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Aaboen, Dubois e Lind (2012) sugerem uma abordagem para estudos de caso múltiplos e longitudinais, aplicados a investigações de padrões em processos interorganizacionais que endereçam os quatro principais desafios identificados por Halinen e Törnroos (2005) detalhados anteriormente. A abordagem tem o objetivo de manter o foco nos mesmos fenômenos através dos casos e ao longo do tempo e consiste no uso da combinação de narrativas e diagramas de rede para capturar os processos (de mudança da rede). Os diagramas servem para ilustrar a configuração da rede em diferentes pontos no tempo, passado, presente e futuro. Com base nas narrativas e diagramas, os padrões de mudança e sua evolução podem ser analisados e comparados através dos casos e ao longo do tempo. Mesmo sendo o presente trabalho um estudo de caso único, a abordagem será útil para evitar os problemas relacionados à longitudinalidade do estudo.

É importante analisar como a abordagem de Aaboen et al. (2012) endereça os quatro principais desafios identificados por Halinen e Törnroos (2005) do uso de métodos de caso no estudo de redes de negócios que têm o objetivo de desenvolver teorias. Primeiramente, a definição das fronteiras da rede é feita de forma indutiva e pode ser realizada de várias

maneiras. Em segundo lugar, a complexidade é reduzida pelo estabelecimento de foco em alguns aspectos chave da rede que se desenvolvem ao longo do tempo. Em terceiro lugar, quanto ao problema do tempo, a abordagem se concentra em eventos particulares em que ocorrem mudanças perceptíveis na rede. Em quarto lugar, quanto ao problema de comparação dos casos, a solução passa por analisar padrões ao invés de mudanças entre componentes, como forma de equilibrar a variedade entre os casos e a necessidade de se manter a lógica interna dos casos.

No entanto, propomos substituir o "modelo das quatro entidades-recurso" (M4ER) utilizado para desenhar os diagramas de rede na abordagem metodológica de Aaboen et al. (2012). O modelo substituto deve ser baseado no Arcabouço de dinâmica de redes (ADR) de Ahuja et al. (2012), pois o M4ER parece adotar muitas restrições que limitam sua utilização em redes não comerciais, especialmente em redes colaborativas de pesquisa, como a do IPEA. Convém ressaltar que a combinação do Arcabouço de dinâmica de redes (ADR) com a abordagem de Aaboen et al. (2012) demonstra uma concordância com a proposição de Van de Ven & Poole (2005) de que a combinação de diferentes abordagens para o estudo da mudança organizacional provê um entendimento mais rico da mudança organizacional pela coordenação de diferentes perguntas e diferentes visões parciais da mudança organizacional fornecidas pelas diferentes abordagens. Podemos dizer que o Arcabouço de dinâmica de redes (ADR) se enquadra como uma abordagem do tipo I na tipologia de Van de Ven & Poole (2005) – “estudos de variância da mudança em entidades organizacionais pela análise causal de variáveis independentes que explicam a mudança na entidade (variável dependente)”, enquanto a abordagem de Aaboen, Dubois e Lind (2012) se enquadra como tipo II – estudos de processo da mudança em entidades organizacionais narrando sequências de eventos, estágios ou ciclos de mudança no desenvolvimento de uma entidade.

Como observamos anteriormente, utilizamos diversas técnicas qualitativas de levantamento de dados, como observações diretas, entrevistas e análise documental. Também é importante salientar que o autor do presente estudo, durante todo o período de coleta de dados, que se desenvolveu ao longo dos anos de 2012 e 2013, esteve vinculado à instituição, atuando nas áreas de gestão e planejamento. Ao longo desse tempo, o autor realizou diversos trabalhos relacionados à rede de colaboração do órgão, inúmeras conversas sobre o objeto de estudo, analisou diversos documentos indicados por seus colegas, realizou pesquisas nos repositórios digitais internos, biblioteca, arquivos e sistemas de informação do órgão sobre o assunto, realizou anotações e sanou inúmeras dúvidas. Essa imersão do autor na instituição colaborou para o esclarecimento e distinção das diversas formas de colaboração

interorganizacional realizadas, para o aprendizado do código linguístico próprio da instituição (seu “jargão”) e para a formação de uma percepção sobre a rede alvo e sobre seus atores internos e externos chave e suas atuações na rede. Esse levantamento não foi realizado de forma estruturada, nem produziu notas de campo detalhadas e sistemáticas, como se espera ao se empregar a observação direta propriamente dita, mas foi rico e interferiu positivamente no resultado da pesquisa, especialmente para poder visualizar o quadro geral em meio a um mosaico de novas informações. Parte do levantamento chegou a ser realizado simultaneamente à elaboração do projeto de pesquisa, ou seja, quando a fundamentação teórica e a metodologia ainda estavam sendo elaboradas. Assim, a imersão do autor na instituição alvo influenciou toda a pesquisa, em um processo iterativo (Eisenhardt, 1989; Yin, 2010), desde a fundamentação teórica e metodologia, até a fase subsequente de coleta de dados através de entrevistas semiestruturadas (explicadas a seguir) e a análise dos dados.

