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Consoante já tratado acima, o presente estudo tem por objeto principal a avaliação do gasto público municipal com pessoal em relação à proximidade do ano eleitoral, a fim de verificarmos se a aproximação do período eleitoral possui afetação nos gastos do prefeito municipal com pessoal.

Assim, considerando a possibilidade de reeleição do prefeito municipal, bem como levando em consideração a possibilidade de que o governante possa dar apoio a algum outro candidato, surge o risco hipótético de que o gestor, de forma indevida, decida por incrementar os gastos públicos municipais com novas nomeações e/ou contratações, visando unicamente ter o benefício de atrair para si os votos desses contratados no período em que se aproxima no ano eleitoral.

Desta forma, interessa saber se, quanto mais próximo do ano eleitoral, aumenta a razão entre a despesa com pessoal e a receita corrente líquida.

Conforme os resultados dos achados, verificou-se que há efetivamente um aumento no gasto público municipal com pessoal quando se aproxima do período eleitoral, independente de variação da receita corrente líquida ou até mesmo da região do município.

Conforme a prospecção dos dados havia sugerido, confirma-se que as prefeituras dos municípios do Estado do Ceará, no período de 2009 a 2016, adotam políticas e condutas tendentes a aumentar a despesa com pessoal no decorrer do mandato do prefeito municipal, com crescimento ano a ano até o exercício financeiro e que se realizam as eleições.

Importante que se diga que, da experiência e convivência que temos em relação às atividades do Executivo Municipal, em tese não há a necessidade efetiva de crescimento da máquina pública mediante aumento constante da quantidade de pessoal contratado, principalmente em razão de não se verificar o aumento constante da quantidade de órgãos públicos.

O modelo formulado de regressão em painel (município x exercício), a partir dos dados disponíveis, gerou o resultado a seguir, que nos confirma a tese inicial de que a proximidade do período eleitoral traz consigo o aumento da despesa de pessoal:

Tabela 03 – Resultado 01:

Proximidade da eleição em

face do alinhamento político Coeficiente

Desvio

Padrão z P>z

Ano 1, COM alinhamento

(ano de eleições) -.0271362 .0057594 -4.71 0.000

Ano 2, SEM alinhamento -.0123595 .0049572 -2.49 0.013

Ano 2, COM alinhamento -.0359744 .0057575 -6.25 0.000

Ano 3, SEM alinhamento -.0237885 .0053369 -4.46 0.000

Ano 3, COM alinhamento -.0320875 .0056144 -5.72 0.000

Ano 4, SEM alinhamento -.0222483 .0054367 -4.09 0.000

Ano 4, COM alinhamento -.0376015 .0055184 -6.81 0.000

Quanto à execução da despesa por partido político, obtivemos o seguinte resultado:

Tabela 04 – Resultado 02: Desp. de pessoal / RCL, por

Partido Político Coeficiente

Desvio Padrão z P>z PC do B .0020596 0214197 0.10 0.923 PDT (*) .0528607 .0178679 2.96 0.003 PHS -.0543326 .0375054 -1.45 0.148 PMDB -.0206272 .0181927 -1.13 0.257 PP -.0333555 .0201176 -1.66 0.098 PPL -.0093556 .0260639 -0.36 0.720 PPS -.0470303 .0290139 -1.62 0.105 PR (*) -.0499203 .0202306 -2.47 0.014 PRB -.0166511 .0186257 -0.89 0.372 PRP -.0297096 .025023 -1.19 0.235 PSB -.0088861 .0181993 -0.49 0.625 PSC -.0354994 .0295417 -1.20 0.230 PSD .015793 .0185833 0.85 0.396 PSDB (*) -.0612511 .0179515 -3.41 0.001 PSDC -.0266474 .0371289 -0.72 0.473

Desp. de pessoal / RCL, por

Partido Político Coeficiente

Desvio Padrão z P>z PSL -.0044391 .0259679 -0.17 0.864 PT -.0172964 .019045 -0.91 0.364 PTB -.0399117 .0213901 -1.87 0.062 PV (*) -.0755892 .0257604 -2.93 0.003 (*) Estatisticamente significativo a 5%.

Os resultados nos mostram que nos municípios cearenses há um considerável aumento na despesa com pessoal não somente no ano eleitoral, mas também nos anos mais próximos do período eleitoral.

