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Sobre esse campo, buscamos subsídios em Paulo Freire (1985), um dos precursores no campo interdisciplinar e interdiscursivo da Educomunicação, assim como em Mário Kaplún, que tratam a educação como um problema de comunicação. O que se deve buscar, segundo esses autores, é a melhoria da competência comunicativa e das ações de educação a partir de tecnologias comunicacionais.

Freire indica que as massas populares são submetidas à “cultura do silêncio”. Para ele, a forma de se quebrar essa realidade opressora é por meio da educação. “Quanto mais as massas populares desvelam a realidade objetiva e desafiadora sobre a qual eles devem incidir sua ação transformadora, tanto mais se inserem nela criticamente” (FREIRE, 1985, p. 42).

Kaplún, filósofo nascido na Argentina e radicado no Uruguai, e primeiro a utilizar o termo Educomunicação, ocupa-se de estudar a comunicação e a educação como ferramentas

para a conquista da cidadania e inserção social, por meio da construção democrática do conhecimento.

Esse novo campo de intervenção social configura-se pelo estudo da produção de conhecimento sobre as multiplicidades comunicativas que, “mesmo atendendo aos apelos da indústria da cultura inspirada no mercado, vai resolver-se na questão educativa, como mediador do político-social, inaugurando um novo estrato, uma consciência reterritorializada” (SCHAUN, 2002, p. 20).

Comunicação e Educação são campos e, como tais, apresentam particularidades, mas também trazem diversos aspectos comuns. A Educomunicação surge da intercessão entre os dois campos, absorvendo os pontos comuns e problematizando os seus elementos confluentes. Como qualquer área do saber, ela demarca seus limites epistêmicos e o alcance de seus postulados. Seu principal foco são as atividades de intervenção, voltadas à perspectiva de estudo crítico dos meios de comunicação, atuando no ensino formal e não-formal, nas empresas, nos meios de comunicação, movimentos populares e nas organizações não- governamentais.

Essa interface pode ser observada por diferentes prismas. O primeiro aspecto corresponde ao uso dos meios de comunicação para a educação. A educação passou a se valer dos meios de comunicação para pôr em andamento novas formas de educar, passando a percebê-los como suporte ao processo de ensino-aprendizagem. As escolas começaram a utilizar e a gerar produtos em sala de aula, a fim de desenvolver a compreensão dos processos de interação, midiatização e produção do conhecimento.

Os meios de comunicação, por sua vez, incorporaram temáticas que somente eram tratadas na escola, quando os recursos midiáticos entraram nos processos educacionais, requerendo, assim, outros tratamentos.

A escola é inevitavelmente mais lenta na revisão de programas e currículos. Enquanto isso, a mídia disponibiliza imediatamente os conhecimentos que se destacam. Por um lado, esses conhecimentos aparecem descontextualizados, dispersos, em forma de “varejo”. Por outro lado, a escola, ao tentar sintonizar com um ritmo da mídia, arrisca desenvolver um enfoque marcado pelo modismo e pela informação mais chamativa ou espetacular. (BRAGA; CALAZANS, 2001, p.67)

A presença dos meios de comunicação nas escolas gerou resistência e críticas, e fez com que o sistema escolar revisasse seus próprios conceitos e processos, desenvolvendo e elaborando novas formas de educar, novos procedimentos metodológicos e pedagógicos para enfrentar os desafios da formação.

Outro aspecto relevante de tal interface refere-se à aprendizagem por meio da vivência no mundo. Os saberes circulam pela sociedade midiatizada de forma rápida, diversificada, a partir de fontes variadas e vinculados a objetivos os mais distintos possíveis.

Em termos de intervenção, ganham destaque as iniciativas com as rádios escolares. Nesses espaços, os estudantes passam a ser protagonistas da comunicação, ocupando a posição de produtores – e não apenas de receptores. Sobre os efeitos de ações desse tipo, Montoya; Zorzón (2007, p. 169, tradução nossa) avaliam:

A Rádio Escolar proporciona um ensino coletivo, já q ue requer a participação de toda a comunidade educativa; a rádio tem um valor incomparável, não só na informação ou divulgação de notícias, mas sim como espaço de discussão dos problemas da atualidade e para a exposição de temas de interesse comum, como po r exemplo, sobre as normas de convivência.

A oferta radiofônica abre um horizonte conceitual amplíssimo aos jovens: em política e cultura, em economia e religião, em formação e entretenimento. Uma educação aberta, crítica e dialogante preparará os jovens para assimilar as distintas mensagens que brindam os meios massivos10.

A Educomunicação propõe, portanto, pensar como serão formados cidadãos críticos, participativos e inseridos no meio social. Unem-se campos distintos, para se consolidar esse novo setor de produção de conhecimento. A Educomunicação é, podemos dizer, um lugar em trânsito, em movimento contínuo, que necessita, cada vez mais, ser aprofundado e potencializado.

Por tais razões, essa abordagem ganha importância nesta pesquisa, visto que a dimensão educativa do jornalismo científico pode ser analisada tomando os referenciais propostos pela Educomunicação.

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La Radio Escolar proporciona una enseñanza colectiva, ya que requiere la participación de toda la comunidad educativa; la radio tiene um valor incomparable, no solo en la información o divulgación de noticias sino como mesa de discusión de los problemas de actualidad y la e xposición de temas de interes común, como por ejemplo, discutir sobre el manual de convivencia.

La oferta radiofónica abre un horizonte conceptual amplísimo a los jóvenes: e n política y cultura, eneconomía y religión, en formación y entretenimiento. Una educación abierta, critica y dialogante preparará a los jóvenes para asimilar los distintos mensajes que brindan los medios masivos.

3 ESCOLHAS TEÓRICO-METODOLÓGICAS E AMOSTRA DA PESQUISA

A investigação da dimensão comunicativo-educacional, no corpo das ações de divulgação científica das instituições maranhenses selecionadas nesta pesquisa, demanda a análise de como os sujeitos sociais são posicionados por essa prática discursiva e as relações que condicionam sua produção, circulação e consumo.

Sentimos necessidade, desse modo, de percurso interpretativo que se articule ao contexto sócio-histórico, dando conta do jogo de interesses institucionais, e suas implicações na prática discursiva do jornalismo científico e na dimensão educativa dos textos.

Para isso, recorreremos aos fundamentos da Teoria Social do Discurso, de Norman Fairclough (2001), que percebe o discurso em perspectiva tridimensional: é, ao mesmo tempo, prática social, prática discursiva e texto.

Abrimos este capítulo com a apresentação dos referenciais teórico-metodológicos utilizados na pesquisa, partindo das concepções de linguagem para, assim, chegarmos à formação dos conceitos que fundamentam a Análise de Discurso Textualmente Orientada (ADTO) (FAIRCLOUGH, 2001).

Indicamos, ao final, os procedimentos de escolha do corpus empírico do estudo e do tratamento a que foi submetido.