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Estou com um problema muito grande na escola, estou muito preocupada. Tenho um aluno que esse ano

assumiu que é homossexual. Os alunos o xingam o tempo todo. Já conversei com a turma um dia quando ele faltou. Falei com eles se eles gostariam de serem chamados de nomes que não gostam, não adiantou muita coisa ... Os alunos falam que se ele se

assumisse tudo bem, mas ele diz que não é, apesar de andar com outros gays da comunidade. Os alunos reclamam que ele os traiu.

“Professora ele ia lá em casa”, os alunos falam. Ano passado ele era capitão do time de futebol esse ano ele nem chega perto

(Kátia - 28 anos).

Um homossexual masculino, dado os seus estereótipos, não pode fazer parte das práticas esportivas no interior do imaginário social observado nas reclamações realizadas para a professora Kátia. Os alunos querem obrigar o antigo chefe do time de futebol a assumir que ele é “viado”, “bicha” ou

“lacraia”, nomes que eles atribuíram a sexualidade homossexual masculina, mas, não percebem, nem a professora em um primeiro momento, que sua orientação homossexual já está clara. No entanto, provavelmente ele não se auto-nomeia um “viado”, uma “bicha” ou “lacraia”, nomes que seus antigos colegas de time de futebol insistem em chamá-los.

A presença de um homossexual masculino entre os demais atletas se caracteriza dentro do imaginário uma ameaça a integridade masculina dos atletas, sobretudo, no banho. De certa forma a preocupação também se encontra nos relatos dos ativistas e freqüentadores do GAI.

A hora do banho é um tormento. Tenho medo de ficar excitado. E se os caras perceberem? Quase sempre não faço educação física, quando faço, tomo banho depois.

Prefiro evitar

(Luan, 17 anos).

A sexualidade de Luan, segundo seu relato, nunca foi questionada na escola. No entanto, o temor de suscitar dúvidas frente às expectativas esperadas para um menino de sua idade, faz com que se distancie dos demais rapazes, o mesmo observamos na entrevista concedida pelo seu namorado Daniel. Com estratégias diferentes, Luan, às vezes, namora meninas, conversa sobre possíveis relações sexuais com garotas e adota em alguns momentos o que preferencialmente é realizado pelo namorado Daniel que conheceu na internet, o isolamento dos colegas.

No que diz respeito às meninas homossexuais o bom desempenho nas práticas esportivas, sobretudo, no futebol se caracteriza um tormento. Se a dúvida existe, ela passa a se confirmar, caso a aluna faça parte do time de futebol, quando existe na escola e, sobretudo, quando sabe jogar. Os boatos e xingamentos direcionados às atletas que se destacam, independente da orientação sexual, são inevitáveis. Não por menos que as notícias veiculadas nos meios midiáticos relacionadas à seleção brasileira de futebol feminino fazem sempre menção ao uso do batom, o cuidado com os cabelos e o namorado, ou seja, uma estratégia no sentido que promover a prática esportiva e desatrelá-la dos estereótipos da homossexualidade feminina e da ofensa que essas são sujeitas.

Basta um olhar mais atento nas aulas de educação física para constatar a reprodução do que os meios midiáticos desejam ocultar com relação a atuação feminina em um esporte de predomínio masculino. A mesma sorte não

teve Pedro, filho de Jussara. Tendo percebido a tristeza de seu filho, descobriu o motivo quando uma amiga presenciou alguns meninos de mesma idade e classe social ridicularizando-o publicamente pelo comportamento dito efeminado.

Foram anos que Pedro teve que viver aquilo. Pedro sempre foi um menino introspectivo. Um dia teve um passeio na escola e as crianças demoraram a retornar. Eu e outras mães fomos para frente da escola na Gávea, quando as crianças chegaram aos gritos, era nítida a farra que foi aquilo tudo para ele

[...]

Pedro estava muito triste e pediu para tirá-lo dali. Eu imagino o quanto deve ter sido difícil para ele tudo aquilo... Sua relação na escola somente começou a melhorar quando foi escolhido como monitor de física... Começamos a conversar melhor depois da minha separação, quando me assumi

(lésbica)...

Seu rendimento sempre foi muito bom... Foi nesta conversa sobre o rendimento escolar que ele me disse que precisava ser bom em alguma coisa

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O caminho encontrado por Pedro, segundo sua mãe, foi a dedicação exclusiva a assimilação dos conteúdos escolares. A sociabilidade, uma das funções da escola, não foi realizada por ele, graças a hostilidade com que era tratado pelos demais colegas. O rendimento escolar acima da média, apesar de variar segundo a identidade sexual, pode ser observado em algumas pesquisas quantitativas (CARRARA; SILVA e CAETANO, 2003) e qualitativa (RAMIRES, 2003).

No entanto, o bom rendimento quantitativo na avaliação escolar é fruto, segundo nossos dados, do preconceito. Sabemos que a apreciação e afeto dos/das professores/as estão relacionados a disciplina e o rendimento do/a aluno/a (RANGEL, 1994). Neste sentido, quando o/a homossexual consegue manter os requisitos do “bom aluno”, podendo conquistar a simpatia dos/das

10 Dado o tempo do afastamento de ensino básico e a relação traumática do filho de Jussara, optamos por não entrevistá-lo.

professores/as, sua sociabilidade entre os demais alunos/as é quase que nula, graças ao acirramento da hostilidade dos demais colegas, que disputam com ele na arena da sala de aula.

Quanto aos/as professores/as que assistem, conseguem e querem ver a hostilidade ao/a aluno/a homossexual, as ações são quase sempre encaradas como “brincadeirinhas de adolescentes”. O bom desempenho ao nosso ver seria resultado a compensação de isolamento dos/das colegas.

AS TÁTICAS DOS PRATICANTES: O USO DA INTERNET