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2. SOCIEDADE, REDES SOCIAIS E INTERNET

2.3 Estrutura de Redes

Os padrões de rede passaram a ser estudados por antropólogos, sociólogos e psicólogos sociais dos EUA, da Alemanha e da Inglaterra na década de 1940. O foco se encontrava especialmente nas formas como os “nós” se configuravam e nos fluxos de informação entre os participantes, sendo muito utilizadas as metáforas “malha”, “trama”, “árvore”, “teia” e “rizoma”. Malha ou trama são representações de ligações simétricas com relações equidistantes de comunicação, semelhantes a uma rede de pesca, nas quais as informações fluem por contágio entre os nós. No modelo de árvore, a informação se inicia em uma “raiz” e se alastra pelos “ramos”. A representação da rede por teia leva em consideração a presença de um centro-radial ou liderança que transfere de qualquer nó para os demais a informação. Com o emprego de rizoma, compreende-se que a rede independe de um centro, sendo que as relações são assimétricas e a informação não segue um fluxo regular, partindo de qualquer nó

de forma multidirecional (AGUIAR, 2007a), a exemplo da maior parte das redes sociais virtuais da atualidade, como o Facebook1 e o Twitter2, conforme vai ser explicado.

Para alguns estudiosos de rede, as unidades básicas de análise (ou menor estrutura de uma rede) deixaram de ser as díades, já que os sociólogos passaram a definir um modelo básico formado por uma tríade, na qual os amigos em comum de uma pessoa têm grande possibilidade de se conhecerem e fazerem parte de um grupo (WELLMAN, 1988). O modelo da estrutura com tríade foi observado inicialmente pelo matemático Anatol Rappoport, ao supor que a maior possibilidade de conhecimento dos amigos em comum pode mostrar como se formam os grupos sociais (WATTS, 2003). No caso, o grupo representa uma rede na qual o indivíduo principal analisado é um nó e seus contatos formam o que se conhece como “arestas” (RECUERO, 2004b). Esses termos foram encontrados inicialmente em trabalhos do matemático Ëuler, que, ao criar o teorema da Teoria dos Grafos, possibilitou a utilização do termo “grafos” para representar a estrutura das redes (BARABÁSI, 2003; WATTS, 1999, 2003).

Normalmente, as redes resultam de um tipo de conjugação de três elementos: ações orientadas para determinados fins, acaso e heranças de padrões de vínculos anteriores. Essa visão parece apontar para dimensões distintas das redes, pautadas por organização, processos políticos e contexto histórico-cultural, respectivamente (MARQUES, 2007).

Assim, a estrutura e a dinâmica da rede são indissociáveis quando se trata de análise de vínculos, nós e suas relações, já que deve ser realizada em função dos fatores espaço e tempo. Alguns elementos se destacam nas configurações da rede, entre os quais estes: a) nós ativos, que alimentam a rede com informações, podendo se tornar líderes de opinião; b) nós focais, que recebem grande parte do fluxo de informações, como os moderadores; c) nós especialistas, que detêm conhecimentos e experiências fundamentais para a dinâmica do grupo; d) rede sociotécnica, formada por integrantes que se reconhecem como especialistas; e) indivíduos isolados, que se mantêm na rede de forma passiva, apenas acompanhando o fluxo de informações; f) indivíduos-ponte, que são os elementos de ligação entre grupos; g) cliques ou clusters, que são pequenos grupos de pessoas íntimas entre si que têm interesses em comum (AGUIAR, 2007a).

1 www.facebook.com 2 www.twitter.com

As conexões entre os indivíduos na rede são denominadas “laços”, que podem figurar de três formas: a) laços sociais relacionais, resultantes de reciprocidade e alta interatividade entre os indivíduos; b) laços sociais associativos, resultantes do fato de que os indivíduos, sem interações, apenas pertencem a um grupo ou instituição; c) laços sociais multiplexos, que demonstram relações tanto na rede social virtual quanto fora dela (RECUERO, 2009). Um exemplo para os laços multiplexos pode ser encontrado em Corrêa (2004), que cita tipos de comunidades virtuais que promovem encontros fora do ambiente virtual, como forma de reforçar as relações por meio do contato face a face, passando a complementar as relações sociais estabelecidas no ciberespaço, o que parece ocorrer com os movimentos sociais organizados nas redes socais virtuais, conforme discussão proposta neste trabalho.

Portanto a estrutura da rede não deve ser vista como determinada e determinante, mas como estrutura que se altera ao longo do tempo, apresentando elementos em constante ação e uma rede dinâmica em formação e manutenção (WATTS, 2003). Watts (2003) exemplifica a dinamicidade com o comportamento de um grupo: em determinado evento, um membro desse grupo aplaude algo e os que o cercam passam a aplaudir. Contudo Watts chama a atenção para o fato de que é possível, em outras ocasiões, movimento diferente, podendo não haver a adesão ou agrupamento de todos ou mesmo diferença na intensidade dos aplausos. Com essa analogia pode-se compreender que o comportamento coletivo nas redes sociais e seus resultados não podem ser planejados ou controlados. Também na internet há assuntos nas redes sociais virtuais que geram mais interesse e repercussão que outros.

