CAPÍTULO 3 – GUCCRA – Técnicas de Leitura para Construção de Modelos de Casos de
3.5. Estratégia de Aplicação das técnicas GUCCRA
As técnicas propostas possuem uma ordem natural de aplicação já que a saída produzida pela AGRT constitui a entrada para a aplicação da UCRT. Essa ordem está representada na Figura 3.40 e corresponde à ordem que foi utilizada no experimento que será apresentado no próximo capítulo.
Figura 3.40.Estratégia de aplicação das técnicas GUCCRA utilizada no experimento
No entanto, como pôde ser observado ao longo deste capítulo, em que os passos das duas técnicas foram abordados detalhadamente, em todo momento pode-se identificar discrepâncias no Documento de Requisitos. Para muitas delas, a própria aplicação da técnica auxilia a correção, pois os formulários que são elaborados durante os passos, precisam ser corrigidos para que se dê prosseguimento ao processo. Em alguns casos, as correções que devem ser feitas no Documento de Requisitos são muito semelhantes àquelas realizadas nos formulários das técnicas e, o local a ser corrigido no Documento de Requisitos pode ser facilmente identificado, uma vez que nos formulários existe a coluna “Referência” que é usada para fazer a ligação entre o formulário e o Documento de Requisitos. Por outro lado, discrepâncias relacionadas com omissão de informações já precisariam de uma nova atividade de elicitação de requisitos para esclarecer junto ao cliente as informações que estão faltando.
Uma estratégia de aplicação das técnicas é apresentada na Figura 3.41. Ressalta-se que nela está retratando apenas o aspecto de identificação e correção de discrepâncias.
AGRT
1. Para cada Requisito... A. Leia o requisito...
UCRT
1. Utilize o Formulário...
A. Para cada objetivo...
Formulário Ator x Objetivo
Template UC SpecificationFormulário de Especificação de Casos de Uso entrada entrada UCRT – Relatório de Discrepância AGRT – Relatório de Discrepância Documento de Requisitos
Capítulo 3 – GUCCRA – Técnicas de Leitura para Construção de Modelo de Casos de Uso e Análise do Documento de
Requisitos 78
Vale salientar que o Documento de Requisitos utilizado como entrada para aplicação das técnicas GUCCRA deve ser previamente inspecionado por alguma técnica para que ele esteja o mais livre de defeitos possível. Essa característica possibilita uma melhor execução das técnicas GUCCRA pois, no caso de uma inspeção prévia bem sucedida, poucos defeitos poderão ser encontrados pelas técnicas GUCCRA, o que garantiria uma modelagem de requisitos mais facilitada e menos onerosa. No entanto, um estudo para avaliar essas características deve ser realizado com o objetivo de verificar a questão de utilizar um Documento de Requisitos previamente inspecionado ou não.
Figura 3.41. Possível Estratégia de Aplicação das Técnicas GUCCRA II. Identificar Discrepâncias Controle Mecanismo Entrada Saída formato do documento de requisitos (DR) DR ok Técnicas de Elicitação III. Corrigir discrepâncias simples Template UC SpecificationFormulário Especificação de Casos de Uso IV. Corrigir discrepâncias mais graves V. Identificar discrepâncias VI. Corrigir discrepâncias Rel. Discrepâncias UCRT FAO final DR com correções da AGRT
Aplicação da AGRT sem discrepância
encontrada
Técnicas de Elicitação
Documento de Requisitos – muitas correções realizadas Documento de Requisitos – correções graves
DR Rel. Discrepâncias Rel. Discrepâncias Formulário Ator X Objetivo (FAO) DR
FAO – correções simples DR correções simples
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Assim, de acordo com a Figura 3.41 pode-se abstrair uma estratégia de aplicação das técnicas GUCCRA a qual pode ser da seguinte forma:
1. Identificar discrepâncias decorrentes da aplicação da AGRT.
2. Se a discrepância puder ser corrigida no momento, então corrige-se o FAO e o Documento de Requisitos e retorna-se para o Passo 1.
3. Corrigir discrepâncias mais graves, que permaneçam no Documento de Requisitos e retornar ao Passo 1.
4. Identificar discrepâncias decorrentes da aplicação da UCRT. 5. Corrigir discrepâncias e retornar ao Passo 1.
Embora essa estratégia seja, aparentemente mais efetiva, pois a medida que as discrepâncias vão sendo identificadas elas vão sendo corrigidas no formulário das técnicas e no Documento de Requisitos, cabem as seguintes observações:
• O número de iterações realizada na estratégia pode inviabilizar a aplicação manual das técnicas por causa de questões relativas a tempo, custo e esforço.
