• Nenhum resultado encontrado

Estratégia Regional de Investigação e Inovação para a Especialização do Algarve

4. Caso de Estudo – Região do Algarve

4.2. Ligação da Economia Circular aos Instrumentos de Ordenamento e Planeamento Territorial

4.2.2. Estratégia Regional de Investigação e Inovação para a Especialização do Algarve

A Estratégia Regional de Investigação e Inovação para a Especialização do Algarve foi publicada em 2015, para o período 2014-2020, onde se identificam os setores de afirmação da região, segundo o conhecimento e o mercado, reforçando a captura de valor centrada nos recursos endógenos e na dimensão internacional das produções da região (CCDR-Alg, 2015).

A região do Algarve é identificada como uma Região de Transição e tem 3 objetivos temáticos: Reforçar a Investigação, o desenvolvimento tecnológico e a inovação; Melhorar o acesso às tecnologias da informação, bem como a sua utilização e qualidade; e Reforçar a competitividade das pequenas e médias empresas (CCDR-Alg, 2015).

84

Os domínios consolidados foram escolhidos pela sua importância económica na região, pela capacidade de criar e manter postos de trabalho e ainda por possuírem uma base sólida de I&D e outros recursos relevantes. Os dois identificados nesta categoria são o Turismo e o Mar (CCDR-Alg, 2015).

Os domínios emergentes do Agroalimentar, TIC e Atividades Criativas, Energias Renováveis e as Atividades de Saúde e Ciências da Vida são setores com algum potencial

Domínios consolidados emergentes e articulação intersectorial

Elaborado a partir de: RIS3 Algarve (CCDR-Alg, 2015)

Figura 12 – Subsetores com maior potencial de relação com a Economia Circular dos Domínios consolidados, emergentes e articulação intersetorial

Figura 11 -Subsetores com maior potencial de relação com a Economia Circular dos Domínios consolidados, emergentes e articulação intersetorial

85

a nível regional, com algumas falhas no seu sistema que não permite um forte impacto na económica e consequentemente no desenvolvimento da região (CCDR-Alg, 2015).

Neste sentido foi feito um levantamento da situação atual no domínio do Turismo no contexto de Economia Circular, isto é, perceber se os estabelecimentos turísticos se têm tentado adaptar a sistemas de gestão de energia e de água mais sustentáveis, assim como na redução de produção de resíduos.

O Turismo na região do Algarve é um setor com bastante peso. Exemplo disto é a Intensidade Turística que, através da relação entre o número de dormidas nos empreendimentos turísticos e o número de residentes numa determinada região, permite avaliar a pressão turística. Em 2018, Portugal registou 5 425 dormidas por cada 1 000 habitantes, enquanto o Algarve registou 42 286 dormidas por 1 000 habitantes (Turismo de Portugal, 2019c).

Quanto ao número de dormidas registadas em 2018, Portugal registou mais de 57 000 000 de dormidas, das quais 32% dizem respeito ao Algarve e 25% a Lisboa, sendo estas as regiões mais significativas. De forma equilibrada cada mês deveria representar cerca de 8% das dormidas totais num ano, o que na época de verão (Junho, Julho, Agosto e Setembro) representaria 33%, no entanto o Algarve regista uma concentração de 54% de dormidas nestes meses e a média nacional 46% (Turismo de Portugal, 2019c).

Segundo o INE, e de forma a estudar os dados mais representativos possíveis, foi considerado como Turismo as Atividades " Alojamento", "Agências de viagem, operadores turísticos, outros serviços de reservas e atividades relacionadas", "Atividades de serviços administrativos e de apoio prestados às empresas" e "Administração Pública e Defesa; Segurança Social Obrigatória", uma vez que todas elas têm algum tipo de atividade relacionado ao Turismo (INE, 2019).

É possível verificar que a Região Autónoma da Madeira e a Região do Algarve são as que apresentam maior percentagem de pessoas empregadas em atividades económicas relacionadas ao turismo, 16,8% e 16,7% respetivamente, em 2011 (INE, 2019).

O peso da sazonalidade do Turismo no Algarve é possível ver mais uma vez através da percentagem de colaboradores ao serviço de caracter sazonal, em que o Algarve em 2016 registou 29,4%, sendo a média nacional 16,1%. Só a região dos Açores é que apresentou valores superiores, 35,3% (Turismo de Portugal, 2019c).

Em média, a duração da estadia dos turistas, em 2018, era 4,5 noites em Portugal e 2,8 no Algarve. Quanto às receitas médias diárias o Algarve apresenta valores

86

superiores, uma vez que em média cada turista gasta 43,6€ por dia, enquanto a média nacional é 40,3€, segundo dados de 2017 (Turismo de Portugal, 2019c).

