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7. A ESTRATÉGIA NACIONAL DE DEFESA

7.4. RESULTADOS DA END 2008

Conforme mencionado anteriormente, a END pretende ser um instrumento de implementação dos objetivos definidos na PND, respondendo à questão do porquê da existência das FFAA. A END 2008 foi submetida ao Presidente da República em dezembro de 2008, contendo 23 diretrizes orientando sobre ações estratégicas para a reformulação da defesa no País. Em 2012, em atendimento à LC 136 de 2010, uma nova versão da END foi enviada para a apreciação do Congresso Nacional e finalmente aprovada em setembro de 2013, através do Decreto Legislativo 373 de 2013, em conjunto com os textos da Política Nacional de Defesa e do Livro Branco de Defesa Nacional. Conforme definido no escopo deste estudo, a pesquisa baseou-se nas diretrizes da END 2008, uma vez que não haveria tempo hábil de se iniciar uma análise sobre um documento recentemente aprovado (END 2013) e que ainda deverá ter suas ações implementadas nos próximos 4 anos, quando novas versões dos documentos de defesa do País devem novamente ser submetidas à avaliação do Congresso Nacional.

É importante lembrar que houve avanços nas diretrizes estabelecidas na END de 2008, entretanto a maior parte dos objetivos a serem perseguidos tem horizontes de médio e longo prazo. Fatos e acontecimentos recentes no contexto nacional e global são importantes no debate uma vez que se conectam de alguma forma com as diretrizes da END.

Conforme amplamente noticiado na imprensa brasileira e internacional no segundo semestre de 2013, foram levantadas suspeitas ações de espionagem pelos Estados Unidos no Brasil, incluindo a própria presidente Dilma Rousseff e dados da Petrobras. O assunto foi tema do discurso de Dilma durante a abertura da 68ª. Assembleia-Geral das Nações Unidas em Nova York no dia 24 de setembro de 2013. O tom do discurso foi duro:

“Dados pessoais de cidadãos foram indiscriminadamente objeto de interceptação. Informações empresariais – muitas vezes com alto valor econômico e mesmo estratégico – estiveram na mira da espionagem. Também representações diplomáticas brasileiras, entre elas a Missão Permanente junto às Nações Unidas e a própria Presidência da República do Brasil tiveram suas comunicações interceptadas”. (Presidente Dilma Rousseff, durante discurso na ONU, 24 set. 2013). O Brasil foi além e, em coliderança com a Alemanha, elaborou uma resolução tratando da garantia de direitos à privacidade nas relações digitais e dos direitos dos cidadãos, governos e empresas na comunicação digital. O texto intitulado “Direito à privacidade na era digital” foi aprovado por unanimidade no Terceiro Comitê da Assembleia, que trata de questões sociais, humanitárias e culturais, no dia 18 de dezembro de 2013. A resolução ainda deve ser apreciada na 69ª. Assembleia-Geral das Nações Unidas e no Conselho de Direitos Humanos da ONU em Genebra no próximo ano. Este fato demonstra um avanço na questão da proteção de informações nos meios digitais e gera um comprometimento por parte dos 193 membros das Nações Unidas.

No caso da END, demonstra a importância dada à sétima diretriz relativa ao fortalecimento do setor cibernético pelo Brasil.

Também no mesmo dia 18 de dezembro de 2013, outro importante fato foi marcante para a defesa brasileira. Após 12 anos do início do processo de escolha dos fornecedores de novas aeronaves de caça pelo Comando da Aeronáutica, finalmente foi feito o anúncio da decisão pela compra pela aeronave Gripen-NG, do consórcio liderado pela sueca SAAB. Além dos suecos, também participavam da concorrência a francesa Dassault, com o caça Rafale, e os norte-americanos da Boeing, com o F-18. Segundo o ministro da Defesa, a escolha recaiu sobre critérios técnicos, a transferência de tecnologia, além da ponderação dos custos de aquisição e manutenção das aeronaves. No total serão adquiridas 36 aeronaves ao custo de US$ 4,5 bilhões, sendo a entrega da 1ª. aeronave por volta de 2018, 48 meses após a assinatura do contrato de financiamento, prevista para dezembro de 2014. A aquisição dos caças Gripen-NG foi recebido de maneira positiva pela imprensa e analistas da área de defesa em virtude de diversos fatores. Primeiro, a notícia traz à tona o assunto sobre a defesa brasileira e sua importância para a soberania nacional. Segundo, trata de modernizar a atual frota brasileira, composta basicamente por antigos Mirages franceses, colocando o país numa posição de destaque na América do Sul. Terceiro, pelo fato de possibilitar ao Brasil garantir a defesa de seu espaço aéreo, defender sua infraestrutura estratégica, dar segurança à realização de grandes eventos e proteger suas fronteiras. Quarto, a transferência de tecnologia envolvida poderá possibilitar um avanço no conhecimento tecnológico significativo ao país. Quinto, a aquisição emite um sinal significativo no contexto geopolítico mundial, mostrando o poder de compra brasileiro no setor e destacando seu fortalecimento na capacidade militar, aumentando, assim, seu poder de dissuasão.

Esse acontecimento vai ao encontro de diversas diretrizes estabelecidas na END, tais como as que tratam de dissuasão de forças hostis (primeira), da questão de monitoramento/controle e mobilidade (segunda), do desenvolvimento da capacidade de monitorar o espaço aéreo, o território e águas jurisdicionais (terceira), da mobilidade estratégica, (quarta), do estímulo à integração da América do Sul (décima oitava), do desenvolvimento do potencial de mobilização militar para assegurar a capacidade dissuasória (vigésima primeira) e, por fim, da capacitação da indústria nacional de defesa para a conquista de autonomia tecnológica (vigésima segunda). Portanto, nota-

se a vital importância deste acontecimento para a defesa nacional e sua consonância com a END, gerando expectativas positivas aos objetivos estratégicos definidas no documento.

Dada a importância estratégica dessa aquisição e suas implicações econômicas e políticas, o processo de escolha levou cerca de 12 anos, conforme cronologia mostrada na figura 3.

Figura 3: Cronologia do projeto F-X

Fonte e elaboração: Ministério da Defesa

No contexto da END, de modo a atingir seus objetivos, o MD instituiu um Grupo de Trabalho para a elaboração do Plano de Articulação e Equipamentos de Defesa (PAED) com o objetivo de atender às demandas de aumento de capacidade da Defesa23. O PAED tem horizonte temporal de 20 anos (2012 a 2031) e contempla projetos prioritários das FFAA, sendo os principais listados a seguir.

Quadro 3: Projetos Prioritários da Marinha

Fonte e elaboração: Livro Branco de Defesa Nacional, 2012.

Quadro 4: Projetos Prioritários do Exército

Quadro 5: Projetos Prioritários da Aeronáutica

Fonte e elaboração: Livro Branco de Defesa Nacional, 2012.

Os projetos estratégicos mostrados acima demonstram alguns dos resultados decorrentes das diretrizes previstas na END, seja aumentando o poder de dissuasão brasileiro, melhorando os mecanismos de monitoramento e controle, permitindo uma maior mobilidade, enfatizando os setores estratégicos (nuclear, aeroespacial e cibernético) ou mesmo capacitando a indústria nacional de defesa.