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Estrada-parque (parkways), estrada cênica e rodovia verde (greenroads)

3 A PAISAGEM DA ESTRADA

3.2 PATRIMÔNIO CULTURAL

3.4.2 Estrada-parque (parkways), estrada cênica e rodovia verde (greenroads)

Nas últimas décadas, observou-se a ampliação do uso da paisagem no projeto de estradas, com preocupações, tais como: a

percepção dos usuários em movimento, o acesso aos parques e a disponibilização de mirantes e áreas de descanso, para contemplação e vivência da paisagem. Destas preocupações, resultaram estradas com diferentes denominações, como as estradas-parque (parkways) e as cênicas (scenic byways). Segundo CEPT (2008), a tipologia de rodovias cênicas, parque ou paisagísticas respondem à demanda de desfrute da paisagem desde o ponto de vista do veículo em movimento; essas estradas assumiram a observação da paisagem como um objetivo principal de projeto e do desenvolvimento do desenho, considerando aspectos cênicos, arqueológicos, culturais, históricos, naturais e recreacionais.

As estradas-parque, conforme já foi descrito, foram uma invenção norte-americana Hall (1995). Eram, em realidade, a estrutura central de parques paisagísticos lineares, cujos elementos se desenhavam para a contemplação desde a via, segundo o ponto de vista que proporcionava o traçado. A Blue Ridge Parkway nos Estados Unidos foi a primeira estrada-parque do mundo, caracterizada como unidade de conservação (Figura 4 e Figura 5).

Figura 4: Blue Ridge Parkway- EUA.

Fonte: Abbott, 2010.

Figura 5: Continuidade, as pistas se desenvolvem independentes. Fonte: Abbott, 2010.

Geralmente, as estradas-parque são enquadradas juridicamente como Áreas de Interesse Turístico ou Áreas de Preservação Ambiental (SORIANO, 2006). A definição de Áreas Especiais de Interesse Turístico consta da Lei no. 6.513 (1977), no Artigo 3º:

“Áreas Especiais de Interesse Turístico são trechos contínuos do Território Nacional, inclusive suas águas territoriais, a serem preservados e valorizados no sentido cultural e natural, e destinados à realização de planos e projetos de desenvolvimento Turístico”.

A Área de Preservação Ambiental é definida na Lei no. 9.985 (2000), artigo 15:

“Área de Proteção Ambiental é uma área em geral extensa, com um certo grau de ocupação humana, dotada de atributos abióticos, bióticos, estéticos ou culturais especialmente importantes para a qualidade de vida e o bem-estar das populações humanas, e tem como objetivos básicos proteger a diversidade biológica, disciplinar o processo de ocupação e assegurar a sustentabilidade do uso dos recursos naturais”

Soriano (2006) e Conde (2007) apontam a indefinição do termo, como causa dos usos conflitantes, da falta de planejamento, implantação e gestão de tais estradas. Soriano (2006) apresentou 4 definições para o termo estrada-parque, elaboradas por: IBDF (1982), Fundação SOS Mata Atlântica (2004), Silva (1996), Barros (2000) (ver Anexo 1). Estas associam o termo estrada-parque aos parques lineares e unidades de conservação, destacando o valor cênico, a função de recreação e lazer e a importância ambiental das áreas atravessadas por estas estradas. Soriano (2006) identificou vinte e quatro estradas-parque no Brasil, sendo que apenas 11 apresentaram alguma forma jurídica de implantação e ou funcionamento, localizadas principalmente nas Regiões Centro-oeste e Sudeste, não havendo registro de nenhuma delas em Santa Catarina. Nos dois exemplos de estrada-parque apresentados (ver Figura 6 e Figura 7), percebe-se o abandono resultante da ausência de planejamento, projeto e gestão destas paisagens.

Figura 6: Estrada Parque Piraputanga (MS).

Fonte: Soriano, 2006.

Figura 7: Estrada Parque Graciosa (PR).

