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A. ABORDAGEM ANALÍTICA ÀS INSTRUÇÕES DE PERCURSO

6. Análise e Discussão dos Resultados

6.3. Estratégias Verbais usadas nas Instruções de Percurso

6.3.3. Estratégias de Referência Díctica Espacial

Preocupámo-nos, seguidamente, com o terceiro grande grupo de estratégias. Este é o grupo em que para a referência espacial os sujeitos apelam a termos dícticos da linguagem verbal. Como ficou definido no capítulo precedente, optámos pela tripartição das funções presentes nas expressões que constituem a deixis espacial segundo o modelo proposto por Levelt (1989). Esta tripartição definiria um grupo relativo a funções de identificação através de pronomes demonstrativos ou dos verbos ser ou estar (incluímos também uma ocorrência do verbo chegar: "chegou" do sujeito 10T cujo contexto e valor aspectual o assemelham ao verbo estar; um outro grupo para a informação propriamente dita, onde incluímos advérbios de lugar, preposições e expressões adverbiais; e ainda um terceiro onde registámos todos os verbos de movimento; estes indicam quase sempre acções a efectuar pelo sujeito que pede a instrução e funcionam, por isso, como indicadores de direcções a tomar que só o contexto anterior ou o próprio corpo podem definir. A este grupo atribuímos, ainda segundo Levelt (1989), a função de confirmação. Sem pretendermos, aqui, elaborar um léxico verbal para as instruções de percurso, podemos, no entanto, registar a forte ocorrência de verbos como seguir, virar, atravessar, cortar (à direita ou à esquerda), subir, descer, ir (em frente), chegar, contornar, apanhar (uma rua), tomar (a direita ou a esquerda), encontrar, passar, atingir ou avistar (por vezes usado com valor de chegar). São, também, de referir, ainda que menos usados o obliquar ou o orientar-se. Teremos ainda oportunidade de voltar a falar da utilização dos tempos verbais mas podemos, desde já, frisar que aparecem sobretudo no presente do indicativo simples ou perifrástico mas sobretudo que adquirem pela própria organização da instrução um valor de instrução. Apresentam um forte valor imperativo e são eles que, de facto, comandam a instrução, i.e. que instruem o sujeito explicando-lhe as direcções a tomar. São, por isso, presentes do indicativo verdadeiramente indicativos.

Estes valores que queremos, agora, apresentar ganharão mais significado quando os pudermos comparar com os outros obtidos para a deixis temporal. Não podemos, no entanto, nunca esquecer que os valores encontrados para os verbos de movimento serão, também aí, analisados, já que é através deles que a estratégia de linearização de que falámos na parte I deste trabalho se consubstancia plenamente. São eles, pois, que irão permitir a sequencialidade temporal das instruções. É através deles que os sujeitos progridem nos percursos.

VI Quadro. Médias, por grupo, das estratégias de referência espacial

Ident. Inf. Conf. A 3.1 10.7 14.9 P 3.5 11.0 9.6

T 1.6 3.5 4.3

Nota: Ident- Identificação; Inf.-Informação; Conf.-Confirmação

6.3.3.1. Identificação

É, também, neste caso, patente a diminuta utilização de elementos com função de identificação dos locais, por parte do grupo T. Porém, só é significativa a diferença entre o grupo P e o T (t=2.63, P<0.05). Tivemos, no entanto, algum receio que o número médio de palavras ainda relativizasse mais estes dados. Ao fazermos a comparação, apenas os do grupo A evidenciaram uma diferença significativa e relativamente aos do grupo P (t=-2.44, p<0.05). Os sujeitos de P evidenciaram, assim, maior necessidade de identificar o local onde se encontram, real ou fictivamente. Não queremos deixar de colocar a hipótese de ter contribuído para este facto a situação dos sujeitos se encontrarem muito próximos do local de início da instrução mas não estarem lá de facto, o que os pode ter provavelmente levado a verbalizar mais fortemente a identificação do local onde lhes foi pedido que se imaginassem (cf.2P, por exemplo). Para além deste motivo o grupo P é também o grupo que mais demonstrativos utiliza numa estratégia de definição e consequentemente uma melhor identificação das ruas (ou outros quaisquer elementos) a que se referem.

6.3.3.2. Informação: sistemas de coordenadas não-intrínsecas e intrínsecas

Relativamente ao grupo que designámos como o de função de informação, resolvemos segmentá-lo em dois sub-grupos tendo em conta o uso dos dícticos através do recurso a um sistema de cordenadas íntrinseco aos elementos localizados ou a outro cujo sistema de coordenadas não fosse intrínseco. É este o sistema de que falámos, anteriormente, e que usa, quase sempre, os eixos de verticalidade, frontalidade e lateralidade da figura humana. A localização neste sistema pode ser primária ou secundária conforme os elementos a localizar espacialmente o sejam por recurso directo ao sujeito que os percepciona ou por intermédio de um outro elemento, esse sim, localizado relativamente aos eixos do sujeito que o vê ou imagina.

VII Quadro. Médias, por grupo, de sistemas de coordenadas

N/Int. Int. A 6.7 4.0 P 8.0 3.0 T 2.4 1.1

A única diferença não significativa entre um tipo e outro só se regista no grupo A. Tanto o grupo P como o T usam de uma forma significativamente diferente um tipo e outro (t=4.29, p<0.001 e t=2.51, p<0.05, respectivamente). Como o tipo mais usado é o não- intrínseco fica patente que os sujeitos do grupo A são os que têm um tipo de estratégias de localização menos marcadamente egocêntricas. O seu tipo de referência espacial é o menos projectivo, inter-grupos. Devemos, no entanto referir que apenas três sujeitos 4A, 7A e 10A, neste grupo, usam, cada um deles uma só vez, sistemas de referência euclidianos (perpendicular (2) e na diagonal (1)). De todos os sujeitos dos outros grupos apenas o 8P usa uma referência a um movimento na oblíqua, no verbo "obliquar".

Os outros dois grupos, ao privilegiarem elementos de localização não-intrínsecos, optam marcadamente por relações espaciais projectivas.

6.3.3.3. Confirmação

Também para a outra função, a de confirmação, as diferenças significativas se registam relativamente aos sujeitos do grupo T, que apareciam, assim, como usando muito menos verbos t=-4.01, p<0.001 relativamente aos do grupo A e t=-3.87, p<0.001 relativamente aos do grupo P. Conscientes da brevidade das instruções no grupo T e do uso quase exclusivo que os sujeitos deste grupo fazem dos nomes próprios e de verbos, resolvemos testar se comparativamente com o número médio de palavras usado por grupo os resultados seriam muito diferentes. E foram-no. Os sujeitos do grupo T relativamente quer aos do A quer aos do P, apesar de não apresentarem diferenças significativas, evidenciaram, em qualquer dos casos, ser os que usavam mais verbos. Patenteou-se, assim, o primórdio da estratégia de linearização temporal, via acções, neste grupo.