• Para minimizar o problema mencionado no item anterior, uma alternativa seria, após o término da técnica UCRT, ao invés de retornar à técnica AGRT, procedem-se as modificações diretamente nos modelos já elaborados, podendo-se, eventualmente, incorrer em alguns problemas que normalmente acontecem na abordagem Ad Hoc, como por exemplo, dificuldade de identificação de atores e casos de uso, definição incorreta de casos de uso e atores, dificuldade de identificação de associações entre casos de uso, etc.
3.6. Considerações Finais
Neste capítulo foram apresentadas as técnicas GUCCRA (Guidelines for Use Case
Construction and Requirements document Analysis) para elaboração de Modelos de Casos Uso, as quais são compostas por duas leituras: AGRT - Actor Goal Reading Technique, que tem por objetivo identificar os atores e seus objetivos e a UCRT – Use Case Reading
Technique, que tem por objetivo construir os casos de uso e suas especificações.
Essas técnicas têm por objetivo dar suporte à elaboração de Modelos de Casos Uso sendo que, à medida que o modelo é construído, os próprios passos das técnicas forçam o projetista a identificar e relatar discrepâncias no Documento de Requisitos, caracterizando uma inspeção simultânea nesse documento.
As técnicas GUCCRA foram elaboradas com base em outras duas técnicas de leitura: a PBR-Usuário [Basili et al., 1996b] e a ER1, que é uma das técnicas das OORTs/ProDes [Marucci, 2002a]. A primeira é utilizada na inspeção de Documentos de Requisitos e a segunda, na validação de Modelos de Casos de Uso em relação ao Documento de Requisitos a partir do qual o modelo foi construído. Nos passos que compõem a GUCCRA procurou-se abordar, ao máximo, os aspectos tratados nessas duas técnicas, sendo que para o formato de escrita e apresentação da GUCCRA escolheu-se o mesmo da ER1, pelo fato desta ter como foco o Modelo de Casos Uso e ser mais procedimental do que a PBR-Usuário.
As duas técnicas que compõem a GUCCRA, a AGRT e a UCRT, foram apresentadas passo a passo, ilustrando os principais aspectos das mesmas e ressaltando-se, em vários momentos, os pontos de avaliação do Documento de Requisitos em decorrência da aplicação do passo para a elaboração do Modelo de Casos Uso.
Comentou-se também sobre a estratégia de aplicação dessas técnicas. Embora elas possuam uma ordem natural de aplicação, pelo fato da saída da AGRT ser entrada para a UCRT, na prática, uma aplicação deva, talvez, considerar um processo iterativo e interativo com o cliente (usuário). Assim, as discrepâncias identificadas por uma leitura seriam corrigidas antes que se passe para a outra leitura – aspecto interativo, correspondente à correção das discrepâncias mais graves – e para que as pequenas discrepâncias identificadas durante a aplicação dos passos das técnicas sejam corrigidas no momento em que são detectadas – aspecto iterativo.
Ressalta-se que a aplicação da GUCCRA não descarta a necessidade de uma atividade de inspeção no Documento de Requisitos, uma vez que essa tarefa é uma decorrência da aplicação da técnica, pois seu intuito principal é a construção de Modelos de Casos de Uso. No entanto, como se sabe que mesmo com a aplicação de atividades de garantia de qualidade de software alguns defeitos ainda podem permanecer, a GUCCRA provê uma oportunidade adicional de detectar esses defeitos que tenham permanecido depois da inspeção do Documento de Requisistos. Por outro lado, se não foi realizada uma inspeção prévia no Documento de Requisitos, ao elaborar o Modelo de Casos de Uso, uma revisão que contempla as características da PBR-Usuário será realizada.
No próximo capítulo apresentam-se dois estudos que foram conduzidos para uma primeira avaliação das técnicas GUCCRA, propostas neste trabalho, um deles para avaliar o ramo de construção, isto é, referente à elaboração de Modelos de Casos de Uso e o outro, para avaliar o ramo de análise, referente à inspeção do Documento de Requisitos.