Fazendo a comparação com Portugal, o Algarve apresenta melhores valores quanto aos estabelecimentos turísticos com objetivos quantificados de redução do consumo de água e de energia, 65% e 66,9% respetivamente, sendo a média nacional 60,3% e 61,6%. Em ambos os casos a evolução tem sido bastante positiva, o que vai ao encontro do objetivo da Estratégia do Turismo 2027 (Turismo de Portugal, 2019b, 2019a) No contexto de tornar os estabelecimentos hoteleiros mais eficientes foram definidas algumas medidas para implementar para reduzir o consumo de água e de energia. Para reduzir o consumo de água as TOP 5 medidas e a respetiva taxa de implementação das mesmas no Algarve em 2016 foram: Autoclismo de baixo consumo (75,2%); Hóspedes convidados a comunicar quaisquer perdas de água (83.3%); Mudança de toalhas e lençóis a pedido dos hóspedes (95,8%); Redutores de caudais em torneiras e chuveiros (69%): e Temporizadores nas torneiras (38,9%), apresentando de forma geral a taxa média de implementação mais alta em Portugal (Turismo de Portugal, 2019e)

Quanto ao consumo de energia em estabelecimentos hoteleiros, as medidas e as respetiva taxas de implementação do Algarve são: Equipamentos de classe A ou superior (66,4%); Isolamento térmico das janelas (73,2%); Lâmpadas economizadoras de energia (98%); Sistema de climatização com intensidade regulável pelo cliente (91,9%); Sistema de iluminação acionado com o cartão (70,55). Nestas medidas, relativas ao consumo energético o Algarve apresenta um bom desempenho, muito semelhante à média nacional (Turismo de Portugal, 2019d).

A economia do Algarve é fundamentalmente especializada no Turismo, situação que levanta questão acerca da sustentabilidade da atividade económica na região, especialmente devido à sazonalidade e a períodos em que a crise económica afeta severamente a taxa de desemprego. As recomendações dadas apontam para a necessidade de diversificar a base de atração da região, mantendo a competitividade no produto turístico “Sol e Mar”, no entanto, é importante desenvolver outros produtos turísticos que sejam complementares e emergentes, tais como: Golf, Náutica, Cruzeiros, Natureza, Cultural e Saúde – Anexo B (CCDR-Alg, 2015).

O mar é um recurso estratégico para Portugal e decisivo para o Algarve, uma vez que tem um papel importante nas atividades económicas regionais (pesca e comércio) e na investigação científica, na Universidade do Algarve, ao nível das Ciências Marinhas. A produtividade deste setor no Algarve tem vindo a diminuir, no entanto continua a ter

87

um peso elevado a nível nacional. A sustentabilidade é um assunto que tem vindo a ganhar preocupação e relevância neste setor, sendo identificada a necessidade da criação de sistemas de gestão para evitar a sobre-exploração de recursos mas que em simultâneo permita aos pescadores um rendimento estável – Anexo B. (CCDR-Alg, 2015).

O Programa Operacional Mar 2020 pretende implementar em Portugal as medidas de apoio enquadradas no Fundo Europeu dos Assuntos Marítimos e das Pescas (FEAMP) tendo definidas como prioridades: a promoção de uma pesca e aquicultura competitiva, ambientalmente sustentável, eficiente em recursos, inovadora e baseada no conhecimento, o incentivo à execução da Política Comum das Pescas, o aumento do emprego e a promoção da comercialização e transformação, através da melhoria da organização do mercado dos produtos da pesca e da aquicultura (PROMAR, DGRM, & DGPM, 2014) .

Da população empregada algarvia, 1% diz respeito às pescas, sendo a média nacional 0,3%, em 2011 (INE and Direção-Geral dos Recursos Naturais, Segurança e Serviços Marítimos, 2017).

O valor médio da pesca descarregada no Algarve (3,79€/kg), em 2017, é bastante superior à média nacional (2,23€/kg). Dos portos de descarga algarvios os que têm valores mais elevados são Vila Real de Santo António (12,41€/kg) e Tavira (7,36€/kg) (INE and Direção-Geral dos Recursos Naturais, Segurança e Serviços Marítimos, 2017).

As capturas com maior peso económico no Algarve são os peixes marinhos, que representam mais de 22 000 000 € (74% das toneladas capturadas algarvias) em 2017, os Moluscos, mais de 18 000 000€ (22% das toneladas capturadas na região) e Polvo, mais de 15 000 000€ (16% das toneladas capturadas no Algarve). No entanto analisando o peso das capturas algarvias a nível nacional, as que tem maior peso são as Gambas, sendo que mais de 50% das gambas capturas em Portugal são do Algarve e o Lagostim, sendo 48% capturado no Algarve (INE and Direção-Geral dos Recursos Naturais, Segurança e Serviços Marítimos, 2017).

