CAPÍTULO 3 RESULTADOS OBTIDOS E DISCUSSÕES
3.1 estratégias interacionais de construção da manchete
3.1.4 DSP e AGSP grupo social popular
3.1.4.1 estratégia interacional para construção da manchete informativa
A manchete informativa é construída com o sentido mais global que o DSP e AGSP tencionam que seus leitores construam. Trata-se de uma estratégia de orientação da leitura dos outros textos-reduzidos e do texto-expandido.
A título de exemplificação, apresentam-se as seguintes manchetes:
“DATAFOLHA APONTA QUE A VENDA DE ARMAS NO BRASIL NÃO SERÁ PROIBIDA NÃO 57% SIM 43%” – AGSP, 22/10/05
“VENDA DE MATERIAS DE CONSTRUÇÃO CRESCE COM O EFEITO “PUXADINHO”” – DSP, 26/08/06
- “Datafolha aponta que a venda de armas no Brasil não será proibida não 57% sim 43%” – AGSP, 22/10/05
A construção da informação explicita o “Datafolha” que resulta de uma pesquisa de opinião pública e que faz parte do domínio de vida dos leitores. Informa-se que, por uma pequena porcentagem, “a venda de armas mão será proibida no Brasil” .
- “Venda de materiais de construção cresce com o efeito “puxadinho””
A construção da informação na manchete é relativa ao domínio de vida do leitor, pois o “puxadinho” é a palavra de uso popular para designar a ampliação de cômodos de uma residência. A manchete informa que o “efeito puxadinho” = ampliação de residência popular, ocasionou o aumento da venda de materiais de construção.
3.1.4.2 estratégia interacional para a construção da manchete
opinativa
A manchete opinativa é construída com o sentido mais global do valor atribuído, como opinião jornalística, ao que está sendo noticiado.
A título de exemplificação, apresentam-se as seguintes manchetes:
“RENAN É ABSOLVIDO POR 40 SENADORES E ESCAPA DE CASSAÇÃO” – AGSP, 13/09/07
“JUÍZES RECEBIAM MENSALINHO PARA LIBERAR OS BINGOS” – DSP, 21/04/07
-“Renan é absolvido por 40 senadores e escapa de cassação”
O sentido mais global da notícia é “Renan é absolvido por 40 senadores”. A construção opinativa resulta da seleção lexical do verbo “absolver” pois implica que
Renan tem culpa. A construção opinativa progride com a seleção lexical “escapa da cassação” a seleção do verbo “escapar” é relativa <<àquele que foge ao ser perseguido e se salva>>. Dessa forma, a AGSP atribui valor negativo ao resultado da votação secreta dos senadores a respeito do crime cometido por Renan.
-“Juízes recebiam mensalinho para liberar os bingos”
A informação de que juízes recebiam uma quantia em dinheiro, para liberar os bingos que estavam proibidos, recebe valor negativo do DSP, tanto no que se refere a “mensalinho” quanto a “juízes liberar os bingos” que estavam proibidos, desrespeitando uma ação jurídica.
Conforme as cognições sociais extra-grupais, na atualidade divulgada pelas mídias, os bingos foram proibidos pela Justiça. Nas cognições sociais, também, extra- grupais, “juízes” são <<pessoas que executam conforme decisões da Justiça>>.
Logo, a construção da manchete pela seleção lexical expressa um valor negativo ao sentido mais global da notícia.
3.1.4.3 estratégia interacional para a construção da manchete por
sedução
Seduzir um público-leitor de conhecimentos que têm uma dimensão menor de conhecimentos sociais exige uma estratégia de retomada de suas cognições sociais, seguida de uma estratégia de transgressão.
A título de exemplificação, apresentam-se as seguintes manchetes do DSP e AGSP:
“SEM PAPAS NA LÍNGUA” – DSP, 10/05/07 “PARA VER O CHICO PASSAR” – DSP, 26/07/06 “FILHO DE PEIXE PEIXINHO É?” – DSP, 10/08/06 “DE BRUXA A FADA MÁ” – DSP, 16/08/06
Como se pode verificar, a manchete é construída com um acordo, pela intertextualização, com as cognições sociais do grupo de leitores, seguido de uma transgressão.
-“Veja tira-teima entre sim e o não”
A sedução é construída pela seleção lexical “tira-teima” que faz parte do domínio de vida dos leitores em relação ao futebol. A transgressão decorre da intersecção do futebol com a política, de forma a atrair os leitores para ler o resultado final da apuração do referendo sobre as armas de fogo.
- “Sem papas na língua”
A sedução decorre da seleção de um clichê popular “Sem papas na língua” para encabeçar um notícia, como manchete, por meio da transgressão. Esse clichê faz parte das cognições sociais extra-grupais, no Brasil.
- “Para ver o Chico passar”
A construção da manchete pela intertextualização com a música A Banda, de Chico Buarque, que é de domínio popular no Brasil. A estratégia é selecionar um verso da música “para ver a banda passar”. A transgressão consiste na substituição da palavra “banda” por “Chico” designação própria do autor da música. Tal transgressão produz o riso.
- “Filho de peixe peixinho é?”
A manchete é construída com a seleção de um provérbio “filho de peixe, peixinho é“. A transgressão consiste na inserção de uma interrogação que coloca em dúvida uma cognição social, de forma a seduzir pela curiosidade.
