• Nenhum resultado encontrado

Estatuto nacional da microempresa e da empresa de pequeno porte instituído pela

3. REGULAÇÃO DE REGISTRO DE EMPRESAS NO BRASIL

3.2. As reformas da regulação de registro público de empresas brasileiras

3.2.1. Estatuto nacional da microempresa e da empresa de pequeno porte instituído pela

A Constituição Federal de 1988 estabeleceu em seu art. 179 o tratamento diferenciado às micro e pequenas empresas, na busca pela simplificação de suas obrigações:

Art. 179. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios dispensarão às microempresas e às empresas de pequeno porte, assim definidas em lei, tratamento jurídico diferenciado, visando a incentivá-las pela simplificação de suas obrigações administrativas, tributárias, previdenciárias e creditícias, ou pela eliminação ou redução destas por meio de lei (BRASIL, 1988).

Em 1995 este tratamento favorecido às micro e pequenas empresas foi elevado à condição de princípio geral da atividade econômica, com a sua inclusão no art. 170 da

Constituição Federal de1988, através da Emenda Constitucional nº 6, de 15 de agosto de 1995:

Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:

(...)

IX - tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte constituídas sob as

leis brasileiras e que tenham sua sede e administração no País. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 6, de 1995) (BRASIL, 1988).

Em 1999 foi editado o primeiro Estatuto da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte por meio da Lei nº. 9.841, de 5 de outubro de 1999, que instituiu o Estatuto e regulamentou o tratamento jurídico diferenciado, simplificado e favorecido previsto nos art. 170 e 179 da Constituição Federal de 1988.73 Esse estatuto trazia algumas facilidades em relação ao registro de micro e pequenas empresas, como a desnecessidade de apresentação de certidões fiscais e visto de advogado, o que era exigido para as demais empresas.74

73 As micro e pequenas empresas eram definidas no art. 3º da Lei nº. 9.841, de 5 de outubro de 1999: Art. 2º. Para os efeitos desta Lei, ressalvado o disposto no art. 3º, considera-se:

I - microempresa, a pessoa jurídica e a firma mercantil individual que tiver receita bruta anual igual ou inferior a R$ 244.000,00 (duzentos e quarenta e quatro mil reais); (Vide Decreto nº 5.028, de 2004)

II - empresa de pequeno porte, a pessoa jurídica e a firma mercantil individual que, não enquadrada como microempresa, tiver receita bruta anual superior a R$ 244.000,00 (duzentos e quarenta e quatro mil reais) e igual ou inferior a R$ 1.200.000,00 (um milhão e duzentos mil reais). (Vide Decreto nº 5.028, de 2004)

§ 1o No primeiro ano de atividade, os limites da receita bruta de que tratam os incisos I e II serão proporcionais ao número de meses em que a pessoa jurídica ou firma mercantil individual tiver exercido atividade,

desconsideradas as frações de mês.

§ 2o O enquadramento de firma mercantil individual ou de pessoa jurídica em microempresa ou empresa de pequeno porte, bem como o seu desenquadramento, não implicarão alteração, denúncia ou qualquer restrição em relação a contratos por elas anteriormente firmados.

§ 3o O Poder Executivo atualizará os valores constantes dos incisos I e II com base na variação acumulada pelo IGP-DI, ou por índice oficial que venha a substituí-lo.

Art. 3º. Não se inclui no regime desta Lei a pessoa jurídica em que haja participação: I - de pessoa física domiciliada no exterior ou de outra pessoa jurídica;

II - de pessoa física que seja titular de firma mercantil individual ou sócia de outra empresa que receba tratamento jurídico diferenciado na forma desta Lei, salvo se a participação não for superior a dez por cento do capital social de outra empresa desde que a receita bruta global anual ultrapasse os limites de que tratam os incisos I e II do art. 2o.

Parágrafo único. O disposto no inciso II deste artigo não se aplica à participação de microempresas ou de empresas de pequeno porte em centrais de compras, bolsas de subcontratação, consórcios de exportação e outras formas de associação assemelhadas, inclusive as de que trata o art. 18 desta Lei (BRASIL, 1999).

74 Cf. o art. 6º da Lei nº. 9.841, de 5 de outubro de 1999:

“Art. 6o O arquivamento, nos órgãos de registro, dos atos constitutivos de firmas mercantis individuais e de sociedades que se enquadrarem como microempresa ou empresa de pequeno porte, bem como o arquivamento de suas alterações, é dispensado das seguintes exigências:

I - certidão de inexistência de condenação criminal, exigida pelo inciso II do art. 37 da Lei no 8.934, de 18 de novembro de 1994, que será substituída por declaração do titular ou administrador, firmada sob as penas da lei, de não estar impedido de exercer atividade mercantil ou a administração de sociedade mercantil, em virtude de condenação criminal;

II - prova de quitação, regularidade ou inexistência de débito referente a tributo ou contribuição de qualquer natureza, salvo no caso de extinção de firma mercantil individual ou de sociedade.

Parágrafo único. Não se aplica às microempresas e às empresas de pequeno porte o disposto no § 2o do art. 1o da Lei no 8.906, de 4 de julho de 1994.” (BRASIL, 1999).

