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Estratégia e Processo de Investigação

Capítulo 2 ESTRATÉGIA E PROCESSO DE INVESTIGAÇÃO

2. Estratégia e Processo de Investigação

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1. Objetivos de Investigação

Em termos gerais os objetivos de investigação centram-se na compreensão da relação entre duas áreas de conhecimento - o teatro e o envelhecimento. Colocando em foco, a prática da atividade teatral enquanto proposta estratégica de intervenção em gerontologia social. De modo mais particular, é intenção deste trabalho de investigação identificar os potenciais contributos e/ou benefícios do teatro no processo de envelhecimento, quer através da incursão pelo emergente campo das “artes e saúde”, quer por meio da consideração de diversos conceitos de envelhecimento positivo.

2. Estratégia e Processo de Investigação

A estratégia de investigação assenta sob a metodologia qualitativa, que pressupõe um modelo fenomenológico no qual a realidade é enraizada nas perceções dos sujeitos; o objetivo é compreender e encontrar significados através de narrativas verbais e de observações (Bento, 2012). A opção pelo paradigma qualitativo deve-se ao facto deste trabalho visar a compreensão da realidade de um grupo de pessoas que integrou um projeto de teatro sénior. Pareceu-nos adequado, sobretudo, porque este modelo inclui aquilo que os participantes dizem, as suas experiências, atitudes, crenças, pensamentos e reflexões, tal e como são expressadas pelos mesmos (Pérez Serrano, 2007). Para além disso, privilegia duas componentes que consideramos vitais para o estudo de um grupo de idosos que se predispõe à prática teatral - o processo e o significado (Bogdan & Biklen, 1994). A investigação qualitativa procura as complexas inter-relações que acontecem na vida real e, consequentemente segue a lógica da construção do conhecimento (Meirinhos & Osório, 2010). Outra característica que a distingue é o facto de direcionar os aspetos da investigação para casos ou fenómenos em que as condições contextuais não se conhecem ou não se controlam (Stake, 2007).

Iniciámos o processo de investigação a partir de uma exploração das iniciativas de teatro com idosos na região do Algarve, de modo a adquirir um conhecimento mais preciso sobre as práticas em curso. Verificámos que, salvo uma exceção, os projetos mais consistentes eram promovidos ou apoiados pelos municípios. A nossa intenção foi

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acompanhar este tipo de trabalho, por um lado num concelho com uma taxa significativa de pessoas consideradas idosas e por outro ter a possibilidade de o fazer desde a sua fase inicial, ou seja, a partir da implementação do projeto, porque seria mais fácil (ou menos intrusivo) o acesso ao grupo, o que nos permitiria o aprofundamento das nossas questões. Após algumas abordagens, estabelecemos contacto efetivo com o município de Silves53, que iniciara o Projeto de Teatro Sénior em janeiro de 2014. O projeto destinava- se a quatro grupos seniores, constituídos simultaneamente em quatro freguesias do concelho, nomeadamente: Silves; São Bartolomeu de Messines; Tunes e Armação de Pêra. Apresentámos, assim, solicitação de apoio/colaboração para o nosso projeto de investigação54 ao executivo da Câmara Municipal de Silves (CMS), que nos conduziu à equipa técnica do projeto, liderada por técnicos da ação social e da cultura deste município. O trabalho de investigação foi muito bem acolhido e passado cerca de um mês do primeiro contacto, começámos o trabalho de campo com o grupo constituído na freguesia de Silves, que adiante designamos como Grupo de Teatro Sénior de Silves (GTSS).

Esse trabalho foi inaugurado com um encontro que contemplou a minha apresentação ao grupo e vice-versa e, obviamente visou o enquadramento da investigação que tencionávamos levar a cabo. Realizou-se no mês de abril de 2014, nas instalações da Biblioteca Municipal de Silves, um dos locais de ensaio. Deste primeiro encontro resultou um plano de sessões de acompanhamento e apoio à prática teatral, devidamente articulado entre a responsável da investigação e a equipa de coordenação do “Projeto de Teatro Sénior”. O plano de trabalho teve como objetivo o acompanhamento regular (1x por semana) do grupo nos ensaios e decorreu nos meses de maio e junho de 2014, resultando num total de 10 sessões, com duração de aproximadamente 2h30m. As sessões decorreram na sala polivalente da Biblioteca Municipal de Silves e no palco do Teatro Mascarenhas Gregório. Para além de acompanharmos o processo criativo, participámos na sessão dedicada ao ensaio geral e estivemos presentes nas duas apresentações do primeiro espetáculo. Posteriormente, seguimos o resultado do trabalho do grupo sénior na segunda edição (2015) do Projeto de Teatro Sénior. Ademais, verificámos já perto do término do nosso estudo, que está em curso uma terceira edição (2016) do projeto, onde

53 ANEXO 1- Fase inicial de contactos com o Município de Silves

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o Grupo de Teatro Sénior de Silves teve a oportunidade de continuar a apresentar a sua segunda criação teatral em diversos locais da comunidade.

A síntese cronológica deste processo encontra-se nos ANEXOS 3 e 4.

2.1 Estudo de Caso

O método de investigação selecionado é o estudo de caso, por se tratar de uma abordagem metodológica adequada quando o que visamos é compreender, explorar ou descrever acontecimentos e contextos complexos, nos quais estão simultaneamente envolvidos diversos factores. Para Robert K. Yin (2001), um dos influentes autores nesta matéria, o estudo de caso «é uma investigação empírica que investiga um fenómeno contemporâneo dentro do seu contexto de vida real, especialmente quando os limites e o contexto não estão claramente definidos» (p. 32).

Desta maneira, como selecionamos um determinado grupo (Grupo de Teatro Sénior de Silves) inserido num certo contexto (Projeto de Teatro Sénior, promovido pela Câmara Municipal de Silves) e quisemos acompanhar a sua experiência em relação ao seu fazer teatral, conjeturamos que este seria o método indicado. Não apenas por visar conhecer uma entidade bem definida, mas também porque o seu «objetivo é compreender em profundidade o “como” e os “porquês” dessa entidade, evidenciando a sua identidade e características próprias» (Ponte, 2006, p. 2), principalmente nos pontos que nos são caros. E à semelhança do que pretendíamos com o grupo de teatro sénior, o estudo de caso «debruça-se deliberadamente sobre uma situação específica que se supõe ser única ou especial, pelo menos em certos aspetos, procurando descobrir o que há nela de mais essencial e característico e, desse modo, contribuir para a compreensão global de um certo fenómeno de interesse» (ibidem). Na escolha do nosso “caso” ponderámos critérios que envolveram tanto a singularidade do grupo, como a sua situação complexa e/ou intrigante. Muito embora reconheçamos a divergência entre autores (Robert Stake, 2007; Robert Yin, 2001) no que respeita à caracterização e à possibilidade de generalização dos estudos de caso, tivemos em conta um critério que ambos parecem estar de acordo. Que é no caso de Stake, a pertinência de focalizar um fenómeno original, tratando-o como um sistema delimitado cujas partes são integradas, e para Yin, um fenómeno pouco investigado,

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levando à identificação de categorias de observação ou à geração de hipóteses para estudos posteriores (Alves-Mazzotti, 2006).