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divisão dos grupos de estudantes, consideramos importante examinar esse elemento, uma vez que a pesquisa apontou para essa necessidade.

Portanto, é importante destacar que os estudantes universitários não se apresentavam como um bloco fechado, uma vez que identificamos neste grande grupo, grupos de apoio, denominados nas representações da imprensa como

“democratas” e grupos de oposição ao Regime Militar, denominados “oposicionistas”

ou “esquerdistas”, atuando na realidade analisada. Esses diferentes grupos conquistarão formas de visibilidade diferenciadas, como veremos a seguir.

representações, neste trabalho, interessa-nos analisar como o grupo de pressão política, o público politizado, recebeu essas representações. Essa recepção permanece como perspectiva de hipótese, uma vez que a ênfase do trabalho é analisar as formas de representação e produção do discurso dos jornais informativos modernos. Por isso, é importante analisar as formas de representação da fala dos diferentes grupos em disputa no contexto analisado, nos jornais informativos modernos, as estratégias de visibilidade.

Na questão da relevância da utilização deste tipo de fonte, para além do que destacamos do trabalho de Thompson, sob uma perspectiva metodológica, destacamos ainda a proposta de René Zicman68. Esta autora afirma que a importância da análise da imprensa apresenta-se na periodicidade dos registros que por ser diária, permite o acompanhamento do desenrolar dos fatos apresentados. O limite do uso das fontes apresentou-se na impossibilidade de acompanhar a continuidade de alguns acontecimentos por falta de alguns exemplares nos Arquivos utilizados69.

No entanto, para melhor compreensão destes enquanto fonte para a pesquisa histórica faz-se necessária uma análise de aspectos que influenciam as reportagens analisadas, buscando analisar o que é dito e por que é dito. Não se busca fazer uma análise comparativa das fontes de imprensa, mas compreender as características das representações que cada jornal utilizava ao apresentar o papel do movimento

68 ZICMAN, Op., cit.

69 Referentes ao ano de 1964, não foram utilizados os jornais Correio do Povo de mês de agosto e do período de outubro a dezembro, bem como o mês de junho de 1965, devido à ausência nos Arquivos (que formam seus acervos a partir de doações) ou por estarem em restauração no período em que se realizou a pesquisa. O mesmo ocorrendo com o jornal Zero Hora dos meses de maio de 1965 e agosto e novembro de 1967. O jornal Folha da Tarde, pelos motivos expostos foi utilizado a partir de novembro de 1967, apresentando poucos exemplares nos meses de novembro (4 exemplares), e dezembro (5) deste ano, bem como em janeiro (1), fevereiro (2), março (1), abril (1), maio (1) e junho (4) de 1968 .

estudantil universitário de Porto Alegre frente ao Regime Militar, relacionando-as às características de cada jornal.

É necessário também levar em consideração que estão presentes nas representações analisadas as falas das autoridades envolvidas com a questão da educação e da segurança e dos diferentes grupos de estudantes universitários.

Neste sentido, a análise das fontes de imprensa permitiu a identificação de ações desenvolvidas pelas autoridades e pelo movimento estudantil universitário de Porto Alegre, no período em estudo (aquelas manifestações que ganhavam visibilidade na imprensa), bem como das posições ideológicas assumidas pelas organizações estudantis oposicionistas e situacionistas, que se autodenominavam democratas, em relação ao Regime Militar.

Algumas matérias apresentadas permitiram também a identificação das divergências entre estudantes oposicionistas e situacionistas, bem como a relação das manifestações de universitários em Porto Alegre com manifestações de outras regiões do Brasil (no sentido de buscar influências e repercussões), no recorte temporal previsto. Merece destaque também a constatação de que a palavra escrita tem o poder de levar o leitor a tomar partido uma vez que trabalha com as emoções, de acordo com os sentidos conferidos às palavras.

No entanto, é necessário salientar, conforme trabalhamos anteriormente que este espaço não era neutro, em função das formas de visibilidade utilizadas pelas empresas jornalísticas. Ao analisarmos as representações da imprensa, identificamos três estratégias de visibilidade diferenciada do movimento estudantil universitário utilizadas na construção das matérias por parte dos componentes das empresas jornalísticas: visibilidade direta ou indireta, visibilidade de depoimentos privilegiados e incorporação da linguagem dos componentes do Regime Militar

pelos componentes das empresas jornalísticas nas matérias apresentadas como neutras.

Como estratégia de visibilidade direta ou indireta, entendemos a utilização diferenciada, na construção das matérias, de depoimentos e materiais enviados pelos estudantes universitários. Percebemos, ao longo da análise das reportagens que a maior parte delas tornava visíveis diretamente materiais e depoimentos dos universitários situacionistas, e indiretamente, no caso dos universitários oposicionistas. Estes últimos conquistavam visibilidade, na maior parte das vezes, apenas quando outros grupos a eles se referiam.

A utilização privilegiada de determinados depoimentos foi outra estratégia utilizada pelos componentes dos jornais informativos modernos. Esta se apresentou como utilização preferencial das falas dos universitários situacionistas e das autoridades educacionais ou de segurança do Regime Militar na construção dos artigos. Dessa maneira, artigos e depoimentos dos universitários oposicionistas eram publicados com comentários dos jornalistas ou apenas relatados, sem que a publicação na íntegra ocorresse.

Nessa mesma lógica, depoimentos e materiais enviados por universitários situacionistas ganhavam visibilidade diretamente. Os universitários situacionistas e as autoridades do novo Regime eram procurados pelos componentes das empresas jornalísticas para que seu depoimento fosse utilizado na construção das representações, enquanto os universitários oposicionistas ganhavam visibilidade apenas quando procuravam a imprensa ou enviavam materiais para publicação.

Outra estratégia identificada na análise das reportagens foi a incorporação da linguagem do Regime Militar ao texto jornalístico, em matérias que se apresentavam como neutras, uma vez que não eram construídas a partir de depoimentos dos

componentes deste Regime, mas a partir de informações sobre o contexto analisado. Nesse sentido, reportagens escritas pelos componentes dos jornais informativos modernos, que apresentavam um discurso de neutralidade frente à realidade, reproduziam a lógica do novo Regime com expressões como “nosso Brasil”, “Pátria”, além de apresentarem expressões que remetiam à lógica da necessidade de ordem para conquistar o “desenvolvimento nacional” ou à lógica da Doutrina de Segurança Nacional.

Ou seja, mantendo um discurso de neutralidade, expresso na visibilidade conferida aos diferentes grupos em conflito neste contexto, com relação ao movimento estudantil universitário, os componentes das empresas jornalísticas, através das estratégias de visibilidade diferenciada, posicionavam-se em apoio ao Regime Militar no contexto analisado, desqualificando as manifestações de oposição dos estudantes universitários oposicionistas a este Regime.

A neutralidade e a defesa do Regime Militar não são aspectos contraditórios, uma vez que se referem à lógica das empresas jornalísticas enquanto empresas capitalistas que buscavam o lucro com a venda de seu produto, a informação.

Assim, o discurso de neutralidade era elemento importante para a manutenção da credibilidade dos jornais informativos modernos frente aos leitores consumidores.

Por outro lado, o posicionamento a favor do novo Regime, fundamental para a permanência das empresas jornalísticas nessa conjuntura é percebido somente analisando-se as formas de visibilidade diferenciada de cada grupo social.

3. Movimento Estudantil Universitário x Regime Militar na