anomalia. Em 1992, Shaffer descreveu sucesso na captação de fígado e pâncreas na presença desta variação. Na verdade, faz-se necessária a identificação imediata da anomalia na cirurgia de captação, com reconstrução arterial na fase de preparo41,44

.

A presença da AHE da AGE acarreta cuidado maior durante o procedimento de captação, sendo imperiosa a liberação do pequeno omento próximo da curvatura gástrica, para garantir a preservação deste vaso anômalo.

Quando presente as variações dos tipos 3 e 4, será necessária a reconstrução arterial na fase de preparo do enxerto. Outra opção é realizar a reconstrução arterial na cirurgia do receptor. Nesta última, portanto, serão confeccionadas duas anastomoses arteriais na cirurgia do receptor.

A anastomose realizada no preparo do enxerto é preferível, pois a respiração e os batimentos cardíacos estão ausentes, ao contrário quando optada por reconstruir na cirurgia do receptor.

A figura 22 e 23 ilustram a realização da anastomose dita com habitual, isto é, o TC do doador na AHC do receptor.

Figura 22. Reconstrução habitual.

VB – via biliar; VP – veia porta; AHC – artéria hepática comum; AGE – artéria gástrica esquerda; TC – tronco celíaco; AE – artéria esplênica; AHP – artéria hepática própria; VCI – veia cava inferior.

Figura 23. Reconstrução habitual.

AGD (artéria gastroduodenal); AE (artéria esplênica);

TC (tronco celíaco); AHC (artéria hepática comum); AGE (artéria gástrica esquerda); AE ( artéria esplênica); AGD (artéria Gastro-duodenal).

Na literatura existem várias formas de reconstrução arterial, geralmente utilizadas quando presentes os tipos 3 e 4.Tsaroucha descreveu sete formas diferentes de reconstrução45

.

A reconstrução pode ser feita com a AHD da AMS do doador na artéria esplênica do doador na fase de preparo (figura 24) e, posteriormente, anastomose do TC do doador na AHC do receptor.

Figura 24. Reconstrução da AHD na AE do doador. VB (via biliar); VP (veia porta); AHC (artéria hepática comum);

AGE (artéria gástrica esquerda); TC (tronco celíaco); AE (artéria esplênica); AHP (artéria hepática própria); VCI (veia cava inferior);

Outra opção é anastomosar o TC do doador na AMS do doador, com posterior anastomose da AMS do doador na AHC do receptor, denominado procedimento de Gordon46

(figura 25). Uma terceira opção é anastomosar a AHD do doador na AGD do doador e subseqüente anastomose do TC doador na AHC do receptor. Uma quarta forma é realizar as duas anastomoses na cirurgia do receptor: AHD da AMS do doador na AHD do receptor seguida da junção arterial habitual (TC doador na AHC do receptor). As outras formas de reconstrução são pouco ou quase nunca realizadas, como a interposição da AMS (figura 26).

Figura 25. Procedimento de Gordon – Técnica em “8”.

VB (via biliar); VP (veia porta); AHC (artéria hepática comum); AGE (artéria gástrica esquerda); TC (tronco celíaco); AE (artéria esplênica); AHP (artéria hepática própria); VCI (veia cava inferior); AMS (artéria mesentérica superior).

Figura 26. Reconstrução com interposição da AMS.

VB (via biliar); AHC (artéria hepática comum); TC (tronco celíaco); AE (artéria esplênica); AHP (artéria hepática própria); AHD (artéria hepática direita);

O transplante hepático com fígado originário de um doador em morte encefálica evoluiu bastante nas últimas três décadas, mas a taxa de mortalidade durante a internação se mantém em torno de 10%47

. Isto significa que 90% dos pacientes obtêm alta após a realização do procedimento. No centro de transplante de Dumont-UCLA, maior centro de transplante de fígado em atividade, localizado nos EUA e coordenado por Busuttil, uma análise de 3200 transplantes em 2662 pacientes em 18 anos foi realizada47

. Neste trabalho foram incluídos transplante de cadáver adulto e pediátrico, como também transplante reduzido, intervivos e com fígado bipartido.

A sobrevida do paciente no primeiro ano foi de 86% no grupo menor de 18 anos enquanto no grupo com mais de 55 anos foi de 77% (p < 0.001). A taxa de retransplante ficou em torno de 10%. As sobrevidas do paciente e do enxerto em 1, 5, 10 e 15 anos estão apresentadas na tabela 11.

