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Como dito acima, cada país apresenta o seu modelo tarifário. No entanto, é possível estruturar um modelo geral que, apesar de sofrer alterações de país para país, mantém a mesma base e os mesmos princípios.

2.1.1.1 Princípios Regulatórios

Um dos princípios regulatórios de maior importância é a independência (ou autonomia) re- gulatória, que significa a existência de um órgão regulador livre das influências de fontes externas na tomada de decisões. Normalmente, isto significa manter relações com os operadores, consu- midores, interesses privados e autoridades políticas de forma apropriada e garantindo a autonomia organizacional com respeito ao governo [2].

Segundo [3], existem oito princípios regulatórios, para além da independência, que devem ser tidos em consideração na criação de modelos tarifários de eletricidade, sendo estes abaixo apresentados.

• Sustentabilidade: um modelo tarifário tem que garantir a recuperação total dos custos regulados, por forma a que o setor elétrico seja economicamente viável;

• Equidade ou não discriminação na alocação dos custos aos consumidores, isto é, ao mesmo responsável deve aplicar-se a mesma prestação de serviço, independentemente do uso final da energia elétrica;

• Eficiência Económica:

– Produtividade: deve produzir-se o bem/serviço ao mínimo custo e cumprindo os re- quisitos de qualidade estandardizados;

– Eficiência Alocativa: deve promover-se o consumo eficiente do bem a curto e longo prazo;

• Transparência: na metodologia utilizada, para que todos os critérios e procedimentos sejam públicos;

• Estabilidade: na metodologia adotada, para que exista, para os agentes em causa, o mínimo de incerteza regulatória possível.

• Simplicidade: deve-se, sempre que possível, manter a simplicidade na metodologia e im- plementação dos sistemas tarifários.

• Aditividade: as tarifas do utilizador final devem ser resultado da adição de todos os concei- tos de custo aplicáveis. Este princípio deriva dos princípios de eficiência e estabilidade. • Consistência: com o processo regulatório específico de cada país.

Deverá ainda ter-se em atenção a necessidade de:

• Serviço Universal: todos devem ter acesso à eletricidade; • Proteção: dos consumidores economicamente vulneráveis; • Proteção: do meio ambiente.

Problemas/Conflitos entre os princípios regulatórios

O que acontece, a maior parte das vezes, é que existem conflitos entre os vários princípios regulatórios, sendo difícil conseguir uma adaptação 100% eficaz de todos, isto é:

• Para que as tarifas sejam eficientes, no geral, não têm uma metodologia e implementação simples.

• A otimização da eficiência dos modelos tarifários consegue-se através da utilização de cus- tos marginais. No entanto, a maior parte das vezes este tipo de regulação não permite recu- perar todos os custos, como é o caso dos preços marginais de curto prazo [4]. As empresas têm que suportar não só os custos de exploração mas também os custos de investimento associados à expansão e reforço da rede e sendo a remuneração marginalista de curto prazo determinada apenas pelos custos de produção e condicionalismos inerentes à exploração das redes, não lhes é possível recuperar os custos de investimento a longo prazo [5];

• Muitas vezes, devido a políticas governamentais, é difícil, para as entidades reguladoras, manterem a sua independência total, sendo necessário encontrar um ponto de equilíbrio para que estas entidades não percam a credibilidade;

Existe, portanto, necessidade de estabelecer prioridades de quais os princípios regulatórios que se tem mesmo que seguir. Segundo [3], a estrutura tarifária deve, pelo menos apresentar os seguintes quatro aspectos:

• Garantir recuperação dos custos regulados totais de cada atividade; • Ser composta por tarifas aditivas;

• Ser razoavelmente eficiente, enviando sinais a curto e longo prazo; • Ser simples e transparente.

2.1.1.2 Componentes Típicas

As componentes de um sistema tarifário podem variar mediante o país, devido às necessidades de cada um, uma vez que estas devem refletir os custos que existem com a produção, transporte, distribuição e venda de energia elétrica. No entanto, segundo [3], existe um conjunto de compo- nentes típicas que constituem a maior parte dos modelos tarifários existentes. Estas componentes apresentam-se esquematizadas na figura2.1.

Figura 2.1 – Componentes típicas dos modelos tarifários

O caso português apresenta algumas variações face a este esquema sendo estas detalhadas mais à frente em2.1.2.2

2.1.1.3 Tipos de Modelos Tarifários

As estruturas tarifárias podem ser divididas em dois grupos distintos: modelos tarifários regu- lados e não regulados.

Os modelos tarifários regulados são aqueles em que os valores das tarifas são impostos por um órgão regulador e monopolista, independente dos consumidores e dos comercializadores, tal como mostra a figura2.2. Estes modelos são projetados para proteger os consumidores de tarifas excessivamente altas e garantir a acessibilidade desta atividade a todos os cidadãos [6].

Figura 2.2 – Esquema do modelo tarifário exclusivamente regulado

Já os modelos tarifários não regulados são aqueles em que existe negociação entre os comer- cializadores/operadores e os consumidores por forma a adaptar as tarifas a cada tipo de consumo e necessidade, como é apresentado na figura2.3.

Figura 2.3 – Esquema do modelo tarifário exclusivamente não regulado

Na verdade, a maioria dos sistemas tarifários apresentam uma estrutura híbrida, ou seja, são compostos por uma mistura de tarifas reguladas e não reguladas, tal como se apresenta na figura

2.4. Normalmente, neste tipo de esquema, os custos associados ao uso das redes são regulados, ou seja, são fixados por um única entidade, não sendo possível qualquer negociação e os custos de comercialização são não regulados e dependem das empresas comercializadoras existentes.

Figura 2.4 – Esquema do modelo tarifário híbrido