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2.2 Aprendizagem experiencial

2.2.1 Teoria da Aprendizagem Experiencial de Kolb

Dada a amplitude de abordagens pelas quais a aprendizagem experiencial pode ser acessada e discutida em termos teóricos, entende-se que para a condução desse trabalho é necessário que se adote uma perspectiva que esteja alinhada aos seus objetivos, tanto ontológica quanto epistemologicamente. Para tal, optou-se pela Teoria da Aprendizagem Experiencial (TAE) preconizada por David Kolb (KOLB, KOLB, 2009; KOLB, 1984).

A escolha dessa teoria como norteadora para a noção de Aprendizagem Experiencial que se quer adotar no trabalho se dá pelo fato de que a mesma parte de uma perspectiva construtivista (FENWICK, 2003) na qual os conhecimentos e saberes do indivíduo são construídos à medida que vivem e são influenciados por experiências das mais diversas naturezas. Mais do que apenas isso, a teoria baseia-se na premissa de que a aprendizagem se dá também a partir das iniciativas de sentir, refletir e observar os eventos da vida do aprendiz.

De fato, essa visão da experiência como fonte de aprendizagem marca uma das bases conceituais da TAE, e encontra no trabalho de John Dewey (1859–1952) o suporte teórico para sua construção. Para o autor, toda experiência é resultado da interação entre uma criatura viva e algum aspecto do mundo em que ela vive (DEWEY, 2010).

Somada à noção de interação entre indivíduo e ambiente, Kolb apresenta o segundo pilar de sua teoria. A partir dele, o autor define holisticamente a aprendizagem como o processo básico da adaptação humana (KOLB; KOLB, 2009).

A visão de que a Teoria da Aprendizagem Experiencial dá à experiência um papel central nas teorias de aprendizagem e desenvolvimento humano de modo a desenvolver um processo de aprendizagem dinâmico e holístico recebe contribuições de trabalhos anteriores de nomes como Paulo Freire (1921 – 1997) e William James (1842 – 1910). As visões dos autores acerca da integração entre as dialéticas concreto/ abstrato e ação/ reflexão, assim como as teorias de autores como John Dewey, Kurt Lewin, Jean

Piaget, Carl Jung e Carl Rogers deram suporte à construção das proposições da Teoria da Aprendizagem Experiencial apresentadas a seguir (MANOLIS et al., 2013; KOLB; KOLB, 2009):

a) A aprendizagem é melhor concebida como um processo, não em termos de resultados - de forma a melhorar a aprendizagem na educação superior, o foco primário deveria ser o de engajar os estudantes em um processo que torna melhor seu aprendizado. Um processo que inclui feedback sobre seus esforços de aprendizagem. “A aprendizagem deve ser concebida como uma reconstrução continuada da experiência [...] o processo e o objetivo da educação são apenas um e são a mesma coisa.” (DEWEY, 1987: 79).

b) Toda aprendizagem é uma reaprendizagem – a aprendizagem é melhor facilitada por um processo no qual destacam-se as crenças e ideias do aprendiz sobre um tópico, de modo que este possa ser examinado, testado e integrado com ideias novas e mais refinadas.

c) A aprendizagem requer a resolução de conflitos entre modelos de adaptação ao mundo dialeticamente opostos – conflito, diferenças e discordâncias direcionam o processo de aprendizagem. No processo de aprendizagem, o indivíduo é levado a mover-se entre modos opostos de reflexão e ação e sentir e pensar.

d) A aprendizagem é um processo holístico de adaptação – a aprendizagem não é apenas o resultado da cognição, mas também envolve o total funcionamento integrado do indivíduo – pensar, sentir, perceber e se comportar. Ela acompanha outros modelos especializados de adaptação, do método científico à resolução de problemas, tomada de decisão e criatividade.

e) A aprendizagem resulta das transações sinérgicas entre o indivíduo e o ambiente – padrões de aprendizagem humana estáveis e duradouros surgem de padrões consistentes de transações entre o indivíduo e seu ambiente. A forma como processamos as possibilidades de cada nova experiência determina a amplitude de escolhas e decisões que conseguimos enxergar. As escolhas e decisões que tomamos, até certo ponto, determinam os eventos que vivenciamos e estes eventos influenciam nossas escolhas futuras. Assim, as pessoas constroem-se através da escolha de ocasiões atuais que estão vivendo.

f) A aprendizagem é o processo de criar conhecimento – a Teoria da Aprendizagem Experiencial propõe uma teoria construtivista de aprendizagem em que o conhecimento social é criado e recriado no conhecimento pessoal do aprendiz. Esta situação contrasta com o modelo de “transmissão” no qual muitas das práticas educacionais estão baseadas, em que ideias pré-existentes fixas são transmitidas ao aprendiz.

