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2.2 Aprendizagem experiencial

2.2.2 Estilos de aprendizagem

A maior parte da pesquisa sobre a Teoria da Aprendizagem Experiencial está focada no conceito de estilo de aprendizagem. Kolb e Kolb (2009) atestam que o conceito de estilo de aprendizagem descreve as diferenças individuais de aprendizagem baseadas nas preferências do aprendiz em empregar diferentes fases do ciclo de aprendizagem. Esses estilos, completam Merriam e Bierrema (2014), derivam diretamente das duas habilidades de aprendizagem adjacentes aos seus respectivos quadrantes. Ou seja, a combinação dos ciclos de aprendizagem dois a dois e em sequência gera os quatro estilos individuais de aprendizagem (CORDEIRO; SILVA, 2012).

Conforme pode ser observado na figura 6 previamente apresentada, o estilo divergente surge da combinação entre as habilidades de Experiência Concreta e de Observação Reflexiva; o estilo assimilador surge da combinação entre as habilidades de Observação Reflexiva e na Conceituação Abstrata e assim, a construção continua para os outros dois estilos até que se feche o Ciclo de Aprendizagem.

A descrição das características dos estilos de aprendizagem pode ser encontrada de forma ampla na literatura. Muitos autores apresentam essa descrição e

eventualmente apresentam suas interpretações para os quatro estilos de aprendizagem. O próprio David Kolb (KOLB, 1997) associa cada um dos estilos de aprendizagem a uma etapa do processo decisório.

A seguir apresenta-se a descrição dos quatro estilos de aprendizagem tendo como base Merriam e Bierrema (2014), Manolis et al. (2013), Kolb e Kolb (2009) e Kolb (1984). A escolha por tais autores fundamenta-se na intenção de apresentar não só uma descrição dos estilos de aprendizagem conforme o trabalho de 1984, mas também as visões dos autores sobre o interesse por certas áreas de atuação de cada um dos estilos.

De acordo com os autores supracitados, um indivíduo com estilo divergente tem as Experiências Concretas (EC) e a Observação Reflexiva (OR) como habilidades de aprendizagem dominantes. Pessoas com este estilo de aprendizagem são melhores em enxergar situações concretas a partir de diferentes pontos de vista. São caracterizadas como “divergentes”, pois são pessoas que atuam melhor em situações que demandam geração de ideias, como uma sessão de brainstorming, por exemplo.

Indivíduos com estilo de aprendizagem divergente têm amplos interesses culturais e gostam de reunir informações. Eles são interessados em pessoas, tendem a ser imaginativos e emocionais assim como especializar-se em artes. Em situações de aprendizagem formal, pessoas com estilo divergente preferem trabalhar em grupos, ouvindo, abertos a novas ideias e feedbacks.

Um indivíduo com o estilo assimilador tem as dimensões de Conceituação Abstrata (CA) e Observação Reflexiva (OR) como habilidades de aprendizagem dominantes. Pessoas com este estilo de aprendizagem são melhores em entender uma vasta gama de informações e colocá-la de forma concisa e lógica. Indivíduos assimiladores são mais interessados em ideias e conceitos abstratos do que em pessoas. Pessoas com este estilo de aprendizagem acreditam que uma teoria deve ter mais solidez lógica do que valor prático.

O estilo de aprendizagem assimilador é importante para a eficácia nas áreas de ciências exatas. Em situações formais de aprendizagem, os assimiladores preferem leituras, aulas expositivas, a exploração de modelos analíticos e ter tempo para pensar sobre as coisas.

Um indivíduo com estilo convergente tem a Conceituação Abstrata (CA) e a Experimentação Ativa (EA) como as habilidades de aprendizagem dominantes. Pessoas com este estilo de aprendizagem são melhores em encontrar utilizações práticas para

ideias e teorias. Elas têm a habilidade de resolver problemas e tomar decisões com base na busca de soluções para problemas ou questões.

Indivíduos com estilo convergente preferem lidar com tarefas técnicas e problemas mais do que com aspectos sociais e interpessoais. Estas características de aprendizagem são importantes para a eficácia em carreiras especializadas e de tecnologia. Em situações de aprendizagem formal, preferem experimentar novas ideias, simulações, trabalhos em laboratórios e aplicações práticas.

Um indivíduo com estilo acomodador tem a Experiência Concreta (EC) e a Experimentação Ativa (EA) como habilidades de aprendizagem dominantes. Este estilo de aprendizagem tem a habilidade de aprender principalmente pela experiência prática (mão na massa). Pessoas com este estilo de aprendizagem sentem-se a vontade com a realização de planos e com o seu envolvimento em experiências novas e desafiadoras. Têm a tendência de agir de forma mais passional do que através de uma análise lógica. Ao resolver problemas, acomodadores confiam bem mais em pessoas para a obtenção de informações do que nas suas próprias análises técnicas.

Este estilo de aprendizagem é importante para a eficácia em carreiras orientadas à ação como marketing ou vendas. Em situações de aprendizagem formal, pessoas com estilo de aprendizagem acomodador preferem realizar trabalho de campo, trabalhar com outras pessoas para o atingimento de metas e testar abordagens diferentes para o cumprimento de um projeto.

A importância de se conhecer o estilo de aprendizagem de um indivíduo é destacada por diversos autores, principalmente ao enaltecerem que o conhecimento prévio das preferências de aprendizagem pode influenciar positivamente no processo de ensino, fazendo com que este se torne uma experiência significativa.

Fletcher, Potts e Ballinger (2008) declaram que um conhecimento do estilo de aprendizagem preferido do indivíduo possibilita um insight acerca dos métodos de ensino que possivelmente se mostrarão efetivos para o mesmo. Para Gyeong e Myung (2008), se o estilo de aprendizagem de um estudante é identificado, as atividades que reforçam seus pontos fortes ou desenvolvem seus pontos fracos podem ser sistematicamente planejadas de forma a maximizar o pensamento e as habilidades de resolução de problemas.

Contudo, não se pode tratar o aprendiz como ser passivo neste processo (este, em particular, é um dos principais pilares da aprendizagem experiencial) e, assim sendo, defende-se que o entendimento dos estilos de aprendizagem do aprendiz deve dar

suporte às suas próprias reflexões individuais e coletivas. Este posicionamento encontra subsídio na visão de Gyeong e Yoo (2008), os quais sugerem que os aprendizes precisam conhecer seu estilo de aprendizagem predominante para que possam ser encorajados a usar e desenvolver os outros estilos de aprendizagem.

Para Garcia-Otero e Teddlie (1992), um reflexo desse desenvolvimento pode ser observado na apropriação e domínio dos conteúdos por parte dos aprendizes. Segundo os autores, estudantes com conhecimento sobre seus estilos de aprendizagem mostraram-se mais aptos a transformarem os conteúdos adquiridos em ações práticas do que aqueles que não possuíam tal entendimento sobre seus estilos.

Após a descrição das características inerentes a cada um dos estilos de aprendizagem e da importância de conhecê-las para o processo de ensino-aprendizagem (seja para a construção de currículos e estratégias de ensino adequadas, seja para o desenvolvimento individual do aprendiz), questiona-se como operacionalizar essa identificação. De que forma é possível definir o estilo de aprendizagem de um aluno?

Para responder a tal questionamento, o próximo tópico apresenta o instrumento idealizado por Kolb para captação da influência das quatro fases (ou estágios) do Ciclo de Aprendizagem Experiencial e consequente definição dos estilos de aprendizagem predominantes dos indivíduos; o Inventário de Estilos de Aprendizagem de Kolb.