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CAPÍTULO III Plano geral de intervenção

4. Estratégias pedagógicas de intervenção e instrumentos de recolha de dados

O presente Projeto de Intervenção e Supervisão Pedagógica foi desenvolvido segundo a perspetiva sócio construtivista que, como o nome indica, se refere à construção (de conhecimentos) com os outros.

Na perspetiva sócio construtivista o conhecimento é construído a partir de aprendizagens prévias, não surge do vazio, mas tem que ser reconhecido pelo aprendente como algo apreensível (Weisz, 2002). Por isso, as atividades realizadas no desenvolvimento deste projeto foram preparadas de forma a permitir aos alunos passarem de um nível de conhecimento que já possuíam para outro mais evoluído. Deste modo, as tarefas foram pensadas de forma a colocar os alunos perante uma situação-problema que os levasse a tomar decisões, a pensar sobre o conteúdo que se iria aprender e a ultrapassar as dificuldades, fazendo os conteúdos de aprendizagem sentido para as crianças (Weisz, 2002).

As estratégias pedagógicas que pensámos para o desenvolvimento do projeto, eu e a minha colega de estágio Helena Costa, aquando a realização do plano de intervenção, com vista a atingir os objetivos a que nos propúnhamos, foram as seguintes:

1. Motivação das crianças para o desenvolvimento de um projeto de construção ativa de conhecimentos sobre as profissões e as instituições existentes no nosso meio, realizando diversas tarefas relativamente dispersas que implicavam o recurso a várias fontes de informação;

2. Recolha de informação sobre um primeiro conjunto de profissões desconhecidas através da leitura de textos expositivos, com a

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dentificação de palavras novas e a aprendizagem de estratégias para descobrir o seu significado. Escrita de um texto de consolidação das aprendizagens construídas sobre as profissões desconhecidas;

3. Preparação, realização e tratamento de dados para conhecer as profissões mais características dos pais, dos avós e dos alunos da turma (o que queriam ser) através da realização de um questionário, com as crianças, culminando com a escrita de um texto sobre as descobertas realizadas;

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4. Pesquisa sobre a profissão mais característica do concelho da Póvoa de Lanhoso, a profissão de ourives, através de uma visita de estudo (devidamente preparada) ao Museu do Ouro e da realização de uma entrevista a um ourives, culminando com a escrita de um texto sobre Uma profissão muito tradicional na Póvoa de Lanhoso;

5. Divulgação das aprendizagens construídas ao longo do desenvolvimento do projeto, através da publicação do último texto escrito num jornal local, e da construção de um powerpoint de apresentação de todo o trabalho efetuado às turmas dos 3.º e 4.º anos; 6. Reflexão sobre/ autoavaliação (progressiva e final) das aprendizagens progressivamente

construídas sobre o tema profissões e sobre o papel da escrita em todo esse processo de construção de conhecimentos.

Ao longo do desenvolvimento das estratégias pedagógicas descritas, utilizei diferentes técnicas de recolha de dados que me permitiram avaliar o impacto desta ação pedagógica e reconhecer as consequências ou efeitos que provocou na prática educativa e em mim própria. Máximo-Esteves (2008) aconselha os professores-investigadores principiantes, que têm pouco tempo de ação, como foi o meu caso, a “utilizar poucos instrumentos de observação, incidindo naqueles que forem também um bom recurso de aprendizagem dentro da sala de aula e dos quais tenha melhor domínio” (p.86). Assim, de modo a conhecer o impacto que toda a intervenção pedagógica realizada na aprendizagem dos alunos, utilizei as seguintes estratégias de recolha de dados:

1. Realização de um questionário, por meio do diálogo entre professor e alunos, no início (e no final) da implementação do projeto, com o objetivo de conhecer as representações das crianças sobre formas de aprender e sobre as funções da escrita de textos;

