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3. A INOVAÇÃO NA UNIÃO EUROPEIA E EM PORTUGAL

3.2 A Estratégia de Lisboa e a inovação

“A inovação é uma pedra angular da estratégia de Lisboa, lançada pelo Conselho Europeu em Março de 2000 e destacada pelos Conselhos Europeus subsequentes, em particular pelo de Barcelona, em 2002” (CE, 2003a, p. 2).

“A estratégia europeia aprovada na Cimeira de Lisboa de 2000 (...) está a ser o principal referencial de desenvolvimento e renovação das políticas económicas e sociais europeias” (Gabinete do PROINOV, 2002, p. 6). O objectivo estratégico então definido, relativamente à UE, consistia em torná-la, até 2010, na “economia baseada no conhecimento mais dinâmica e competitiva do mundo, capaz de garantir um crescimento económico sustentável, com mais e melhores empregos, e com maior coesão social” (CE, 2002a, p. 3)44.

“Esta estratégia baseia-se no princípio de que a competitividade de uma economia é função da intensidade do conhecimento existente nessa sociedade e que, por seu lado, esta depende da competitividade do seu sistema de ensino, ciência e tecnologia e sistema produtivo, também designado por sistema nacional de inovação” (Gouveia e Teixeira, 2005, p. 1).

Para a prossecução da Estratégia de Lisboa, é fundamental a definição de uma adequada política de inovação, consubstanciada em mecanismos e instrumentos de apoio e incentivo. Trata-se, pois, de uma política com expressão sobretudo a nível nacional e regional, embora seja necessária a intensificação da cooperação entre os EM da UE e a Comissão Europeia para reforçar a política de inovação na UE.

Uma das orientações da Estratégia de Lisboa é prosseguir “uma política de I&D na qual o actual programa comunitário e as políticas nacionais convergem em redes europeias de investigação e inovação”(Gabinete do PROINOV, 2002, p. 11). Neste sentido, importa “prestar atenção não só à inovação gerada no interior da empresa e incorporada na sua própria produção, mas também (e até principalmente) às transferências de tecnologia entre empresas e entre centros de saber e acesso a novas competências” (Gabinete do PROINOV, 2002, p. 74).

44 Tradução nossa. A observância deste objectivo “pressupõe uma estratégia global que vise: preparar a

transição para uma economia e uma sociedade baseadas no conhecimento, através da aplicação de melhores políticas no domínio da sociedade da informação e da I&D, bem como da aceleração do processo de reforma estrutural para fomentar a competitividade e a inovação e da conclusão do mercado interno” (Gabinete do PROINOV, 2002, p. 11).

Refira-se “a preocupação crescente por parte da UE, acerca da sua capacidade de inovação e na materialização dessa mesma inovação no crescimento e aumento da competitividade. De facto, durante a presidência espanhola da UE, mais concretamente no Conselho Europeu de Barcelona realizado em Junho de 2002, foi traçado o objectivo de o investimento em I&D no seio da UE atingir 3% do PIB em 2010. Isto representa quase uma duplicação do actual investimento em I&D na União Europeia” (Leitão, 2003, p. 114). Está na mira da UE estabelecer uma base de investigação pública mais sólida e atraente para o investimento privado, a fim de que nos seus EM, até 2010, 3% do PIB seja destinado à I&D, em que a parte financiada pelo sector privado deveria atingir dois terços do total. Trata-se de um objectivo relativo à UE como um todo, prevendo-se alguma dificuldade em considerar que os seus EM atingirão este valor individualmente, embora todos tenham de desenvolver esforços nesse sentido. “Partindo de uma taxa média de crescimento do PIB na UE de 2% por ano até 2010, os objectivos estabelecidos em Barcelona (3% e 2/3 do sector privado) implicam uma taxa de crescimento anual de 8% para o total dos esforços de investigação europeus, com um aumento anual de 9% para o financiamento privado e de 6% para o financiamento público” (CE, 2003b, p. 6).

Em 2003, a Suécia e a Finlândia apresentavam os dois maiores montantes de despesa em I&D em percentagem do PIB na UE, de 4,27% e 3,51%, respectivamente, estando mais de 2/3 desta despesa a ser financiada pelo sector privado. Em 2003, Portugal apresentou neste indicador a percentagem 0,79%, inferior à da média da UE-15 (1,99%, em 2002). Por seu turno, os Estados Unidos da América (2,76%, em 2003) e o Japão (3,12%, em 2002) apresentavam uma maior despesa em I&D em percentagem do PIB do que a UE-25 (1,93%, em 2002) e a China (1,23%, em 2002).

Em 2002, em Portugal, 31,5%45 da despesa em I&D foi financiada pelo sector privado (apresentando um acentuado crescimento desta percentagem desde 1998, embora tenha começado de um valor baixo), enquanto que a média da UE-15 se fixou em 56% e da UE-25 foi de 55,4%, aquém do objectivo dos 67%. Neste indicador, a Suécia e a Finlândia encontram-se muito bem posicionadas, pois o financiamento das despesas de I&D pelo sector privado era de 71,9% (em 2001) e 69,5% (em 2002), respectivamente. É de salientar

a liderança, em 2000, do Luxemburgo no que respeita ao financiamento da despesa em I&D pelo sector privado, pois apresentava um valor superior a 90% (CE,2005a,pp.1 – 2)46.

A CE evidencia a importância da definição de um quadro de condições mais atractivas na Europa para atingir os objectivos supramencionados que englobe, nomeadamente, uma oferta suficiente de recursos humanos altamente qualificados, uma cultura de empreendedorismo dinâmica47, adequados sistemas de direitos de propriedade intelectual48, mercados financeiros de suporte, estabilidade macroeconómica e condições fiscais favoráveis (CE, 2002a, p. 4). “A disciplina fiscal contribui para a estabilidade macroeconómica e para a criação de um ambiente de suporte à I&D e inovação” (CE, 2002a, p. 18)49.

