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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.4 Estilos de Aprendizagem

As constatações das dificuldades na aprendizagem de conteúdos de Cálculo Diferencial podem ser atribuídas, em parte, à discrepância entre os estilos de aprendizagem dos alunos e a estratégia didática de seus professores. No Programa de Pós-Graduação em Informática na Educação, da UFRGS, encontram-se alguns trabalhos sobre estilos de aprendizagem, dos quais se destacam os de Geller, Tarouco e Franco (2004) e de Lindemann (2008).

Geller, Tarouco e Franco (2004) descrevem uma pesquisa que buscou a compreensão dos estilos cognitivos para modelar um framework9 de adaptação de um ambiente virtual de aprendizagem. Com base nas informações adquiridas sobre os estilos predominantes, pretendiam adaptar um ambiente virtual de aprendizagem de apoio à EAD, utilizando técnicas de hipermídia adaptativa. Ao final do processo, estes autores concluíram que, “no sentido de evidenciar os estilos cognitivos predominantes dos sujeitos através dos registros armazenados em ambiente virtual, foi forte a presença de aspectos subjetivos que permeiam o complexo processo de ensino e aprendizagem” (p. 281). Destacam também que sujeitos com o mesmo estilo cognitivo podem apresentar preferências e opiniões distintas sobre um mesmo assunto, e que nem todos os comportamentos sociais se prestam a uma modelagem computacional. Mesmo assim, a modelagem do framework proposto foi possível, a partir da detecção de características comuns aos sujeitos devido ao seu estilo cognitivo predominante. Essa adaptação de ambientes virtuais aos estilos cognitivos dos estudantes certamente contribui para a construção de variadas estratégias de ensino. Por fim, os autores destacam que as preferências podem se modificar, à medida que os alunos desenvolvem habilidades e estratégias para enfrentar novos desafios no ambiente virtual.

Já Lindemann (2008), apresenta o desenvolvimento de um sistema computacional que contribui para o diagnóstico dos estilos, relacionando-o com as estratégias de ensino utilizadas pelo professor e os resultados observados na aprendizagem. Em sua pesquisa, cujo objetivo foi investigar se o conhecimento prévio dos estilos de aprendizagem pelos alunos e pelo professor contribui para a melhoria da aprendizagem, uma vez que pode causar alinhamento dos esforços de ambas as partes no processo, a pesquisadora confirma que esse conhecimento influi de forma positiva na aprendizagem. Segundo a autora, é possível afirmar que “a aplicabilidade dos conhecimentos sobre estilos de aprendizagem aumenta a sinergia no processo de ensino e aprendizagem e, consequentemente, contribui para a melhoria do desempenho dos acadêmicos” (p. 147).

O interesse pelas diferenças de pensamento tem sido enfocado pela Psicologia e pela Psicanálise. As ideias de Jung foram a base para estudos sobre estilos de aprendizagem, desenvolvidos por vários autores, tanto da área de Psicologia quanto de outras áreas, como

9 Um framework ou arcabouço conceitual é um conjunto de conceitos usado para resolver um problema de um domínio específico. Framework de software compreende um conjunto de classes implementadas em uma linguagem de programação específica, usadas para auxiliar o desenvolvimento de software.

engenharia (FELDER; SILVERMANN, 1988), literatura (FELDER; HENRIQUES, 1995) e outros.

Felder (1996), citando autores de testes de estilos de aprendizagem, considera que os estudantes podem ser extrovertidos ou introvertidos, sensoriais ou intuitivos, pensadores ou empáticos, julgadores ou perceptivos. O autor aponta o fato de que, em Engenharia10, os professores, em geral, orientam seus cursos para estudantes: introvertidos, fazendo preleções ao invés de solicitar envolvimento ativo e cooperativo; intuitivos, focalizando a teoria em vez de projetos e operações; objetivos, enfatizando a análise abstrata e esquecendo das considerações pessoais; e julgadores, concentrando-se nos prazos finais das tarefas, ao invés de enfocar as soluções criativas para problemas.

Já no modelo de Kolb, há quatro abordagens diferentes para aprender: a experiência concreta ou a conceitualização abstrata, que indicam como os alunos percebem a informação, e a experimentação ativa ou observação reflexiva, que indicam como eles internalizam a informação recebida (KOLB; KOLB, 2005). Felder (1996) considera que o ensino tradicional de Engenharia centra-se quase que exclusivamente na exposição do conteúdo, o que é confortável apenas para os alunos que são abstratos e reflexivos.

O instrumento de dominância cerebral de Herrmann (LUMSDAINE; LUMSDAINE, 1995) revela quatro maneiras de pensar e conhecer: a) analítica, lógica e quantitativa; b) sequencial, organizada e detalhada; c) interpessoal, sensória e cinestésica; d) inovadora, holística e conceitual. Em geral, os professores de Engenharia (e os de Matemática, em maior grau), revelam-se lógicos, analíticos e quantitativos, o que privilegia somente o primeiro modo de pensar.

O modelo de Felder e Silverman utiliza muitas dessas ideias e classifica os aprendizes em cinco dimensões, cada uma delas compreendendo dois estilos: ativos/reflexivos; sensoriais/intuitivos; visuais/verbais; indutivos/dedutivos; sequenciais/globais. A primeira dimensão indica como o estudante prefere processar a informação, se de modo ativo, através de um engajamento em atividades físicas ou discussões, ou de modo reflexivo, através da introspecção. A segunda dimensão aponta o tipo de informação que os alunos preferem perceber: sensorial, ou seja, visões, sons, sensações físicas, ou intuitiva, por meio de memórias, ideias e discernimento (FELDER; HENRIQUES, 1995).

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A terceira dimensão indica o meio pelo qual a informação sensorial é mais efetivamente percebida: visual, que engloba fotos, diagramas, gráficos, ou verbal, por meio de palavras e fórmulas, escritas ou faladas. A quarta dimensão aponta a organização da informação com a qual o estudante se sente mais confortável: indutiva, ou seja, quando os fatos e observações são dados e os princípios subjacentes são inferidos, ou dedutiva, quando os princípios são dados e as consequências e aplicações são deduzidas.

Por último, a quinta dimensão envolve a maneira como o estudante progride na direção da compreensão: sequencialmente, em uma progressão lógica de pequenos passos, ou globalmente, em largos saltos, tendo uma visão global.

A partir desse modelo, Felder e Soloman criaram o teste de Estilos de Aprendizagem (ILS – Index of Learning Styles), que foi traduzido, no Brasil, pelos professores Marcius Giorgetti e Nidia Kuri, da Escola de Engenharia da Universidade de São Paulo em São Carlos. A versão utilizada nesta pesquisa (Apêndice C) é, assim, a traduzida por Giorgetti e Kuri, já aplicada em turmas de alunos de Engenharia da Instituição em que se realiza esta pesquisa (CURY, 2000). Esse instrumento avalia preferências em quatro dimensões do modelo, excluindo a indutiva-dedutiva. O teste é composto por 44 questões, com duas alternativas cada uma, podendo ser acessado e preenchido em http://www.engr.ncsu.edu/learningstyles/ilsweb.html, em inglês, recebendo-se a classificação correspondente às respostas.

Nesta pesquisa, foi empregado o teste ILS, que forneceu subsídios para a proposta de um objeto de aprendizagem para alunos de Cálculo, em especial para os que apresentam dificuldades em conteúdos do Ensino Médio, em particular a propriedade distributiva da multiplicação em relação à adição.

2.5 Objetos de Aprendizagem Multimodais e Princípios para Criação de