A região algarvia é a maior responsável pela produção de aquicultura, sendo responsável por mais de metade da produção e dos lucros obtidos pela mesma, segundo dados de 2016 (INE and Direção-Geral dos Recursos Naturais, Segurança e Serviços Marítimos, 2017).

A superfície agrícola utilizada e o número de explorações agrícolas têm vindo a diminuir, devido à baixa incorporação de tecnologia e inovação, apesar das múltiplas tentativas da região para modernizar e manter competitivo o setor da agricultura, que é

88

uma das principais atividades no Algarve. É essencial apostar na qualidade e diferenciação das características da produção agroalimentar – Anexo B (CCDR-Alg, 2015).

A energia eólica tem sido a principal fonte de produção de energia renovável do Algarve, contrariamente ao que ainda acontece a nível nacional, devido a vários fatores: A aprovação em 2002 de programas de eficiência energética que motivou o desenvolvimento de vários projetos para a adoção de medidas de eficiência em edifícios públicos; Preocupação dos estabelecimentos hoteleiros em adoção de novas tecnologias ao nível energético; Potencial de aplicação na agricultura, sendo um cenário somente mais recente devido à crise económica de 2008. É necessário apostar no desenvolvimento de tecnologias e produção, continuar a apostar na intenção de evoluir para uma região carbono zero e incentivar a valorização económica dos resíduos – Anexo B (CCDR-Alg, 2015).

A área da Saúde e Ciências da Visa é central na Universidade do Algarve, uma vez que o seu desenvolvimento está ligado ao Turismo, sendo assim uma área com potencial para desenvolver. O setor público da saúde no Algarve tem apresentado progressos difíceis devido à falta de dinheiro, no entanto têm vindo a surgir várias unidades privadas de saúde, o que contribuí para a melhoria da qualidade global do serviço da região – Anexo B (CCDR-Alg, 2015).

O último setor em emergência diz respeito às TIC e Atividades Criativas, tendo vindo a aumentar a adoção destas no Algarve, a vários níveis: Turismo, Empresas de outros setores, setor público, entre outros – Anexo B (CCDR-Alg, 2015).

Figura 12 - Volume de Negócios resultante da introdução de inovações de produtos novos para o mercado e novos apenas para a empresa (%) (2016)

Fonte: Direção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência - CIS 2016. 4% 14% 82% 8% 7% 85% Inovações de produtos novos para o mercado da empresa

Inovações de Produtos novos apenas para a empresa

Produtos não modificados ou só marginalmente modificados

Algarve Portugal

89

Tendo em conta os domínios definidos neste documento, que serão abordados no próximo capítulo, é possível fazer uma análise a alguns aspetos da inovação em modelos de negócios, na região.

A região do Algarve encontra-se acima da média nacional em empresas com atividades de inovação e com inovação nos processos produtivos, organizacionais e de marketing nas empresas regionais, sendo no primeiro caso a região portuguesa com melhores resultados em 2016. Quanto à inovação nos processos produtivos o Algarve destaca-se pelas atividades de apoio aos processos de empresas novas, 44% das empresas em 2016 (DGEEC, 2018b).

Figura 13 - Despesa com inovação de produto e/ou processo em Portugal e Algarve (%) (2016)

Fonte: Direção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência - CIS 2016

Em termos de especialização, 80% da despesa em inovação no Algarve diz respeito à aquisição de maquinaria, equipamento, software e edifícios enquanto Portugal pouco mais de 50% (DGEEC, 2018b).

O Algarve é caracterizado como uma região em progresso ao nível da inovação e ainda com grande debilidade na Investigação & Desenvolvimento com foco nos mercados e resultados, no investimento em I&D e em condições de suporte para estimular a inovação e o empreendedorismo (CCDR-Alg, 2015).

Em Portugal existem 791 estabelecimentos responsáveis pela gestão de resíduos, dos quais 39 são da região Algarvia. Os tipos de resíduos com maior peso nos sistemas de gestão de resíduos algarvios são os Resíduos Urbanos (82%), seguindo-se os Resíduos provenientes de Embalagens (59%) e Construção e Demolição (59%) (APA, 2019).

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 Atividades de I&D realizadas dentro da

empresa

Aquisição externa de I&D Aquisição de maquinaria, equipamento,

software e edifícios

Aquisição de conhecimento existente noutras empresas ou instituições

Todas as outras atividades de inovação

Percentagem Pr oc es so Portugal Algarve

90

Relativamente aos custos, a região Algarvia está acima da média continental em gestão de resíduos e em proteção da biodiversidade e da paisagem, sendo a média continental 43 897€ e 15 961€ respetivamente, sendo que no segundo caso o Algarve tem quase o dobro das despesas. O município com maiores despesas no que diz respeito à gestão de resíduos é Vila do Bispo (130 180€) e Lagoa (119 024€), no caso da proteção da biodiversidade e da paisagem destaca-se o município de Monchique (109 427€) devido.

Figura 14 - Despesas dos municípios algarvios por 1000 habitantes (€) (2017)

Fonte: INE, Anuário estatístico dos municípios em ambiente

Algumas soluções de inovação de Economia Circular nos serviços de Turismo focam-se no Marketing Global (Transição física da reserva para sites de reserva online), Comunicação Virtual, Alojamento e Bem-estar Inteligente (Automatização da iluminação, temperatura, abastecimento de água, utilização energética eficiente, entre outros), Catering Inteligente (Transição do conceito de buffet pra reservas virtuais, reduzindo os 40% de desperdício alimentar do primeiro) e Transporte Local Inteligente (Substituição de meios de transporte poluente por não-poluentes coletivos respetivo incentivo à sua utilização) (Paulauskas, 2018).

0 20 000 40 000 60 000 80 000 100 000120 000140 000160 000 Algarve (média) Albufeira Alcoutim Aljezur Castro Marim Faro Lagoa Lagos Loulé Monchique Olhão Portimão São Brás de Alportel Silves Tavira Vila do Bispo Vila Real de Santo António

€ M u n ic ip ios

91

Foram identificados como grandes barreiras à melhoria da inovação na região do Algarve a capacidade limitada das empresas locais para beneficiar da investigação, a carência de infraestruturas tecnológicas de promoção da inovação, a falta de conexão entre as entidades interessadas ao nível de colaboração (Universidade do Algarve e Empresas) e o excesso de especialização da estrutura económica do Algarve no turismo (CCDR-Alg, 2015).

4.2.3. CRESC Algarve 2020

Outro instrumento importante para a região algarvia é o CRESC Algarve 2020 que consiste no Programa Operacional Regional para o período 2014-2020. Tem como objetivo contribuir para um desenvolvimento equilibrado na região, fazendo esforços no sentido de afirmar o Algarve como uma região mais competitiva, resiliente, empreendedora e sustentável (CRESC Algarve 2020, 2019).

Até Março de 2019 foram aprovadas 9 operações, durante o período de 2016 e 2018, que de forma mais ou menos direta contribuiu para a implementação do conceito de Economia Circular. Estas operações foram enquadradas nos Objetivos Temáticos 4 (Apoiar a mudança de uma economia de baixo teor em carbono) e 6 (Proteger o Ambiente e Promover a Eficiência de Recursos) (CRESC Algarve 2020 & Portugal 2020, 2019).

Estas operações tiveram mais de 108 milhões de Euros de investimento elegível e 58 milhões de Euros de fundo aprovado e cofinanciado pelo Fundo Feder, o que representa 29% do fundo total aprovado até Março de 2019 na região do Algarve. Só 2 das 9 operações se encontram atualmente concluídas e as operações ligadas ao Objetivo Temático tem uma previsão de duração bastante superior ao Objetivo Temático 4.

As operações relativas ao objetivo estratégico 4 tiveram como objetivo a instalação de equipamentos que utilizam fontes de energias renováveis, diminuindo o consumo dos edifícios, a certificação energética dos edifícios e ainda melhorias nas próprias infraestruturas dos edifícios ao nível de coberturas, iluminação, entre outros aspetos (CRESC Algarve 2020 & Portugal 2020, 2019).

Quando às operações relativas à reabilitação urbanas, algumas propostas focam- se na conservação, restauro e valorização dos próprios edificados, de forma a preservarem as fachadas originais ou a dar nova vida aos edifícios. Outras operações focam-se na requalificação de áreas envolventes a estes edifícios. Por último, duas das operações dizem respeito ao desenvolvimento de planos para aumentar o nível de investimentos públicos e privados e acompanhar os proprietários privados com interesse em reabilitar a

92

sua casa nos centros históricos e a consequente monitorização desta ação (CRESC Algarve 2020 & Portugal 2020, 2019).

Figura 15 - Operações aprovadas nos objetivos temários que contribuem para a aplicação do conceito de Economia Circular no Algarve (2019)

Elaborado a partir de: CRESC Algarve 2020 & Portugal 2020, 2019

4.3. Indicadores relevantes para a monitorização da