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Estratégias de Coping para a Ansiedade na Performance Musical

CAPÍTULO I – Ansiedade na Performance Musical Revisão da Literatura

1.5. Estratégias de Coping para a Ansiedade na Performance Musical

Antoniazzi, Dell’ Aglio e Bandeira (1988) definem estratégias de coping como ações, comportamentos, ou pensamentos usados para lidar com uma situação stressante. Burin e Osório (2017) usam esta definição para o contexto da música, estabelecendo então o conceito de estratégias de coping como comportamentos e pensamentos utilizados pelos músicos para lidar com a ansiedade na performance musical. Antoniazzi et al. (1988, pág. 284) explicam também que, dependendo da sua função, as estratégias de coping podem ser classificadas em dois tipos, nomeadamente o coping focalizado na emoção e o coping focalizado no problema:

O coping focalizado na emoção é definido como um esforço para regular o estado emocional que é associado ao stress, ou é o resultado de eventos estressantes. Estes esforços de coping são dirigidos a um nível somático e/ou a um nível de sentimentos, tendo por objetivo alterar o estado emocional do indivíduo. Por exemplo, fumar um cigarro, tomar um tranquilizante, assistir a uma comédia na TV, sair para correr, são exemplos de estratégias dirigidas a um nível somático de tensão emocional. A função destas estratégias é reduzir a sensação física desagradável de um estado de stress. O coping focalizado no problema constitui-se em um esforço para atuar na situação que deu origem ao stress, tentando mudá-la. A função desta estratégia é alterar o problema existente na relação entre a pessoa e o ambiente que está causando a tensão. A ação de

coping pode ser direcionada internamente ou externamente. Quando o coping focalizado

no problema é dirigido para uma fonte externa de stress, inclui estratégias tais como negociar para resolver um conflito interpessoal ou solicitar ajuda prática de outras pessoas. O coping focalizado no problema, e dirigido internamente, geralmente inclui reestruturação cognitiva como, por exemplo, a redefinição do elemento estressor. Dito isto, num estudo realizado por Sinico (2013, págs. 89-90), cujo objetivo baseou-se na investigação das causas, sintomas e estratégias utilizadas por estudantes de flauta do curso de bacharelato em música para lidar com a ansiedade na performance musical, em relação às estratégias reportadas pelos participantes, o autor disse o seguinte:

Os doze estudantes de flauta relataram ao todo dezoito estratégias para lidar com a ansiedade na performance musical sendo, do maior para o menor número de relatos, as seguintes estratégias: o self-talk, o qual foi utilizado por sete participantes, seguido pelos exercícios de respiração por cinco estudantes de flauta. O relaxamento e o estudo

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individual foram relatados por quatro deles, enquanto a concentração foi relatada por apenas três participantes como estratégia para lidar com a ansiedade na performance musical. Além disso, beber água e a concentração no texto musical foram estratégias utilizadas por dois estudantes de flauta da pesquisa. Por último, com apenas um relato cada, encontram-se estratégias como exercício físico, exercício de consciência corporal, escolha do repertório, meditação, uso da imagem, baixo nível de preocupação, submissão à situação estressante, memorização, o uso de Florais de Bach e ansiolítico e a leitura de livro…

Kenny, Driscoll e Ackermann (2014) concretizaram um estudo cuja primeira fase consistiu numa pesquisa do tipo transversal em músicos de orquestra. A pesquisa incluiu questionários detalhados, uma administração de testes psicológicos estandardizados e um exame fisiológico. A segunda parte do estudo compreendeu a descrição das descobertas principais identificadas em relação à saúde e ao bem-estar psicológico da população em questão, a avaliação da prevalência e das causas reportadas de ansiedade na performance, e a disposição de dados normativos sobre uma variedade de testes psicológicos de rastreio para músicos profissionais.

Os investigadores convidaram para participar na experiência todos os membros das oito maiores orquestras sinfónicas e orquestras de fosso da Austrália. A taxa de aceitação variou entre os 50% e os 98%, fazendo com que a amostra fosse composta por 184 participantes do sexo masculino (49%) e 192 participantes do sexo feminino (51%). A idade dos músicos variou entre os 18 e os 68 anos de idade, dando uma média de 42.1 anos de idade.

Dos vários testes que fizeram, um dos mesmos, designado como Self-management of music performance anxiety rating scale (Kenny, 2011), pedia aos participantes que identificassem de uma lista de 18 estratégias aquelas que eles usavam para lidar com a sua ansiedade na performance musical e que as classificassem consoante o seu nível de eficácia, de acordo com uma escala de 4 valores, na qual 0 era equivalente a “não eficaz” e 3 era equivalente a “muito eficaz”.

De acordo com os autores, os resultados demonstraram que o aumento da prática instrumental era a estratégia mais utilizada (60%), assim como tinha também a maior média de eficácia entre todas as ações possíveis no que toca ao alívio da ansiedade na performance musical. A estratégia de respirar fundo ficou em segundo lugar (50.4%) e

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também obteve uma das maiores médias de eficácia. Dentro das estratégias mais reportadas, segue-se o self-talk positivo (46.4%), simulação da performance (44.7%), familiarização com o palco (42.4%) e técnicas de relaxamento (36.9%). Os investigadores salientaram ainda o facto de um número considerável de músicos utilizar medicação para gerir a sua ansiedade na performance musical, especificamente betabloqueadores (31%), ansiolíticos (5%) e antidepressivos (4%).

Num outro estudo, desta vez realizado por Osório, Burin, Nirenberg e Barbar (2017), o objetivo consistiu em investigar as causas de ansiedade na performance musical reportadas por músicos brasileiros, assim como a eficácia das estratégias de coping que os mesmos utilizam para lidar com o problema. A experiência contou com 214 músicos, dos quais 53% eram profissionais e 65% tinham mais de 11 anos de formação na área. Os resultados indicaram que 39% dos participantes apresentaram indicativos de ansiedade na performance musical e que as estratégias de coping mais comuns consistiram em técnicas de respiração e relaxamento (66%), e aumento da prática do instrumento (53%), consideradas eficientes por, pelo menos, 49% dos participantes. Dentro das estratégias reportadas com menos frequência encontravam-se o uso de antidepressivos e ansiolíticos, assim como a procura de um psiquiatra ou psicólogo. Os autores referiram ainda que 18% dos músicos com ansiedade na performance musical usavam betabloqueadores e 6% usavam medicação não prescrita. Os investigadores concluíram que os músicos utilizavam uma variedade de estratégias de eficácia moderada e que os resultados demonstraram não só a falta de uso de recursos terapêuticos bem estabelecidos, como também a ocorrência de automedicação, o que, por sua vez, indica que os profissionais de saúde mental necessitam de prestar maior atenção a este grupo específico.

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