2. Avaliação formativa do processo de implementação das estratégias pedagógicas desenhadas, com a observação (e registo) do decurso das tarefas;

3. Textos construídos pelos alunos;

4. Fichas de autoavaliação das aprendizagens; 5. PowerPoint construído pelos alunos; 6. Diário reflexivo.

A realização do questionário inicial, por meio do diálogo entre professor e alunos, permitiu-me fazer um levantamento dos conhecimentos prévios que estes possuíam, que me possibilitaram caraterizar conhecimentos prévios dos alunos sobre processos de construção de conhecimentos e as funções da escrita de textos. Na fase final, a aplicação de um questionário

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que implicou o confronto com os conhecimentos prévios ao desenvolvimento do projeto permitiu- me completar a recolha de dados avaliativos sobre o impacto que o projeto teve no processo de aprendizagem das crianças e no reconhecimento da competência de escrita como ferramenta de construção dessa aprendizagem.

Os textos escritos pelos alunos também se constituíram como dados pois foram resultado das aprendizagens construídas relativamente ao processo de escrita e ao vocabulário novo. Desta forma, como cada texto foi escrito após a realização de uma tarefa de pesquisa de informação, pude identificar o nível de conhecimento das crianças relativamente aos conteúdos abordados e ao processo de escrita, bem como as dificuldades e facilidades sentidas pelo grupo, permitindo-me essa avaliação progressiva preparar as atividades seguintes de forma monitorizada.

Tal como os textos escritos, as fichas de autoavaliação também foram efetuadas após cada tarefa de procura de informação, ajudando as crianças a identificar as aprendizagens construídas sobre profissões, os processos de construção de aprendizagem vividos e a utilidade da competência de escrita para aprender. Com este instrumento de recolha de dados, que foi aplicado várias vezes, foi-me possível avaliar as dificuldades e as aprendizagens dos alunos a partir do seu próprio testemunho, permitindo-me refletir sobre as aulas com base em dados autênticos.

Através da construção de um powerpoint onde as crianças sistematizaram todas as aprendizagens construídas e sobre o modo como aprenderam, ao longo do desenvolvimento do projeto, consegui recolher dados acerca do metaconhecimento das crianças sobre os conteúdos aprendidos, os processos de construção de conhecimento e o papel da competência de escrita nesses processos de aprendizagem.

A realização de um diário reflexivo, no qual registei, durante e depois da ação, reações dos alunos, problemas surgidos, reflexões e interpretações das situações pedagógicas, permitiu- me manter o registo da minha própria leitura da intervenção prática, podendo depois compará-la com versões de outras pessoas (como aconteceu com a minha colega de estágio) ou contidas noutros documentos (Latorre, 2003, p.56), assim como refletir, posteriormente sobre a minha própria prática pedagógica. Enquanto estava na sala de aula, recolhia notas de campo, caracterizadas por serem descritivas, “de bajo nivel de inferência, que intenta captar la imagen de la situación, las personas, las conversaciones y reacciones observadas lo más fielmente posible” (Latorre, 2003, p.59). No final do dia, em casa, relia as notas de campo recolhidas e

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refletia sobre as mesmas, registando num documento que constituía o diário reflexivo, “de alto nivel de inferencia, que incorpora el pensamento, las ideas, las reflexiones e interpretaciones del observador” (Latorre, 2003, p.59).

Neste documento, de forma a respeitar a identidade dos alunos, substituí os seus nomes por uma identificação através das letras “Al” seguidas de um número atribuído a cada criança. Assim, apresento a seguir as normas de transcrição que decidi utilizar no meu relatório.

Prof Professora

Al1, Al2, etc. Aluno

Al? Aluno não identificado

Als Dois ou mais alunos

… Pausa mais extensa ou dúvida (…) Segmento irrelevante

(sil) Silêncio; ausência de resposta a uma solicitação Quadro 2. Normas de transcrição da interação pedagógica (adaptado de Vieira (1998, p.521))

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