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Estatuto, eleições, diretoria e funções

4.3 Liberdade de Organização

4.3.1 Administração dos Sindicatos

4.3.1.1 Estatuto, eleições, diretoria e funções

Sobre o estatuto, trata-se de um contrato aberto para futuros aderentes, con- forme um ato de vontade livre e espontâneo, por isso, não admite intervenções de terceiros na sua elaboração247. Dos limites possíveis, restam aqueles relativos à au-

tonomia, qual seja, a legalidade e a observância do fundamento e da finalidade do sindicato. A título de exemplificação, o estatuto não pode ter condições discriminató- rias para a filiação no sindicato respectivo, nem uma assembleia geral antidemocrá- tica.

As eleições servem aos sindicatos para a composição de sua diretoria e con- selho fiscal, conforme dispuser seus estatutos. Dos limites possíveis, restam aqueles relativos à autonomia, qual seja, a legalidade e a observância do fundamento e da finalidade do sindicato. A título de exemplificação, as eleições devem observar proce- dimento democrático, por oportuno, reitera-se denúncia de Pamplona Filho e Lima Filho:

Falta ainda, publicidade em muitas discussões sindicais. Muitas entidades optam pela divulgação de convocações e eleições por meio de editais, o que visa cumprir uma exigência formal da CLT, mas que não atinge o público- alvo: o grupo representado. Além disso, não são incomuns relatos de uso de violência e de outras artimanhas para obstar a candidatura e a disputa igua- litária das chapas de oposição em muitos sindicatos248.

Quanto à diretoria, há uma celeuma originada através da Súmula 369 do TST, em seu item II. A princípio, a limitação quanto ao número de dirigentes trazida pelo art. 522 da CLT (7 dirigentes e 7 suplentes) não foi recepcionada, podendo o sindicato fixar o número de diretores conforme a sua vontade. No entanto, somente o número de dirigentes fixado pelo art. 522 da CLT goza da estabilidade prevista no art. 543 da CLT.

Sobre o tema, Pimenta entende que conferir a estabilidade somente ao número de dirigentes estabelecidos no art. 522 da CLT:

247 GOMES, Orlando; GOTTSCHALK, Elson. Curso de Direito do Trabalho. Rio de Janeiro: Forense,

2003, p.553.

248 PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Pluralidade sindical e democracia. 2ª edição revista e ampliada.

[...] importa em restrição arbitrária aos direitos de livre organização sindical e autonomia sindical, além de tornar praticamente ineficaz a estabilidade sindi- cal em algumas categorias de maior vulto.

Dados da Pesquisa Sindical do IBGE de 2001 [...] demonstram que mais de 80% dos sindicatos brasileiros tinham, naquele ano, mais de sete diretores em exercício. Com efeito, uma diretoria composta apenas por sete diretores é rara em categorias que agregam número expressivo de trabalhadores – como as dos metalúrgicos, dos bancários, dos comerciários, dos petroleiros, etc. –, principalmente em entidades sindicais em que a base territorial é su- perior à de um município.

Assim, na prática, cria-se uma situação de desigualdade entre trabalhadores que exercem exatamente as mesmas funções de representação sindical, já que apenas sete dos diretores seriam protegidos pela estabilidade provisó- ria249.

Nesse caso, razoável é a fixação desse número pelo estatuto dos sindicatos, conforme as suas dimensões e sua abrangência, não sendo permitidos abusos250.

No que tange às funções do sindicato, os arts. 513251 e 514252 da CLT têm um

rol de prerrogativas e deveres dos sindicatos. Apesar de sua não recepção, são um indicativo das funções do sindicato. A CR/88 indica algumas dessas funções em seu art. 8º inc. III: “ao sindicato cabe a defesa dos direitos e interesses coletivos ou indivi- duais da categoria, inclusive em questões judiciais ou administrativas”. Para Arouca, a partir de uma síntese doutrinária, são funções do sindicato253:

a) defesa de direitos individuais da categoria, através da reduzida substituição processual, como legitimação absolutamente extraordinária, ou da assistên- cia judiciária, sempre com concurso de advogados; b) a defesa de interesses coletivos, mediante negociações coletivas, materializadas, quando proveito- sas nos acordos e convenções coletivas ou, quando frustradas, valendo-se

249 PIMENTA, Raquel Betty de Castro. Condutas Antissindicais praticadas pelo Empregador. Dis-

sertação (Mestrado). Belo Horizonte: PUC Minas, 2012, p.128-9.

250 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 6ª Edição. São Paulo: LTr, 2007,

p.1339.

251 São prerrogativas dos sindicatos: a) representar, perante as autoridades administrativas e judiciárias

os interesses gerais da respectiva categoria ou profissão liberal ou interesses individuais dos associa- dos relativos à atividade ou profissão exercida; b) celebrar contratos coletivos de trabalho; c) eleger ou designar os representantes da respectiva categoria ou profissão liberal; d) colaborar com o Estado, como órgãos técnicos e consultivos, na estudo e solução dos problemas que se relacionam com a respectiva categoria ou profissão liberal; e) impor contribuições a todos aqueles que participam das categorias econômicas ou profissionais ou das profissões liberais representadas. Parágrafo Único. Os sindicatos de empregados terão, outrossim, a prerrogativa de fundar e manter agências de colocação.

252 São deveres dos sindicatos: a) colaborar com os poderes públicos no desenvolvimento da solidari-

edade social; b) manter serviços de assistência judiciária para os associados; c) promover a conciliação nos dissídios de trabalho; d) sempre que possível, e de acordo com as suas possibilidades, manter no seu quadro de pessoal, em convênio com entidades assistenciais ou por conta própria, um assistente social com as atribuições específicas de promover a cooperação operacional na empresa e a integra- ção profissional na Classe. Parágrafo único. Os sindicatos de empregados terão, outrossim, o dever de: a) promover a fundação de cooperativas de consumo e de crédito; b) fundar e manter escolas do alfabetização e prevocacionais.

253 Arouca classifica as funções do sindicato como objetivos. Nesse estudo, entendeu-se que o objetivo

da arbitragem ou com o ajuizamento do dissídio coletivo; c) assistenciais, me- diante ação social desenvolvida com a assistência judiciária, ambulatório mé- dico-odontológico; d) educativa, representada principalmente por cursos pro- fissionalizantes ou de requalificação, como virou moda; e) cultural, com esco- las de arte, conferências, teatro, etc; f) participação nos colegiados dos órgão públicos de representação tripartite; g) parceria em projetos governamentais; h) consultoria técnica254.

Nas linhas seguintes, o autor ainda inclui a atividade econômica e a atividade política, vedadas pela CLT nos arts. 521, alínea d255 e 564256. No mesmo sentido,

Delgado entende que: “Meras razões de conveniência do legislador infraconstitucional não são bastantes para inibir a força de tais princípios constitucionais”257.