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Estatuto da Criança e do Adolescente: prioridade absoluta na garantia do

4 DIREITO À EDUCAÇÃO COMO DIREITO HUMANO E

4.3 Estatuto da Criança e do Adolescente: prioridade absoluta na garantia do

4.3 Estatuto da Criança e do Adolescente: prioridade absoluta na garantia do direito à educação

Além dos dispositivos constitucionais que tratam da garantia do direito à educação, esse direito recebeu reforço no que diz respeito à sua efetivação em prol das crianças e dos adolescentes: o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Lei nº 8.069, de 1990.

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A Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, estabeleceu as diretrizes e bases da educação nacional. A LDBEN definiu educação como processo formativo a ser desenvolvido na família, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais (art. 1º). Além disso, estabelece que o ensino é dever do Estado e da família, devendo ser ministrado tendo como base os princípios de igualdade de acesso, liberdade de aprender, pluralismo de ideias, respeito à liberdade, coexistência de instituições públicas e privadas, gratuidade do ensino em estabelecimentos oficiais, valorização do profissional da educação, gestão democrática do ensino público, garantia do padrão de qualidade, valorização da experiência extra-escolar, vinculação escola-trabalho-práticas sociais, consideração com a diversidade étnico-racial (art.2º). (BRASIL, 1996, p.1).

68 A proposta de um Plano de Educação com objetivo de fiscalizar a política educacional a médio e longo prazo existe desde a década de 1930, a partir do estabelecimento do Conselho Nacional de Educação (1931) e da divulgação do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova (1932). Ambos documentos, com suas especificidades, inclinavam-se para o desenvolvimento de uma política educacional nacional. O Manifesto influenciou a elaboração da Carta Constitucional de 1934, no que diz respeito à competência do governo federal para a elaboração de um plano nacional de educação. Em 1937, o Conselho Nacional de Educação apresentou uma proposta de Plano, que, entretanto, não foi concluída. Na década de 1960 foi elaborado novo projeto de plano, que, mais uma vez, foi abandonado. Durante os anos 70 e 80, período do regime militar, a elaboração dos planos esteve ligada à política ditatorial, sem contar com a participação dos educadores e da sociedade civil em geral. A partir de intensa mobilização, a Carta de 1988 incorporou a obrigatoriedade de elaboração de um plano nacional de educação. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, de 1996, determinou que a União deveria encaminhar o Plano Nacional de Educação no prazo de um ano. Todavia, apenas em 2001 foi aprovado o primeiro Plano Nacional de Educação, através da Lei nº 10.172/2001, com previsão de duração de dez anos. Ao final do período de vigência, alguns problemas foram identificados: praticamente metade dos Estados e Municípios não haviam elaborado seus respectivos planos; restrição de recursos; ausência de centralidade do Plano; ausência de regulamentação sobre a colaboração dos entes, dentre outras. No ano de 2010, foram iniciadas as discussões relativas ao novo PNE (DE OLHO ..., 2015, p.2-3).

A Constituição de 1988, sob influência dos debates internacionais de formulação da Convenção sobre os Direitos da Criança e de forte mobilização nacional, consolidou a concepção de que crianças e adolescentes são sujeitos de direitos, os quais devem ser assegurados com absoluta prioridade pela família, pela comunidade, pela sociedade e pelo Poder Público, tendo em vista sua condição peculiar de desenvolvimento.

O ECA foi estabelecido como meio de operacionalizar a determinação constitucional de priorizar o atendimento aos direitos básicos das crianças e dos adolescentes. Nesse ínterim, o artigo 4º determina que a efetivação dos direitos das crianças e dos adolescentes, dentre os quais está o direito à educação, deve ser priorizada de modo absoluto.

O Estatuto reservou o Capítulo IV, Do Direito à Educação, à Cultura, ao Esporte e ao Lazer, do Título II, Dos Direitos Fundamentais, para tratar sobre o direito à educação. Assim, em seu artigo 5369 ressaltou as finalidades da educação propostas pelo texto constitucional, quais sejam: busca do pleno desenvolvimento; preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho, devendo ser garantida a igualdade de condições para o acesso e permanência na escola, o respeito pelos educadores, o direito de contestar critérios de avaliação, o direito de organização e participação em entidades estudantis e o acesso à escola pública e gratuita nas proximidades de sua residência, bem como deve ser dada aos pais a possibilidade de acessar as propostas educacionais.

O artigo 5470 enumera os deveres do Estado quanto ao acesso de crianças e adolescentes à educação. Desse modo, deve ser garantido: ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que não estejam na idade própria; progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade do ensino médio; atendimento especializado para os portadores

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Art. 53. A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho, assegurando-se-lhes: I - igualdade de con- dições para o acesso e permanência na escola; II - direito de ser respeitado por seus educadores; III - direito de contestar critérios avaliativos, podendo recorrer às instâncias escolares superiores; IV - direito de organização e participação em entidades estudantis; V - acesso à escola pública e gratuita próxima de sua residência. Parágra- fo único. É direito dos pais ou responsáveis ter ciência do processo pedagógico, bem como participar da defini- ção das propostas educacionais. (BRASIL, 1990b, p.14-15).

