• Nenhum resultado encontrado

Capítulo 1 – TEORIAS E CONCEITOS

4. Teatro Que teatro?

4.3 Teatro Sénior

Pelo que apurámos nas nossas pesquisas, as fontes para uma definição consolidada do termo Teatro Sénior são muitíssimo escassas. Não temos conhecimento que haja desenvolvimento ou debate teórico sobre os propósitos desta variante teatral. Paralelamente, não é difícil constatar o crescimento da sua prática no contexto nacional e internacional. Parece haver cada vez mais projetos de natureza teatral dirigidos à população idosa, atividades dramáticas que contemplam a participação de seniores ou grupos intergeracionais. É verdade que a sua prática é especialmente diminuta quando

28

comparada a atividades de âmbito desportivo, no entanto, cremos ser possível afirmar com segurança que, nos últimos anos têm surgido cada vez mais grupos de teatro sénior.

Todavia, apesar dos poucos dados a que acedemos, encontrámos algumas fontes que nos permitem definir características e esclarecer especificidades do teatro sénior. Por exemplo, o The Continuum Companion to Twentieth Century Theatre inclui uma entrada designada de “Teatro para terceira idade” [Theatre for old age], a qual consideramos redutora, na medida em que apenas se refere ao idoso institucionalizado. Ainda assim, tendo em conta a relação com o teatro comunitário e alguns aspetos que entram no domínio do nosso trabalho, considerámo-la importante. Desta maneira, vejamos que para Clive Barker (2006), “Teatro para terceira idade” é uma

forma de teatro comunitário que é diretamente dirigida ao idoso institucionalizado. Embora exista uma justificação clara para a oferta de lazer, geralmente acessível na modalidade de music hall, para os idosos (Old Age Theatre Society), outros grupos têm tentado maneiras de utilizar formas participativas de teatro para reverter a estagnação física e mental das pessoas idosas, para despertar o interesse e proporcionar o estímulo mental das pessoas ao longo da vida (Age Exchange, Reminiscence Theatre). Podendo incitar as pessoas a recordar as músicas e outras competências da sua juventude, ou a procurar estímulos de memória com fins históricos, documentais ou pessoais. (p. 761)32

Um documento que nos ajudou a reunir informação sobre o conceito de teatro sénior (utilizando especificamente o termo) foi a tese de doutoramento de Joan Kole (2009), intitulada Theatre and aging: directors' practices with aging performers in senior

theatre settings. Kole, aborda a relação entre teatro e envelhecimento, a partir da

experiência das pessoas que orientam ou dirigem os grupos de teatro com idosos.

32 [Form of COMMUNITY THEATRE which is directly addressed to the institutionalized aged. Although there is a clear justification for the offering of entertainment, usually in accessible form of MUSIC HALL, to the aged (Old Age Theatre Society), other groups have tried ways of utilizing participatory forms of theatre to reverse mental and physical stultification in old people, to awaken interest and to provide mental stimulation for people to go on living (Age Exchange, Reminiscence Theatre). This can provoke people to remember the songs and other performance skills of their youth, or seek to stimulate the memory for historical, documentary or personal recall purposes].

29

Por esta via chegámos a A. L. Wood (2007), que indica que o Teatro Sénior é uma prática realizada por pessoas com mais de 55 anos, descrevendo-o como

o setor de teatro recreativo e ocupacional que mais rapidamente cresce na América do Norte e na Europa. À semelhança do teatro tradicional, o teatro sénior integra agora todo o tipo de teatro, desde grupos amadores e terapêuticos em lares, centros de dia e igrejas até companhias interdisciplinares, teatro comunitário, teatro universitário e companhias totalmente profissionais.33

Outra proposta que integra a referida tese, contribui para denominar os propósitos do Teatro Sénior. Agora sugerida por Stewart (2004), através de quatro objetivos gerais:

. oferece a oportunidade dos idosos representarem; . educa o público sobre temas seniores;

. partilha a experiência de vida dos idosos; . e cria estrutura e apoio social (para idosos).