- “De bruxa a fada má”
A manchete é construída pela seleção das palavras “bruxa” e “fada má”, para estabelecer uma intertextualização com os contos de fadas infantis. A transgressão consiste numa ressemantização, pois a “bruxa” é <<uma mulher feia e má>> e “fada má” é << aquela que predestina a vida das pessoas com maldade>>.
Pela transgressão, estabelece-se uma progressão pois, de “bruxa” que não tem a capacidade de escrever o destino da pessoa, alguém se tornou “fada má”.
3. 1. 4. 4 intersecção de estratégias interacionais para a construção da
manchete
A intersecção é o uso concomitante de estratégias, de forma recursiva, pois ao mesmo tempo, que transmite informação, transmite opinião e seduz. Os resultado obtidos indicam que há três estratégias interacionais de intersecção para a construção da manchete: informação + sedução; opinião + sedução; informação + opinião + sedução.
Para evitar redundâncias, embora a intersecção de estratégias por este grupo de leitores, são apresentadas manchetes exemplificadas em cada item.
•
estratégia interacional para a construção da manchete informativa e
de sedução
A título de exemplificação, apresenta-se a manchete: “LADRÃO ENVIA ‘HOMEM-ROJÃO AO DEIC’“ – DSP, 15/08/06 - “Ladrão envia ‘homem-rojão ao Deic’”
Esta manchete é construída pela intertextualização com as cognições sociais do público-leitor do DSP, que conhece, pelas mídias, o “homem-bomba”. A construção da informação é feita por uma transgressão com a cognição social do leitor, de forma a construir criativamente a palavra “homem-rojão”. A manchete informa que o ladrão enviou alguém ao Deic, informação esta construída com estratégia de sedução, pois o alguém enviado é designado “homem-rojão”, de forma a produzir o riso.
A estratégia de sedução é construída com a criatividade lexical por composição “homem-rojão”.
•
estratégia interacional para a construção da manchete opinativa e
de sedução
A título de exemplificação, apresenta-se a manchete:
-“Não é mole, não, chegou a hora de gritar é campeão”
Esta manchete é construída por meio da intertextualização com um provérbio “rapadura é doce, mas não é mole, não”. A manchete, reduzida em “não é mole não” constrói a opinião para o leitor uma avaliação negativa, pois, se refere a idéia de que todas as coisas boas têm um lado ruim. Na progressão da manchete em “chegou a hora de gritar é campeão” a avaliação é positiva, pois, transgride com os conhecimentos sociais.
Assim, a manchete é construída por meio da sedução, privilegiando, inicialmente, uma avaliação negativa e, por meio da construção da opinião, ocorre a inversão de valores com a avaliação positiva.
•
estratégia interacional para a construção da manchete informativa,
opinativa e de sedução
A título de exemplificação, apresenta-se a manchete:
“SANDRA BULLOCK VIRA UMA PERIGOSA PERUA” – DSP, 01/04/05
- “Sandra Bullock vira uma perigosa perua”
A manchete é construída com a informação de uma mudança para as atitudes de Sandra Bullock. A opinião jornalística consiste em atribuir valor negativo a essa mudança: “perigosa perua”. A transgressão para seduzir o leitor é transformar Sandra Bullock em uma perigosa perua, pois nas cognições sociais do grupo de leitores é uma
atriz norte-americana e “perua” é a designação brasileira para atitudes femininas exageradas.
Van Dijk (1990) apresenta seus resultados obtidos da análise de manchetes de jornais europeus. Segundo o autor, as manchetes seguidas de outros textos-reduzidos constroem o acontecimento noticioso e sua função estrutural é bem clara: juntos, os textos-reduzidos expressam os principais temas do fato, isto é, funcionam como um resumo inicial.
No que se refere ao eixo semântico, os textos-reduzidos resumem o texto- expandido e expressam o sentido mais global da notícia, ou seja, a sua macro estrutura semântica.
A manchete é construída com o sentido global do tema e sua expressão, em forma geral, tem os verbos no tempo presente do indicativo. Os resultados obtidos e apresentados neste item, em parte, conferem com os resultados apresentados por Van Dijk e, em parte, complementa-os. Os resultados que conferem são relativos à construção da manchete pela informação e pela opinião. Os resultados que complementam são relativos à construção da manchete pela sedução.
Tais manchetes são muito freqüentes em todos os jornais paulistanos pesquisados e, por essa razão, a manchete não expressa o sentido mais global da noticia. Acredita- se que a causa é relativa ao traço cultural do brasileiro que guia suas ações no seu cotidiano: a irreverência que provoca o riso (cf. Silveira, 2000).
Como se pode verificar, as estratégias interacionais construídas pela sedução do leitor são as mais tipificadas e ocorrem tanto para construção da informação, quanto para a construção da opinião. Além disso, ocorrem todas elas concomitantes com as estratégias de sedução.
A ocorrência de manchetes construídas sem informação e sem opinião, com o recurso de criatividade lexical e o recurso de seleção de fragmentos de outros textos
também é muito freqüente, por exemplo: “De Geni para Tieta”, “De bruxa a fada má”, “Cabra fashion”, “Pé no Jaca”, “Era uma vez”.
3. 2 estratégias de construção da notícia por textos-reduzidos
Os resultados apresentados, neste item, são relativos à construção da notícia e foram obtidos a partir da progressão semântica da notícia.