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Estratégia Condicional Contingente ao ambiente ontogenético

No documento UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (páginas 48-51)

1. INTRODUÇÃO

1.6 Diferenças intrassexuais ou individuais

1.6.4 Estratégia Condicional Contingente ao ambiente ontogenético

O modelo do contexto de criação - Belsky, et al. (1991) apresentaram a chamada Teoria Evolucionista da Socialização, segundo a qual diferentes estratégias reprodutivas e sexuais teriam sido selecionadas em função do contexto de criação. Padrões divergentes no desenvolvimento infantil, adaptativos nas situações em que emergem, determinariam as características de socialização no adulto, inclusive a estratégia reprodutiva e sexual predominante. Um desses padrões decorreria de um ambiente de criação infantil estressante (com discórdia marital e recursos inadequados), fator associado ao desenvolvimento de apego inseguro aos pais e ao desenvolvimento de subseqüente orientação interpessoal oportunista, com puberdade e sexualidade precoce na adolescência, ligações instáveis de curto prazo e investimento parental limitado. Portanto, indicadores de contextos de criação estressantes, como a ausência de um dos pais, estresse familiar e apego inseguro, comporiam conjuntos de fatores potencialmente associados à determinação da formação no adulto de uma orientação sócio-sexual irrestrita. A suposta vantagem adaptativa estaria na adoção de uma estratégia sexual quantitativa oportunista, ajustada a ambientes de risco, que aumentaria as chances de propagação dos genes pelo aumento do número de parceiros, com reduzido investimento parental. O outro padrão é exatamente o oposto do primeiro - baixo estresse familiar, presença de ambos os pais na família, e apego seguro – e estaria associado a uma sócio-sexualidade restrita no adulto (Belsky et al., 1991; Mikach & Bailey, 1999; Schmitt et al., 2004).

Todas as crianças viriam equipadas com uma sócio-sexualidade potencialmente restrita ou irrestrita, e com adaptações psicológicas sensíveis às condições locais do ambiente, que influenciariam desejos e comportamentos sócio-sexuais no adulto de modo adaptativo (Belsky et al., 1991).

Muitas pesquisas deram suporte ao modelo de Belsky et al. (1991), indicando que a sócio-sexualidade irrestrita está positivamente relacionada com a ausência de um dos pais e a presença de padrastos (Hoier, 2003), com maior incidência de divórcio (Barber, 1998), com estilo de apego evitador para homens e mulheres (Simpson & Gangestad, 1989 apud Simpson & Gangestad, 1991), com estilo de apego inseguro em mulheres, mas seguro para homens (Barber, 1998) e estilo de apego rejeitador e preocupado para homens, mas sem correlação para mulheres (Moreira et al., 2003). Conforme pode se verificar por esses resultados, embora haja uma indicação geral de correlação entre estilo de apego inseguro e sócio-sexualidade irrestrita, há uma interação complexa entre os fatores relacionados aos estilos de apego e ao sexo, que merece ser mais bem investigada.

As teorias de apego adulto tiveram origem nos estudos de apego infantil (Bussab, 2003; Scheroki, 2004; Schmitt et al., 2004). A teoria do apego entende que necessidades universais humanas embasam a formação de vínculos afetivos e, neste sentido, a teoria comporta tanto uma concepção normativa para a compreensão do sistema de apego universal, típico humano, como para a explicação das diferenças individuais nos estilos de apego (Bussab, 2003). O apego infantil é caracterizado pela busca da redução de distância em relação às pessoas, capazes de fornecer segurança e proteção, e é constituído por um sistema cognitivo comportamental e emocional determinado, biologicamente, segundo a função de sobrevivência e reprodução no ambiente de adaptabilidade evolutiva, mediado por outros sistemas que promovem a proximidade da figura de apego e estabelecem o senso de segurança (Bowlby,1973,1979; Bussab, 2003; Scheroki, 2004).

Os comportamentos de apego, que se desenvolvem desde o nascimento com a figura de referência, proporcionam à criança uma base emocional primária para relacionamentos. Segundo Bartolomew e Horowitz (1991), essas experiências promovem o desenvolvimento de um conceito de si positivo ou negativo (relacionado à concepção do sujeito de ser ou não merecedor de cuidado, atenção e amor) e de um conceito do outro positivo ou negativo (relacionado à concepção de o outro ser merecedor de confiança).

Com o desenvolvimento cognitivo da criança, essa base emocional primária tende a se cristalizar e ser guiada por modelos representacionais internos. Os modelos internos de funcionamento das relações constituem a representação das relações do indivíduo com o mundo, representações de si mesmo e do outro. No adulto estes modelos internos constituem mapas cognitivos e emocionais que orientam a percepção, interpretação e comportamentos em diversos contextos relacionais, incluindo as relações amorosas, de trabalho, religiosas entre outras (Bussab, 2003; Scheroki, 2004; Schmitt et al., 2004).

O Questionário de Relacionamentos para Apego Romântico Adulto (QR) de Bartholomew e Horowitz (1991), recentemente validado interculturalmente (Schmitt et al., 2004), define estilos de apego segundo avaliações positivas ou negativas nos modelos internos de si e do outro, conforme a variação em dependência e evitação de proximidade do respondente. Quanto maior for a sensação de ser digno de receber cuidado, atenção e amor, mais positivo é o modelo interno de si, o que acarreta uma menor sensibilidade à rejeição e maior sentimento de independência. Quanto maior for a sensação de que o outro é digno de confiança, mais positivo é o modelo interno do outro, o que leva a uma menor reação de evitação de proximidade emocional nos relacionamentos (Bartholomew & Horowitz, 1991).

A combinação de modelos internos de si e do outro positivos, ou seja, baixa dependência e evitação, caracteriza um estilo de apego seguro. A combinação de um modelo interno de si negativo, com um modelo do outro positivo, ou seja, alta dependência e baixa

evitação, caracteriza um estilo de apego preocupado. A combinação de um modelo de si positivo, e o do outro negativo, ou seja, baixa dependência e alta evitação, caracteriza um estilo de apego rejeitador. E a combinação de um modelo interno de si e do outro negativos, ou seja, alta dependência e alta evitação, caracteriza o estilo de apego medroso (Bartholomew & Horowitz, 1991; Bussab, 2003; Schmitt et al., 2004).

A hipótese básica derivada deste modelo referente ao relacionamento entre a sócio- sexualidade e os estilos de apego é: quanto mais irrestrita for a sócio-sexualidade mais inseguro será o estilo de apego, com os modelo internos de si e/ou do outro negativos. Esta hipótese foi testada em conjunto com hipóteses secundárias derivadas da incidência de divórcio entre os pais. Espera-se uma correlação positiva entre divórcio dos pais, ou falecimento de um dos pais, e orientação irrestrita (Hoier, 2003).

No documento UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (páginas 48-51)