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4 CONTEXTO DE FORMAÇÃO DO JORNALISMO CIENTÍFICO NA UFMA, IFMA

4.2 Contexto de formação discursiva do IFMA

4.2.2 Prestação de contas com a sociedade: o objeto da assessoria

A atribuição de uma assessoria de comunicação é, em termos gerais, construir ou manter imagem e conceitos positivos do assessorado. Segundo Margarida Kunsch (2003), os desafios da contemporaneidade têm promovido novas posturas das organizações. Esse comportamento organizacional é pautado no relacionamento social e dentro da própria organização.

A comunicação passa a exercer importante papel no estabelecimento de canais efetivos com os diversos segmentos relacionados à organização, sendo então responsável pela sinergia das ações organizacionais. É por meio da comunicação que se consegue estreitar os laços do seu discurso com o ambiente circunstante, favorecendo assim a construção de imagem, reputação, credibilidade e legitimidade junto a seus públicos. Gaudêncio Torquato (1986, p. 57) assinala que

toda organização depende, para seu crescimento, da manutenção da confiança na sua integridade e na coerência de sua política e atuação. Seja no que diz respeito ao seu pessoal, seja no que diz respeito aos clientes, fornecedores e acionistas. E isto só se consegue com um programa de comunicações.

Na literatura da área, o objeto das assessorias de comunicação, portanto, parece bem definido, mas, como ressalta Foucault (1987), as regras impostas por uma formação discursiva para a definição dos objetos podem mudar. Desse modo, teriam as assessorias de comunicação das instituições de ensino superior alguma especificidade?

No entendimento de Cláudio Moraes, assessor de comunicação da instituição, o objeto do Departamento de Comunicação e Eventos do IFMA é o intercâmbio de informações para a prestação de contas com a sociedade. Para ele, esse aspecto é o que diferencia o trabalho em assessoria de comunicação de instituições públicas, independente da área fim.

Tem recurso público investido. Então, há o dever de prestar conta de como esse recurso está sendo aplicado. Aqui, vem recursos para ensino, pesquisa e extensão. Então, é primordial que haja esse intercâmbio de informações em relação ao que está sendo produzido dentro da instituição. Não como mark eting, não como propaganda, mas o que está sendo feito com os recursos públicos que vêm pra cá, que são injetados aqui na instituição (ENTREVISTA)36.

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O gestor da Comunicação do Instituto Federal do Maranhão entende que a divulgação científica está condicionada pela necessidade de informar como os recursos destinados à pesquisa estão sendo aplicados. Em sua fala, não aparece como atribuição ou objeto próprio da assessoria de comunicação de instituições de ensino superior a difusão e democratização dos conhecimentos produzidos no IFMA. Quando se refere à democratização das informações, restringe-se ao compromisso de levar à sociedade quais pesquisas estão sendo realizadas com o dinheiro público investido.

Vêm recursos para investir a pes quisa; para favorecer, implementar ou ampliar as pesquisas. Aqui no IFMA, vem recursos para poder realizar pesquisas tanto no ensino médio quanto na graduação e na pós -graduação, em todo o Estado [...]. Tem a obrigação de a instituição divulgar o que está sendo feito com esse recurso, com resultados práticos, com as pesquisas que estão sendo produzidas [...]. Se v êm para pesquisa, o resultado dos recursos públicos, dos investimentos, tem que se mostrar para a sociedade. (ENTREVISTA)37.

Entre os dias 1º e 03 de dezembro de 2010, representantes dos diversos segmentos do IFMA reuniram-se para votar e aprovar o Regimento Geral da instituição. Em seu artigo 59, o documento prevê uma Coordenadoria de Divulgação Científica como parte da Pró-Reitoria de Pesquisa e Inovação. Mais adiante, no artigo 64, estabelece as competências da coordenadoria:

I- fornecer orientação e apoio aos campi nos encaminhamentos necessários à publicação de trabalhos científicos;

II- organizar as informações visando à divulgação interna e externa dos periódicos científicos institucionais, em articulação com a Coordenação de Comunicação e Eventos;

III- divulgar as chamadas para recebimento dos trabalhos submetidos a revista científica institucional;

IV- acompanhar as publicações nacionais e internacionais de servidores e discentes do Instituto Federal do Maranhão;

V- coordenar o Programa Institucional de Apoio à Divulgação Científica; e VI- gerenciar a página eletrônica da Pró-Reitoria de Pesquisa e Inovação.

De acordo com Cláudio Moraes, mesmo previsto no Regimento Geral, a coordenadoria ainda não foi implantada. A constituição de departamento próprio para tratar da divulgação científica seria o ideal nas instituições de ensino superior. Mas chama a atenção as atribuições postas no documento, que se referem muito mais à disseminação científica (comunicação de ciência voltada para público especializado) do que de divulgação.

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Outro aspecto apontado pelo assessor do IFMA é a inexistência do Departamento de Comunicação e Eventos no Regimento Geral, demonstrando que a comunicação ainda não é reconhecida como política da instituição. Ela é feita de forma aleatória, sem planejamento e definição de atribuições e de diretrizes a serem tomadas, principalmente no que se refere à divulgação científica.

A PRPGI faz referência em auxiliar a comunicação na divulgação científica, mas a própria assessoria de comunicação não está prevista nos documentos oficiais do instituto, apesar de na parte orçamentária haver previsão de um cargo de chefia, os profissionais estarem lotados, mas no organograma da instituição, oficialmente, nem existe assessoria de comunicação. Existe um descompasso aí entre a realidade que está no papel (ENTREVISTA)38.

Percebemos justaposição de objetos no Departamento de Comunicação e Eventos do IFMA: um mais próximo daquilo que é materializado – no caso, a prestação de contas; e outro previsto nos documentos da Instituição, mas não cumprido. Embora não apareça na fala do chefe do Departamento, podemos elencar, ainda, como objeto do setor, a promoção de eventos, que transita entre aqueles de cunho científico e outros de caráter administrativo ou institucional.

Para Foucault (1987), os objetos de uma prática discursiva estão no limite do discurso. É necessário, desse modo, ir além dele e entender as relações que tornam possível falar ou não sobre determinado assunto; são essas relações que caracterizam uma prática discursiva, mas sem marcas definitivas, a exemplo do que sugere Fairclough (2001). O objeto das formações discursivas pode mudar.

A Comunicação, como instância maior de delimitação desses objetos, é tensionada também por outros campos. A presença do Direito nos parece o mais evidente, o que pode ser explicada pela formação do gestor do departamento, que é também advogado. Esse aspecto talvez influencie a percepção do órgão de comunicação do Instituto como espaço de prestação de contas com a sociedade dos recursos públicos aplicados em suas pesquisas e demais ações. Os tipos de enunciação do jornalismo e das relações públicas dialogam e ajudam a constituir o objeto de uma assessoria de comunicação. Nas relações públicas, são planejadas estratégias de promoção da imagem institucional; o discurso jornalístico, por sua vez, assume, nesse cenário, papel estratégico para conferir valor de verdade ao que é enunciado. É nesse

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feixe de relações que entendemos se basear o trabalho do Departamento de Comunicação e Eventos do IFMA, ao agrupar diferentes objetos, mas com propósitos mais de promoção da instituição do que de divulgação científica.

Em sua grade de especificações, salta aos olhos o interesse de democratizar o acesso ao que se produz com os investimentos públicos na instituição, embora o material jornalístico produzido pela Instituição, como poderá ser visto nas análises do próximo capítulo, deixe de apresentar dados que levem o público a ter conhecimento sobre os valores empregados no ensino, pesquisa e extensão.