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a.1 Estrutura administrativa:

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Capítulo 3: Embates legais e projetos de sociedade I O início dos embates e a ascensão do MCL: o Proyecto Varela

II. a.1 Estrutura administrativa:

O prazo previsto no Documento de Trabajo para el Programa de Transición para a realização completa da transição para o modelo de Estado defendido pelo MCL é de 14 a 18 meses. Dividida em etapas, já na sua primeira fase é possível identificar esforços no sentido de desmontar a estrutura do Estado revolucionário cubano. O passo inicial é o fim da Asamblea Nacional del Poder Popular, a ser substituída pelo Consejo Nacional de Gobierno Transitório.

Cuba. Seus deputados são eleitos por voto direto para períodos de cinco anos. Toda nova legislatura elege um presidente, um vice-presidente e um secretário. Dos seus deputados são eleitos os membros que irão compor o Consejo de Estado. O chefe do conselho é também o chefe do Estado e do governo. Centraliza, assim, as funções executivas e legislativas.109

Após a transformação do Programa de Transición em “Ley Fundamental de Cambio”, na primeira fase da transição o Consejo Nacional assumirá essas funções até que seja formada a Asamblea Constituinte que marcará o início da segunda etapa. O conselho será composto por integrantes obrigatoriamente residentes em Cuba quando da aprovação do programa de transição em referendo. Suas nomeações deverão obedecer à lógica de equiparidade entre os membros indicados pela Assemblea Nacional e pelo Comité Ciudadano, o representante da oposição pacífica, somados de mais três entes que não poderão ter nenhuma atuação político-militante prévia. Serão esses três membros que terão a função do desempate dentro do Conselho. De acordo com o MCL, esse expediente visa a evitar manobras no sentido de impedir a aprovação de medidas por interesses meramente políticos. Na prática, significa evitar que pessoas que em algum momento tenha tido ligação com o governo revolucionário assumam essas posições.

Composto, o conselho terá por função aplicar o programa de transição e nomear comissões que poderão contar com membros exilados. Essas comissões controlarão os ministérios ou grupos de ministérios, as empresas e as suas atividades afins. O principal objetivo dessas comissões é assegurar juntamente com o conselho que não haja nenhuma crise decorrente de ausência de governabilidade. É constantemente afirmado que o período da primeira etapa será de normal funcionamento no país e de que mudanças já serão postas em prática. A defesa e o exercício das liberdades de expressão e associação figuram como evidências. É afirmado que:

Para lograr la consolidación de los cambios que necesita el pueblo de Cuba, se hace imprescindible provocar cambios profundos en el orden institucional, esto no quiere decir ni mucho menos que se pretende crear un vacío de poder, todo lo contrario; la etapa de transición que nos proponemos realizar debe estar definitivamente ligada a un reforzamiento de las instituciones democráticas; pero, a través de instituciones de conducción política que superen los vicios y excesos de poder. La nueva etapa debe estar significativamente signada por el pluralismo democrático 109 Constitución de La República de Cuba, 1976 (revisada em 2002), s/p.

donde el pueblo encuentre su espacio legítimo donde pueda ejercer su mandato soberano para el bien común en este presente y futuro próximo.110

Partidos, sindicados e organizações estudantis serão permitidos sem restrições e novos tribunais, independentes do executivo, do legislativo e da força militar, entrarão em vigor, sendo destaque a criação do Tribunal de Garantías Fundamentales.111

Na cronologia estipulada pelo MCL, os prazos estabelecidos obedecem aos limites de 15, de 20 e de 30 dias. Segue a ordem prevista para os acontecimentos: 15 dias, nomeação para os conselhos de governo provinciais e municipais; 20 dias, reorganização dos tribunais provinciais e nacional, nomeação para os cargos de fiscalização, para o Tribunal de Garantías Fundamentales e para o Tribunal Superior Militar, e promulgação de lei que garanta o direito à livre associação; 30 dias, início da liberação para eleições de novos representantes ou dirigentes em organizações estudantis, sindicais e demais, publicação de nova legislação composta por código penal, código civil, lei eleitoral e legislação básica para o funcionamento econômico. Em seguida, em um espaço de tempo de 180 a 270 dias devem ser convocados os pleitos que elegerão os membros da Asamblea Constituinte.

