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7. A ESTRATÉGIA NACIONAL DE DEFESA

7.2. ESTRUTURA E DIRETRIZES

A END está configurada em torno de três eixos estruturantes, sendo o primeiro deles relacionado à maneira de como as FFAA devem se configurar e se orientar para atender aos preceitos constitucionais, além de definir seu papel na paz e na guerra. O segundo eixo implica na reestruturação da indústria brasileira de material bélico e de defesa, pautando-se pelo predomínio de tecnologias nacionais. Por fim, o terceiro e último eixo diz respeito à composição das FFAA e das perspectivas do SMO, buscando replicar a composição da própria nação. Dessa forma, pode-se dizer que a END pretende sintetizar os meios para a execução da PND, versando sobre a maneira de estruturar a capacidade de defesa militar no Brasil, tratando dos “meios para fazer com que a Nação participe da defesa” (BRASIL, 2008, p. 9).

A END de 2008 é pautada por 23 (vinte e três) diretrizes que tratam desde a questão da dissuasão até o SMO, sendo algumas mais específicas e merecedoras de atenção. Uma das principais mensagens da END é destacada logo na primeira diretriz, que menciona a dissuasão como principal elemento na questão de defesa no país. Neste ponto, é possível fazer uma conexão com a menção feita por Clausewitz sobre engajamento.

“A simples disposição das forças armadas em determinado ponto torna um recontro possível sem que por essa razão ele se efectue sempre. Deverá considerar-se portanto esta possibilidade como uma realidade, como uma coisa real? Sem dúvida. Ela vem a sê-lo em resultado das suas consequências, e dos seus efeitos; quaisquer que eles sejam, nunca deixam de produzir-se” (CLAUSEWITZ, 1979.p. 203). Outra diretriz merecedora de destaque é a sexta, que define os setores espacial, cibernético e nuclear como sendo de importância estratégica. É mencionado que os setores espacial e cibernético se apresentam de grande importância no monitoramento

do país principalmente, sem depender de tecnologia estrangeira. Enquanto o setor nuclear é apontado com o objetivo do equilíbrio da matriz energética brasileira, além de avanços em diferentes áreas, como agricultura e saúde. Por fim, dada a adesão do Brasil ao Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares, há o objetivo de dar continuidade ao projeto do submarino de propulsão nuclear.

O posicionamento das unidades militares no país atualmente baseia-se em acontecimentos e contextos históricos. O exército concentra-se no Sudeste e Sul do Brasil, enquanto a Marinha tem sua base no Rio de Janeiro e a Aeronáutica em São José dos Campos, em São Paulo. A oitava diretriz tem como objetivo o rearranjo das unidades das FFAA de modo a uma adequação a nova realidade, considerando as preocupações atuais de defesa, voltadas para o Norte, o Oeste a região do Atlântico Sul, além das áreas mais industrializadas e com maior concentração demográfica. A LC no. 136 de 25 de agosto de 2010 criou o Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas (EMCFA), dentre outras atribuições do Ministro da Defesa, indo ao encontro com o previsto na sétima diretriz da END que prevê a unificação das três Forças utilizando os instrumentos do MD e do EMCFA, resultado da reestruturação do Estado- Maior de Defesa (EMD). O chefe do EMCFA terá plenos poderes sobre os comandantes das FFAA e formulará a estratégia de atuação sob a tutela do MD.

Uma outra importante diretriz foca na região amazônica como área prioritária para assuntos de defesa, dado seu potencial de recursos sustentáveis e de fronteira. Essa diretriz estabelece que a soberania dessa região deve ser monitorada e controlada de forma a se manter a soberania brasileira sobre esse território. Na mesma linha, a diretriz seguinte cita a importância da mobilidade e da capacidade logística, em especial na região amazônica. Vale lembrar que o general Meira Mattos, a respeito dessa área, já citava a importância de “se apoiar na constante manifestação de firmeza do Governo e da diplomacia, repelindo qualquer intenção internacionalista, venha de onde vier, e na existência, ali, de uma força militar de dissuasão dispondo de armas e equipamentos modernos e de alta capacidade de treinamento para as ações na selva”. (COSTA, 1999, p. 148).

