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Capítulo III – Metodologia

3. Estratégia Metodológica

Quando se pensa, e se aborda, a investigação que tem lugar em Ciências Sociais e Humanas, Quivy e Campenhoudt (2005:19) dizem-nos que esta serve para:

“ (…) compreender melhor os significados de um acontecimento ou de uma conduta, a fazer inteligentemente o ponto da situação, a captar com maior perspicácia as lógicas de funcionamento de uma organização, a refletir acertadamente sobre as implicações de uma decisão política, ou ainda a compreender com mais nitidez como determinadas pessoas apreendem um problema e a tornar visíveis alguns dos fundamentos das suas representações.”

Tendo estes fatores em conta, e neste seguimento, há que levar em conta que existem dois requisitos de suma importância que se devem ter em atenção aquando da sua elaboração. Se por um lado se procura que esta seja científica, ainda que Quivy e Campenhoudt (2005:19) refiram que até para um investigador profissional seja complicado alcançar este requisito,

por outro, deve procurar-se que se adeque ao objeto em causa a ser estudado (Coutinho, 2014).

Quando se determina o objeto de estudo, este não deve ser feito ao acaso e de forma indiscriminada. Há que existir um objeto concreto, bem delimitado, que possa fornecer todos os dados almejados, para que a pesquisa possa ser bem-sucedida (Carmo e Ferreira, 2008:46). Assim, Carmo e Ferreira (2008:47) incitam a que se tenha em consideração que, no início de um processo de investigação, se deve:

i. Construir de antemão um conjunto de várias hipóteses que permitam conferir um rumo posterior à investigação;

ii. Proceder à recolha de informação de uma forma já pensada e estratégica, ainda que permita ao investigador deparar-se com informação inesperada;

iii. E, ainda, que haja uma preocupação e um rigor naquilo que é esperado da investigação mas expresso de forma simples, para que possa ser de fácil compreensão.

Quivy e Campenhoudt (2005:24-28) referem que o processo de investigação tem expressão ao longo de sete etapas, que estão também elas divididas em três atos. O primeiro ato é o da “rutura” que consiste em, tal como a própria palavra indica, romper com tudo aquilo que tomamos como certo em ciências sociais, todos os “preconceitos” e “falsas evidências” que iludem o investigador relativamente àquilo que ele julga saber. Neste ato inserem-se as etapas da pergunta de partida, enquanto primeiro momento, posteriormente a exploração que se consubstancia em todas as leituras efetuadas e nas entrevistas exploratórias realizadas e, finalmente, na terceira etapa que é a da problemática.

A revisão da literatura é fulcral, no sentido em que estabelece uma relação entre o estudo em causa e o situa na literatura existente, ao mesmo tempo que analisa e tem em conta estudos anteriormente realizados que com ele se relacionem. Há que colocar todas as teorias e interpretações em perspetiva de forma a conseguir trazer novos conhecimentos, que se caracterizem por serem mais esclarecedores e perspicazes que os anteriores (Bento, 2011; Quivy e Campenhoudt, 2005:50). Neste sentido, a vertente teórica que foi tida em conta, e sobre a qual a presente investigação se debruçou, foi sobre temáticas como: Cultura

Organizacional, Identidade Organizacional, a sua relação com a dimensão estratégica da Comunicação Interna e, complementarmente, ainda com conceitos como a estrutura organizacional, a ética empresarial, os valores organizacionais e o comportamento organizacional que se afiguraram de relevo para a completar. Deste modo, aquilo que se pretende alcançar é perceber a forma pela qual os valores culturais e identitários são expressos pela comunicação interna e sua posterior repercussão junto dos colaboradores. O segundo ato, a “construção”, interliga-se com o anterior na etapa da problemática, “sem esta construção teórica não haveria experimentação válida”, há que fundamentar sempre e construir a investigação num “quadro teórico de referência”. Só assim se poderá, posteriormente, testar as “proposições” criadas, no âmbito da etapa seguinte, “a construção do modelo de análise” (Quivy e Campenhoudt, 2005:28).

Já no que concerne ao terceiro ato, este inclui as etapas da “observação”, da “análise das informações” e das “conclusões”, é ele a “verificação” (Quivy e Campenhoudt, 2005:28). A presente investigação científica divide-se, neste ato, em dois momentos distintos. Numa primeira fase, cumpre proceder à análise dos dados secundários recolhidos, nomeadamente da análise documental, ou seja, de todas as informações e documentos da organização, internos ou externos, que permitem obter mais conhecimentos da organização em estudo e, complementarmente, a entrevista exploratória realizada a Ricardo Fonseca, CPO & Strategy

Director e responsável da área de People and Culture (Anexo A), que permite conhecer

melhor a estrutura e dinâmica da empresa a nível dos seus valores culturais e identitários, de que forma se relacionam com a Comunicação Interna, e qual a perceção sentida por parte dos colaboradores. Esta informação e conhecimento tem também grande importância quando se pensa, posteriormente, no Inquérito por Questionário (Anexo B) que cumpre elaborar e estruturar – enquanto dados primários do estudo em questão.

