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ESTRATÉGIAS, MÉTODOS E FERRAMENTAS

6. RESULTADOS E DISCUSSÃO

6.3. O NASF COMO APOSTA PARA A CONSOLIDAÇÃO DE UM MODELO

6.4.2. ESTRATÉGIAS, MÉTODOS E FERRAMENTAS

É consenso entre os profissionais de que a intersetorialidade pressupõe a construção de um trabalho com o outro. A grande questão polêmica é: quem é esse outro? E como se dá este trabalho? É entre profissionais? Entre setores de uma mesma área, como por exemplo, a saúde mental e UBS? É entre diferentes políticas? É entre os setores público e o privado?

“[...]a proposta da intersetorialidade é você construir com outros setores, com outros departamentos, com outras políticas, com outras secretarias” (G1-E2). O formato do trabalho realizado no conjunto ESF - NASF, onde o primeiro traz uma demanda a ser problematizada em conjunto, tem como base a interdisciplinaridade. Primeiro, portanto, é preciso que aconteça essa interlocução, onde o caso identificado pela ESF é compartilhado com o profissional do NASF. Geralmente é nas reuniões de equipes das ESF, ou em reuniões menores entre profissionais do ESF - NASF, que acontece este movimento. Portanto, essas reuniões são espaços importantes para se construir coletivamente estratégias e disparar processos para a produção do cuidado (BRASIL, 2014).

“Então toda semana no período cada equipe tem sua reunião e eles (NASF) sabem o cronograma e eles entram nas reuniões, mas não necessariamente eles permanecem na reunião o tempo inteiro. A gente (ESF) traz os casos a gente chama o pessoal do NASF seja quem for quem tiver no dia [...] e a gente compartilha aquela situação e aí a gente constrói o projeto junto e o que que a gente vai fazer para aquela situação" (G2 – E6)

É nas reuniões que se dá a construção do Projeto Terapêutico Singular (PTS) onde será levantado um diagnóstico das necessidades do caso, elaboradas propostas de intervenção, definidos quais serviços são necessários e quais as condutas de monitoramento.

"Então na Zona Noroeste a gente tem um trabalho de acompanhamento de casos né, que a gente chama PTS, a unidade se reúne, tem as reuniões de equipe, e os casos que elas acham interessantes passar pro NASF elas nos passam nessas reuniões e a gente vai estudar o planejamento, tal como que a gente vai agir” (G1 - E5).

A intersetorialidade entra quando essa demanda é de tal maneira complexa que precisa de outros serviços. A partir daí não existem fluxos que determinem quais ações, encaminhamentos, estratégias ou ferramentas devem ser adotadas. O

planejamento é feito para aquele caso, de acordo com suas necessidades específicas, partindo de demandas concretas para a construção de práticas intersetoriais (ANDRADE, 2006). E cabe ao profissional buscar os atores que podem auxiliar na construção dessas pontes.

"[...] eu acho que é o atendimento em rede mesmo né? Eu tenho um caso, eu preciso de um outro setor de um outro departamento, então assim, não existe um fluxo pré-determinado. Mas existe o profissional que vi atrás. Então ele por conta própria, ele vai e consegue um contato, ou conhece alguém, ele consegue aquilo que ele precisa, mas não por que existe um fluxo determinado” (G1 - E1).

As reuniões de discussão de caso ou reuniões de rede são um importante momento onde os diferentes profissionais podem trocar conhecimentos e pensar estratégias conjuntas. Delas participam membros da equipe NASF, da equipe de ESF que acompanha o caso (lembrando que cada Unidade de ESF é composta por várias equipes) e, se for necessário, profissionais de outros serviços. A organização destas reuniões segue o modelo das reuniões de matriciamento propostas pelo Ministério da Saúde (BRASIL, 2014), ainda que não sejam denominadas como tal.

“[...] sim a gente constrói normalmente se a gente for pensar no caso mais amplo a gente vai pensar para todo mundo naquele momento a gente faz bem no formato do projeto que a gente começa e que é assim: ‘quem é que vai fazer o que, se encontra quanto depois, quanto tempo que precisa. E cada um dispara o movimento sempre vai ter uma continuidade do trabalho que for proposto" (G2 - E6).

Os atendimentos a usuários e as visitas domiciliares são ferramentas que podem ser utilizadas de maneira intersetorial, quando feitas por dois ou mais profissionais de diferentes setores que acompanham determinado caso.

“[...] a gente faz bastante discussão, bastante discussão de caso, a gente faz às vezes atendimento com outros equipamentos também, hoje por exemplo fiz um atendimento com o CAPS Infanto Juvenil” (G1 - E2).

Uma outra ferramenta que, no caso, é um Programa, mas que tem uma ação

específica utilizada como ferramenta articuladora pelos profissionais do NASF: é o “Rede Família”. Sobre este programa, o entrevistado explana:

“É um programa intersetorial que ele começou deve ter uns 15 anos ou mais, era uma coisa bem micro, dos serviços do território se reunirem para discutir justamente os casos de maior complexibilidade e vulnerabilidade, depois assim, ele passou a ter uma gerência com um setor de articulação, que está ligado ao Gabinete do Prefeito. Então tem desde o planejamento de ações que

é uma coisa maior, que é olhar as regiões e ver assim e que precisa investir. Tem uma coisa que é essa parte mais ampla, mais macro, e tem a parte que eles falam que é o Redinha, que é coisa das ações de discussão de articulação entre os serviços. Qualquer serviço pode chamar os parceiros pra discutir, né por exemplo, a gente tá com esse caso que eu falei, aí vi que tem necessidade de discutir com esse, esse e esse serviço, a gente pode chamar para discutir. Se a gente observa que tem alguma dificuldade, por exemplo, chamou a escola, a escola não veio, a gente pode pedir que o Rede, como um ator que tem uma autoridade faça uma convocação formal, aí pra essa reunião” (G1 - E2).

É sinalizado na fala que este é um programa intersetorial e realmente existem inspirações intersetoriais, mas para afirmar isso com propriedade seria necessário aprofundar nas raízes da formação do programa e das ações desenvolvidas. O que é significativo para este estudo, é o papel articulador que o “Redinha” desempenha para a construção de processos intersetoriais no trabalho desenvolvido pelo conjunto NASF - ESF, principalmente quando existe alguma dificuldade no diálogo com outros serviços. A fragilidade das relações faz com que seja necessário utilizar de um setor “independente”, que é o Rede Família, para convocar outros serviços a construir o intersetorial.

“[...] na equipe (ESF) que a gente consegue solucionar vários casos. Muitas vezes a gente se sente fraca a gente se sente sem forças né, então a gente colocar isso em conjunto quando a gente coloca isso para todos cada um vem sabe… com uma porçãozinha vem com" \ "[...] com sua contribuição de fato fazer as coisas acontecerem eu friso muito isso o amor. " (G2 - E2)

6.4.3. Potencialidades, Dificuldades e Desafios para a Construção do