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O modelo do valor de conquista

No documento UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (páginas 113-116)

4. DISCUSSÃO

4.2 Variações intrassexuais

4.2.3 O modelo do valor de conquista

Landolt, et al. (1995) e Clark (2006) encontraram correlação entre maior sucesso na conquista amorosa e sócio-sexualidade irrestrita, apenas em homens. Os resultados não evidenciaram as correlações significativas entre o sucesso na conquista amorosa e os escores gerais da orientação sócio-sexual masculina e feminina. Porém, quando considerados os componentes táticos da sócio-sexualidade, também obtivemos a correlação prevista apenas nos homens. Isso concorda com a indicação geral dos dois únicos trabalhos utilizando a Escala Auto-Avaliada de Sucesso na Conquista Amorosa da literatura (Clark, 2006; Landolt et al., 1995) de que o sucesso na conquista está mais relacionado à variação individual na sócio-sexualidade masculina, mesmo que em nossos resultados não tenham se confirmado as previsões quanto à sócio-sexualidade geral e quanto à falta de diferença entre homens e mulheres no sucesso na conquista.

Esse modelo explicativo não deve confundir a dimensão de ser mais voltado para a conquista amorosa com a dimensão de ser mais escolhido na conquista amorosa: a primeira proposição diz mais respeito à maior alocação de empenhos no acasalamento se alinhando ao modelo dos andrógenos pré-natais, e a segunda diz mais respeito às previsões do Pluralismo Estratégico com relação aos bons genes e à posse de recursos, mas que não escapa ao calibrador ontogenético voltando empenhos maiores para o acasalamento. É previsto que o

auto-acessamento do valor de conquista seja uma mecanismo condicional de regulação da alocação de investimento da esfera reprodutiva (Buss & Greiling, 1999), e que como homens competem mais pela preferência feminina quanto aos bons genes e à posse de recursos eles sejam mais influenciados pela auto-avaliação do valor de conquista. O que explicaria os resultados de Clark (2006) e Landolt et al. (1995) apenas em homens e os encontrados nessa pesquisa com os componentes mais táticos, apenas em homens também.

Essa lógica que prevê uma maior importância para a auto-avaliação do valor de conquista em homens somada a noções da Seleção Sexual sobre a dinâmica da hierarquização masculina na qual se dá a competição intrassexual é capaz de lançar luzes sobre os resultados masculinos sobre ordem de nascimento e sexo dos irmãos. O Pluralismo prevê que homens avaliarão fortemente seu valor de conquista e que, se sua posição for favorável, mais empenho será desviado para o acasalamento (Gangestad & Simpson, 2000). E a Seleção Sexual ressalta que alto valor de conquista compreende tanto uma classificação alta na avaliação intersexual, dada pela atratividade e indicadores de bons genes perante as mulheres, quanto um alto posto na seleção intrassexual, dada pela dominância, experiência, recursos e coalizões perante os outros homens (Geary, 2002). Então é previsto que a presença de irmãos, principalmente irmãos homens, e a conseqüente competição por recursos paternos leve a disputas hierárquicas em que a idade seja um fator relevante, pois pelo menos até antes da puberdade, mais idade significa mais altura, força e experiência indicadores de dominância.

Isso explica porque se obteve que os homens que são o irmão do meio (segundo ou terceiro irmão) são mais irrestritos do que os filhos únicos, já que a presença de irmãos gera o contexto para uma maior competição e a conseqüente maior alocação de investimentos no acasalamento. Esse resultado está alinhado com pesquisas em Desconto do Futuro e aceitação de situações de risco (Daly & Wilson, 2005), em que o irmão do meio tem maiores índices de busca por sensações fortes (Zuckerman, 1994), o que é esperado que esteja positivamente

correlacionado com a sócio-sexualidade irrestrita. Essa junção explica também porque se obteve que os homens que têm mais irmãos homens mais novos são mais irrestritos, já que ao serem mais velhos são mais dominantes perante os irmãos mais novos, o que aumenta sua auto-percepção de valor de conquista lavando a uma maior alocação de investimentos no acasalamento.

A Seleção Sexual, os Ciclos de Vida e o Pluralismo também são capazes de prever porque o namoro e a paixão estão inversamente relacionados apenas à sócio-sexualidade masculina. Pelo simples fato que mais mulheres estão namorando e apaixonadas é possível situá-los enquanto empenhos parentais, logo a correlação negativa com a sócio-sexualidade é facilmente entendida. E como é previsto que as mulheres estarão mais em busca de compromisso, o que assegura o investimento dos recursos do parceiro nela e na prole, o namoro e a paixão estarão correlacionados negativamente mais fortemente com a sócio- sexualidade masculina. E sendo a paixão uma adaptação legítima da espécie humana (Fisher, 1995, 2006) é possível entender porque o estar apaixonado foi o preditor mais importante da variação sócio-sexual masculina.

Esses resultados dão indicações de que a paixão seja uma adaptação humana a qual tem maior pressão seletiva sobre os homens pela escolha das mulheres por indicadores legítimos de alocação de empenhos maiores na esfera parental. É importante ressaltar que na espécie humana a escolha mútua provoca pressões nos mesmos sentidos em ambos os sexos para as mesmas características, ou seja, mulheres também se apaixonam e ficam um pouco mais restritas apaixonadas. Porém, a assimetria prevista por Trivers (1972) pode ser identificada na força com que algumas variáveis se correlacionam mais em um sexo do que em outro sexo em sua influência da variação individual da sócio-sexualidade.

Mesmo essa ferramenta conceitual da alocação de investimentos, que explicou bem os resultados, não é capaz de fornecer previsões diretas sobre a relação entre irrestrição e a

irregularidade do ciclo menstrual. Entretanto, pode-se entender que mulheres de ciclo menstrual irregular podem ser mais irrestritas se a irregularidade do ciclo funcionar como um elemento a mais para a promoção de confusão quanto à certeza da paternidade do que as regulares. E tendo mais vantagens em confundir a paternidade ela pode extrair mais recursos de diferentes parceiros ajustando-se para investir mais no acasalamento. Esse é um resultado ainda não analisado na literatura, então se tem apenas especulações a esse respeito.

No documento UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (páginas 113-116)