Neste trabalho (dividido em duas eras: 1984-1991 e 1992-2001), Busuttil chama a atenção, na sua análise, para o aumento da taxa de trombose arterial. Na primeira era, foi de 1.25%, enquanto na segunda foi de 3.8%, com média de 3.1%. No estudo, ele atribuiu o aumento à realização de procedimentos mais complexos como no transplante com fígado bipartido e intervivos, com anastomoses entre vasos com calibres menores.

Tabela 11. Sobrevida do paciente e enxerto47

.

Sobrevida 1 ano 5 anos 10 anos 15 anos

Paciente 81% 72% 68% 64%

Enxerto 73% 64% 59% 55%

Na nossa casuística, a taxa de complicação arterial foi de 2,5% (2/80). A TAH ocorreu em um caso com anatomia habitual (1/54), com incidência de 1,85%; num segundo caso, com anatomia do tipo 3 (1/9), com incidência de 11,1%. Apesar da aparente discrepância, não foi estatisticamente significativo, com p-valor de 0,201, provavelmente devido à casuística reduzida e à taxa de trombose arterial abaixo da casuística internacional47,48

. A presença da AHD oriunda da AMS, a qual é encontrada nos tipos 3 e 4 da classificação de Busuttil, são descritas em vários periódicos, onde é enfatizada a importância do conhecimento detalhado da anatomia da artéria hepática na cirurgia de captação e o método escolhido de reconstrução arterial, onde ambos são fatores decisivos nos índices de complicações arteriais (tabela 12)5,45, 49-51

Tabela 12. Séries com índices de variações da artéria hepática. TIPOS I II III IV V 67,5% 10% 11,2% 10% 1,2% 75,7% 9,7% 10,6% 2,3% 1,5% 92,1% 0,27% 7,3% 0,27% 0% 63% 16% 16% 5,0% 0% 65,7% 11,5% 14,9% 7,4% 0,43% 69% 14,3% 8,3% 1,7% 2,3% 55% 18% 18% 4,0% 2,5% 59% 17% 18% 2,0% 3,0% Séries HGB n=80 Busuttil6 n=1000 Tsaroucha45 n=369 Settmacher53 n=148 Gruttadauria50 n=701 Soin51 n=527 Michels5 n=200 Kemeny52 n=100 Outros 0,% 0,2% 0,06% 0% 0,07% 4,4% 0,5% 1,0%

Na literatura, a incidência de TAH para transplantes de fígado inteiro de cadáver gira em torno de 3%, enquanto no grupo pediátrico essa taxa sobe para 10%, como no centro americano de Miami48

. Na tabela 13 estão apresentadas as incidências de TAH em centros transplantadores.

Tabela 13. Incidência de Trombose arterial hepática -TAH

HGB Busuttil47 Neuhaus53 Pittsburgh48 Azoulay54 n=80 n=3200 n=837 n=4000 n=1500

2,5% 3,1% 2,7% 3.8% 4,5% TAH

A anomalia arterial hepática do tipo 3 ou 4 no doador quase sempre torna necessária a reconstrução arterial, abrangendo duas anastomoses. Sua presença pode estar ou não associada aos maiores índices de complicações arteriais no transplante hepático.

Calne relatou estudo com 527 transplantes hepáticos, onde não se observou diferença estatística da incidência de TAH nos casos com suprimento arterial normal ou anômalo, com 3,6% (13/366) e 5,6% (9/161) respectivamente51.

anastomose (15/455) e outro com duas anastomoses (7/72), houve aumento da incidência de complicações arteriais (3,3% versus 10%, com p-valor < 0,02).

Quando comparada a reconstrução habitual (TC do doador na AHC do receptor) com o implante da artéria do doador na aorta do receptor, existe também aumento de TAH com p-valor < 0,04 (15/498 versus 2/11). Em relação à reconstrução habitual e com uso de enxerto vascular, também houve esse aumento de TAH, com p - valor < 0,0003% (15/498 versus 5/18)51.

Para o grupo chefiado por Neuhaus, fatores para o aumento da TAH são: peso do receptor abaixo de 10 kg; tempo de isquemia fria prolongado; fluxo insuficiente causado por estenose do tronco celíaco; diâmetro da artéria menor que 3 mm e presença de anomalia arterial53

.

A TAH é um evento catastrófico, podendo se apresentar de forma precoce (considerada até 30 dias pós-transplante) ou mais tardiamente, quase sempre com manifestações oriundas do processo isquêmico da via biliar55

. No grupo do Neuhaus, de 837 transplantes, 23 (2,74%) apresentaram TAH, sendo 6 casos (23%) de forma precoce. Dos 23 casos, 13 (57%) foram retransplantados, sendo que 5 destes faleceram53

o único tratamento é a revascularização precoce ou retransplante em caráter urgente.

