• Nenhum resultado encontrado

Estratégias terapêuticas: objectivos e actividades

O que pretendemos aqui é apresentar estratégias que podem ser desenvolvidas pelo professor bibliotecário no seu trabalho quotidiano de contacto com alunos que enfrentam ou não os tão incontornáveis problemas típicos do crescimento e desenvolvimento pessoal. Cingimo-nos à questão da morte por tudo aquilo que lhe é inerente e os efeitos que pode infligir na criança ou no jovem. De facto, muitos estudos feitos no campo da biblioterapia apresentam os aspectos mais teóricos desta terapia, procurando sustentá-la de forma mais sólida ainda, procurando que se torne numa ciência, aliciando defensores e praticantes, mas, a parte mais prática, que é certo, será enriquecida com o contributo pessoal, acabamos por a encontrar sobretudo nas associações e instituições de apoio às pessoas que vivem a dor e o luto. Nota-se a falta de projectos organizados e devidamente controlados a partir de experiências construídas entre o professor bibliotecário e os alunos se bem que, entre os brasileiros, haja já experiências muito enriquecedoras de um trabalho conferido nos hospitais com doentes mentais, em instituições de apoio a cegos, centros para idosos e instituições de reinserção social de jovens.

106 É preciso que os defensores da biblioterapia apresentem sugestões de trabalho, actividades criativas e diversificadas que forneçam pistas aos biblioterapêutas de como podem trabalhar este ou aquele tema com as crianças ainda que só em termos de prevenção. Temas que encerrem em si as grandes problemáticas da sociedade actual e que, podem com mais ou menos intensidade, destabilizar as nossas crianças a nível emocional e social. É preciso que os estudiosos de literatura apresentem uma outra visão do livro, a visão terapêutica. É uma ajuda que darão a todo aquele que quer desenvolver um trabalho terapêutico mas não tem bases ou conhecimentos de literatura aprofundados.

Foi solicitado aos alunos inquiridos que identificassem de entre 10 propostas, duas das actividades que, para eles, permitiriam ao professor bibliotecário trabalhar melhor a questão da morte com um jovem que está a sofrer por ter perdido recentemente alguém querido. Após a análise das repostas foi um pouco curioso o resultado.

0 2 4 6 8 10 12 14 16 rapazes raparigas opção 1 opção 2

Gráfico n.º 16 – Propostas de actividades sobre a morte

Nos rapazes, a primeira opção, com 11 votos foi aquela em que se solicitava ao

jovem que participe na construção de um mural em honra do ente querido onde devem ser colocadas fotos, mensagens… de forma a lembrar positivamente essa pessoa. Como

segunda opção, com 6 votos, os rapazes andaram indecisos entre Solicita-se ao jovem

que escreva textos ou poemas sobre aquilo que o perturba relativamente à morte ou à perda de alguém muito querido e partilhe, através da escrita, a sua experiência e os sentimentos que a situação lhe provoca; Solicita-se ao jovem que através de peças de um puzzle, construa uma palavra que condense a personalidade da pessoa que morreu

107

e depois explique o porquê dessa escolha, e, finalmente, Solicita-se ao jovem que termine as frases que lhe são colocadas.

Nas raparigas, a primeira opção, com 14 votos, foi declaradamente aquela em que se Solicitava ao jovem que escreva textos ou poemas sobre aquilo que o perturba

relativamente à morte ou à perda de alguém muito querido e partilhe, através da escrita, a sua experiência e os sentimentos que a situação lhe provoca e, como segunda

opção Solicita-se ao jovem que, através de breves considerações sobre os vários tipos

de chapéus que são colocados à sua disposição, vá escolhendo e colocando os chapéus que escondem, cada um deles, uma pergunta que fará o jovem falar sobre vários aspectos dessa pessoa que perdeu.

O aspecto curioso é que os rapazes escolheram como primeira opção uma actividade bastante prática, que implica o movimento, o recorte, a construção de algo, que não implica grandes partilhas ou exposição pessoal, enquanto as raparigas escolheram uma actividade que implica o sossego, o escrever, o estar quieto a pensar e a colocar no papel os seus sentimentos e emoções. Conhecendo nós estes alunos, isto corresponde a uma maior maturidade por parte das meninas e também o seu maior gosto pela leitura.

Como segunda opção, as raparigas escolheram uma actividade mais dinâmica mas que implica muita partilha, muito reflectir e emoções – a dos chapéus, opção que os rapazes deixaram mais atrás. Pensamos que se deve não só às características da actividade mas também por implicar um adereço do agrado das raparigas e o gozo que daria esse período de experimentação.

Realçamos um outro aspecto: a opção em que Solicita-se ao jovem que partilhe na

leitura que o professor bibliotecário faz em voz alta uma história ou excertos de livros de forma a levantar um vasto leque de questões sobre a morte e que, juntamente com o jovem devem ser discutidas para que, desse diálogo nasça um bem-estar do jovem para conseguir resolver o seu conflito interno em relação à perda de alguém tão querido, foi

escolhida pelas raparigas com 5 votos, logo em terceiro lugar, contra os 3 votos que os rapazes lhe concederam.

Isto significa que as alunas reconhecem algum valor ao professor bibliotecário, e agora despertados para uma actividade que pode ser utilizada com outra função, a de terapia, e também o reconhecimento do trabalho desenvolvido pela sua biblioteca escolar em prol da promoção da leitura através da renovação da colecção e da realização

108 de actividades de exposição. Para os rapazes tem menos importância porque o seu gosto pela leitura é menor bem como a sua permanência e usufruto da biblioteca (a não ser por causa do jornal desportivo). O pensar em ficar quieto, o ouvir ler um livro ou excertos em voz alta e depois discutir sobre a questão da morte não cativa de facto muitos dos rapazes. Isto vem ao encontro da ideia que se tem da relação que os jovens estabelecem com a leitura e o livro – é muito mais forte e profunda entre as raparigas, enquanto os rapazes preferem menos ler e, quando o fazem, apostam em literatura de fácil e rápida leitura e qualidade mais superficial.

Apresentamos de seguida as actividades possíveis de desenvolver pelo professor bibliotecário agrupadas em dois conjuntos: