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A armazenagem das sementes colhidas nas roças, é outra pratica cultural que revela os costumes dos povos indígenas em preservar seus recursos para o futuro. A maioria das etnias estudadas seleciona as melhores sementes da colheita para serem armazenadas e plantadas na roça do próximo ano.

“As sementes são guardadas em sacos” (Kuikuro).

“As sementes são guardadas. O arroz é guardado no saco mesmo, o feijão e milho são guardados nas garrafas petti, antigamente eram guardados em cabaça” (Chiquitano).

A cultura indígena vem sofrendo ressignificações ao longo de sua historia, na prática da armazenagem de sementes também pode ser evidenciada algumas mudanças culturais em várias etnias pesquisadas, pois antigamente as sementes eram armazenadas dentro das cabaças, hoje se percebe que essa prática cultural deixando de ser realizado como costumes indígenas. Os índios da atualidade substituíram a cabaça por sacas e garrafas petti para guardarem as sementes até o próximo ano.

As Roças Indígenas “Tem sementes que a famílias vem guardando, o ramo de mandioca são guardados na roça. “O milho é amarrado e pendurado em cima do fogo, para evitar que as traças estraguem o milho, a fumaça protege as sementes” (Kalapalo).

Algumas espécies plantadas através de ramos, como a mandioca, são armazenadas ou simplesmente deixadas na roça até o próximo plantio, essa prática foi evidenciada em todas as etnias estudadas. Uma prática cultural muito interessante é a armazenagem das sementes do milho, para evitar que as traças e os fungos estraguem-nas, os índios costumam amarrar e pendurar o milho geralmente em uma espécie de girau feita em cima do fogo, ás vezes em cima do próprio fogão da casa, segundo eles a fumaça defuma o milho e o protege das pragas evitando o seu apodrecimento.

“Sempre a gente previne selecionando as sementes mais bonitas e reservando para o próximo ano”. Para armazenar tem o local próprio, ás vezes constrói uma casinha própria só para sementes, guardam em sacos, o milho fica na espiga e amarra e pendura” (Bakairi).

“A gente conserva e adquire com outras etnias. A mandioca a gente guarda na roça mesmo. A semente de milho é guardada na garrafa pet, abóbora, melancia é na cabaça. Alguns ainda usam a cabaça” (Ikpeng).

“Nós geralmente, a gente guarda um pouco, e a FUNAI ajuda”. “O arroz é amarrado em maço e guardado em cima do lugar onde faz comida, a fumaça evita os fungos. O milho é colocado em uma garrafa e lacrado com rolha. Muito poucos guardam na cabaça” (Rikbaktsa).

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Roças Indígenas em Mato Grosso

Procedimentos semelhantes foram evidenciados por Paula (2010), ao estudar a cultura do povo indígena Chiquitano que usam os seguintes procedimentos: os grãos como arroz, feijão e amendoim são armazenados em sacas, já o milho é conservado com a palha. As sementes de feijão selecionadas para o plantio do ano seguinte são armazenadas, depois de secas, em garrafas plásticas.

“Guardam, armazenam. A FUNAI fornece arroz e milho duro. Para armazenar naquele tempo antigamente era guardado na cabaça, o cará é guardada em um jirau, hoje a gente guarda mais nesses galões de refrigerante é muito difícil usar a cabaça hoje em dia, isso porque não plantam mais cabaça por falta de sementes” (Rikbaktsa).

A armazenagem das sementes praticadas pelos povos indígenas é um hábito de extrema importância para a preservação do patrimônio genético das espécies cultivadas por estes povos. Segundo Chiva (2003), as variedades nativas usadas na agricultura evoluíram ao longo de milênios de seleção natural e humana. Essas variedades produzidas e usadas pelos agricultores de todo o terceiro mundo são chamadas de “sementes primitivas”. Isso devido ao fato de estas sementes preservarem seu patrimônio genético ao longo das gerações.

Desse modo, a prática de seleção e armazenagem das melhores sementes vem a contribuir com a preservação do patrimônio cultural das comunidades indígenas, uma vez que ao longo dos tempos essas práticas vêm preservando as espécies cultivadas culturalmente pelos povos indígenas.

As Roças Indígenas

Os mitos dos povos indígenas em relação as suas

roças

A cultura indígena de uma forma geral se expressa através de seus costumes, rituais e mitos. Ao pesquisar as etnias indígenas presente no Estado de Mato Grosso, observa-se que muitas se destacam pelas suas tradições e cuidados com o preparo e cultivo de suas roças, essas práticas fazem partem das etnias Bororo, Mebengôkre e Paresi, como pode ser evidenciado nos depoimentos seguintes.

“Para atear fogo tem que acompanhar as fases da lua, quando a lua está bem no centro do céu, é a hora de colocar fogo, assim ao fazer isto a roça vai demorar mais para sujar” (Bororo).

“Aí termina a plantação ele não come peixe que chama tucunaré, se plantador vai e come tucunaré aí o peixe vai mata tudo a plantação que plantou, só o plantador não pode comer” (Mebengôkre).

“No plantio benze as plantas e depois da plantação um idoso faz o benzimento das plantas para elas crescer mais verdes”. Na colheita pega o alimento e oferece para a flecha sagrada ou coloca no meio da oca” (Paresi).

Observa-se que as tradições indígenas também estão presentes no manejo das suas roças, essa prática cultural revela a estreita relação que os povos indígenas mantém entre o seu modo de vida e as suas concepções espirituais.

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Roças Indígenas em Mato Grosso

“É feita a oferenda dos alimentos para a flauta sagrada. Se comer sem fazer oferenda pode acontecer algo ruim com a família” (Paresi).

“A pessoa que planta a mandioca deve plantar cantando para ela crescer bonita” (Paresi).

“Na época de plantações, nós Rikbaktsa não podemos tirar mel de qualquer abelha, principalmente Bora e Jararaca, essas abelhas são perigosas. Então nós não podemos tirar qualquer mel, se não mataremos todo milho e apodrecerá o broto do milho. Quando o milho começa criar cabelo, deve-se tomar banho de angu de abelha manduri, que é semelhante a abelha de Europa” (Januário et al 2009).