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A estrutura político-administrativa do Comitê do Alto Tietê e o papel dos subcomitês de bacia

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O Sistema Integrado de Abastecimento de Água é formado por oito sistemas de mananciais; Cantareira, Guarapiranga Billings e Alto Tietê respondem por 85% da disponibilidade média total Embora o abastecimento público de água na Bacia seja feito quase

3. LEI DE PROTEÇÃO E RECUPERAÇÃO DOS MANANCIAIS E LEGISLAÇÕES ESPECIFICAS

3.1 A estrutura político-administrativa do Comitê do Alto Tietê e o papel dos subcomitês de bacia

A lei estadual nº 7.633/1991 definiu que o Comitê da Bacia Hidrográfica do Alto Tietê – CBH-AT é o organismo responsável pela gestão dos recursos hídricos

dessa unidade. Importante ressaltar que a área do CBH - Alto Tietê é distinta da área da UGRHI. Ela abrange 36 municípios da RMSP1, sendo subdividida em

cinco sub-regiões, que correspondem a cinco subcomitês, além do município de São Paulo, que tem representatividade em todos os subcomitês de bacia. São elas: Cotia-Guarapiranga; Billings-Tamanduateí; Tietê-Cabeceiras; Juquerí-Cantareira e Pinheiros-Pirapora (Figura 3.1). Alvim (2003) ressalta que essa subdivisão correlaciona a subdivisão hídrica aos limites municipais, reconhecendo que a divisão hidrográfica pura não é adequada às necessidades que se impõem à gestão de recursos hídricos na metrópole.

1 Os municípios do CBH – AT são: Arujá, Barueri, Biritiba-Mirim, Caieras, Cajamar, Carapicuíba, Cotia, Diadema, Embu, Embu-Guaçu, Ferraz de Vasconcelos, Francisco Morato, Franco da Rocha, Guarulhos, Itapecerica da Serra, Itapevi, Itaquaquecetuba, Jandira, Juquitiba, Mairiporã, Mauá, Mogi das Cruzes, Osasco, Pirapora do Bom Jesus, Poá, Ribeirão Pires, Rio Grande da Serra, Salesópolis, Santana do Parnaíba, Santo André, São Bernardo do Campo, São Caetano do Sul, São Lourenço da Serra, São Paulo, Suzano, Taboão da Serra.

113 Figura 3.1 - Abrangência do Comitê da Bacia Hidrográfica do Alto Tietê e seus subcomitês

Fonte: Elaborada por ALVIM, 2003

Instalado em 1994, o Comitê do Alto Tietê é composto por dezesseis representantes e respectivos suplentes de cada segmento, eleitos a cada dois anos. Cada segmento é representado pelas instâncias escolhidas em eleições em separado, descritas a seguir: Estado - os representantes e suplentes são indicados pelas principais secretarias e empresas setoriais (em geral o secretário ou presidente); Municípios - a Prefeitura de São Paulo tem assento permanente, além de três prefeitos de cada subcomitê, determinados a cada eleição; Sociedade Civil é composta por entidades legalmente constituídas, separadas em dois grupos de quatro categorias cada um, oito ao todo, e, os Grandes Usuários (indústria, agricultura, abastecimento público e outros usos); e Outros Usuários (associações técnicas, científicas, organizações não governamentais; universidades, associações ligadas ao consumo de água, etc.).

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Faz parte da estrutura organizacional do Comitê a Diretoria2 , escolhida também a cada dois anos, assim como as Câmaras Técnicas que tratam de temas

específicos referentes aos recursos hídricos e suas interfaces, podendo extinguir-se ao final de seus objetivos.

