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Estrutura conceitual dos determinantes do desempenho exportador

Com a globalização dos mercados, observada com maior intensidade a partir dos anos 1990, a principal oportunidade de crescimento das organizações ficou ancorada na atividade exportadora. Visando aproveitar adequadamente a oportunidade nesse novo e

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promissor mercado, muitas empresas tiveram de buscar o aumento de sua capacidade competitiva, seja pela adoção de novas tecnologias, seja pela formação de redes associadas à exportação, posicionamento que requer um processo de reflexão estratégica.

As empresas que têm maiores vantagens competitivas têm também maior capacidade para competir ativamente no mercado, principalmente quando atuam no mercado internacional, o que reflete em um bom desempenho exportador. A estrutura conceitual de análise, na qual o setor de atuação da empresa (tradicional exportador ou não), os fatores externos (percebidos pelos administradores) e, principalmente, os recursos específicos das firmas (divididos em características e capacidades administrativas) são os atores-chave na definição do desempenho exportador, está ilustrada na Figura 2.

Figura 2 – Condicionantes do desempenho exportador de uma empresa.

Fonte – Elaboração própria a partir de Aaby e Slater (1989), Baldauf et al. (2000) Majocchi et al. (2005). 2.Fatores externos • Taxa de câmbio • Barreiras comerciais • Taxa de Juros • Diferenças culturais 1.Setor de atuação da firma

• Tradicional exportador

• Não tradicional

3. Fatores específicos das firmas 3.1.Características • Tamanho da empresa • Tempo de existência e exportação • Intensidade de exportação • Treinamento de pessoal 3.2. Capacidades administrativas • Intensidade de adoção de inovação tecnológica • Intensidade de uso de programas públicos • Intensidade de participação em redes de empresas Vantagem competitiva Desempenho exportador (continuidade)

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Assim, os condicionantes que supostamente impactam o desempenho exportador são estruturados em três tipos de fatores: a) o setor de atuação da firma; b) os fatores externos em torno da empresa e c) os recursos específicos de cada empresa.

O fato de pertencer a um setor que, durante anos consecutivos, tem figurado na pauta de exportação do país pode, de certo modo, influenciar a competitividade da empresa no mercado externo, que permitirá a continuidade ou não no processo exportador. Isso porque, nestes setores, as vantagens comparativas do país e, consequentemente, das empresas, já estão estabelecidas.

Os fatores externos relacionam-se ao ambiente além dos limites da empresa, representados pelas oportunidades e ameaças e que não estão sob o controle da administração. Considerados fatores relevantes, Pipkin (2003) os divide em quatro fatores principais: os fatores sociais e culturais, representados por conhecimento, opiniões, ideias, artes, leis, costumes, tradições e hábitos adquiridos pelos indivíduos como membros de uma sociedade; os fatores políticos e legais que se modificam de país para país - como a meta geral do país em relação à sua economia, política e seu sistema social e suas legislações; os fatores tecnológicos relativos às atividades de pesquisa e inovação, determinantes do grau de competitividade das empresas; os fatores econômicos, que impõem uma série de restrições econômicas às atividades empresariais nos mercados externos, em nome da segurança nacional, para proteger a indústria nacional nascente, para retaliar práticas desleais de comércio ou para aumentar a renda interna.

Ademais, nos negócios internacionais, o ambiente externo à empresa é um dos componentes principais para a administração. Os fatores externos (econômico, político e sócio-cultural) podem representar barreiras de entrada que protegem o mercado estrangeiro de novos concorrentes e que, normalmente, só são superados a custos altos (BALDAUF et al.., 2000). Esses fatores externos apareceram como determinantes do desempenho exportador em alguns estudos (BALDAUF et al., 2000; MAJOCCHI et al., 2005; CALANTONE et al., 2006).

Os recursos específicos da firma são representados por dois fatores: características das firmas e capacidades administrativas. As características das firmas podem condicionar um melhor desempenho da organização (BIJMOLT; ZWART, 1994; BALDAULF et al. 2000; LEFEBVRE E LEFEBVRE, 2001; ALVAREZ, 2004). Em um contexto de mercado internacional, foram investigadas várias características da firma, incluindo tamanho, número de empregados, vendas totais, experiência em

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exportação, número de países para os quais a empresa exporta e presença de departamentos especializados em exportação. Os resultados desses estudos não são homogêneos, aparecendo desde associações positivas com o desempenho exportador até associações negativas ou nenhum tipo de associação.

Além das características das firmas, anteriormente discutidas, têm-se, ainda, três fatores internos relacionados com as capacidades administrativas das firmas e ligados à intensidade de sua utilização e que podem contribuir para a empresa obter vantagem competitiva e, portanto, melhor desempenho exportador, quais sejam, os relacionados com adoção de inovação tecnológica, a utilização de políticas públicas e a participação em rede de empresas. Os fatores específicos das firmas são mais controláveis pelas empresas do que os fatores externos.

Um recurso específico da firma relevante é o investimento em inovação tecnológica que envolve desenvolvimento de produtos novos para o mercado externo, aumento da produtividade e ou redução nos custos e que, frequentemente, é mencionado na literatura como ativos que podem proporcionar a uma empresa uma posição competitiva mais forte em mercados estrangeiros (PAIVA; MELLO, 1999; LEFEBVRE; LEFEBVRE, 2001; ALVAREZ, 2004; DE NEGRI; FREITAS, 2004; DE NEGRI, 2005; ARAÚJO; PIANTO, 2006; WILKINSON; BROUTHERS, 2006).

Os serviços estatais de promoção de exportação e de recursos financeiros podem complementar os recursos internos das firmas, permitindo que estas permaneçam efetivamente nos mercados internacionais, como detectado nos estudos de Moreira e Santos (2001), Alvarez (2004), Shamsuddoha e Ali (2006) e Wilkinson e Brouthers (2006).

A decisão tomada pelas micro, pequenas e médias empresas de participar de redes de empresas é apontada, por muitos autores, como uma saída para enfrentar os custos envolvidos no processo de exportação (SANTOS; VARVAKIS, 1999; CASAROTTO FILHO; PIRES, 2001; GUIMARÃES, 2002; MACIEL; LIMA, 2002; MINERVINI, 2005).

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3. REFERENCIAL ANALÍTICO

Partindo da visão da firma baseada em recursos, buscou-se analisar as características das firmas e suas capacidades administrativas com relação à adoção de inovação tecnológica e ao uso de programas públicos e redes de empresas, informações essas obtidas de um questionário aplicado aos administradores das distintas empresas. Duas amostras de empresas (contínuas e descontínuas) foram, então, descritas e comparadas, com vistas a identificar diferenças significativas no uso de seus recursos internos. Um modelo de regressão logit multinomial foi utilizado para ajudar a identificar as diferenças significativas entre as duas amostras na intensidade de utilização de seus recursos internos. Identificados os fatores discriminantes entre as duas amostras, um modelo logit binomial é, então, definido para pesquisar os condicionantes do desempenho exportador (continuidade exportadora) dessas empresas. Finalmente, com base nesta análise, um critério de medição e classificação foi desenvolvido, permitindo enquadrar as empresas como de baixa, média e alta performance exportadora.