Por outro lado, a imersão do pesquisador na instituição alvo pode, em geral, influenciar negativamente a pesquisa pela falta de distanciamento ou imparcialidade na coleta e análise dos dados. Porém, uma fator atenuante no presente caso é que o pesquisador era recém-chegado à instituição e, portanto, sem posições políticas ou interesses profissionais que pudessem atrapalhar seu distanciamento e imparcialidade.

As entrevistas realizadas foram semiestruturadas, com a preparação prévia de roteiros de entrevista baseados nos construtos teóricos identificados na literatura. A forma semiestruturada de entrevista deu espaço para adaptações ao longo da conversa, em especial para assuntos que os informantes julgassem relevantes, até mesmo por terem feito parte diretamente da rede alvo da pesquisa (Bauer & Gaskell, 2002; Yin, 2010). Dois roteiros de entrevista foram elaborados: um para integrantes do Ipea e outro para parceiros do Ipea. Ambos os roteiros estão disponíveis nos apêndices A e B, respectivamente.

Foi realizada uma análise preliminar dos perfis de entrevistados e uma seleção de entrevistados a partir da percepção formada pelo autor em imersão na instituição e pela indicação de pessoas chave. É importante ressaltar que a discussão sobre a abordagem de pesquisa em rede tem sido assunto de debates calorosos na instituição em um contexto de recente mudança das forças políticas predominantes. Para reduzir o risco de parcialidade das informações transmitidas nas entrevistas, buscamos balancear a escolha de entrevistados entre aqueles que pudemos perceber como alinhados às diferentes correntes de pensamento.

Utilizamos também a técnica de “bola de neve” em que um entrevistado recomendou outra pessoa a ser entrevistada. Os primeiros entrevistados escolhidos foram aqueles diretamente responsáveis por processos chave de colaboração interorganizacional. Esses

entrevistados recomendaram outros e as entrevistas se encerraram quando não trouxeram mais informações adicionais para o estudo ou quando as informações convergiram. As entrevistas semiestruturadas foram realizadas durante o segundo semestre de 2013 e estão relacionadas a seguir.

Entrevistas com representantes do Ipea: No. da entrevista Tempo de casa do

entrevistado

Perfil Duração

1 Mais de 15 anos Pesquisador/Gerente 1h02m 2 Mais de 30 anos Pesquisador/Gerente 1h49m 3 Mais de 30 anos Pesquisador/Gerente 1h39m 4 Entre 1 e 5 anos. Pesquisador/Gerente 1h41m

5 Mais de 30 anos Pesquisador 2h14m

6 Mais de 15 anos Pesquisador/Gerente 1h31m

7 Mais de 15 anos Pesquisador 1h16m

Subtotal: 11h15m

Entrevistas com representantes de outras organizações da rede: No. da entrevista Quantidade de

organizações que representa Perfil Duração 8 2 Pesquisador/Gerente 1h08m 9 2 Gerente 1h12m Subtotal: 2h20m Totais: Quantidade de entrevistas: 9 Quantidade de organizações: 5

Duração total das entrevistas: 13h36m

Tabela 3 – Informações sobre as entrevistas realizadas. Fonte: elaborado pelo autor.

Quanto à análise documental, foi possível ter acesso à grande maioria das publicações resultantes dos projetos realizados no âmbito da rede do IPEA, bem como documentos operacionais, normas e relatórios. Em especial, o IPEA tem por obrigação a publicação

rotineira de suas pesquisas e tem feito o resgate histórico também. Por exemplo, em 2003 o instituto publicou uma base de dados com todos os mil textos para discussão publicados de 1979 até 2003. Além disso, a pesquisa em órgãos públicos foi facilitada em 2012 com a publicação da Lei de Acesso à Informação que obriga todos os órgãos a responderem em até 30 dias a quaisquer questionamentos de qualquer cidadão. No entanto, não foi necessário recorrer à essa lei.