Os subcomitês foram definidos a partir das suas principais sub-bacias, buscando adequar os limites municipais aos limites hídricos. Segundo entrevista realizada com membros do CBH – AT por ALVIM (2003) reconheceu-se que, aos moldes das UGRHIs, a divisão hidrográfica pura não era mais adequada às necessidades de gestão da bacia hidrográfica. A partir dessa percepção das identidades sub-regionais e do cruzamento das sub-bacias, foi proposta a subdivisão da Bacia do Alto Tietê em cinco sub-regiões (e não em sub-bacias), aliado ao fato de que o Município de São Paulo deveria articular todos os municípios, por sua preponderância regional. Alvim (2003) destaca que inicialmente houve a subdivisão em sub-regiões, procurando agregar municípios. Em Alvim (Ibid.) comenta-se que esse desenho foi consagrado, induzindo o município de maior hegemonia política e econômica a integrar todas as sub- regiões nos futuros colegiados dos subcomitês. A cinco sub-regiões e seus respectivos municípios são:

• Cotia-Guarapiranga: Cotia, Embu, Taboão da Serra, Embu-Guaçu, Itapecerica da Serra; os municípios de São Lourenço da Serra e Juquitiba foram

integrados posteriormente, em 1997, por ocasião da formação do respectivo subcomitê;

• Billings-Tamanduateí: Santo André, São Bernardo do Campo, São Caetano do Sul, Diadema, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra;

• Tietê-Cabeceiras: Mogi das Cruzes, Ferraz de Vasconcelos, Itaquaquecetuba, Poá, Suzano, Biritiba Mirim, Salesópolis, Guarulhos e Arujá;

• Juquerí-Cantareira: Cajamar, Francisco Morato, Franco da Rocha, Caieiras e Mairiporã;

• Pinheiros-Pirapora: Pirapora do Bom Jesus, Santana do Parnaíba, Itapevi, Barueri, Osasco, Carapicuíba e Jandira.

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A Diretoria é composta pelo Presidente, em geral um Prefeito; o Vice – Presidente, lugar ocupado por um membro da Sociedade Civil; e o Secretário Executivo, função de um representante do Estado, em geral

ligado à Secretaria de Recursos Hídricos Saneamento e Obras. Esta organização não é regra instituída, e sim, herdada do Comitê Piracicaba – Capivari – Jundiaí, primeiro a funcionar no Estado. Porém, houve gestões em que os papéis se inverteram, em função de acordos estabelecidos entre os membros do Comitê do Alto Tietê.

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A formação dos subcomitês, pelo Comitê do Alto Tietê, tem como objetivo principal a promoção do gerenciamento descentralizado, participativo e integrado dos recursos hídricos no âmbito das sub-bacias, em função da complexidade dessa Bacia. Conforme Alvim (Ibid.), os subcomitês foram entre 1997 e 1998, na seguinte sequência: a) Cotia-Guarapiranga, em agosto de 1997; b) Tietê-Cabeceiras, em setembro de 1997; c) Juqueri-Cantareira, em novembro de 1997; d) Billings-Tamanduateí, em dezembro de 1997 e, e) Pinheiros-Pirapora, em agosto de 1998.

Embora a divisão da Bacia em sub-regiões previsse, desde o princípio, a descentralização das atividades do CBH-AT em subcomitês, somente a partir da instituição da Lei de Proteção e Recuperação dos Mananciais em 1997, a necessidade de se viabilizar tal descentralização avultou-se, uma vez que a nova legislação só seria regulamentada a partir da elaboração de leis específicas no âmbito de cada sub-bacia do Alto Tietê (Ibid.).

Apesar de serem organismos descentralizados de gestão das águas, os subcomitês de bacia não têm poder de deliberar ações independentes de seu Comitê. Todas as deliberações votadas em plenárias, no âmbito das atribuições dessas instâncias, devem ser submetidas ao referendo da plenária do CBH - AT. Os regimentos internos, os quais apresentam poucas diferenças de um para outro, definem objetivos, atribuições e composições dos respectivos

subcomitês. Dentre as atribuições 3, previstas para essas instâncias, destacam-se as seguintes, que contribuem para a articulação das mesmas com as

políticas urbanas em suas respectivas sub-bacias: promover a integração dos órgãos e das instâncias governamentais atuantes na sub-bacia; buscar a articulação dos municípios da sub-região, através da formação de consórcios ou do fortalecimento e integração dos existentes; promover ações visando à compatibilização da legislação municipal com a legislação estadual; recomendar diretrizes para as políticas setoriais dos organismos e das entidades que atuam regionalmente na área; integrar-se com o setor privado e demais Sistemas de Gestão institucionalizados, garantindo a participação da sociedade civil; promover e apoiar a constituição de associações de usuários de água e de ONGs defensoras da qualidade ambiental; recomendar alterações em políticas,

3Comparando-se as atribuições de todos os subcomitês, nota-se que, de certa forma, repetem-se, com algumas alterações de redação ou de assuntos específicos de cada sub-região. Consideraram-se, como modelo

a ser comentado nesse item, as atribuições do subcomitê Cotia-Guarapiranga que, para os fins desta pesquisa, abrange o maior número possível de atribuições relacionadas à temática discutida. Destaca-se que, no sub-comitê Pinheiros-Pirapora, não se preveem, em suas atribuições, ações aliadas à legislação de mananciais, uma vez que essa sub-bacia é a única que não tem áreas com essas características.

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ações, planos e projetos setoriais a serem implantados nas respectivas sub-regiões e Áreas de Proteção e Recuperação dos Mananciais; efetuar o acompanhamento e avaliação sistemática dos programas, projetos e ações governamentais, no âmbito das sub-regiões; deliberar sobre a aplicação de recursos financeiros em serviços e obras de interesse para a gestão da Sub-Região e da ARPM correspondentes; aprovar previamente o Plano de Bacia e o Plano de Desenvolvimento e Proteção Ambiental – PDPA, referentes à sub-região e à ARPM correspondente, bem como acompanhar sua implementação; submeter ao CBH-AT definição, delimitação e proposta de criação de Áreas de Intervenção, quando houver, e as respectivas diretrizes e normas ambientais e de interesse regional; e recomendar a celebração de convênios entre Estado e Municípios.

A composição de representantes previstas nesses organismos, aos moldes do CBH-AT, deve ser tripartite e paritária nas decisões. Destaca-se que os representantes do Estado devem ser indicados pelo Comitê de acordo com a importância do setor na sub-região. Já o segmento Município envolve as prefeituras de cada sub-região e representantes do município de São Paulo, o qual varia de subcomitê para subcomitê. No segmento Sociedade Civil, em geral, encontram-se representados os seguintes usuários, com variação do número de representantes segundo a composição definida em regimento interno: associações comunitárias ligadas ao consumo do recurso hídrico para uso doméstico, com interesses no abastecimento público, saneamento e saúde pública; representantes de associações ligadas ao consumo do recurso hídrico para atividades industriais, comerciais e imobiliárias; representante de associações ligadas ao consumo do recurso hídrico para lazer e pesca; representantes de associações de defesa do meio ambiente; representantes de entidades técnicas; representantes de Universidades e Institutos de Pesquisa; e um representante de entidade de defesa do cidadão.

O fato do CBH – AT ter sido dividido em subcomitês possibilitou, segundo Neder (2001) a construção, desde 1997, de um processo dinâmico de planejamento participativo na metrópole por meio destas sub-instâncias descentralizadas, buscando aproximar os problemas locais e sub-regionais, e

indicando novos encaminhamentos para a solução dos conflitos da realidade local4.

4Em Alvim (2003) aprofunda-se a dinâmica e gestão do Comitê do Alto Tietê e seus subcomitês, entre 1994 e 2020, defendendo-se que essas instâncias contribuíram para gestão da metrópole no periodo analisado,

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Alvim, Bruna e Kato (2008) apontam que, principalmente a partir de 1997, com a aprovação da nova Lei de Proteção e Recuperação dos Mananciais, o papel dos subcomitês de bacia, embora em estágios distintos, valorizaram-se frente aos desafios de formulação e implementação dos novos instrumentos de planejamento e gestão; estes, devem ser construídos para equacionar os problemas relativos não somente à degradação dos mananciais, mas também à melhoria da qualidade do ambiente urbano e consequentemente da qualidade de vida de seus habitantes. Os subcomitês de bacia Cotia – Guarapiranga e Billings – Tamanduateí, embora em diferentes níveis, contribuíram para os avanços desse modelo. O primeiro, de modo pioneiro, foi responsável pela elaboração da lei especifica da Área de Proteção e Recuperação da Bacia Hidrográfica da Guarapiranga – APRM – Guarapiranga, entre o final dos anos de 1990 e início de 2001. O segundo, ao elaborar uma legislação especifica para a APRM – Billings, alguns anos depois, em meados dos anos de 2000, acabou por implementar a revisão do modelo inicial da lei da Guarapiranga, como fruto de um processo de aprendizado coletivo.

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