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Os telespectadores acompanham os resumos da semana nas sessões de telenovelas publicadas nos jornais de domingo. Por se tratar

de síntese, são previamente noticiadas as excepcionalidades: brigas entre

personagens, traição de casais, assassinatos... e a angústia do personagem homossexual.

A figura dramática foi caracterizada pela busca da sociabilidade, aceitação e/ou ocultação, mas em sua maioria, nos casos observados, se configurou como indivíduos que se desenvolveram de modo a buscar a paixão de um/a companheiro/a que iria estar ao seu lado enfrentando as dificuldades.

Segundo Andrade (2002, p. 108),

as representações de gays e lésbicas na sociedade brasileira apontam para um indivíduo atomizado [...]

sem um parceiro [...] reforçando a associação homossexualidade/sexo, marcando a imagem de uma impossibilidade de relação de amor e a impossibilidade de uma relação duradoura,

o que são reforçadas pelas telenovelas em que se desenvolveram personagens que priorizaram a dor e, em alguns casos, a solidão. Portanto, a identidade sexual, devido a dor e solidão, passou a ser o eixo central da participação do personagem na trama, outras identidades (feminina, negra, pobre, rica entre várias outras que compõem os indivíduos) foram preteridas.

O personagem homossexual nas telenovelas foi marcado pelo antagonismo de viver publicamente sua sexualidade e o cuidado com a possível rejeição que podia sofrer. Toda a trama se desencadeava de modo que os/as telespectadores acompanhassem capítulos por capítulos o sofrimento do personagem excêntrico. Sua aceitação pelos telespectadores foi monitorada pelo autor que definia sua permanência ou eliminação, como foi o caso das personagens lésbicas em

Torre de Babel

(ABREU, 1998). No entanto, destacamos que a exibição da homossexualidade nas telenovelas foi

estrategicamente calculada de modo a polarizar as discussões e divulgar a trama.

A hibridização foi o fio condutor dos personagens homossexuais. A força política do desejo ora provocava a visibilidade e, em outro momento, em decorrência da ação, alimentava o preconceito e a violência. Portanto, as homossexualidades mesmo pluralizadas nos espaços midiáticos foram atravessadas pelo sofrimento provocado pela sexualidade não hegemônica.

O sofrimento se configurava no meio encontrado pelos autores para visibilizar os personagens homossexuais, sem os estereótipos da frustração das expectativas de papéis de gêneros, de modo que a permanência dos personagens fosse aceita pelos telespectadores, como em

Próxima Vitima

(ABREU, 1995) e

Mulheres apaixonadas

(CARLOS, 2003

).

Independente das imagens das homossexualidades veiculadas nos meios de comunicação, observamos a diversidade decorrente, sobretudo, a partir dos anos noventa, dessas representações. Essa diversidade pode ser explicada pela curiosidade identificada pelos autores nos telespectadores com o cotidiano dos indivíduos que não se enquadram nas expectativas atribuídas aos gêneros.

O modo de vida homossexual, neste sentido, estaria fora do universo do conhecimento público, despertando quando exibido, a curiosidade e audiência quase sempre garantida. A excentricidade homossexual se, por um lado denuncia sua limitação de espaço, por outro, o garante a possibilidade de ocupar outros espaços, como é o caso dos meios midiáticos.

No entanto, destacamos que a excentricidade homossexual, explorada nos meios midiáticos, alteraram-se ao longo da veiculação das telenovelas no Brasil. Se as exibições inicialmente limitavam-se à personagens cômicos demarcados pelas frustrações de papéis de gêneros, após Sandrinho e Jefferson em a

Próxima Vitima

(ABREU, 1995), os estereótipos foram substituídos inicialmente pela dor, mas com um final feliz.

Os deslocamentos dos sujeitos homossexuais pela trama narrativa das telenovelas foram divulgados pela verbalização e/ou expressão corporal. O corpo foi o espaço por excelência dessa visibilidade limitada pela falta de expressão afetiva. A ausência de beijo homossexual em mais de cinqüenta anos

da História das telenovelas dividiu a sua visibilidade em duas estruturas narrativas:

1. No corpo sempre masculino, o indivíduo foi retratado em uma expectativa humorística.

2. Sem as marcas dos estereótipos, a visibilidade homossexual foi representada nas telenovelas pelo espectro da dor e do sofrimento, como estratégia utilizada pelos autores para a aceitação pelos/as telespectadores/as dos personagens

.

O que verificamos foi que as imagens dos indivíduos homossexuais foram reeditadas e reinventadas a cada exibição, o debate em torno da visibilidade permitiu um eterno movimento de expansão e retratação das projeções exibidas nas telenovelas.

O que quero, desta vez, é não-polêmica [...] Portanto, em “Senhora do Destino”, vai ser como é na vida. As parceiras da novela levarão suas vidas como levariam se fossem reais. Claro que, aqui como lá, elas enfrentariam dificuldades, mas nenhuma delas seria tão mais difícil do que as dificuldades habitualmente enfrentadas por parceiros heterossexuais (SILVA, 2004, p. 21).

Dado ao tom humorístico das telenovelas exibidas às 19 horas na TV Globo, as representações estereotipadas da homossexualidade feminina fortemente veiculada ao universo masculino não garantiriam o tom cômico. Ao homem foi atribuída a seriedade de suas ações e a racionalidade de seus pensamentos. Neste sentido, a razão e a seriedade não podem fazer parte correntemente do riso (ALBERTI, 1999).

Os estereótipos correntes em torno da homossexualidade masculina foram fortemente explorados. As exibições foram veiculadas através de homens marcadamente representados por acessórios, roupas e posturas que negavam a imagem padrão da masculinidade. A própria cor das roupas sempre em tom vermelho ou rosa evidenciava a revelação pública imediata de uma homossexualidade que tinha como papel central

o estímulo ao riso.

Observamos, que a veiculação de personagens homossexuais fortemente marcados pela frustração de expectativas de papéis de gênero foi recurso corrente nas exibições das telenovelas das sete em decorrência da forte oscilação de audiência que o horário vivenciou desde da década de noventa.

O ano de 1995 foi visto por muitos ativistas homossexuais como o divisor de águas.

No que tange as visibilidades das personagens homossexuais nas novelas, sem