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ADOLESCÊNCIA E DELINQUÊNCIA

METODOLOGIAS DE INVESTIGAÇÃO

6.2. Estratégia de investigação e instrumentos metodológicos

A pesquisa é de abordagem qualitativa e quantitativa, com enfoque teórico- metodológico nas representações sociais.

Neste estudo, a violência em contexto escolar foi concebida como construção social, que transcende as questões puramente biológicas ou emocionais. Com a intenção de resgatar o contexto de produção das representações, tomamos como ponto de partida a perceção dos adolescentes sobre a expressão da violência em situações quotidianas no contexto escolar. Ao longo do processo de construção de conhecimento, estivemos atentos ao que Minayo (1994) refere que «as representações sociais não são necessariamente conscientes. Perpassam o conjunto da sociedade ou de determinado grupo social, como algo anterior e habitual, que se reproduz e se manifesta a partir das estruturas e das relações coletivas e dos grupos» (p.174). Essas representações, para Minayo (1994), «podem ser consideradas matéria- prima para análise do social e também para a ação pedagógica política de transformação, pois retratam a realidade» (p.174).

São reflexos do quotidiano, traduzidos pelo sujeito, considerado como um ser humano dotado de conceções próprias, autónomo no pensar e comunicar as suas crenças, valores e visão do mundo, elaborados e compartilhados socialmente e com possibilidade de ser expressos por meio de imagens, conceitos e categorias, que

Fabiana Maria Roque Chaves 166 contribuem para a construção de uma realidade inerente a determinado grupo social (Maingueneau, 1993).

Na interpretação da vida social dos adolescentes face à violência escolar, procuramos desenvolver um processo de interação pesquisador/pesquisado, com valorização do encontro, do diálogo e da representação, considerando que o objeto do estudo tem também o seu sujeito. A análise adota, portanto, a subjetividade como instrumento de conhecimento e as representações sociais como eixo condutor.

Assim, este estudo procurou elaborar as representações sociais como um processo dinâmico, considerando a inserção do adolescente num contexto sociocultural definido e também a sua história pessoal e social, visando apreender a representação social da violência escolar e entender as formas como os adolescentes elaboram esse conhecimento, e como eles convivem com essa problemática no seu quotidiano.

Fundamentada nesse referencial teórico e considerando a recomendação de Jodelet (1988, p. 44), ao afirmar que «as representações sociais devem ser estruturadas articulando elementos afetivos, sociais, integrando a cognição, a linguagem e a comunicação, as relações sociais que afetam as Representações Sociais e a realidade social e ideativa sobre a qual elas intervêm», percorremos a seguinte orientação metodológica: o estudo foi desenvolvido em quatro escolas públicas, duas localizadas na cidade de Lisboa em Portugal e duas no estado de Minas Gerais-Brasil.

Em Portugal, as escolas:

1. Agrupamento de Escolas Delfim dos Santos – Rua António Nobre, 49 1500, Lisboa-Portugal.

2. Escola Básica 2,3 de Marvila - Rua António Gedeão, 1950-346 Marvila, Lisboa-Portugal.

O Agrupamento de Escolas Delfim dos Santos (Lisboa-Portugal), constituído no ano de 2004/2005, integra seis estabelecimentos de educação e ensino: dois jardins de infância (JI), três escolas básicas de 1º ciclo (EB1) e uma escola básica do 2º e 3º ciclo

Fabiana Maria Roque Chaves 167 (EB2,3). Segundo dados validados pelo Agrupamento, a população escolar é de 1767 crianças e jovens, sendo que 88 frequentam a educação pré-escolar, 667 o primeiro ciclo (CEB), 490 o 2º ciclo e 522 o 3º. Quanto a naturalidade, 94% são portugueses.

O Agrupamento de Escolas Marvila (Portugal), constituído em abril de 2004, situa- se na freguesia de Marvila, concelho de Lisboa. Atualmente é constituído por três escolas básicas: a de Marvila (escola-sede), a Professor Agostinho da Silva e a João dos Santos, integrando esta última um jardim de infância.

No presente ano letivo, a população escolar totaliza 756 crianças e alunos: 47 da educação pré-escolar (2 grupos); 255 do 1.º ciclo (12 turmas); 178 do 2.º ciclo (8 turmas) e 276 do 3.º ciclo (12 turmas). Frequentam o Agrupamento 18 alunos (3%) de 11 nacionalidades para além da portuguesa, predominando a brasileira.(Ponto 5)

No Brasil, as escolas:

3. Escola Estadual Juscelino Kubstchek de Oliveira – Rua Prudente de Morais, Castanheira, Sabará-Minas Gerais-Brasil.

4. Escola Estadual Coronel Paiva – Rua Francisco Juvenal de Oliveira, 60 Centro, Ouro-Fino – Minas Gerais-Brasil.

A Escola Juscelino Kubstchek, fundada em 1983 está localizada na região metropolitana de Belo Horizonte, denominada Sabará- Minas Gerais (Brasil). Atualmente, 967 alunos estudam na escola, do pré-escolar ao nono ano do ensino fundamental (1º e 2º ciclo). São 75 funcionários e duas diretoras que garantem a qualidade do ensino na instituição, que está localizada numa zona de favela.