Também está previsto, dentre as diretrizes da END, o uso das FFAA para missões de garantia da lei e da ordem (GLO). Considerando a eventual necessidade de se buscar auxílio nas FFAA em operações internas para a manutenção da paz, essa diretriz faz-se necessária em cumprimento aos termos da Constituição Federal (CF), ressaltando-se que deve haver legislação pertinente para respaldar tais ações e que seja demandado por um dos Chefes dos três Poderes.

A integração com países da América do Sul é outra diretriz mencionada na END, que procurar chamar a atenção para a importância da cooperação na região como um fator positivo para a defesa. Através da integração de estruturas militares e acordos de cooperação entre seus membros, espera-se que haja um avanço na construção da unidade na região. A criação do Conselho de Defesa Sul-Americano, em debate na ocasião da elaboração da END em 2008, pode ser considerada uma iniciativa no sentido de atender a essa diretriz. Pelo lado da dimensão econômico-comercial, o Mercosul se apresenta como um projeto integrador da região sul-americana, apesar de formuladores de política externa o enquadrarem como sendo de caráter político- estratégico.

O Brasil tem atuado em missões de manutenção de paz no exterior há mais de 5 décadas, em regiões de conflito como o Haiti, Timor Leste, Costa do Marfim, Mali, sob a orientação da ONU. A END prega em sua 19ª. diretriz a continuidade dessa atribuição pelas FFAA brasileiras, buscando sempre contribuir para a paz mundial e em benefício da defesa brasileira.

Uma diretriz que merece atenção é a 22ª., que versa sobre a capacitação da indústria de defesa nacional na busca por autonomia tecnológica. Fica evidente o foco dado pelo Governo no aumento de capacitação da indústria brasileira de defesa, tanto do setor privado quanto do estatal. São citados fatores como incentivos às empresas privadas do setor, prioridade de compras pelo poder público, estímulos pela competição no mercado externo, estabelecimento de parcerias estratégicas, dentre outros. Uma mensagem importante que pode ser interpretada dessa diretriz é a do fortalecimento e autonomia do setor de defesa nacional. Sabe-se que a indústria militar e respectivos

programas estão relacionados a uma ampla rede formada por institutos de pesquisa, empresas públicas e privadas, além de outros órgãos do Estado (CONCA, 1992).

A última diretriz diz respeito à questão do Serviço Militar Obrigatório (SMO), o qual tem por objetivo “mobilizar o povo brasileiro em defesa da soberania nacional” (END, 2008). Esse ponto destaca a importância de se ter nos quadros militares jovens que reflitam todos os extratos das camadas sociais da população brasileira e que, para isso, haja uma maior valorização da carreira, de modo a atrair candidatos aptos a servirem os propósitos das FFAA. Também está prevista a prestação de um serviço civil para aqueles desobrigados do SMO, de modo a comporem uma força de reserva preparada para eventualidades.

Dentre as 23 diretrizes listadas na END, as citadas acima mereceram um maior destaque pelo entendimento de que tratam de temas mais importantes nas questões de defesa, além de eventualmente abrangerem pontos comuns de outras diretrizes não mencionadas neste tópico. De todo modo, todas as diretrizes dispostas na END de 2008 encontram-se mencionadas e detalhadas nesse estudo, quando é mostrado o grau de implementação de cada uma delas.

Posteriormente, em 2012, uma nova versão foi elaborada e em 2013 aprovada, junto com a Política Nacional de Defesa e o Livro Branco de Defesa Nacional. A nova versão mantém as diretrizes originalmente elaboradas em 2008 e acrescenta mais duas listadas a seguir:

“24. Participar da concepção e do desenvolvimento da infraestrutura estratégica do País, para incluir requisitos necessários à Defesa Nacional.

25. Inserir, nos cursos de altos estudos estratégicos de oficiais das três forças, os princípios e diretrizes da Estratégia Nacional de Defesa, inclusive aqueles que dizem respeito ao Estado- Maior Conjunto.” (BRASIL, 2012,, p. 9).

Basicamente, as duas diretrizes visam contemplar estudos para o uso dual (diretriz 24) e enfatizar a disseminação das diretrizes da END nos estudos militares (diretriz 25.)