A Lei nº. 9.841, de 5 de outubro de 1999, vigorou até 2006, quando foi revogada pela Lei Complementar nº. 123, de 14 de dezembro de 2006, que instituiu o novo Estatuto Nacional da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte. 75 Há vários pontos da Lei

Complementar nº 123, de 14 de dezembro de 2006, que merecem destaque. Para ilustrar vale citar a criação do Comitê Gestor do Simples Nacional e do Fórum Permanente das Microempresas e Empresas de Pequeno Porte. O Comitê Gestor do Simples Nacional é responsável por deliberar e discutir matérias tributárias. Vinculado ao Ministério da Fazenda, o comitê é composto por quatro representantes da Secretaria da Receita Federal do Brasil, como representantes da União, dois dos estados e do Distrito Federal e dois dos municípios. O Fórum Permanente das Microempresas e Empresas de Pequeno Porte foi criado para discutir todos os assuntos não incluídos na competência do comitê, tendo a participação dos órgãos federais competentes e das entidades vinculadas ao setor.

Especificamente em relação ao registro de empresas, a Lei Complementar nº 123, de 14 de dezembro de 2006, trouxe várias medidas de simplificação, como, por exemplo, “a unicidade do processo de registro e de legalização de empresários e de pessoas jurídicas” e o incentivo na busca da compatibilização e integração dos procedimentos dos órgãos envolvidos no processo de registro e legalização de empresas, “de modo a evitar a duplicidade de exigências e garantir a linearidade do processo, da perspectiva do usuário” (art. 4º, da Lei Complementar nº 123, de 14 de dezembro de 2006).

Destaca-se a disposição do art. 5º, que determina aos órgãos e entidades responsáveis pelo registro e legalização de empresas a disponibilizar acesso presencial e pela rede mundial de computadores “informações, orientações e instrumentos, de forma integrada e consolidada” sobre registro e legalização de empresas, “de modo a prover ao usuário certeza quanto à documentação exigível e quanto à viabilidade do registro ou inscrição”.76

75 As micro e pequenas empresas passaram a ser definidas no art. 3º da Lei Complementar nº 123, de 14 de dezembro de 2006:

Art. 3º Para os efeitos desta Lei Complementar, consideram-se microempresas ou empresas de pequeno porte, a sociedade empresária, a sociedade simples, a empresa individual de responsabilidade limitada e o empresário a que se refere o art. 966 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil), devidamente registrados no Registro de Empresas Mercantis ou no Registro Civil de Pessoas Jurídicas, conforme o caso, desde que: I - no caso da microempresa, aufira, em cada ano-calendário, receita bruta igual ou inferior a R$ 360.000,00 (trezentos e sessenta mil reais); e

II - no caso de empresa de pequeno porte, aufira, em cada ano-calendário, receita bruta superior a R$ 360.000,00 (trezentos e sessenta mil reais) e igual ou inferior a R$ 4.800.000,00 (quatromilhões e oitocentos mil reais). (Redação dada pela Lei Complementar nº 155, de 2016) Produção de efeito.” (BRASIL, 2006).

76 “Art. 5o Os órgãos e entidades envolvidos na abertura e fechamento de empresas, dos 3 (três) âmbitos de governo, no âmbito de suas atribuições, deverão manter à disposição dos usuários, de forma presencial e pela rede mundial de computadores, informações, orientações e instrumentos, de forma integrada e consolidada, que permitam pesquisas prévias às etapas de registro ou inscrição, alteração e baixa de empresários e pessoas

Também vale registrar o disposto no art. 8º da lei, que estabelece a entrada única de dados e documentos para o registro e legalização de empresas: “Art. 8º. Será assegurado aos empresários entrada única de dados cadastrais e de documentos, resguardada a independência das bases de dados e observada a necessidade de informações por parte dos órgãos e entidades que as integrem”.

A lei geral das micro e pequenas empresas, previu vedações expressas como forma de inibir a estipulação de exigências infundadas ou em duplicidade nas esferas dos governos federal, estadual e municipal para abertura e fechamento de empresas em geral:

Art. 10. Não poderão ser exigidos pelos órgãos e entidades envolvidos na abertura e fechamento de empresas, dos 3 (três) âmbitos de governo:

I - excetuados os casos de autorização prévia, quaisquer documentos adicionais aos requeridos pelos órgãos executores do Registro Público de Empresas Mercantis e Atividades Afins e do Registro Civil de Pessoas Jurídicas;

II - documento de propriedade ou contrato de locação do imóvel onde será instalada a sede, filial ou outro estabelecimento, salvo para comprovação do endereço indicado;

III - comprovação de regularidade de prepostos dos empresários ou pessoas jurídicas com seus órgãos de classe, sob qualquer forma, como requisito para deferimento de ato de inscrição, alteração ou baixa de empresa, bem como para autenticação de instrumento de escrituração.

Art. 11. Fica vedada a instituição de qualquer tipo de exigência de natureza documental ou formal, restritiva ou condicionante, pelos órgãos envolvidos na abertura e fechamento de empresas, dos 3 (três) âmbitos de governo, que exceda o estrito limite dos requisitos pertinentes à essência do ato de registro, alteração ou baixa da empresa (BRASIL, 2006).

Com a edição da Lei Complementar nº 123, de 14 de dezembro de 2006, se iniciou uma revolução empreendedora. Contudo, essas inovações não foram implementadas imediatamente, mas de forma gradativa, tendo se tornado um processo permanente de reforma.

3.2.2. Rede Nacional para Simplificação do Registro e da Legalização de Empresas e