Numa segunda fase, cumpre analisar os resultados que advêm do Inquérito por Questionário, enquanto técnica utilizada, para que se possam, de seguida, validar, ou não, as hipóteses elaboradas.

3.1. Dados Secundários

Entrevista Exploratória

“As entrevistas exploratórias servem para encontrar pistas de reflexão, ideias e hipóteses de trabalho, e não para verificar hipóteses pré-estabelecidas” (Quivy e Campenhoudt, 2005:70). Este tipo de entrevista contribui para que sejam revelados elementos inerentes ao estudo que o investigador, apenas por si só, não teria conseguido chegar até eles e atua enquanto complemento das “pistas de trabalho” que surgem das leituras anteriormente efetuadas (Quivy e Campenhoudt, 2005:69).

Já conhecendo a organização comOn, e tendo sido possível reunir com Ricardo Pereira –

Founder e CEO – previamente, e analisados os materiais e os documentos que foram

disponibilizados, procedeu-se à elaboração de uma entrevista exploratória a Ricardo Fonseca - CPO & Strategy Director e responsável da área de People and Culture da comOn (ver Anexo A), que possibilitou compreender um pouco melhor a Cultura, a Identidade e os Valores Organizacionais e como estes se relacionam com a Comunicação Interna existente e difundida pelos colaboradores no interior da organização comOn.

Análise Documental

Esta técnica de recolha de dados, para a investigação científica, releva no sentido em que permite a obtenção de informação de forma a compreender e a conhecer melhor determinados aspetos e comportamentos do grupo e da organização que se pretende estudar. De acordo com Souza et al. (2011:223), “deve permitir a localização, identificação, organização e avaliação das informações contidas no documento, além da contextualização dos factos em determinados momentos”.

Quivy e Campenhoudt (2005:201-203) abordam esta técnica, referindo que os documentos em análise permitem “encontrar neles informações úteis para estudar outro objeto”, sendo

que podem tomar a forma tanto de dados estatísticos, como de documentos textuais. Estes últimos precisam de levar em conta a credibilidade e a autenticidade dos documentos, bem como da sua pertinência relativamente ao “campo de análise da investigação”.

As vantagens provenientes da análise documental relacionam-se com o facto de os custos associados serem bastante reduzidos, por ser uma técnica que não provoca mudanças no ambiente e nos intervenientes que se pretendem estudar e pelo facto das fontes serem, tendencialmente, estáveis (Souza et al., 2011:223). Por seu turno, Quivy e Campenhoudt (2005:203) referem o tempo reduzido que é necessário a esta técnica, além dos custos, o facto de evitar demasiadas entrevistas e inquéritos que acabam por saturar os intervenientes abordados e, ainda, o facto de se poder valorizar este método, cuja evolução tem permitido que se aprimore ao longo do tempo.

No que concerne a esta técnica de recolha de dados, a análise documental, foram recolhidos materiais e informações de documentos, externos e internos, da organização comOn, bastante pertinentes, que contribuíram e acrescentaram valor ao todo da investigação. Para além dos documentos, internos e externos, foram também analisados artigos, notícias, estudos de matérias e de certos conceitos-chave abordados, e demais fontes de informação que se afiguraram de relevo.

3.2. Dados Primários

Inquérito por Questionário

O inquérito por questionário pressupõe a obtenção de respostas a uma panóplia de questões que visam obter o conhecimento desejado. Geralmente, esta técnica de recolha de dados não envolve uma interação direta, uma situação presencial. Esta questão afigura-se de especial importância no que concerne à construção do inquérito e, posteriormente, da sua aplicação junto da População, uma vez que deverão considerar esse aspeto na sua construção (Carmo e Ferreira, 2008:153; Gil, 2008:121).

Relativamente às hipóteses formuladas no processo de investigação, esta técnica de recolha de dados permite analisar as “correlações” por elas sugeridas e a sua verificação, bem como obter dados fundamentais relativamente ao universo em causa (Quivy e Campenhoudt, 2005:188; Gil, 2008:121; Carmo e Ferreira, 2008:153).

Neste seguimento, Quivy e Campenhoudt (2005:189) consideram que as vantagens do inquérito por questionário se prendem com o facto de poderem “quantificar uma multiplicidade de dados” e de, posteriormente, conseguir-se analisar a sua “correlação”, bem como de se facilitar o alcance de um conjunto de respostas que sejam representativas ou significativas da população.

Complementarmente, Gil (2008:122) considera como vantagens desta técnica de recolha de dados:

i. O facto de permitir chegar a um vasto número de respostas; ii. Tem menos custos associados;

iii. Permite que as respostas sejam dadas num ambiente de confidencialidade e anonimato;

iv. Fica à descrição dos inquiridos, o momento que mais lhes convier para responderem ao inquérito;

v. Não são influenciados pelas opiniões de quem pudesse estar a realizar o questionário. Quivy e Campenhoudt (2005:190) referem que, ainda assim, é necessário proceder à análise destes dados, à comparação e à análise das correlações existentes, pois as respostas em si mesmas não têm um significado, pelo facto de serem “pré-codificadas”.