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A estrutura textual da BNCC-EM

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CAPÍTULO I – OBJETO, MÉTODO, PROCEDIMENTOS E APORTE

1.1 O OBJETO DE ESTUDO: TEXTO E CONTEXTO

1.1.1 A estrutura textual da BNCC-EM

A versão final da BNCC-EM foi apresentada à sociedade em dezembro de 2018 pela Resolução CNE/CP no 4 de 17 de dezembro de 2018. Um texto

bem escrito, coeso, com uma boa apresentação gráfica, que facilita a compreensão da mensagem. O documento homologado está estruturado em quatro grandes partes: 1) Introdução, na qual se apresentam os fundamentos legais, conceituais e o formato geral; 2) Etapa da Educação Infantil; 3) Etapa do Ensino Fundamental; 4) Etapa do Ensino Médio.

Na introdução, estão destacados, em negrito, alguns conceitos teóricos básicos que fundamentam a BNCC: “aprendizagens essenciais”; “competências”, “educação integral”, “pacto federativo” e “regime de colaboração”; na busca pela “igualdade” e “equidade”, que serão abordados analiticamente no capítulo IV da tese.

Dois conceitos-chave do que se entende por “aprendizagem essencial” no documento são “competências” e “habilidades”. Há uma definição teórica explícita do primeiro.

Competência é definida como a mobilização de conhecimentos (conceitos e procedimentos), habilidades (práticas, cognitivas e socioemocionais), atitudes e valores para resolver demandas complexas da vida cotidiana, do pleno exercício da cidadania e do mundo do trabalho. (BRASIL, 2018d, p. 8)

E uma indicação prática do segundo na seção do ensino médio.

Relacionadas a cada uma dessas competências, são descritas habilidades a serem desenvolvidas ao longo da etapa, além de habilidades específicas de Língua Portuguesa – componente obrigatório durante os três anos do Ensino Médio, da mesma maneira que Matemática (LDB, art. 35-A, § 3º). Todas as habilidades da BNCC foram definidas tomando-se como referência o limite de 1.800 horas do total da carga horária da etapa (LDB, art. 35-A, § 5º). (id., ibid., grifo meu)

Graficamente, cada “habilidade” é identificada por um código alfanumérico:

Figura 1 – Código alfanumérico: habilidade

Fonte: BRASIL, 2018d, p. 30.

Os objetivos de aprendizagem também são representados graficamente:

Figura 2 – Código alfanumérico: objetivos de aprendizagem

Observando as relações entre as partes, cada componente curricular apresenta “um conjunto de habilidades [...] relacionadas a diferentes objetos de conhecimento – aqui entendidos como conteúdos, conceitos e processos –, que, por sua vez, são organizados em unidades temáticas” (BRASIL, 2018d, p. 28, grifos do autor).

Uma imagem completa exemplifica bem como foram pensadas as relações entre: “Competências gerais” da educação básica; “Áreas do conhecimento”; “Competências específicas da área”, “Disciplinas obrigatórias”; e “Habilidades” no ensino médio, como consta na figura a seguir.

Figura 3 – Competências Gerais - Ensino Médio

Fonte: BRASIL, 2018d, p. 32

Definem-se as “aprendizagens essenciais” como aquelas “que todos os alunos devem desenvolver ao longo das etapas e modalidades da Educação Básica”. Para isso, são apresentadas “dez competências gerais que o aluno precisa desenvolver”, a partir dos “objetos de aprendizagem”, para terem garantidos os “direitos de aprendizagem” (BRASIL, 2018d, p. 7-8).

As “competências gerais da educação básica”18 são introduzidas com

verbos no modo infinitivo, denotando ações dos sujeitos.

1) Valorizar e utilizar os conhecimentos historicamente construídos [...]; 2) Exercitar a curiosidade intelectual e recorrer à abordagem própria das ciências [...]; 3) Valorizar e fruir as diversas manifestações artísticas e culturais; 4) Utilizar diferentes linguagens; 5) Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e Comunicação; 6) Valorizar a diversidade de saberes e vivências culturais e apropriar-se de conhecimentos e experiências; 7) Argumentar com base em fatos, dados e informações confiáveis; 8) Conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física e emocional; 9) Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação; 10) Agir pessoal e coletivamente com autonomia, responsabilidade, flexibilidade, resiliência e determinação. (BRASIL, 2018d, p. 11)

A seção reservada ao Ensino Médio está estruturada em três partes: “Áreas do Conhecimento”; “Competências Específicas da Área”, enfatizando as disciplinas obrigatórias (Matemática e Língua Portuguesa); e “Habilidades”. As áreas do conhecimento são aquelas mencionadas na Lei no

13.415/2017, transposta ao art. 36 da LDB/1996: “I – linguagens e suas tecnologias; II – matemática e suas tecnologias; III – ciências da natureza e suas tecnologias; IV – ciências humanas e sociais aplicadas; V – formação técnica e profissional” (BRASIL, 1996).

