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As instituições escolares constituem espaços privilegiados para a estimulação das IM e para a formação de uma criança completa, de um sujeito integral, de um cidadão ativo na sociedade em que vive. Contudo, reiteramos o surpreendente descaso com que a maior parte das escolas desconsidera a experiência existencial do aluno em sala de aula. Essa criança, sobretudo a proveniente de meios socioeconômicos desfavorecidos, entra na escola com acentuada inteligência espacial, imensa abertura verbal, curiosa percepção lógico-matemática, aguda vivência naturalista, curiosidade pictórica infinita e descobre decepcionada, que essas capacidades não possuem valor dentro da sala de aula, onde, muitas vezes, o saber do professor é imposto, enfatizando- se as capacidades verbais e lógico-matemáticas em prejuízo das outras. Com sorte, nas horas de recreio, poderá concretizar, através das relações interpessoais, a bagagem de suas inteligências reprimidas (ANTUNES, 2010).

Antunes (2010, p. 134) nos relata que:

Essa meta é essencialmente o desenvolvimento humano, o crescimento da pessoa para ela mesma e para suas relações, a percepção de que possui o mesmo potencial genético de Gandhi, Shakespeare, Picasso, Einstein, Edison, Villa-lobos, Antônio Conselheiro ou Vinícius de Moraes e que, portanto, tem pleno potencial para usufruir todo encanto do mundo. A descoberta de que a criatura restrita, limitada, pequenina no descontrole de suas emoções em que a visão da inteligência geral nos fez crer sofre profundo abalo com os estudos neurológicos recentes e, dessa bagagem científica, surge a descoberta de um novo ser, estimulável em múltiplas inteligências e pronto para transformar em suas habilidades que, anos atrás, apenas apreciava em alguns.

Com o objetivo de que essa realidade mude nas escolas, seria necessária a transformação desse conceito de uma instituição transmissora de saberes para uma estimuladora de habilidades. A escola seria, na verdade, um campo onde o aluno pudesse aprender livremente, com a devida estimulação das IM através de atividades e jogos. Esses estímulos serão de grande importância na vida do aprendiz, não só na sua vida escolar, como também na sua carreira profissional e em seu cotidiano. Na ausência de estimulação

cultural, o desenvolvimento das IM fica impedido de acontecer (ANTUNES, 2004, 2010; GARDNER, 1995, 2001).

Segundo Antunes (2010), as vias principais de estimulação das IM são meios ou veículos; localizações específicas e agentes as quais podemos apresentar as seguintes concepções:

Como meios ou veículos, a estimulação das inteligências inclui desde sistemas simbólicos articulados, como as disciplinas curriculares, até a diversidade crescente de meios, incluindo manuais, livros didáticos, mapas, revistas, jornais, vídeos e computadores. Desse modo, é imprescindível analisar os meios educacionais disponíveis para se traçar de forma adequada o programa de estimulação desejado.

As localizações específicas fomentam uma importante reflexão sobre o local onde a educação ocorre e os momentos em que esse local está sendo utilizado para a educação. É evidente que essa localização pode ser a casa, o jardim, a praça, mas também as escolas, instituições especializadas na promoção da construção do conhecimento. Essa identificação do local e do momento é bem mais importante e objetiva do que, à primeira vista, deixa transparecer. Para que, de fato, haja uma atividade de estimulação satisfatória, é muito importante saber escolher a hora e o local onde serão realizadas as atividades. Assim sendo, não convém realizar essa prática num ambiente desestimulador, como também num horário que não seja propício (ANTUNES, 2010).

Tradicionalmente, os agentes são professores, pais, avós, sacerdotes, instrutores, irmãos mais velhos e todos os outros que, de uma certa forma, assumem, como sua missão, a tarefa de estimular as IM. Tão importante como o papel desses agentes é a reflexão das qualidades que devem construir em si mesmos. Solicita-se, desses agentes, sobretudo uma capacidade crítica e reflexiva. Devem se conceber como pessoas e profissionais em formação, com a mentalidade aberta para a inovação; com humildade, mas entusiasmo e ousadia para aprender continuamente. Os agentes devem apresentar, ainda, sensibilidade e prazer autêntico em se relacionar com outras pessoas; iniciativa para encontrar lugares ou funções para os alunos na comunidade.

Dentre os agentes de estimulação das IM, sugere-se a figura do

professor-mestre, que seria liberado para ensinar o assunto da sua matéria, do

modo que preferisse. Sua tarefa envolveria supervisionar e orientar os professores inexperientes, assegurando que a complexa equação - aluno, avaliação, currículo e comunidade - estivesse adequadamente equilibrada (ANTUNES, 2010).

A maioria das escolas ainda não trabalha o saber prévio das crianças. Não confere o devido valor para a experiência que a criança já traz em seu primeiro dia de aula. Como consequência, não ocorre a estimulação adequada e necessária dos conhecimentos prévios e das IM. Assim, o papel da escola fica reduzido à mera transmissão e reprodução de informações, impedindo o aluno de manifestar suas habilidades e de se desenvolver plenamente como pessoa (ANTUNES, 2004, 2010; GARDNER, 1995, 2001).

As implicações da teoria de Gardner para a Educação são claras quando analisamos a relevância das várias formas de inteligência e a relação existente entre a aprendizagem e a cultura. Quanto ao ambiente escolar, convém preparar o aluno para a vida e a cidadania, ao invés de priorizar, de modo unilateral, a inteligência linguística e lógico-matemática. Dessa maneira, a estimulação educacional das IM forma o aluno para pensar e solucionar problemas em várias áreas do saber e do fazer, de acordo com as necessidades dos dias atuais. O homem limitado e restrito do passado deve ceder lugar a um novo homem, múltiplo, holístico, ilimitado na sua capacidade de aprender (ANTUNES, 2004, 2010; GARDNER, 1995, 2001).

No capítulo seguinte, apresentaremos, de modo mais detalhado, estratégias de desenvolvimento das IM. São recursos que podem ser usados, no cotidiano escolar, para um desenvolvimento integral do sujeito, para além das tradicionais habilidades acadêmicas.

3 ESTRATÉGIAS DE DESENVOLVIMENTO DAS IM

Considerando que as Teorias das IM desempenham um papel muito importante na elaboração de estratégias pedagógicas para a construção da aprendizagem, vale a pena refletir o quanto essa abordagem é pertinente quando aplicada no ambiente escolar, uma vez que por meio dessas estratégias poderemos identificar e desenvolver as IM, frente à importância de um ambiente estimulante na vida do individuo, podemos refletir sobre como elaborar programas de desenvolvimento estimulante para a aprendizagem no cotidiano escolar do aluno (ANTUNES, 2010).

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