No presente estudo, não houve correlação entre a presença de AHD da AMS e trombose arterial no transplante hepático, como já demonstrado. Este achado é corroborado pelo grupo de Moreno Gonzalez, onde a incidência de trombose arterial foi semelhante a nossa encontrada, 2,4% (17/687)56

. Neste trabalho, no grupo pediátrico, a taxa de TAH foi de 5,2% contra 2% nos adultos. Dos 17 casos de TAH, dois ocorreram após reconstrução arterial na fase de preparo do enxerto (11,7%). A reconstrução arterial não se mostrou como fator de risco independente para a presença de TAH.

A mesma observação foi feita por Haberal, onde o número de anastomoses arteriais não acrescentou risco adicional para TAH57

.

Na casuística de Sansalone, ele descreve que, em 200 transplantes, 14 pacientes apresentaram anomalia arterial do tipo 3, sendo que 11 necessitaram de reconstrução na fase de preparo do enxerto: 9 casos com anastomose da AHD com a artéria esplênica e 2 casos entre AHD e AGE58

.

Sansalone sugere que este procedimento possa adicionar risco de TAH, embora na casuística dele não tenha havido TAH nos casos onde foi necessária a reconstrução arterial58

anatômicas do doador, até fatores relacionados à cirurgia no receptor (implante do órgão).

Mais especificamente, em relação à trombose arterial, Mazzaferro e Starzl descreveram que a TAH depende, principalmente, não só de fatores técnico-cirúrgicos, mas também de outros fatores. Após análise multivariada, o uso de terapia anticoagulante foi a única que independentemente influenciou a taxa de trombose arterial (p-valor < 0.01)59

.

No mesmo trabalho, não houve correlação, estatisticamente significativa, entre TAH e a presença de anomalia arterial hepática que necessitasse de reconstrução na fase de preparo do enxerto (nos Tipos 3 e 4)59

.

Na última década, surgiram novas técnicas de transplantes como intervivos e com fígado bipartido, ambas, com o interesse de aumentar o número de transplantes.

Podemos encontrar citações atuais que enfatizam a importância e aplicabilidade do conhecimento da artéria hepática nos transplantes que realizam a bipartição do enxerto, como o transplante intervivos60-64

. e o transplante com fígado bipartido65-67

. O intuito é o de aumentar o número de receptores transplantados, já que existe uma escassez de doadores cadavéricos.

aumentar de 2 a 3 vezes em comparação aos índices no transplante de fígado com órgão inteiro no adulto a partir do enxerto de cadáver58,68,69

.

Portanto, o conhecimento detalhado da anatomia da artéria hepática ganhou força e importância especiais nestas modalidades de transplantes.

Na verdade, é um conceito antigo resgatado e novamente supervalorizado devido à relevância do assunto em questão, pois uma trombose da artéria possui alto índice de letalidade.

Amadeos Marcos, em editorial publicado em 2004, propôs uma classificação em relação à variação específica da AHD com 3 tipos, tendo como critério básico o número de anastomoses62

.

O mesmo autor, numa casuística com 40 transplantes intervivos com fígado direito para adulto, não apresentou complicação arterial. Neste trabalho, havia 3 casos de variação do tipo 3 (7,5%) e outros 3 casos (7.5%) com duas artérias direitas, sendo necessária a realização de duas anastomoses60. Segundo ele, a presença de uma AHD da AMS facilitaria a cirurgia do doador, assim como também a reconstrução no receptor, visto que o comprimento (figura 27) e o calibre da artéria seriam maiores.

Nos transplantes intervivos com lobo esquerdo, encontramos na literatura observação semelhante, pois a presença de AHE da AGE (tipo 2) foi um fator facilitador com menores índices de trombose arterial61

habitual, ou seja, a AHE sendo oriunda da AHC (p-valor < 0.03 para o calibre e p-valor de 0.0001 para a extensão do segmento arterial)61

. Isto porque o cirurgião responsável pela cirurgia do doador disseca a AHE com sua liberação até a origem da AGE, conseguindo assim um diâmetro maior do segmento arterial para anastomose no receptor.