Em outras palavras, a tendência é de que, no ano mais distante das eleições (primeiro ano de mandato), há um gasto bem inferior com pessoal quando comparado aos períodos de maior proximidade do ano eleitoral.

Em suma, os resultados demonstram que o distanciamento do ano eleitoral apresenta uma queda da razão da despesa em relação à RCL, de tal modo que o alinhamento do prefeito em relação ao executivo estadual leva a uma queda da despesa de pessoal ainda maior.

Em outras palavras, quanto mais distante do ano eleitoral, menor é a despesa, principalmente se houver o alinhamento do prefeito junto ao governo estadual.

Referida constatação vai ao encontro do raciocínio de que os governantes podem se utilizar da máquina pública para fins de incrementar os gastos com pessoal próximo ao período de eleições, a fim de que haja um benefício direto decorrente das contratações.

Os dados demonstram que, independente de eventual variação na receita corrente líquida, os entes municipais aumentam consideravelmente o gasto público com pessoal nos anos mais próximos do período eleitoral, ficando evidente nos resultados que, quanto mais distante do ano eleitoral, menor é a despesa pública direcionada para gastos com pessoal.

Assim, se a despesa com pessoal em todos os municípios sofre um relevante aumento conforme se aproxima das eleições, conclui-se que o crescimento dessa despesa tem estrita vinculação com o pleito eleitoral, confirmando-se a tese de que há

efetivamente a possibilidade concreta de uso da máquina pública com o fim de beneficiar o prefeito ou quem seja apoiado por este nas eleições.

Teoricamente, não vislumbramos nenhum fator referente à gestão em si que pudesse explicar o relevante aumento da despesa com pessoal com a proximidade do ano eleitoral, haja vista que não há, em princípio, qualquer relação administrativa entre as despesas de pessoal e o ano eleitoral.

Na prática, o aumento da despesa total do ente municipal decorre da política adotada pelo governante, vez que a estrutura da administração, em regra, não se altera tão substancialmente durante o decorrer do mandato de modo a trazer um alto impacto nas despesas de pessoal.

Geralmente, a estrutura de pessoal necessária à correta e regular execução dos serviços públicos não se altera de modo tão significativo de um ano para outro consecutivamente, e muito menos em decorrência do ano de mandato do prefeito municipal, razão pela qual se conclui que o inchaço da máquina pública no período que se aproxima das eleições pode decorrer de atos voluntários e desejados pelos prefeitos, a fim de elevar a quantidade de pessoas envolvidas na gestão e, por consequência, atrair votos nas eleições dessas pessoas beneficiadas com cargos ou contratos junto à administração pública.

Já no que diz respeito à variável de alinhamento ao governo do estado, verificou- se dos resultados que a variação dos gastos com pessoal sofre modificação quando verificado o alinhamento junto ao grupo político que comanda o poder executivo estadual.

Importante que se diga, desde já, que em ambos os casos, estando alinhado ou não ao governo estadual, há o crescimento da despesa de pessoal com a proximidade do período eleitoral.

No entanto, verifica-se que o crescimento da despesa é consideravelmente superior para os casos dos municípios em que o prefeito não está alinhado politicamente ao governo do Estado, de tal modo que, contrariamente, a evolução da despesa com pessoal é menos acentuada para os municípios em que o prefeito possui alinhamento ao Governo do Estado.

Verifica-se que nos municípios em que há aproximação política entre o prefeito e o governador do Estado, a execução da despesa pública com pessoal fica mais distante

do limite de despesas imposto pela LRF, demonstrando-se que, nos casos de alinhamento, há um maior controle do crescimento das despesas com pessoal, inclusive para fins de acesso a verbas transferidas por meio de convênio, que exigem o cumprimento dos limites.

É sensível e considerável a diferença de crescimento da despesa de pessoal quando se comparam os municípios em que há alinhamento entre o prefeito municipal e governador e aqueles em que não há alinhamento, pois o aumento da despesa nos municípios em que há alinhamento se mostra inferior aos municípios em que não há acordo político entre prefeito e governador, senão vejamos:

Tabela 05 – Resultado 03:

ANO DO MANDATO SEM ALINHAMENTO COM ALINHAMENTO

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