70 Art. 54. É dever do Estado assegurar à criança e ao adolescente: I - ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não tiveram acesso na idade própria; II - progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade ao ensino médio; III - atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, prefe- rencialmente na rede regular de ensino; IV - atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a seis anos de idade; V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacida- de de cada um; VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do adolescente trabalhador; VII - atendimento no ensino fundamental, através de programas suplementares de material didático-escolar, trans- porte, alimentação e assistência à saúde. § 1º O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subje- tivo. 2º O não oferecimento do ensino obrigatório pelo poder público ou sua oferta irregular importa responsa- bilidade da autoridade competente. § 3º Compete ao poder público recensear os educandos no ensino funda- mental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou responsável, pela freqüência à escola. (BRASIL, 1990b, p.15).

de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino; atendimento em creches; acesso aos níveis mais elevados do ensino; oferta de ensino regular noturno; programas suplementares de material didático, transporte, alimentação e assistência à saúde no ensino fundamental. Sendo, ainda, repetidos os comandos constitucionais: o acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo e haverá responsabilidade da autoridade competente em casos de não oferecimento do ensino obrigatório, além de determinar a obrigatoriedade de recenseamento dos educandos, bem como a necessidade de zelo pela frequência escolar, que deve contar com o auxílio dos pais ou dos responsáveis.

Ainda, há um reforço para que a prestação do direito à educação não seja dever exclusivo do Poder Público, mas exercida em parceria com a família e com a sociedade em geral, conforme as disposições doartigo 22:―Aos pais incumbe o dever de sustento, guarda e educação dos filhos menores, cabendo-lhes ainda, no interesse destes, a obrigação de cumprir e fazer cumprir as determinações judiciais‖; do artigo 55: ―Os pais ou responsável têm a obrigação de matricular seus filhos ou pupilos na rede regular de ensino‖; e do artigo 56: ―O dever dos dirigentes de estabelecimentos de ensino fundamental de comunicar ao Conselho Tutelar os casos de maus-tratos envolvendo seus alunos, a reiteração injustificada de faltas e a evasão escolar, e os elevados níveis de repetência‖.

Oartigo 58, do ECA, prevê a obrigatoriedade de que o processo educacional respeite os valores culturais, artísticos e históricos próprios do contexto de cada criança e adolescente, garantindo liberdade de criação e acesso às diversas fontes de cultura.

O artigo 101, III, do ECA, estabelece o dever da autoridade competente de determinar,

dentre outras medidas, a ―matrícula e frequência obrigatórias em estabelecimento oficial de

ensino fundamental‖, quando verificada qualquer das hipóteses previstas no artigo 98, do ECA: ―As medidas de proteção à criança e ao adolescente são aplicáveis sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem ameaçados ou violados: I - por ação ou omissão da sociedade ou do Estado; II - por falta, omissão ou abuso dos pais ou responsável; III - em

razão de sua conduta‖.

O artigo 136, IX, do ECA71, por sua vez, determina a participação dos Conselhos Tutelares72 na assessoria do Poder Executivo municipal no processo de elaboração da

71 Art. 136. São atribuições do Conselho Tutelar: [...]IX - assessorar o Poder Executivo local na elaboração da proposta orçamentária para planos e programas de atendimento dos direitos da criança e do adolescente. (BRASIL, 1990b, p.34).

72Art. 131. O Conselho Tutelar é órgão permanente e autônomo, não jurisdicional, encarregado pela sociedade de zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do adolescente, definidos nesta Lei. (BRASIL, 1990b, p.33).

proposta orçamentária, objetivando uma maior proximidade com as demandas diárias de atendimento.

O orçamento público municipal é uma lei que contém a previsão de receita e programação de despesas do governo para o período de um ano, estruturado a partir das determinações constitucionais. O Orçamento da Criança e do Adolescente (OCA) tem como objetivo organizar as informações contidas no orçamento público, de forma a estabelecer o que será destinado à promoção e ao desenvolvimento da criança e do adolescente, dividindo tal atuação em três esferas prioritárias: saúde, educação, assistência social e direitos da cidadania. O OCA contempla não apenas ações implementadas para atenção direta das crianças e adolescentes, mas as que melhoram as condições de vida das famílias.

Todas as disposições inseridas no arcabouço normativo aqui analisado consideram a importância da educação no processo formativo das crianças e dos adolescentes. De fato, a educação é um processo de socialização dos indivíduos: ao receber educação, a pessoa assimila e adquire conhecimentos através de uma sensibilização cultural e de comportamento, por meio do qual as novas gerações adquirem as formas de se estar na vida das gerações anteriores.

4.4 Projeto de Política Nacional de atenção à criança e ao adolescente em situação de rua: