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Sistema Nacional de Registro de Empresas Mercantis (SINREM)

3. REGULAÇÃO DE REGISTRO DE EMPRESAS NO BRASIL

3.1. Sistema Nacional de Registro de Empresas Mercantis (SINREM)

Os registros públicos, sob uma ótica organizacional, “são órgãos do Estado que, na forma da lei, prestam o serviço público de dar publicidade a documentos relativos a negócios e atividades privadas” (LOBO In: LAMY FILHO, 2009. p. 737).

O registro público é regulamentado pela Lei nº. 6.015/1973, que dispõe de forma geral sobre o registro civil de pessoas naturais, o registro civil de pessoas jurídicas, o registro de títulos e documentos e o registro de imóveis, excetuando outros registros que se regerão por leis especiais, como é o caso do registro empresarial.

O registro empresarial é regido por lei própria, a Lei nº 8.934/94, que o denomina “Registro Público de Empresas Mercantis e Atividades Afins”, e por disposições na legislação societária.56 Com a edição da Lei nº 8.934/94, a regulação de registro de empresas passou a

ser organizada na forma de um sistema designado “Sistema Nacional de Registro de Empresas Mercantis – SINREM”, englobando órgãos e entidades federais e estaduais (BRASIL, 1994b).

O registro de empresas tem como órgão de supervisão, orientação, coordenação, e regulamentação o Departamento de Registro Empresarial e Integração (DREI) (nova nomenclatura do extinto Departamento Nacional de Registro do Comércio - DNRC), órgão

56 Além das previsões da Lei nº. 8.934/94, várias leis esparsas fazem alusão ao registro empresarial, sendo forçoso citar o art. 97 da Lei nº. 6.404/76 e os art. 1.153 e 1.154 do Código Civil de 2002.

federal, vinculado à Secretaria Especial da Micro e Pequena Empresa (SEMPE), do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC). 57

Como órgão de execução, o sistema de registro de empresas se serve das Juntas Comerciais, entes locais, havendo uma em cada Estado da Federação e no Distrito Federal, com sede nas respectivas capitais e atribuição na circunscrição territorial de todo o Estado (art. 5º, da Lei nº 8.934/94).

Torna-se importante destacar que as Juntas Comerciais têm natureza híbrida, haja vista que em matéria administrativa ela insere-se na administração pública estadual, e quando se trata de matéria técnica de registro de empresa, vincula-se ao DREI (art. 6º58 da Lei nº.

8.934/94), segundo Sérgio Campinho (2014):

As Juntas Comerciais são órgãos locais, com funções executora e administradora dos serviços de registro. Haverá, portanto, uma Junta Comercial em cada unidade da Federação, com sede na capital e jurisdição na área da circunscrição territorial respectiva. Encontram-se, assim, subordinadas administrativamente ao governo da unidade federativa onde se localizam e, tecnicamente, ao DREI. A Junta Comercial do Distrito Federal, entretanto, é subordinada administrativamente à Secretaria da Micro e Pequena Empresa, integrando a sua estrutura organizacional, e tecnicamente ao DREI (CAMPINHO, 2014. p. 390).

Observe-se que compete privativamente à União legislar sobre direito comercial (art. 22, I, da Constituição Federal de 1988) e registros públicos (art. 22, XXV, da Constituição Federal de 1988), de forma que somente a união pode legislar sobre o registro público de empresas, salvo se houver delegação específica através de lei complementar (art. 22, parágrafo único, da Constituição Federal de 1988) (BRASIL, 1988).

Por outro lado, a Constituição Federal de 1988, em seu art. 24, III,59 prevê a

competência concorrente da União e dos Estados para legislar sobre “Juntas Comerciais”, de forma que, em regra, cabe à legislação federal fixar as normas gerais e à legislação estadual, as normas específicas (competência suplementar).60

57 Decreto nº. 9.260, de 29 de dezembro de 2017 (BRASIL, 2017a).

58 Art. 6º As juntas comerciais subordinam-se administrativamente ao governo da unidade federativa de sua jurisdição e, tecnicamente, ao DNRC, nos termos desta lei (BRASIL, 1994b).

59 Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: (...)

III - juntas comerciais; (...)

60 “Trata-se de matéria antes prevista como de competência legislativa privativa da União nas Constituições de 1967 (art. 8º, XVII, “e”) e de 1946 (art. 5º, XV, “e”) e que ora passa para o âmbito da competência legislativa concorrente. Na verdade, as mencionadas Constituições conferiam à União exclusividade para legislar sobre registros públicos e juntas comerciais, sendo que a atual Constituição manteve a competência legislativa privativa da União apenas quanto a registros públicos (art. 22, XXV).

Pois bem, no exercício desta competência foi editada, já na vigência da atual Constituição, a Lei Federal n. 8.934/94, que dispõe sobre o Registro Público de Empresas Mercantis e Atividades Afins, encontrando-se nessa

De acordo com o disposto no art. 32, da Lei nº. 8.934/94, cabe à junta comercial realizar: a) a matrícula dos leiloeiros, tradutores e intérpretes comerciais, trapicheiros e administradores de armazéns gerais; b) o arquivamento dos atos de empresa e de interesse dos empresários; e c) a autenticação dos livros e escriturações comerciais (BRASIL, 1994).

No entanto, para o desenvolvimento do presente trabalho, torna-se relevante o estudo de apenas uma das modalidades: “O arquivamento: a) dos documentos relativos à constituição, alteração, dissolução e extinção de firmas mercantis individuais, sociedades mercantis e cooperativas”(BRASIL, 1994).

O arquivamento, segundo Silva (2002), “nada mais é do que o ato de depósito, promovido pela autoridade pública competente, para guarda de documentos de interesse do comércio e do empresário comercial” (Silva, 2002. P. 53).

São passíveis de arquivamento nas juntas comerciais os atos e documentos relacionados às seguintes formas societárias: Empresário Individual (EI),61 Empresa Individual de Responsabilidade Limitada (EIRELI),62 Sociedade em Conta de Participação,63 Sociedade em Nome Coletivo,64 Sociedade em Comandita Simples,65 Sociedade Limitada (LTDA),66 Sociedade Anônima (S.A.),67 Sociedade em Comandita por Ações,68 Consórcio,69 Subsidiária Integral,70 Grupo Empresarial.71e Cooperativa.72

lei numerosas e minudentes disposições relativas às juntas comerciais, consideradas órgãos locais do Sistema Nacional de Registro de Empresas Mercantis, com funções executora e administradora dos serviços de registro. Ora, o fato de o art. 24, III, ter incluído as juntas comerciais no espaço das competências legislativas

concorrentes autoriza o questionamento sobre a constitucionalidade da lei em pauta, que extrapolou em muito a edição de normas gerais sobre o assunto.

Não se nega que há uma íntima relação entre os temas registros públicos e juntas comerciais, o que autoriza o legislador federal a disciplinar integralmente os aspectos da competência registral que a elas incumbe. Já quanto a aspectos de organização administrativa, considerando-se a opção do constituinte pela inclusão das juntas na competência legislativa concorrente, haveria a União de conter-se nos limites das normas gerais, deixando para os Estados o seu desdobramento, até porque a própria lei federal as subordina administrativamente ao governo da unidade federativa de sua jurisdição. A justificar esse entendimento, soam oportunas as

ponderações de Manoel Gonçalves Ferreira Filho (Comentários, cit., v. 1, p.187), para quem as juntas comerciais cumprem funções estabelecidas na legislação federal, mas institucionalmente são órgãos da Administração estadual, daí a competência concorrente para legislar sobre elas. (ALMEIDA In: CANOTILHO et al., 2018. p. 1.465)

61 Cf. art. 966 e seguintes do Código Civil (BRASIL, 2002). 62 Cf. art. 980-A do Código Civil (BRASIL, 2002).

63 Cf. art. 991e seguintes do Código Civil (BRASIL, 2002). 64 Cf. art. 1.039e seguintes do Código Civil (BRASIL, 2002). 65 Cf. art. 1.045 e seguintes do Código Civil (BRASIL, 2002). 66 Cf. art. 1.052 do Código Civil (BRASIL, 2002).

67 Cf. Lei das Sociedades por Ações (BRASIL, 1976) e art. 1.088 e 1089 do Código Civil (BRASIL, 2002). 68Cf. art. 280 e seguintes da Lei das Sociedades por Ações (BRASIL, 1976).

69 Cf. art. 278 e seguintes da Lei das Sociedades por Ações (BRASIL, 1976). 70 Cf. art. 251 e seguintes da Lei das Sociedades por Ações (BRASIL, 1976). 71 Cf. art. 265 e seguintes da Lei das Sociedades por Ações (BRASIL, 1976). 72 Cf. Lei das Cooperativas (BRASIL, 1971).

A partir da segunda metade da década de 2000, o governo brasileiro passou a se esforçar para simplificar os procedimentos para formalização de empresas no País, iniciando esse movimento com o estabelecimento de regras voltadas para a desburocratização e unificação dos processos de registro e legalização de empresas, por meio da edição de novas legislações.