Stewart ressalta que, em cada uma destas quatro áreas há uma variedade de oportunidades de aprendizagem e socialização.34

Além do supracitado trabalho de investigação, consultámos o Senior Theatre

Resource Center35, um centro de recursos de teatro sénior, que afirma ser a maior base de dados nesta área. A sua missão é ajudar artistas mais velhos a realizar os seus sonhos teatrais. O Senior Theatre Resource Center congrega uma série de recursos que vão desde grupos de teatro sénior, conferências, bibliografia, notícias, até indicações para começar um grupo ou, peças de teatro sénior. O centro tem contribuído para a documentação e difusão do movimento de teatro sénior nos Estados Unidos da América. A sua principal

33 [the most rapidly growing sector of recreational and vocational theatre in North America and Europe. Like the traditional theatre world, senior theatre now offers every kind of theatre from amateur and therapeutic groups in retirement centers, recreational centers and churches, to interdisciplinary companies, community theatre, college and university theatre and fully professional performance groups]. Woods, A. L. (2007, p.2). Eileen Heckert drama for seniors competition. Lawrence and Lee Theatre Research Institute, The Ohio State University. Citado em Kole (2009, p. 4 e 5).

34 Stewart, D. (2004). What is senior theatre? The Bulletin of the Senior Theatre League of America, 2(1), 8-9. Citado em ibidem.

30

dinamizadora é Bonnie L. Vorenberg, autora das seguintes considerações, que nos ajudam a caracterizar esta variante teatral:

Grande parte dos grupos de teatro sénior são amadores, embora existam alguns profissionais. Á semelhança dos grupos de teatro comunitário, os participantes vivem geralmente na área onde se realizam as sessões de prática teatral. A maioria dos programas incluem 11 a 20 participantes, que permanecem no grupo de 1 a 3 anos, deixando apenas por doença ou outros compromissos.36 (Vorenberg, 2011,

p. 18)

Esta caracterização de Vorenberg conflui com a entrada de Barker (2006) no The

Continuum Companion to Twentieth Century Theatre ao estabelecer relação direta entre

o teatro sénior e o teatro comunitário. Numa publicação anterior, intitulada Community

and Senior Theatre: A Perfect Match, esta relação torna-se ainda mais evidente:

O teatro sénior e o teatro comunitário têm muitos objetivos em comum. Tanto um como outro são atividades de carácter voluntário que proporcionam desafio e experiência artística. Ambos criam trabalhos dinâmicos com pequenos orçamentos, utilizando um forte esprit de corps para desenvolver o entusiasmo.37

(Vorenberg, 2007, p. 16)

Embora estas qualidades tenham sido formuladas com base na experiência teatral com seniores, a partir de uma realidade diferente da nossa, parece-nos que se aplicam e, que se adequam aos grupos de teatro sénior em Portugal. Sabemos que, no nosso país esta terminologia (teatro sénior) também é utilizada, apesar de não conhecermos

36 [Senior Theatres are largely amateur groups though there are a few professional companies. Like community theatres, the participants usually live in the local area and participate in classes and performances. Most programs attract 11-20 actors who stay with the group from 1-3 years, only leaving because of illness or other commitments].

37 [Senior Theatre and community theatre have many of the same goals. Both are volunteer-based activities that provide challenge and an artistic outlet. Both companies create dynamic works with small budgets using a strong esprit de corps to build passion].

31

conceptualizações do termo por autores portugueses, reconhecemos que o desenvolvimento teórico ou as abordagens efetuadas a partir do conhecimento empírico, no que respeita ao teatro com e/ou para a população sénior, ocorrem muitas no contexto do teatro comunitário.

Contudo, «o teatro sénior está a mudar vidas, influenciando a autoperceção e permitindo que os participantes - intérpretes idosos e público - compartilhem lições que aprenderam com as suas experiências de vida» (Kole, 2009, p. 17).

32