A CE realça a importância do ambiente fiscal e regulamentar do capital de risco para o investimento privado na investigação, pois o facto dos investidores serem sensíveis ao risco poderá levá-los a investir noutro tipo de activos, pelo que se tem de adaptar, quando adequado, o tratamento fiscal do capital de risco, a fim de evitar a dupla tributação de investidores e fundos e garantir que a legislação comunitária está atenta às necessidades dos fornecedores de capital de risco (CE, 2003b, p. 27)50. Os incentivos fiscais nesta matéria podiam destinar-se aos investidores que reinvestissem os ganhos de capital em participações minoritárias em empresas inovadoras.

Como elemento central da Estratégia de Lisboa, está a criação de um Espaço Europeu de Investigação com o propósito de incentivar a inovação e o crescimento económico e, desta forma, a criação de emprego. “A ideia de Espaço Europeu da Investigação nasceu da constatação de que a investigação na Europa apresenta três pontos fracos: financiamento insuficiente neste domínio, ausência de um ambiente que incentive a investigação e a

46 Dados do EUROSTAT.

47 Empreendedorismo para I&D, com especial atenção ao incentivo à criação de novas empresas baseadas em

tecnologia e investimento em actividades de I&D desenvolvidas pela própria empresa ou em regime de subcontratação.

48 Estes têm de ser desenvolvidos de forma a que os ganhos inerentes a uma determinada inovação sejam

auferidos pela entidade que a tornou possível – os custos e as incertezas legais a nível da protecção de direitos podem atenuar o incentivo a investir em I&DI.

49 Tradução nossa.

50 Estas acções dirigidas aos mercados financeiros estão expressas na Comunicação da Comissão «Investir na

investigação: um plano de acção para a Europa», de 4 de Junho de 2003, no âmbito da melhoria das condições de enquadramento do investimento privado na investigação. Nesta Comunicação é referido que “a dupla tributação (investidores e fundos) reduz a rentabilidade do investimento em fundos de capital de risco quando comparado com o investimento directo nas empresas, e, por conseguinte, diminui o interesse desses fundos. Isto limita os investimentos dos investidores internos e internacionais” (CE, 2003b, p. 27).

exploração dos seus resultados, fragmentação das actividades e dispersão dos recursos” (CE, 2002b, p. 4).

Os objectivos do Espaço Europeu da Investigação consistem, sucintamente, no reforço substancial da participação dos EM e mobilização das actividades nacionais (nomeadamente das políticas de investigação dos EM, reforçando a sua coerência através da comparação, intercâmbio e aprendizagem mútua), o aumento do impacto das acções empreendidas e a consolidação do quadro conceptual e político no âmbito do qual o projecto é implementado (CE, 2002b, p. 7).

A nível da I&D na UE, tem sido fomentada a cooperação entre entidades de diferentes EM, criando programas-quadro sucessivos. Actualmente, decorre o sexto programa-quadro de investigação e desenvolvimento tecnológico da UE, relativo ao quadriénio 2002 – 06. A inovação é um dos domínios em que este programa-quadro incide fortemente, tendo já sido dada uma certa ênfase nos dois programas-quadro anteriores: o quarto programa- quadro (1994 – 98) e o quinto programa-quadro (1998 – 2002). No entanto, o sexto programa-quadro apresenta uma evolução relativamente aos programas-quadro anteriores, na medida em que “remete claramente para os beneficiários do investimento em investigação a responsabilidade de gerar inovação através das respectivas actividades financiadas pela UE. Esta obrigação é especialmente clara e determinante no caso dos projectos integrados e da investigação para impulsionar as capacidades tecnológicas das PME” (CE, 2003a, p. 15).

Contudo, apesar dos esforços de cooperação e de harmonização das políticas dos vários EM, não se pode afirmar que exista uma política europeia de investigação, pois as várias políticas da UE e dos EM que a constituem não formam um conjunto coerente (UE, 2005).

As divergências existentes nas formas de incentivar e apoiar a capacidade inovadora das entidades dos EM da UE são notáveis. O alargamento da UE a que se assistiu em Maio de 2004 veio evidenciar estas divergências, embora acarretando uma nova esperança em virtude da capacidade assinalável dos novos EM para transformar as suas economias. No entanto, os obstáculos à inovação também persistem nos novos EM e são idênticos aos dos EM mais antigos embora se revelem, nalguns casos, mais acentuados, destacando-se: “a aversão ao risco, o baixo investimento em I&D, a cooperação limitada entre investigação e indústria, etc.” (CE, 2003a, p. 12).

Pode referir-se outros obstáculos próprios dos EM mais recentes. Na realidade, “a herança das economias de plano centralizado deixou as suas marcas não apenas no quadro económico, mas, também, nos respectivos quadros institucional, de ensino e social. Ausência de políticas da inovação de pleno direito, falta de coordenação entre os domínios políticos com implicações em termos de inovação, recursos humanos e financeiros limitados para a aplicação de iniciativas de inovação, assim como sistemas financeiros fracos e capacidade limitada das empresas para absorverem e aplicarem o conhecimento e para trabalharem em rede são desafios significativos em termos de reforço da capacidade de inovação, sendo necessárias respostas políticas adequadas por parte da UE” (CE, 2003a, pp. 12 – 13).

Desta forma, no plano europeu, urge a aplicação de medidas que invertam esta tendência no sentido da promoção de actividades de I&DI nas empresas dos novos EM da UE.