Para Kolb (1984), a aprendizagem é definida como o processo no qual o conhecimento é criado por meio da transformação da experiência. O conhecimento resulta da combinação do entendimento e da transformação da experiência. As conotações de dinamismo e processo intencionadas por Kolb no seio da sua teoria são ilustradas a partir da ideia de que tal processo ocorre de maneira cíclica na vida do aprendiz. Para tanto, o autor apresenta o Ciclo de Aprendizagem Experiencial (figura 6) como uma representação gráfica dessas transformações.

Merriam e Bierema (2014) argumentam que o modelo de aprendizagem de Kolb consiste em quatro estágios pelos quais os aprendizes devem passar no processo de aprendizagem. Sendo cada um dos estágios associado a um tipo de habilidade de aprendizagem. Kolb e Kolb (2009) por sua vez, apresentam tais estágios como dois modos dialeticamente relacionados de compreender a experiência (a Experiência Concreta – EC e a Conceituação Abstrata – CA) e dois modos também dialeticamente relacionados de transformar a experiência (a Observação Reflexiva – OR e a Experimentação Ativa – EA).

Figura 6 - Ciclo de Aprendizagem Experiencial

Fonte: Kolb e Kolb (2009).

Sobre os modos de compreensão e transformação da aprendizagem e o Ciclo de Aprendizagem Experiencial, Kolb e Kolb (2009) destacam que a

aprendizagem experiencial é um processo de construção do conhecimento que envolve a uma tensão criativa entre os quatro modos de aprendizagem [...]. Esse processo é retratado como um ciclo ou espiral de aprendizagem idealizado no qual o aprendiz ‘toca todas as bases’ – experimentando, refletindo, pensando e agindo – em um processo recursivo [...]. Experiências

concretas ou imediatas são a base para observações e reflexões. Estas

reflexões são assimiladas e destiladas em conceitos abstratos, a partir dos quais novas implicações para novas ações podem ser extraídas. Estas implicações podem ser testadas ativamente e servir como guia para novas experiências (KOLB; KOLB, 2009, p. 44).

O quadro 3, a seguir, construído com base em Gomes (2014), Merriam e Bierema (2014) e Kolb (1984) sumariza cada um dos estágios do Ciclo de Aprendizagem Experiencial de Kolb (trazendo também a sua respectiva tradução em inglês), as habilidades necessárias aos aprendizes em cada estágio de modo a tornar a aprendizagem efetiva e um verbo norteador que melhor expressa o modo como a aprendizagem se desenvolve em cada um dos estágios.

EXPERIÊNCIA CONCRETA CONCEITUAÇÃO ABSTRATA OBSERVAÇÃO REFLEXIVA EXPERIMENTAÇÃO ATIVA C O M P R EE N O TRANSFORMAÇÃO ESTILO ACOMODADOR ESTILO CONVERGENTE ESTILO DIVERGENTE ESTILO ASSIMILADOR

Quadro 3 –Estágios do processo, habilidades necessárias e modos de aprendizagem

Estágio do ciclo de aprendizagem Habilidades necessárias aos aprendizes Modo de aprendizagem Experiência Concreta (EC)

Concret Experience (CE)

Devem ser capazes de se envolver de forma aberta, completa e sem vieses em novas

experiências.

Sentir Observação Reflexiva (OR)

ReflectiveObservation (OR)

Devem ser capazes de refletir e observar suas experiências a

partir de diversas perspectivas. Observar

Conceituação Abstrata (CA)

Abstract Conceptualization (AC)

Devem ser capazes de criar conceitos que integram logicamente suas observações a

teorias.

Pensar Experimentação Ativa (EA)

Active Experimentation (AE)

Devem ser capazes de usar tais teorias para tomar decisões e

resolver problemas. Fazer

Fonte: Baseado em Merriam e Bierema (2014), Gomes (2014) e Kolb (1984)

A partir da combinação das características de dois estágios do ciclo de aprendizagem tem-se a construção de um modo pelo qual os aprendizes incorporam, processam e estruturam os conhecimentos a que são expostos ao longo da sua vida. A esse modo dá-se o nome de estilo de aprendizagem.