Essa transição terá o protagonismo do Comité Ciudadano de Reconciliación y Diálogo (CCRD) que deverá ser legalizado pelo conselho e autorizado a atuar de forma vigilante para garantir o respeito ao Programa de Transición. O CCRD atuará em conjunto com os Comités de Base de Reconciliación y Diálogo (CBRD). Eleitos localmente, os CBRD observarão as críticas e as sugestões dos coletivos que representam para que, por meio do CCRD, possam assegurar a representação de suas demandas.

Findada a primeira etapa, o próximo passo deverá ser a realização das eleições para os conselhos dos governos municipais e a formação da Assemblea Constituinte. Até a realização das eleições gerais no prazo de 8 a 9 meses e a entrada em vigor da nova Constituição, é a Assemblea Constituinte que terá poder legislativo, atuará como parlamento e deverá nomear o novo Consejo Nacional de Governo Transitório. O seu fim será marcado pela promulgação da nova Constituição e pela convocação de eleições diretas para todos os cargos do executivo, concluindo dessa forma a transição.

Uma das preocupações expressas para o novo Estado é a dissociação ideológica. 110 Documento de Trabajo para el Programa de Transición, 2002, p. 16

Para o MCL, o correto é que o Estado não professe nenhuma ideologia e que atue de forma independente e conciliatória. Não cabe a realização de amplos debates sobre a possibilidade, ou não, de que um Estado exista em separado de concepções ideológicas, o que importa é entender o porquê disso ser relevante para um grupo opositor e de que forma isso contribui em seu discurso.

O Estado cubano declara abertamente ser socialista. Logo no artigo primeiro da constituição é possível ler:

Cuba es un Estado socialista de trabajadores, independiente y soberano, organizado con todos y para el bien de todos, como república unitaria y democrática, para el disfrute de la libertad política, la justicia social, el bienestar individual y colectivo y la solidaridad humana.112

E seu posicionamento oficial não distingue como elementos separados a nação, o socialismo e a Revolução.

Cuando los cubanos identificamos Patria, Revolución y Socialismo, cuando los vemos como elementos inseparables, cuando afirmamos que en Cuba ha habido una sola Revolución, cuando se anuncie para mañana una concentración, una tribuna abierta en Manzanillo, a unos pocos kilómetros de donde empezó la Revolución, ¿estamos usando expresiones retóricas o estamos refiriéndonos a elementos que tienen que ser asimilados y asumidos como pilares de nuestra ideología? Evidentemente es lo segundo, pero no siempre es así, en mi opinión quizás sería una de las sugerencias para la actividad futura de quienes de algún modo nos metemos en estos temas, los filósofos y los que no son tan filósofos. Me parece que nosotros debiéramos dedicarle un poquito más de atención a esos conceptos, ayudar a probarlo, a demostrarlo, y a convencernos realmente de que es así, es fundamental porque si realmente aquí no se tratase de eso, no sería exacta la afirmación de que es lo mismo Patria, Revolución y Socialismo. Y es lo mismo. Si se pierde el sistema político, si se pierde el proyecto económico social, se pierde también la nación, la nación cubana como fue concebida.113

Dessa feita, indistintos, a crítica e a afirmação de alternativa a qualquer um significam um ataque ao conjunto. Discordar do socialismo, melhor, do socialismo tal 112 Constitución de La República de Cuba, 1976 (revisada em 2002), s/p.

113 QUESADA, Ricardo Alarcón. Cuba y la Lucha por la Democracia. Editorial de Ciencias Sociales, La

habana, 2002. s/p. Disponível em:

http://www.parlamentocubano.cu/index.php?option=com_content&view=article&id=1475:qcuba-y-la- lucha-por-la-democraciaq&catid=43:libros-folletos-discursos-entrevistas&Itemid=130

como existente em Cuba, impõe um ato contrário ao sentimento patriótico. A parcela da oposição que não é reconhecida em sua legitimidade e criminalizada em dissidência, mais do que contra-revolucionária, é considerada antinacional. Assim, é facilmente compreendida a abolição dos órgãos que sustentam o ideal socialista governamental como será exposto no próximo tópico.

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