Quanto às greenroads, nos Estados Unidos, em 2007, foram apresentados os estudos da Universidade de Washington sobre rodovias verdes, as greenroads, com uma proposta de certificação de sustentabilidade, que envolve dimensões de responsabilidade ambiental, social e econômica. Tem-se observado o crescente interesse por este tipo de estrada no Brasil, desde as chamadas linhas verdes, que seguem o princípio da engenharia de segurança e a qualificação da infraestrutura pela arquitetura paisagística. Nestas existe a sinalização dos eventos da rodovia e a implantação de marcos nos cruzamentos visando criar identidade e valorizar a história do lugar. O termo verde não se refere à vegetação e sim aos princípios de sustentabilidade, que envolvem: a economia de água e de energia, a produção e gestão de resíduos, o uso de materiais de construção eficientes, o trânsito de veículos alternativos, como as bicicletas, entre outros. Desde os idos de 1970, os Projetos Finais de Engenharia de Estradas desenvolvidos no Brasil apresentavam um item denominado Paisagismo, relacionado mais ao embelezamento, mas este conceito vem sendo substituído pelo binômio paisagem e ambiente.

A preservação do Meio Ambiente foi regulamentada através da Lei Federal 6938 de 1981 - Licenças Ambientais e da Resolução n° 237 de 1997 do CONAMA, que dispõe sobre a revisão e complementação dos procedimentos e critérios utilizados para o licenciamento ambiental. A elaboração de Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e do Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) para a execução e operação de um empreendimento rodoviário permite verificar quais são os locais mais adequados para a abertura de caminhos e a construção de estradas. O desconhecimento do comportamento do solo é uma das principais causas da degradação ambiental causada pela infraestrutura viária (THIVES E TRICHES, 2011)

No Brasil, o grupo Rodovias Verdes, da Universidade Federal de Santa Catarina, tendo por base os princípios de sustentabilidade das greenroads norte-americanas, trabalha na proposta de certificação para as estradas. Esta certificação seria similar a Leed e Aqua aplicadas às edificações. Seriam adotados certificados para projeto, construção, operação e gerenciamento. Segundo o Grupo de Rodovias Verdes, para uma rodovia ser considerada Verde e estar adequada ao Protocolo de Quioto, é necessário respeitar a natureza, preservar a flora e a fauna da região, proteger os mananciais, (...) respeitar a história e as comunidades que vivem ao seu entorno, utilizar materiais lindeiros, matéria-prima reciclada ou subprodutos da indústria e minimizar o consumo de energia e de emissões de gazes na sua construção, manutenção e operação, além

de ser, segura, confortável e econômica ao usuário (THIVES e THICHES, 2011).

Como um exemplo precursor da aplicação de conceitos de sustentabilidade, que envolvem a preservação ambiental, a economia a longo prazo e a valorização social, citamos a Rodovia dos Imigrantes em São Paulo, projeto da década de 1970 (Figura 8).

Figura 8: Rodovia dos Imigrantes. Fonte: Ferraz, 2011.

O projeto da Rodovia dos Imigrantes foi elaborado por equipe multidisciplinar que buscou, entre outras coisas: 1) a proteção das nascentes da Serra do Mar e da Mata Atlântica; 2) o aproveitamento de mão-de-obra local; 3) a criação de um Departamento de Meio Ambiente; 4) a educação ambiental; 5) a implantação de sistemas de retenção de sedimentos, controle e monitoramento de assoreamento de drenagens naturais; 6) monitoramento da qualidade das águas das drenagens naturais; 7) implantação de uma estação de tratamento de esgotos; 8) resgate e replantio de plantas raras; 9) captura e translocação de animais silvestres presentes nas frentes de serviços, bem como o resgate de animais feridos; 10) construção de um sistema de coleta de líquidos derramados nas pistas, tanto para os túneis como para os viadutos (FERRAZ, 2011).

Quando as variáveis apresentadas anteriormente são consideradas, a paisagem da estrada apresenta-se integrada ao ambiente, compensando, em partes, o abandono resultante da ausência de planejamento, projeto e gestão adequados destas paisagens.