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A formação do professor bibliotecário

1. A Biblioteca escolar e o papel do professor bibliotecário

1.2 A formação do professor bibliotecário

A formação em biblioterapia não é contemplada nas universidades e nem mesmo na formação do bibliotecário. Também no Brasil se sente essa lacuna num contexto tendo já surgiram alguns projectos científicos no campo da Biblioteconomia onde a biblioterapia é aplicada a situações da realidade brasileira. Como é referido por Nunes, citado por Geyse Maria Almeida, ―na área de Biblioteconomia e mais especificamente na área de biblioterapia, podemos verificar através do levantamento de dados que a mesma vem enfrentando grandes obstáculos na especialização do profissional da informação que deseja desenvolver esta actividade, pois a formação oferecida pelos cursos de graduação não atende plenamente a capacitação necessária para que o bibliotecário torne-se um biblioterapêuta‖ (2011: 6). O que tem o professor bibliotecário que os outros não têm?

Simply, the answer is: he has the very wide and varied knowledge of books and other materials for use in the therapy. In addition, he can get, organize, and analyze these materials, not only for their objective content, but also for their subjective emotional content to fit the participant's needs. Secondly he has the time to introduce these materials to the participant in a proper way, then to discuss these materials with him, and subsequently to write a clear report which includes his observations, notes, and perspective. Last but not least, he has a distinctive rapport and a way of communication with the participant, which is different from therapist's way (http://knol.google.com/k/bibliotherapy#).

Porquê a importância de formação? Porque o biblioterapêuta tem que possuir competências que lhe permitam identificar, conhecer o problema de natureza psicológica que está a afectar o jovem. Depois, tem de ser capaz de identificar o livro ou livros ou ainda outro material, para, a partir dele, construir o caminho que o jovem deve percorrer para resolver o seu problema. Daí a importância da formação na área da psicologia e terapias e, por outro lado, a pertinência de quem esteja à frente da

66 biblioteca seja um professor – tem competência como pedagogo e é conhecedor dos livros. Mas, insistimos novamente, é necessária formação na área da biblioterapia.

Um professor bibliotecário deverá ter formação nas áreas que lhe permitam tornar a biblioteca não um amontoado de recursos e novas tecnologias mas, num local aprazível de trabalho e de fácil e livre utilização dos vários recursos que devem estar, gratuitamente, ao acesso dos utilizadores privilegiados – alunos e professores. Na portaria n.º 756/ 2009 de 14 de Julho, refere-se que o professor bibliotecário deve ter como formação: ―4 pontos de formação académica ou contínua na área das bibliotecas escolares‖, ―Possuam 50 horas de formação académica ou contínua na área das TIC ou certificação de competências digitais‖ e ainda que ―Disponham de experiência profissional na área das bibliotecas escolares‖ (p. 4489). O saber na área da biblioteconomia é, portanto, deveras vital ao funcionamento desse local de cultura. Estamos então aqui a falar da formação do professor bibliotecário enquanto técnico que tem a seu cargo um espaço de sabedoria onde os recursos diversos têm de ser catalogados, onde as novas tecnologias ditam exigências, onde se desenvolvem actividades mais ou menos conseguidas de promoção do livro e da leitura.

Outro tipo de formação o bibliotecário já a adquiriu enquanto professor: a capacidade de estabelecer parcerias, desenvolver um trabalho em conjunto com outros agentes educativos, identificar, diversificar e inventar recursos como ferramentas de trabalho para as diversas estratégias que vai ―descobrindo‖ para motivar para o processo de ensino / aprendizagem, aplicar as novas tecnologias à descoberta de novos saberes e competências.

No entanto, gostaríamos de alertar para a formação do professor bibliotecário noutras áreas que hoje se tornam vitais se queremos valorizar ainda mais o porte do livro, da leitura, do papel educativo que a biblioteca deve ter.

Quando somos alertados para a importância da biblioterapia enquanto prática terapêutica que, utilizando o livro, pode ser aplicada na biblioteca pelo professor bibliotecário, há que, obrigatoriamente, prevenir acerca da sua formação para tal. Mas, para que essa formação seja planificada e chegue ao terreno é necessário realçar esta mesma prática terapêutica perante as instâncias superiores. Por continuidade à aposta nas literacias poderemos adicionar a biblioterapia. É acrescentar uma mais-valia do livro que está ao dispor do aluno, dos professores e outros responsáveis. Então, para que o professor bibliotecário possa utilizar esta ferramenta terapêutica torna-se necessário

67 obter outro tipo de formação até porque ―é de grande importância dispor de pessoal com boa formação e alta motivação incluindo um número suficiente de elementos adequado à dimensão da escola, e às suas necessidades específicas de serviço da biblioteca‖ (IFLA, 2002: 11).

Uma formação teórica mas sobretudo prática, exemplar de possíveis caminhos a seguir pelo professor bibliotecário em função de um problema que a sua ligação com os alunos pode colocar e o contributo que os diversos recursos podem oferecer. O professor bibliotecário como biblioterapêuta deve adquirir conhecimentos na psicologia ao nível do desenvolvimento cognitivo e psicológico das crianças para que possa, a partir do problema identificado, realizar um diagnóstico que lhe permita escolher o livro ou livros a explorar e as formas de o fazer. São estes conhecimentos, aliados ao que tem dos livros, que lhe permitirão ―preparar listas de material bibliográfico adequadas às necessidades de cada grupo, e escolher outros materiais (filmes, músicas), de acordo com a idade e necessidades a nível cultural e social dos participantes‖ e ainda ―seleccionar materiais que estejam de acordo com a idade cronológica e emocional da pessoa, sua capacidade individual de leitura e suas preferências culturais e individuais‖ (Ferreira, 2003: 43).

A biblioterapia, quando aplicada conscientemente, não pode ser trabalhada de forma leviana porque o processo terapêutico traçado para uma criança pode não ser apropriado para outra devido às suas características de personalidade, idade, ambiente sócio-familar, situação emocional e relacionamento entre pares. Assim, os conhecimentos acerca do processo de crescimento e desenvolvimento cognitivo e psicológico são vitais para a identificação do problema, implementação do relacionamento social com a criança se ainda não houver ou for fraco (parte do sucesso da terapia está na confiança que o terapêuta consegue obter da criança para consigo), elaboração do trabalho a desenvolver, previsão de resultados e reformulação de tarefas. Se o professor bibliotecário não tiver conhecimentos nesta área, será mais difícil detectar situações e elaborar o tal processo de terapia a partir do livro.

Por outro lado, a formação do professor bibliotecário também se deve fazer no campo das terapias, sobretudo no da Biblioterapia. Esta formação pode então dotá-lo de ferramentas para lidar mais e melhor com situações da vida que os alunos enfrentam e que não podem passar despercebidas já que a escola, os docentes, os auxiliares de acção educativa, o professor bibliotecário, não se podem demitir da sua função formativa. Até

68 porque, e no caso de crianças em processo de luto, a escola deve estar atenta, nunca se podendo demitir dessa situação em que o aluno se encontra devendo deixar-se ―aberto um canal de comunicação, respeitando as diferentes manifestações infantis sobre o assunto, pois a criança, talvez fique aparentemente bem nos primeiros dias, mas logo poderá apresentar tristeza. O seu rendimento na aprendizagem tenderá a cair, e a escola deverá dirigir o olhar para tais reacções‖ (Wottrich, s.d.: 3).

Competências na biblioterapia irão conceder ao professor bibliotecário a possibilidade de desenvolver um outro vasto conjunto de actividades, com outras finalidades, sempre actuando sobre o livro. O professor bibliotecário como terapêuta ―deve ter tido um treinamento adequado e estar capacitado para conduzir as discussões de grupo‖ (Ferreira, 2003: 43) sendo que um dos caminhos de terapia pode ser a formação de ―grupos homogéneos para leitura e discussão de temas previamente escolhidos‖ (Ferreira, 2003: 43). Tenhamos em consideração que, se esta técnica de terapia é a mais utilizadas por uma série de instituições de apoio à pessoa em luto mas também de outras instituições, não é a única. E caberá ao professor bibliotecário diversificar estratégias de trabalho para que possa obter os resultados mais positivos e esperados. Mas só poderá fazer tudo isso da forma mais correcta se tiver formação para tal.

No final, não só terá desenvolvido, através da sua função como biblioterapêuta, um trabalho de agente de mudança social e comportamental auxiliar no processo de crescimento e formação da personalidade do jovem, mas também terá promovido a literacia e o gosto pelo livro. Acrescentemos ainda toda a actualização de que o professor bibliotecário deve beneficiar ao nível do conhecimento da literatura infanto- juvenil pois isso é necessário não só ao contínuo e progressivo melhoramento da biblioteca mas também ao trabalho como biblioterapêuta. Quantos mais livros forem do seu conhecimento, o seu conteúdo, a sua mensagem, o seu contributo para o aluno, melhor pode ser a sua actuação como biblioterapêuta.

Toda a necessidade de renovar a formação do professor bibliotecário é tanto mais justificada quando os alunos, interrogados sobre se consideram que o professor

bibliotecário da escola tem formação / competências para te ajudar a lidar com a temática da morte, responderam maioritariamente que sim (pergunta 8, grupo III do

69 0 5 10 15 20 rapazes raparigas sim não

Gráfico n.º 4 – Formação do Professor Bibliotecário

Os alunos parecem acreditar no papel / competências do professor bibliotecário, até porque este conjunto de participantes visita muito a biblioteca e participa nas actividades que são dinamizadas em prol da leitura, bem como recebe todo o apoio por parte da equipe nas suas necessidades escolares.