Quanto a característica socioeconômica dos alunos, estes são pertencentes a famílias de classe média baixa e baixa. Os alunos, a maioria de famílias vindas de outras regiões do país, a procura de melhores condições de vida.

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A Escola Estadual Coronel Paiva fundada em 1909, uma das mais tradicionais instituições de ensino da região do Sul, situada na cidade de Ouro Fino - Minas Gerais (Brasil). Atualmente, 867 alunos estudam na escola, do segundo ao nono ano do ensino fundamental (1º e 2º ciclo). São 63 funcionários e duas diretoras que garantem a qualidade do ensino na instituição, que se destaca em âmbito nacional.

A Escola Estadual Coronel Paiva, quanto a característica socioeconômica dos alunos, estes são pertencentes de famílias de classe média e média baixa. Todos de famílias da região.

As escolas foram escolhidas intencionalmente, de forma a abranger níveis socioeconómicos e culturais distintos, com a participação de 1000 adolescentes de 10 a 15 anos de idade, presentes nas escolas por ocasião da coleta de dados.

Face aos objetivos propostos, a caracterização da situação vivida no contexto escolar em matéria de violência teria necessariamente que ser contextual; isto é, na própria escola, e, principalmente, por membros, deste logo: quem inquirir e como fazer.

A metodologia escolhida teve o propósito de obter informações detalhadas sobre as representações e práticas de violência nas escolas pelos atores sociais. Experiências e iniciativas especificamente propostas, planejadas e executadas, visando aprimorar as relações existentes internamente ao universo escolar.

Face às questões orientadoras definidas, não foi possível eleger um único instrumento de investigação para as questões colocadas. A pesquisa em questão pautou-se pelo pluralismo metodológico, ou seja, pela combinação de métodos extensivos (quantitativos) e compreensivos (qualitativos), a fim de melhor se aproximar das representações e práticas de violências vividas neste contexto.

A pesquisa extensiva visou «quantificar, detalhar e relacionar mensurações e descrever a extensão de um fenómeno, recorrendo-se a levantamentos19 tipo

19

Pesquisa por levantamento é aquela que as características de interesse de uma população são levantadas (observadas ou medidas), mas sem manipulação. É a pesquisa realizada mediante a «… interrogação direta das pessoas cujo comportamento deseja conhecer» (Gil, 1996, p.56).

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survey»20 (Abramovay, 2006, p.40). Nesse sentido, foram aplicados questionários de

auto perceção aos alunos das quatro escolas selecionadas.

Já a pesquisa compreensiva consiste num tipo de estudo que dá voz aos sujeitos, incorporando condicionamentos sociais e reações a eles, «representando tensões e interações dialéticas entre o objetivo e o subjetivo – os quais não são opostos, mas compõem uma realidade múltipla» (Abramovay, 2006, p.40). Nesse sentido, foi proposta uma questão: perguntamos aos alunos a perceção dos mesmos sobre a violência que ocorre nas suas escolas e como enfrentá-las. Para Kaufmann (1996), o objeto da Sociologia não é somente a compreensão do indivíduo, mas a explicação compreensiva do social, o que inclui elementos materiais e simbólicos. Com efeito, a realidade social é composta por elementos materiais e simbólicos, numa mistura interativa que somente para efeitos analíticos pode ser separada. Para tanto, recorreu-se a percepção que os adolescentes têm sobre a violência na sua escola, e como preveni-la ou combatê-la neste contexto. “Deixe aqui a sua opinião sobre o que você pensa sobre a violência e como combatê-la nas escolas? (Apêndice H e I).

Como apontam Schwarts e Jacobs (1999), os sociólogos produzem dados ao traduzir as suas observações e indagações em registos. A diferença entre a Sociologia Quantitativa e a Sociologia Qualitativa pode ser descrita em termos dos tipos de registos que são utilizados para descrever o mundo. Neste sentido, produzem dados para descrever os indivíduos, grupos, sociedades inteiras e assim sucessivamente.

O presente estudo pautou-se pela combinação destes dois tipos de métodos. Além de mensurar as situações de violência nos estabelecimentos de ensino (agressões verbais, psicológicas, agressões físicas, bullying, ataques ao património, furtos e outros), a presente pesquisa buscou apresentar relatos e testemunhos de situações de conflitos e violências nas escolas pesquisadas, assim como, a partir das vozes desses alunos que passaram ou não por tais experiências, o que pode ser feito como estratégias de enfrentamento da violência no ambiente escolar.

20 É o tipo de pesquisa que visa determinar informações sobre práticas ou opiniões atuais de uma

Fabiana Maria Roque Chaves 170 A investigação centrou-se, num primeiro momento, na sistematização e definição de comportamentos considerados violentos, tendo em conta o conceito de violência e a perspetiva de investigação que foram adotados neste trabalho, levando em conta as perceções dos atores, tendo como unidade de análise a interpretação que os mesmos fazem da realidade escolar, entrelaçando diferentes olhares e narrativas, descrevendo o percebido, o silenciado e o vivido.