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CAPÍTULO 2: PLANEAMENTO ESTRATÉGICO NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

1. Estratégia e Planeamento

Quando uma organização pretende aumentar os seus índices de eficiência, eficácia e qualidade19, normalmente define uma estratégia, que é o caminho a percorrer para atingir esse objetivo, que pode ser traduzida por (e através de) uma política de qualidade dentro da organização. De acordo com Caldeira (2010), a estratégia é a definição da direção que uma organização adota para se desenvolver, através da programação dos seus recursos, capacidades e competências, que permitam, face a uma envolvente externa em evolução permanente, ter um desempenho superior sustentado para atingir os objectivos traçados.

A definição de uma estratégia numa organização começa com a definição da sua visão, missão e dos valores da organização. Pela definição destes conceitos será de fácil entendimento que a sua identificação e definição numa organização corresponde ao início do processo do planeamento estratégico, muitas vezes referido como o processo de formulação da estratégia.

A visão dá início à construção de uma imagem futura da organização, definida e aplicada na atividade diária de todos os funcionários, apelando a um investimento emotivo das pessoas de modo a levar ao entusiasmo e adesão dos gestores e dos funcionários da organização.

A visão, como primeiro passo a ser tomado no melhoramento do desempenho organizacional, permite que as pessoas tenham em vista um objetivo comum e uma noção exata do que se pretende delas e, para isso, assenta em três elementos essenciais: as pessoas, a cultura da organização e o tipo de serviço prestado.

A necessidade de se determinar o que uma organização quer ser e o tipo de serviços futuros que se pretende prestar aos cidadãos20, são ideias que devem ser do conhecimento de todas as partes interessadas, desde os gestores de topo, gestores intermédios e funcionários (a nível interno), aos cidadãos e fornecedores (a nível externo). A concretização da visão está assente na elaboração de um plano estratégico flexível, que será posteriormente desenvolvido em objetivos estratégicos e estratégias. De facto, a apresentação de uma visão torna-se importante para a definição e

19 São três objetivos básicos em permanente avaliação no desempenho da administração pública: a eficácia,

eficiência e qualidade. A eficácia relaciona o resultado produzido pela organização com o objetivo previamente traçado, centrando-se no objetivo traçado para cada serviço. A eficiência relaciona o resultado produzido pela organização com os recursos utilizados, focando-se na rendibilidade do trabalho realizado, sendo este objetivo medido apenas após se ter determinado a eficácia dos resultados. Assinala-se no entanto que a eficiência pode ser de difícil mensurabilidade (ainda mais a médio/longo prazo), quanto maior a especificidade e complexidade dos trabalhos realizados, o que acontece em algumas das funções desempenhadas no setor público (por exemplo na área da saúde, educação e justiça). A qualidade relaciona o resultado produzido pela organização com as repercussões que tem no destinatário do serviço prestado (cliente/cidadão/utente/beneficiário). Sendo assim, a eficácia será tanto maior quanto mais o resultado se aproximar do objetivo; a eficiência será tanto maior quanto mais resultados se produzirem com os mesmos recursos (meios); e a qualidade será tanto maior quanto mais o resultado produzido for positivamente apreciado pelo destinatário do serviço prestado.

esclarecimento dos objetivos estratégicos. A Visão será assim o elo agregador dos objetivos estratégicos. A apresentação de objetivos estratégicos sem o enquadramento da visão poderá fazer com que os objetivos fiquem “perdidos”, fragilizando a identificação de um sentido/destino para a instituição. Este é o principal objetivo da visão, a par da identificação do “sonho” que a liderança tem para a instituição. A interpretação da visão é como se o gestor entrasse numa máquina do tempo, viajasse para o futuro e conseguisse visualizar a organização no momento final do seu mandato. A cisão deve conseguir descrever a instituição nesse preciso momento, ou seja, deve identificar o seu destino estratégico. Para ser eficaz, a visão deve assimilar as ideias de toda a organização e de todas as pessoas que nela tenham interesse (stakeholders), tendo-se sempre o cuidado de consultar e envolver todos os funcionários. Este tipo de processo tem a vantagem de promover o alinhamento e comprometimento dos stakeholders com a estratégia, no entanto, constitui um processo longo na preparação do plano estratégico (Caldeira, 2015).

Após a determinação da imagem futura de uma organização, surge a necessidade de se traçar a direção, o caminho e a forma como este se deve percorrer para a alcançar. Assim sendo, para uma organização alcançar a visão, é necessário estabelecer as finalidades que justificam a sua existência, os objetivos e as principais atividades para os alcançar, ou seja, é necessário estabelecer a missão. À semelhança da visão, a missão deve ser de fácil compreensão e concreta, para que seja entendida pelos dirigentes, funcionários e fornecedores. A missão de uma organização é estabelecida pelo poder legislativo que fica na esfera dos líderes políticos e, na esfera dos gestores da organização, fica o poder de tomar decisões concretas com vista a atingirem-se os objetivos. De referir que, no setor público, a missão está regulada na lei orgânica da organização., no entanto, cabe à organização saber reescrevê-la para que seja de facto compreendida por todos os colaboradores e, principalmente, por stakeholders externos, identificando claramente os aspetos centrais das suas atribuições. Não se pretende alterar o sentido da missão, pretende-se apenas simplificá-la, clarificá-la e dar-lhe relevância nas atribuições mais importantes no cenário atual (Caldeira, 2015).

Para a definição de uma estratégia e com isso a organização aumentar os seus índices de qualidade, falta um outro conjunto de fatores que também permitirá o desenvolvimento de uma nova cultura organizacional, em que se basearão as políticas e os planos, os valores. Para se obterem comportamentos pautados por uma linha de conduta, há que cultivar crenças que influenciem as atitudes, as ações, as escolhas e as decisões a serem tomadas. Tendo em conta que os valores e a ética são estabelecidos no serviço público, existe um esforço/tentativa de melhoria da qualidade na prestação do serviço público, por parte da administração pública. A necessidade de implementação de comportamentos desejáveis, tendo como base os valores de referência, constituem o código de conduta ética da organização.

O modo de funcionamento das organizações públicas tem por base o desenvolvimento quotidiano de atividades e, por essa razão, a equipa de trabalho é considerada o elemento central das organizações, dado que é nela que estão integrados vários tipos de talentos, perspetivas, experiências e

competências, que virão a desenvolver componentes fundamentais para a dinâmica das organizações públicas e para a sua rápida adaptação às mudanças do ambiente externo e interno, de modo a favorecer a criatividade e a inovação futuras. Outro fator determinante para o bom funcionamento da organização é a liderança, que pretende implementar um modelo menos hierárquico e mais participativo, motivando as pessoas e desenvolvendo atitudes e comportamentos que se coadunem com a visão.

No ponto seguinte deste trabalho abordar-se-á a gestão e planeamento estratégico no setor público e no setor privado, identificando-se algumas das suas características, de forma a evidenciar as diferenças entre estas duas perspetivistas, devido à sua essência/ natureza.

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