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2.5 Molhamento foliar

2.5.3 Estimativa da duração do período de molhamento (DPM)

A estimativa de DPM se torna uma alternativa quando não se dispõe de medidas, pois não há sensores de DPM na maioria das estações meteorológicas das redes de superfície, assim como nos cultivos agrícolas. A estimativa pode ser baseada tanto em modelos empíricos (Gleason et al., 1994) como em modelos mais complexos (Sentelhas et al., 2006). Os modelos empíricos utilizam variáveis meteorológicas (isoladas ou em modelos simples) para estimar DPM. Os dados de DPM obtidos em cultivos também podem ser relacionados, empiricamente, com a DPM obtida sobre gramado, em postos meteorológicos (Santos, 2006). Isto representa uma vantagem operacional, pois a medição da DPM em cultivos comerciais pode ser trabalhosa e de custo considerável para o produtor.

Os modelos físicos se baseiam em fundamentos teóricos que governam o acúmulo e a evaporação de água sobre as superfícies vegetais, sendo de aplicação universal. Por sua vez, os modelos empíricos se baseiam em relações existentes entre a DPM e variáveis meteorológicas, especialmente a umidade relativa do ar, sendo de aplicação restrita.

Uma das formas mais difundidas para estimar a DPM parte do princípio de que há molhamento foliar se a umidade relativa do ar a 1,5 m de altura estiver acima de 90 %. No entanto, em diversos casos, o molhamento foliar ocorre quando os valores de UR estão abaixo desse valor (Costa et al., 2002). Porém, provavelmente em alguns casos, não exista molhamento sob condições de UR acima de 90 %. Comparando valores de DPM medidos por sensores e obtidos por diferentes limites de UR, Gleason et al. (1994) concluíram que esta variável oferece baixa confiabilidade para utilização nas estimativas de DPM. Entretanto, Kruit et al. (2004) verificaram resultados precisos com a utilização de 87 % para o limite de UR, como alternativa ao limite de 90 %. A partir do limite de 87 %, ainda foram considerados limites inferiores que se estendiam até valores de 70 % de UR, dependendo do momento em que havia variação acentuada da UR, em curto espaço de tempo (Kruit et al., 2004). Neste caso, obtiveram-se resultados similares aos dados de DPM observados e estimados pelo balanço de energia proposto por Pedro Jr. & Gillespie (1982). Dessa forma, para que possam ser obtidos valores de DPM relativamente confiáveis, é prudente que sejam realizados testes para adequar os limites de UR às condições dos locais de cultivo.

Os valores de temperatura do ponto de orvalho do ar (Td) também são subsídios para a estimativa da DPM (Gillespie et al., 1993, citado por Streck, 2006). Para que ocorra a condensação de água no ar os valores de Td devem ser iguais aos de temperatura do ar (Tar). Entretanto, a condensação sobre folhas ocorre antes da igualdade entre os valores de Td e Tar, pois as superfícies das folhas se resfriam mais rapidamente que o ar. Dessa forma, no período de resfriamento, a temperatura da superfície das folhas alcança valores de 0,5ºC a 2,8ºC inferiores à temperatura do ar (Heldwein, 1993, citado por Streck, 2006).

Como a temperatura do ar diminui, principalmente, devido à perda de energia de suas moléculas para as superfícies expostas, quando o ar úmido entra em contato com as folhas resfriadas abaixo do valor de Td, ocorre condensação de água sobre a folha. Consequentemente, o momento da identificação visual do molhamento sobre as plantas não corresponde a valores nulos da diferença entre Tar e Td. Para a utilização da Td na estimativa da DPM, Gillespie et al. (1993) sugerem que Td seja associada à temperatura do ar (Tar) pela diferença entre Tar e Td (Streck, 2006).

A partir da diferença entre Tar e Td, também denominada de depressão da temperatura no ponto de orvalho (TTd), podem ser selecionados critérios para o momento do início da formação de orvalho e o término da secagem das folhas. Para a cultura do algodoeiro, em Piracicaba-SP, Sentelhas et al. (2004) verificaram que o molhamento e a secagem das folhas ocorreram a partir de valores de TTd iguais ou inferiores a 2,0ºC e iguais e superiores 3,8ºC, respectivamente. Os resultados de estimativa dos valores de DPM, a partir de limites de TTd, foram próximos aos valores de DPM medidos com sensores.

Para os altiplanos peruanos, Forbes et al. (2002), citados por Streck, (2006), sugeriram a estimativa da DPM a partir do déficit de pressão de vapor (Dpv), também denominado déficit de saturação do ar. Os autores relataram a observação de molhamento foliar em ambiente com temperatura do ar de 20ºC e umidade relativa de 90%. Nesta condição Dpv é igual a 2,35 hPa. Assim, o valor de 2,35hPa foi estabelecido como limiar entre existência e ausência de orvalho sobre superfícies. Portanto, quando a temperatura do ar for inferior a 20ºC a umidade relativa será menor que 90% para a condição em que Dpv seja de 2,35 hPa (Streck, 2006).

A resposta da utilização de variáveis meteorológicas, isoladas ou em modelos simples, varia conforme o local e o propósito da estimativa de DPM. Mesmo com a utilização de modelos empíricos, que envolvem um maior número de variáveis meteorológicas, as estimativas podem ser pouco representativas da DPM real, quando os modelos são aplicados em locais diferentes daqueles de sua geração (Streck, 2006). Entretanto, modelos empíricos são de entendimento simples e, assim, facilmente podem ser testados e adequados às condições locais de ambiente. Em contrapartida, modelos que podem ter aplicação difundida em diferentes locais são, em geral, mais complexos. Isto se deve à sua elaboração com base nos princípios físicos que governam os fluxos de energia no dossel de plantas e, por isso, são denominados modelos analíticos.

Os dados obtidos em cultivos também podem ser utilizados para estabelecer relações empíricas entre a DPM medida na cultura e aquela obtida sobre gramado, em posto meteorológico (Santos, 2006). Isto representa vantagem do ponto de vista operacional, uma vez que a medição da DPM em cultivos agrícolas comerciais pode ser difícil e onerosa para o produtor, podendo representar custo de instalação e manutenção considerável. Por outro lado, modelos empíricos podem fornecer estimativas precisas de DPM, com vantagens adicionais por serem, geralmente, mais simples e dependerem de um menor número de variáveis em comparação a modelos físicos. Para macieira não existem relatos de estudos sobre estimativa da DPM, nas condições climáticas e de cultivo do Rio Grande do Sul. Além disso, nem sempre esta variável é monitorada em pomares comercias de macieiras no sul do Brasil.

3 MATERIAL E MÉTODOS