As competências e habilidades a serem desenvolvidas no ensino médio são agrupadas de acordo com os itinerários formativos, conforme proposição estrutural na figura a seguir:

18 Optei por não descrever as competências gerais pela extensão textual e por não ser objeto

Figura 4 – Competências Gerais agrupadas por itinerário formativo

Fonte: BRASIL, 2018d, p. 469.

Exemplifico com a área de Linguagens e suas Tecnologias19, que

comporta sete competências específicas, das quais transcrevo apenas a 1ª: Figura 5 – Competências específicas - exemplo

Fonte: BRASIL, 2018d, p. 490.

19 Escolhi a área de Português, que compõe com Matemática as duas obrigatórias na BNCC-

EM, para exemplificar o objeto da pesquisa por ser uma das minhas áreas de formação acadêmica e profissional, com a qual tenho maior familiaridade conceitual.

Cada competência específica compreende um conjunto de habilidades, a exemplo da competência 1 dessa área:

Figura 6 – Habilidades específicas – exemplo 1

Fonte: BRASIL, 2018d, p. 491.

Em seguida, nessa área de conhecimento, apresenta-se a disciplina Língua Portuguesa.

Considerando esse conjunto de princípios e pressupostos, os eixos de integração considerados na BNCC de Língua Portuguesa são aqueles já consagrados nos documentos curriculares da Área, correspondentes às práticas de linguagem: oralidade, leitura/escuta, produção (escrita e multissemiótica) e análise linguística/semiótica (que envolve conhecimentos linguísticos – sobre o sistema de escrita, o sistema da língua e a norma-padrão –, textuais, discursivos e sobre os modos de organização e os elementos de outras semioses). (BRASIL, 2018d, p. 71)

Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) exemplificam os “documentos da área” mencionados acima. Os “eixos de integração” de Língua Portuguesa são as “práticas de linguagem” apresentados na seção do ensino fundamental e mantidos no ensino médio. Cada eixo é apresentado textualmente, seguido das “competências específicas” da disciplina. As “práticas de linguagem”, por sua vez, organizam-se em cinco “campos de atuação”, conforme imagem a seguir:

Figura 7 – Práticas de linguagem: campos de atuação

Fonte: BRASIL, 2018d, p. 501.

Cada campo é explicado textualmente em detalhes. De forma semelhante, apresenta-se a estruturação da disciplina de Matemática, resguardadas as suas peculiaridades. As demais disciplinas previstas como obrigatórias nos documentos curriculares anteriores figuram na BNCC (2018) na condição de Estudos e práticas, que contemplam também Língua Portuguesa e Matemática:

I - língua portuguesa, assegurada às comunidades indígenas, também, a utilização das respectivas línguas maternas; II - matemática; III - conhecimento do mundo físico e natural e da

realidade social e política, especialmente do Brasil; IV - arte, especialmente em suas expressões regionais, desenvolvendo as linguagens das artes visuais, da dança, da música e do teatro; V - educação física, com prática facultativa ao estudante nos casos previstos em Lei; VI - história do Brasil e do mundo, levando em conta as contribuições das diferentes culturas e etnias para a formação do povo brasileiro, especialmente das matrizes indígena, africana e europeia; VII - história e cultura afro-brasileira e indígena, em especial nos estudos de arte e de literatura e história brasileiras; VIII - sociologia e filosofia; IX - língua inglesa, podendo ser oferecidas outras línguas estrangeiras, em caráter optativo, preferencialmente o espanhol, de acordo com a disponibilidade da instituição ou rede de ensino (Resolução CNE/CEB nº 3/2018, art. 11, § 4º). (BRASIL, 2018d, p. 477)

O texto reforça ainda uma determinação para que

A flexibilidade para a organização curricular a ser adotada – áreas, interáreas, componentes, projetos, centros de interesse etc. – responda aos diferentes contextos e condições dos sistemas, das redes e das escolas de todo o País, é fundamental que a flexibilidade seja tomada como princípio obrigatório. Independentemente da opção feita, é preciso destacar a necessidade de “romper com a centralidade das disciplinas nos currículos e substituí-las por aspectos mais globalizadores e que abranjam a complexidade das relações existentes entre os ramos da ciência no mundo real”. (Parecer CNE/CEB nº 5/2011) (BRASIL, 2018d, p. 479, grifo meu)

Analiso os aspectos dessa estruturação do documento, contextualmente, nos capítulos II, III e IV. A fundamentação legal está bem delineada na apresentação da BNCC (2018d), que passo a analisar a seguir, com foco no ensino médio.

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