As redes são dinâmicas e devem ser consideradas e analisadas como tal, visto que “the networks themselves are envolving and changing in time, driven by the activities or decisions of those very components” (WATTS, 2003, p.28). Portanto, como a dinâmica do comportamento dos membros altera uma série de propriedades da rede, ao longo do tempo, ela pode ser analisada sob duas perspectivas: dinâmica da rede, relacionada à estrutura, e dinâmica na rede, relacionada à influência que os membros do grupo exercem sobre os demais.

A participação dos indivíduos na rede apresenta diferentes “graus”, que variam de acordo com os interesses por temas e conteúdos abordados, o estímulo provocado pelos fluxos de mensagens, as ações comunicativas e as facilidades e dificuldades impostas à participação por meio dos recursos utilizados (AGUIAR, 2007a). Degenne e Forsé (1999) discutem a capacidade de influência que cada indivíduo tem sobre os outros em uma rede, exemplificando com casos de difusão de inovação por tecnologias e por moda. Para os

autores, a rede de informação e comunicação possibilita operar tanto nas relações pessoais quanto nos meios de comunicação em massa, identificando-se, em ambos os casos, mecanismos de influência interpessoais.

Em geral, as redes apresentam uma possibilidade ilimitada de se expandir pela assimilação de novos nós, por haver uma estrutura aberta. Outro fator frequentemente analisado nas redes é a densidade, que depende do número de relações dos indivíduos ou grupos e da constância e proximidade com que se dão os contatos. Wellman (1988, p.45) esclarece que a densidade e constância das relações nas redes variam de acordo com a posse ou utilização de recursos pelos indivíduos, visto que “despite their structural locations, members of a social systems differ greatly in their access to these resources. Indeed, unequal access resources may lead to greater asymmetry in ties”. Isso pode ser explicado: os indivíduos mantêm diferentes conjuntos de laços sociais e grande variedade de recursos que utilizam em suas interações (WELLMAN, 1999). Assim, nas redes sociais estabelecidas na internet, também é possível verificar que o acesso a informações e contatos depende das condições – equipamentos e internet – de cada indivíduo, que podem aproximá-lo ou distanciá-lo dos demais membros de uma rede.

Quanto à questão dos recursos, Watts chama a atenção para atributos e consequências dos fluxos nas redes sociais em termos de centralidade e periferia:

in many systems, usually these that have developed or evolved naturally, the source of control is far from clear. Nevertheless, the intuitive appeal of centrality is such a strong one that network analysts have focused heavily on devising centrality measures either for individuals in a network or for the network as a whole

(WATTS, 2003, p.52).

Portanto Watts defende que o centro não é o local de inovações, mas o local que demonstra as consequências dos acontecimentos que partem da periferia ou que “the center emerges only as a consequences of the event itself” (WATTS, 2003, p.53).

O Quadro 1 organiza em duas categorias os principais elementos tratados: Estrutura da Rede e Relações e Interações.

Quadro 1 – Elementos estruturais e relacionais nas redes

Categoriais Elementos Autores

Estrutura da Rede

Nós (ativos, focais, especialistas) Aguiar (2007a) Indivíduos (isolados, ponte) Aguiar (2007a)

Cliques (clusters) Aguiar (2007a)

Representações (malha, trama, árvore, teia e rizoma)

Aguiar (2007a) Centralidade e Periferia Watts (2003)

Relações e Interações

Rede Sociotécnica Aguiar (2007a)

Rede Dinâmica Watts (2003)

Dinâmica de Comportamento Watts (2003) Laços Sociais (relacionais, associativos

ou multiplexos)

Recuero (2009)

Adesão Watts (2003)

Formação das Redes (ações orientadas acaso e herança de padrões de vínculos)

Marques (2007)

Grau de Participação Aguiar (2007a)

Capacidade de Influência Degenne e Forsé (1999)

Densidade Wellman (1988; 1999)

Recursos Wellman (1988; 1999)

Fluxos Watts (2003)

Fonte: Elaborado pelo autor, 2015.

Assim, ao analisar a estrutura de redes, depara-se com elementos que constituem a estrutura em si, em termos de formatos e componentes, bem como elementos que representam as características das relações e interações estabelecidas nas estruturas e as propriedades das redes formadas, sendo esses elementos indissociáveis, haja vista que elementos estruturais e elementos relacionais são fatores fundamentais para a existência e continuidade do tipo de redes sociais analisadas neste trabalho.

Após discussão e apresentação dos principais elementos das redes, importa identificar os principais tipos de redes e esclarecer em qual deles este estudo se baseia.