O mesmo raciocínio pode ser utilizado na técnica de transplante hepático com fígado bipartido. Nesta técnica, faz-se necessário decidir pela divisão das estruturas do pedículo hepático entre cada receptor. Esta decisão não é ao acaso, e precisa ser tomada de acordo com a anatomia do pedículo hepático, sobretudo a arterial65

Figura 28. Arteriografia com artéria hepática direita (AHD) da artéria

Na presença da variação do tipo 2 (AHE da AGE) no doador cadáver, torna-se preferível dividir o segmento arterial, deixando o tronco celíaco com o lobo esquerdo. Assim, a AHE da AGE e a AHE da AHC permanecem irrigando o lobo esquerdo e somente uma anastomose será feita no receptor, com calibre bem maior. Dessa forma, reduz-se a incidência de TAH no grupo pediátrico, que naturalmente possui uma taxa de TAH mais elevada quando comparada com a dos adultos (figura 28).

Quando presente a variação do tipo 3 (AHD da AMS), a divisão do pedículo arterial para ambos os receptores é facilitada, pois cada receptor receberá uma artéria mais calibrosa para anastomose: a criança receberá o lobo esquerdo com o tronco celíaco, contendo a AHE e o adulto receberá o fígado direito com a AMS contendo a artéria hepática direita, ambos com diâmetros maiores, o que facilita a confecção das anastomoses (figura 29).

Figura 29. Variação tipo 3 – split liver ( fígado bipartido).

6. CONCLUSÕES

¾ Variação da anatomia arterial hepática dos doadores cadavéricos foi encontrada em 32,5% dos casos, sendo do tipo 2 em 10%; tipo 3 em 11,2%; tipo 4 em 10% e o tipo 5 em 1,2%.

¾ A variação da anatomia arterial hepática encontrada no trabalho corresponde aos dados disponíveis na literatura mundial.

¾ Não houve correlação estatisticamente significativa no trabalho entre a variação da artéria hepática com trombose arterial pós-transplante.

¾ Do ponto de vista anatômico, a presença de determinada variação se torna um fator facilitador nas modalidades avançadas de transplante hepático: intervivos e com fígado bipartido.

7. REFERÊNCIAS

1. Hamilton, W.; Boyd, J.; Mossman, H.W. Embriologia humana, Bueno Aires, Editorial Intermédica, 1966.

2. Melliere, D. Variations of the hepatic arteries and the pancreatic junction Classification and incidence. Arteriographic and surgical detection. Effects

on hepatic pedicle surgery, excision of the pancreas and pancreatic and liver grafts. J Chir (Paris). 1968 Jan;95(1):5-42.

3. Hardy, K. J.; Jones, M. Hepatic artery anatomy in relation to reconstruction in liver transplantation: some unusual variations. Aust. N. Z. Surg. 1994; 64: 437-440.

4. Warwick, R.; Williams, P.L. Henry Gray Anatomy. Ed. Guanabara Koogan.1984. 35° ed. Tomo I, Cap. 6 : 625-629.

5. Michels, N.A. Variational anatomy of the hepatic, cystic, and retroduodenal arteries. Arch. Surg. 1953; 66: 20-32.

6. Jonathan, R.; Hiatt, M.D.; Busuttil, M.D. Surgical anatomy of the hepatic arteries in 1000 cases. Annals of Surgery. 1994; vol.220, n°1: 51-52.

7. Daseler, E.H.; Anson, B.J.; Handbly, V. The cystic artery constituents of the hepatic pedicle. A study of 500 specimens. Surg Gynecol Obstet. 1947;sep 47-63

8. Michels, N.A. Newer Anatomy of the Liver and its Variant Blood Supply and Collateral Circulation. Am. J. Surg. 1962; 112:337-47.

9. Cannon, JA. Brief Report. Transplantation Bull. 1956; 3:7

10. Starzl, T.E.; Kaupp, H.A. Jr; Brock, D.R.; et al. Reconstrutive problems in canine liver homotransplantation with special reference to the postoperative role of hepatic venous flow. Surg. Gynecol. Obstet. 1960; 111: 733-743.

11. Starzl, T.E.; Marchhioro, T.L.; Von Kaulla, K.N.; et al. Homotransplantation of the liver in humans. Surg. Gynecol. Obstet. 117: 659-676, 1963.

12. Starzl, T.E.; Groth, C.G.; Brettschneider, L.; et al. Orthotopic

homotransplantation of the human liver. Ann. Surg. 1968; 168: 392-415. 13. Starzl, T.E.; Iwatsuki, S.; VanThiel, D.H. Evolution of liver

transplantation. Hepatology. 1982; 2:614-636.

14. Rolles, K.; Williams, R.; Neuberger, J; et al. The Cambridge and King's College Hospital experience of liver transplantation, 1968-1983. Hepatology. 1984;4(suppl 1):50-55.

15. Pichlmayr, R.; Brolsch, C.; Neuhaus, P.; et al. Report on 68 human

Documentos relacionados